Meditação para Dia 31 de Março
1. a) "Foi, pois, Jesus apresentado ao governador". Quem está aqui como acusado? Incrível... é Deus! O Criador, o eterno Juiz! Diante de quem? Diante de um iníquo, um juiz injusto. Para que? Para ser sentenciado. Tanto Deus se humilha! Quando, enfim, começarás a imitar teu Jesus humilde? b) "Tu és o rei dos judeus? Respondeu-lhe Jesus: Tu o dizes". A criatura atreve-se a interrogar seu Criador! Sim, Jesus é o Rei de todos. Respeitas a Ele sempre? Deixas a Ele reinar em teu coração? Soberanamente?Capítulo XXXI
Esta foi a oração do bom ladrão, que por sua fé e confiança mereceu de Jesus esta resposta:Domine, memento mei, com veneris in regnum tuum - "Senhor, lembrai-vos de mim quando entrardes no vosso reino" (Lc 23, 42)
Pedira apenas uma simples recordação, e Jesus promete-lhe o seu reino: tão liberal é o nosso bom Mestre! Tão disposto está sempre a dar muito mais do que se lhe pede! Mas quem não se assombrará sobre a profundeza dos conselhos de Deus? No momento em que o bom ladrão dizia a Jesus: “Senhor, lembrai-vos de mim quando estiverdes no vosso reino”, estava este divino Salvador num estado de aflição e humilhação sem exemplo. Seus discipulos haviam-no abandonado, um deles o trairá e vendera, renegara-o outro três vezes, os judeus vomitavam contra ele blasfêmias, expunham-no à irrisão os gentios, quase ninguém acreditava nele. E é neste momento em que Jesus perdia todo o credito para com a maior parte dos que o conheceram, que este bom ladrão, interiormente iluminado da divina graça, o reconhece por seu Rei e seu Deus... Os discípulos de Jesus tinham tanto tempo conversado com ele; ouvido a sua admirável doutrina, tinham um perfeito conhecimento de sua vida, dos seus milagres; e sua fé foi, todavia, terrivelmente abalada, quando o viram pregado na cruz.“Hoje estarás comigo no paraíso”
Meditação para Dia 30 de Março
1. "Chegada, porém, a manhã, todos os príncipes dos sacerdotes e anciãos do povo entram em conselho contra Jesus, para o entregarem à morte". Pela terceira vez se reúnem contra Jesus. Assim, dado o primeiro passo, desceram a escada do vício, passando de um crime a outro. Evita a primeira caída. De manhã se reúnem. Eis quanta atividade! Não envergonham teu zelo os filhos das trevas?Capítulo XXX
Jesus acabava de ser pregado na cruz, via circular em volta de si os autores do seu suplício e os seus algozes. Lança sobre eles um olhar, eleva em seguida os olhos ao céu, e exclama:Pater dimitte illis: nom enim sciunt quidi faciunt - "Meu Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc 23, 34)
Tinha guardado silencio enquanto o crucificavam; eis que o rompe e invoca a seu Pai; escutemos o que lhe vai pedir. Dir-lhe-á ele:“Meu Pai!"
Não, não, tal não será a súplica do nosso bom Jesus. Alma cristã, que isto meditas, atenção, e aprende a conhecer a misericórdia infinita do nosso Salvador.“Meu Pai: vós sois testemunha dos meus sofrimentos, sois testemunha dos ultrajes indignos de que me cobrem e sabeis a minha inocência; fazei, pois cair sobre este povo ímpio todo o peso da vossa vingança?”
Meditação para Dia 29 de Março
1. a) "E Pedro ia seguindo-o de longe até ao pátio do príncipe dos sacerdotes". São Pedro segue a Jesus: é sinal de amor; mas segue-o de longe: é sinal de fraqueza. O respeito humano tirou-lhe a antiga coragem e o primitivo zelo. Sofres, acaso, do mesmo mal? b) Pedro aproximou-se dos servos para se aquecer. Oh! Que antes se tivesse aproximado de Deus, para este lhe acender novo amor. Procurou a companhia dos inimigos de seu Mestre. Quem ama o perigo, nele cai. Não serás uma exceção à regra.Capítulo XXIX
São estas as palavras que nos dirige Jesus a nós, pobres exilados nesta terra de pecado. Ó vós todos, exclama ele do alto da cruz, ó vós todos, que passais pelo caminho da vida, dignai-vos parar por alguns instantes; lançai sobre esta cruz, onde estou cravado, a vossa vista, e vede se há uma dor que à minha se possa comparar; a minha cabeça está coroada de espinhos que me não deixam repouso algum, os meus pés e as minhas mãos estão varados de enormes cravos, o meu corpo não é mais que uma chaga, e o meu sangue corre de todas as minhas chagas. “De todas as partes me cercam as agonias da morte”, e a minha alma está abismada na mais excessiva desolação.O vos omnes qui transitis per viam, attendite et videte si est dolor sicut dolor mens - "Ó vós todos que passais pelo caminho, atendei, e vede se há dor como a minha" (Lm 1, 12)
Meditação para Dia 28 de Março
1. a) "Então lhe cuspiram na face". A quem? A seu Criador e Salvador. Incrível atrevimento das criaturas! Incompreensível humildade de Jesus! Fizeste-lhe o mesmo, ao manchares tua alma com o pecado, pois tua alma é sua imagem. Arrepende-te. Faze mais: sofrendo injúrias, imita a mansidão de teu Salvador. b) "Deram-lhe bofetadas no rosto, dizendo: 'Adivinha, Cristo. Quem é que te bateu?'". Os insanos julgaram não ser conhecidos por Deus. Ele os conheceu, como te conhece a ti, tuas obras boas e más. E tu, pecado, sabias tudo isto!Capítulo XXVIII
Já falíamos do silencio de Jesus no meio dos seus sofrimentos; mas é tão tocante ver este inocente Cordeiro opondo ao furor dos seus inimigos uma doçura e uma paciência tão incomparáveis, que mais uma vez imos deter-nos alguns instantes em considerar este espetáculo. Comecemos pelo ver em casa de Caifás: na presença deste pontífice é acusado de inúmeros crimes; mas ele guarda silencio: Jesus autem tacebat. Em casa de Herodes enchem-no de desprezos; ele sofre tudo sem dizer uma só palavra. Fazem-no sofrer uma cruel flagelação: não reclama contra a injustiça deste castigo. Os algozes em seu furor excedem muito o numero dos golpes prescritos pela lei: ele não se queixa.Et quasi agnus coram tondente se obmutescet, et non aperiet os sum - "Semelhantemente a um cordeiro que se conserva mudo diante do tosqueador, não abrirá a sua boca." (Is 53, 7)
Meditação para Dia 27 de Março
1. Caifás, como se estimasse saber a verdade, disse a Jesus:"Diz se tu és Cristo, o Filho de Deus"Hipocrisia e malícia requintada! Se Jesus negar, será condenado, porque antes reivindicou para si esta dignidade; se afirmar, o condenarão como blasfemador. Jesus, podendo livrar-se da dificuldade, não o quis em respeito ao nome de Deus e por amor a nós. Seu exemplo mostra que antes deverás sacrificar a vida do que a fé ou a inocência.