Sumário. São muitas as virtudes que adornaram a vida deste santo, mas a que mais o distinguiu e dele fez um sacerdote segundo o coração divino, foi o seu amor a Deus e ao próximo. Para o remunerar, também à vista dos homens, Deus o fez pai de uma família santa e numerosa, e o fez morrer vítima de amor, na festa do Corpo de Deus. Regozijemo-nos com São Filipe; agradeçamos por ele a Deus e, olhando em seguida para o estado da nossa alma, envergonhemo-nos da nossa tibieza.Suscitabo mihi sacerdotem fidelem, qui juxta cor meum et animam meam faciet — “Eu suscitarei para mim um sacerdote fiel que fará tudo segundo o meu coração e a minha alma” (1 Sm 2, 35)

Maria era o seu conselho
O nosso adorável Salvador ausentando-Se da terra, quis deixar nela a Sua divina Mãe, para que pudesse servir de conselho à Igreja nascente, e para que os primeiros cristãos a ela recorressem nas suas dúvidas, e dela aprendessem a prática de todas as virtudes evangélicas. Os fiéis a consultavam como mestra e oráculo vivo da Igreja que constantemente se empenhava em dissipar as suas dúvidas, em instruí-los e comunicar-lhes os tesouros de sabedoria e ciência, que adquirira em suas conversações com o divino Filho. Em nossas dúvidas e perplexidades dirijamo-nos a Maria com viva confiança: peçamos-lhe que nos ilustre, que nos dirija, que nos conduza, e ela nos alcançará as luzes e graças de que carecemos.Sumário. Ó Deus, quem não teria compaixão se visse um jovem príncipe, filho de um grande monarca, nascer em tão grande pobreza, que, necessitado de tudo, até se fazia mister deitá-lo numa manjedoura? Tal é exatamente o estado de Jesus-Menino, Filho de Senhor do céu e da terra. Os anjos, é verdade, estão ali para o adorar; não, porém, o socorrem. Mas como Jesus abraçou tão apertada pobreza unicamente para nos fazer ricos dos seus bens e nos obrigar a amá-lo, quanto mais pobre se fez, tanto mais amável se nos mostra.Propter vos egenus factus est, cum esset dives; ut illius inopia vos divites essetis — “Sendo rico, se fez pobre por vosso amor, a fim de que vós fôsseis ricos pela sua pobreza” (2 Cor 8, 9)

Como se preparou para O receber
Depois que Jesus Cristo subiu ao céu, elevando-Se por virtude própria à vista de Sua bendita Mãe e saudosos discípulos, recolheram-se todos ao cenáculo, e no silêncio do retiro se prepararam pelo exercício da oração para receberem o Espírito Santo, que o Divino Mestre lhes havia prometido enviar. Juntos todos no mesmo lugar, concordes de coração e vontade, formaram os votos mais ardentes para chamarem a si aquele divino Paráclito. Maria principalmente solicitava com maior eficácia a vinda deste Consolador divino, pelo fervor de suas súplicas, pureza de seus desejos e ânsias do seu amor. Imitemos tão excelentes disposições para receber o Deus da caridade, que se apraz em comunicar-Se às almas fervorosas que O buscam fora do tumulto do mundo, e Lhe dirigem ardentes e sinceros votos.
Maria só desejava o céu
Transportemo-nos hoje ao monte das Oliveiras com a Santíssima Virgem e os discípulos de Jesus, e consideremos com os olhos da fé, o adorável Salvador, depois de ter lançado uma última benção sobre todo aquele santo ajuntamento, e dado a Sua divina Mãe as demonstrações da mais afetuosa ternura, elevar-Se ao céu, todo resplandecente de glória, e acompanhado de milhares de espíritos angélicos e de todos santos, que tirara lá do limbo. O nosso espírito, limitado como é, não pode compreender quais foram os afetos do Filho e da Mãe neste soleníssimo momento. Podemos todavia dizer que, se o corpo de Maria ficou na terra para cumprir a vontade de Deus, o seu espírito e coração subiram ao céu com Jesus Cristo. Imitemos os sentimentos de nossa divina Mãe. Seguindo o seu exemplo, olhemos paro a terra como para um lugar de desterro, suspiremos sem cessar pela celeste pátria. Contemplemos com fé viva as corôas imortais, que ali nos estão preparadas, e trabalhemos por merecê-las, caminhando pelos passos de Maria.
Alegria de Maria vendo seu Filho ressuscitado
Consideremos o Salvador saindo do sepulcro, vencedor da morte e do inferno. Ainda que não consta expressamente do Evangelho, podemos contudo piamente crer que Sua divina Mãe foi a primeira pessoa a quem Jesus se mostrou neste estado glorioso. O respeito que tributava a esta augusta Mãe, o amor que lhe consagrava, a ternura de Maria para com seu divino Filho pareciam pedir tão honrosa distinção. Mais do que ninguém havia ela tomado parte nas dores da Sua Paixão; era justo, pois, que fosse a primeira que participasse da alegria do seu triunfo. Deste modo proporciona Deus os seus favores e consolações aos trabalhos que por Ele sofremos. Amemos o Salvador, compadeçamo-nos de Suas dores, levemos a Sua cruz, sigamo-lO até ao Calvário, e seremos como a Santíssima Virgem participantes da Sua alegria e triunfo.
Acerbidade das penas de Maria
Consideremos que penetrantes e terríveis espadas de dor traspassaram o terno e sensibilíssimo coração de Maria, quando seu querido Filho se despediu dela para dar começo à Sua Paixão; quando O viu arrastado ignominiosamente pelas ruas de Jerusalém, pisado com pancadas, escarnecido, esbofeteado, coroado de espinhos e pregado na cruz entre dois facinorosos; quando O viu expirar e presenciou a lançada com que um soldado Lhe rompeu o peito para se certificar da Sua morte; quando recebeu nos braços o corpo morto e desfigurado do seu Jesus; e finalmente quando recolhido o cadáver ao sepulcro, ela ficou reduzida à mais amargosa soledade. Tudo o que sofreram os mártires todos juntos é muito pouco em comparação do que então sofreu a mais terna de todas as mães. Ah! Os nossos pecados são a causa das imensas dores desta santa Mãe, porque foram eles quem deu a morte a seu querido Filho. Detestemo-los, pois, de todo o coração, vamos ao pé da truz misturar as nossas lágrimas com as de Maria; peçamos-lhe que nos alcance uma viva contrição de todos os nossos pecados, e a graça de nunca mais os cometer.
Movendo-O a fazer o primeiro milagre público
Jesus Cristo Senhor Nosso, no princípio de Sua vida evangélica, foi convidado com sua Mãe e discípulos para umas núpcias em Caná de Galileia. A caridade foi o único motivo que obrigou o divino Mestre e Maria Santíssima a aceitarem o convite. Por certo que a Senhora preferiria ficar na casinha de Nazaré e gozar ali as doçuras da contemplação; mas sempre admirável em suas ações, sempre amável e indulgente, deixa este caro retiro, para não desgostar os esposos, e vai exercer a civilidade religiosa e manifestar sua terna bondade. Conhece então o embaraço em que vão achar-se os noivos, a confusão por que vão passar perante os convidados, e para os poupar diz para Jesus: Eles não tem vinho, e, cheia de confiança no Seu poder e bondade, diz aos serventes: Fazei tudo o que Ele vos disser; e o Salvador fez o milagre da conversão da água em vinho. Desta sorte o caritativo coração de Maria, sempre pronto a fazer bem, aproveita todas as ocasiões de ser útil ao próximo; não espera que lhe roguem, previne mesmo a súplica dobrando assim o merecimento do benefício! Imitemos a generosa caridade da nossa Mãe, sejamos misericordiosos, se queremos ser bem-aventurados.
Vive na pobreza
Consideremos a Sagrada Família, composta de Jesus, de Maria e de José. Esta Santíssima Família tinha só a Deus por seu único bem, vivia na obscuridade, nos trabalhos, talvez em desprezo, e sem dúvida na pobreza. Mas quanto não era rica em graças e virtudes! Nunca houve família mais santa, mais respeitável, mais feliz nem mais digna da vassalagem dos anjos e dos homens. Não são os bens e as honras deste mundo, o que faz a verdadeira felicidade, mas sim a graça de Deus; a virtude e a santidade. Oh! Quanto é rico e ditoso aquele que ama a Deus, e só a Ele possui!