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O bom samaritano e o divino Redentor

O Bom Samaritano

12º Domingo depois de Pentecostes

Samaritanus quidam, iter faciens, venit secus eum; et videns eum, misericordia motus est – “Um Samaritano, que ia seu caminho, chegou perto dele, e quando o viu, moveu-se à compaixão” (Lc 10, 33)

Sumário. Sob a imagem do bom Samaritano do Evangelho de hoje, Jesus Cristo representou-se a si mesmo. Por nosso amor desceu sobre a terra e se fez homem; curou as chagas de nossa alma, derramando sobre elas o azeite de sua graça e o vinho de seu preciosíssimo sangue; pelo santo batismo levou-nos ao albergue da Igreja e confiou-nos aos pastores das almas. Como temos até agora correspondido a tanta graças? . . . Esforcemo-nos, ao menos, por amar a nosso Deus de todo o coração; e por amor d’Ele amemos também ao próximo como a nós mesmos.

I. Narra Jesus Cristo no Evangelho de hoje, que um homem descia de Jerusalém para Jericó e caiu em mãos de salteadores. Estes o despojaram, feriram-no e deixaram-no quase morto. Aconteceu que um sacerdote vinha pela mesma estrada; ele viu este homem e passou adiante; um levita também o viu e seguiu. Mas um Samaritano, chegando perto, se moveu à compaixão; ligou-lhe as feridas, derramando nelas azeite e vinho, pô-lo sobre a sua própria cavalgadura e conduziu-o a uma hospedaria, onde, recomendando-o ao hospedeiro, disse: “Cuida deste homem, e tudo o que gastares na volta pagar-te-ei” — Curam illius habe.

Na explicação desta parábola, os Santos Padres veem na figura do homem que caiu nas mãos de assassinos, o gênero humano, que pela desobediência de Adão caiu no poder de Satanás e foi não somente despojado da justiça original, mas, além disso, enfraquecido pela concupiscência e ferido em todas as faculdades da alma. Nem o Sacerdote, nem o levita, que representam a Lei antiga, quiseram ou puderam auxiliar o infeliz em sua desgraça.

Mas o Filho de Deus, o verdadeiro Samaritano, quis, com grande pasmo do céu e da natureza, vir sobre esta terra e fazer-se homem por nosso amor; curou as feridas de nossa alma, derramando sobre elas o azeite da sua graça e o vinho de seu preciosíssimo sangue. Pelo santo Batismo levou-nos ao albergue de sua Igreja e entregou-nos aos médicos das almas, para o tratamento ulterior. — Paremos aqui para considerarmos um pouco o excesso da misericórdia de Jesus Cristo e para examinarmos o modo como lhe temos correspondido até agora.

II. Cum amet Deus, nihil aliud vult quam amari, escreve São Bernardo, querendo dizer que o amor não se paga senão com amor. Se, pois, irmão meu, quisermos corresponder ao amor que Jesus, o piedoso Samaritano, nos mostrou curando todas as feridas de nossa alma e livrando-nos da morte eterna, de hoje em diante, como preceitua o Evangelho, “amemos ao Senhor nosso Deus, de todo o nosso coração, de toda a nossa alma, com todas as nossas forças, e de todo o nosso espírito; e, por amor d’Ele, amemos ao próximo como a nós mesmos”.

Ah, meu querido Redentor Jesus, estou envergonhado por ver que de vosso lado fizestes tudo para me obrigar ao vosso amor e que eu, por meu lado, fiz tudo, pela minha ingratidão, para vos obrigar a abandonar-me. Se pudessem voltar os anos de minha vida, quisera empregá-los todos em vosso serviço. Mas já que os anos não voltam mais, quero ao menos empregar o resto de minha vida em Vos amar e Vos agradar.

Ó misericordioso médico de minha alma, amo-Vos de todo o coração. Amo-Vos, ó bondade infinita, digna de um amor infinito e nada desejo nem procuro senão viver unicamente ocupado em Vos amar. “Ó Deus onipotente e misericordioso, de quem vem a graça de vossos servos vos servirem bem e louvavelmente, concedei-me que sem tropeço corra à consecução das vossas promessas.” (1) Aumentai sempre em mim o vosso amor, recordando-me o que haveis feito e padecido por mim e não permitais que eu torne a ofender-Vos. Deixai-me antes morrer.

— Doce Coração de Maria, sede minha salvação.

Referências:

(1) Or. Dom. curr.

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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo III: Desde a Décima Segunda Semana depois de Pentecostes até o fim do ano eclesiástico. Friburgo: Herder & Cia, 1922, p. 22-24)