

"Para quem olharei eu senão para o pobrezinho e quebrantado de espirito?" - Ad quem respiciam, nisi ad pauperculum et contritum spiritu? (Is 66, 2)
Assim Maria, sendo sumamente humilde e vazia de si, foi cheia do divino amor e nesse amor excedeu a todos os anjos e homens, como disse São Bernardino de Sena. Com razão, a chama São Francisco de Sales Rainha do amor."Quanto é grande a pureza, é também grande o amor. Quanto mais um coração é puro e vazio de si mesmo, tanto mais cheio é de caridade para com Deus"
Entretanto os homens, diz Santo Tomás, não na terra, mas no céu, poderão cumpri-lo perfeitamente. Na opinião de Santo Alberto Magno, semelhante preceito, por ninguém cumprido com perfeição, de certo modo teria sido indecoroso ao Senhor, que o decretou se não houvesse existido uma santa Mãe que o cumpriu perfeitamente. Tal pensamento é confirmado por Ricardo de São Vitor:"Deu o Senhor aos homens o preceito: Amarás ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração" (Mt 22, 37)
"A Mãe de nosso Emanuel em todo sentido praticou as virtudes com consumada perfeição. Quem como ela cumpriu o preceito de amar a Deus de todo o coração? Tão intenso era-lhe o incêndio do amor divino, que não restava lugar para a menor imperfeição"
"O reino dos céus padece força, e os que fazem violência são os que o arrebatarão" - Regnum caelorum vim patitur, et violenti rapiunt illud (Mt 11, 12)
Mas quem foi esta mulher, sua inimiga, senão Maria, que com a sua profunda humildade e santa virtude sempre venceu e abateu as forças de Satanás, como atesta São Cipriano? É para se notar que Deus falou “eu porei” e não “eu ponho” inimizade entre ti e a mulher. Isto faz para mostrar que a sua vencedora não era Eva, que já então vivia, mas uma sua descendente. Esta devia trazer a nossos primeiros pais, como diz São Vicente Ferreri, um bem maior do que aquele que tinha perdido com o seu pecado. Maria é, portanto, essa excelsa mulher forte que venceu o demônio e, em lhe abatendo a soberba, lhe esmagou a cabeça, conforme as palavras do Senhor:“Eu porei inimizade entre ti e a mulher; ela te esmagará a cabeça” (Gn 3, 16)
"Ela te esmagará a cabeça"
"Deve-se ser fiel a Deus nas mínimas coisas" - In minimis fidelem ecce maximum est
É desnecessário dizer outra coisa do martírio de Maria, quer com isso declarar São João: contemplai-a junto da cruz, ao lado de seu Filho moribundo e vede se há dor semelhante à sua dor. Demorar-nos-emos a considerar essa quinta espada de dor que transpassou o coração de Maria: a morte de Jesus. Quando nosso extenuado Redentor chegou ao altar do Calvário, despojaram os algozes de Suas vestes, transpassaram-Lhe as mãos e os pés com cravos, não agudos, mas obtusos (segundo a observação de um autor), para maior aumento de Suas dores, e pregaram-no à cruz. Tendo-O crucificado, elevaram e fixaram a cruz e O abandonaram à morte. Abandonaram-nO os algozes, mas não O abandonou Maria. Antes ficou mais porte da cruz para Lhe assistir à morte, como ela mesma revelou a Santa Brígida.“Estava em pé junto à cruz de Jesus sua Mãe” (Jo 19, 25)
"Em terra deserta, e sem caminho e sem água; nela me apresentei a vós como no santuário" - In terra deserta et invia et inaquosa, sic in sancto apparui tibi (Sl 62, 3)
Obtendo Maria por meio de sua intercessão a graça aos pecadores, deste modo lhes dá vida. Ouçamos as palavras que a Igreja lhe põe na boca, aplicando-lhe a seguinte passagem dos Provérbios:"Tens reputação de que vives, mas estás morto" (Ap 3, 1)
"Os que vigiam desde manhã por me buscarem, achar-me-ão" (8, 17)
"Olha por ti" - Attende tibi (1Tm 4, 16)