Porque os Apóstolos são em número de doze?
Jesus Cristo escolheu doze Apóstolos e tão somente doze, para representar aos doze Patriarcas, filhos de Jacó. E como os doze Patriarcas foram os pais do povo judaico, os doze Apóstolos foram os pais espirituais do povo cristão.
Este número de doze, diz Santo Tomás (Caten. Aur.), estava significado pelos doze filhos de Jacó, pelos doze príncipes dos filhos de Israel, pelas doze fontes de Elim, pelas doze pedras do Efod, pelos doze pães da proposição, pelos doze espiões, pelas doze pedras tomadas no Jordão com as quais se construiu um altar, pelos doze bois que sustentavam a fonte de bronze, pelas doze estrelas que formam a coroa da Esposa de que nos fala o Apocalipse, pelos doze fundamentos da cidade celestial, pelas doze portas de Sião.
Porque escolheu Jesus Cristo a uns pobres?
Comentando aquelas palavras de São Lucas (Lc 6): Jesus Cristo escolheu a doze Apóstolos etc., diz Santo Agostinho: Ó misericórdia imensa do Arquiteto Divino. Sabia que se escolhesse um senador, este lhe diria: eu fui escolhido por causa de minha dignidade; se houvesse escolhido a um rico, este rico lhe teria dito: Minha fortuna é a que me fez ser eleito; se tivesse se dirigido a um rei, este haveria pensado: Meu poder fez recair em mim a eleição. Um orador teria acreditado que à sua eloquência devia o ser eleito; um filósofo o haveria atribuído à sua sabedoria. Trazei-me, logo, aqueles pescadores. Vinde, vós, pobres; nada tendes, nada sabeis, segui-me; deixai de ser pescadores de peixes. Os pescadores deixam suas redes, recebem a graça e se convertem em mensageiros da boa notícia; repentinamente o universo ouve a voz dos pescadores, lê suas cartas, obedece-lhes, e os grandes oradores, os sábios, os ricos e os reis inclinam a fronte e submetem-se (Civit. Dei).
Deus, diz São Paulo aos Coríntios, escolheu aos menos esclarecidos segundo o mundo, para confundir aos sábios; escolheu os débeis segundo o mundo, para confundir os fortes; escolheu os mais vis, aos desprezíveis segundo o mundo e aos que não eram nada, para vencer aos grandes; e isto a fim de que nenhum homem vanglorie-se diante Dele: Quia quod stultum est Dei sapientius est hominibus et quod infirmum est Dei fortius est hominibus videte enim vocationem vestram fratres quia non multi sapientes secundum carnem non multi potentes non multi nobiles sed quae stulta sunt mundi elegit Deus ut confundat sapientes et infirma mundi elegit Deus ut confundat fortia et ignobilia mundi et contemptibilia elegit Deus et quae non sunt ut ea quae sunt destrueret ut non glorietur omnis caro in conspectu eius (1 Cor 1, 27-29).
O mundo tem o costume de admirar três coisas: a sabedoria, o poder e a nobreza. Deus despreza todas as três na vocação dos homens à fé, à justiça e à salvação. Até escolherá três coisas distintas das que o mundo aprecia. Escolhe aos menos sábios segundo o mundo, aos menos poderosos, aos últimos do povo, a fim de manifestar que a sua obra era divina. Mais tarde, crianças e jovens, débeis e virgens venceram aos reis, aos tiranos e aos suplícios.
A vida dos Apóstolos
Os Apóstolos viviam sobre a terra e, sem embargo, todas as suas obras foram superiores às que vemos na terra, diz São Gregório: In terra viventes, extra terram fuit omne quod egerunt (Homil. in Evang.). Ainda que revestidos de um corpo de carne, diz São Paulo, não militamos segundo a carne: In carne ambulantes, non secundum carnem militamus (2 Cor 10, 3). Vivem pobres, não desejam nem buscam nada na terra. Morreram para tudo, para não viver mais que de Deus e por Deus. São tochas que brilham por meio do bom exemplo, derramam em todas as partes o bom odor de Jesus Cristo, convertendo-se em imitadores seus.
Os Apóstolos não viviam para si, não morriam por eles mesmos, senão que viviam e morriam por Jesus Cristo, que em seu favor havia dado Sua vida. Viviam e morriam pela salvação das almas. Sua vida, sua doutrina e sua morte instruem-nos e dizem-nos de que modo devemos crer, viver e morrer.
Sua vida esteve plena de todas as virtudes, das mais sublimes virtudes; elas dirigiram seus atos de cada dia e de todos os instantes; e eles viveram e morreram mártires da mais ardente caridade.
Zelo dos Apóstolos e maravilhas de que são autores
Os Apóstolos são os grande fundadores da Igreja; são seus primeiros oradores, a corneta do Evangelho, a poderosa voz do Verbo, o harmonioso instrumento do Espírito Santo, a taça cheia da divina graça, os melhores soldados de Jesus Cristo, os guias seguros do povo cristão, o lugar das delícias aonde Deus assentou sua morada, o canal por cujo meio nos veio a fé, um mel embriagador, uma fortaleza de paciência, os filhos do consolo, os mestres da piedade, as pombas e o sustento do Cristianismo, uma torre inexpugnável, uma base segura um muro indestrutível, um porto para os náufragos, os arquitetos mais hábeis e mais nobres; levam uma vida de pureza, tão bela como a dos anjos; são o socorro dos pobres, o consolo das viúvas, os tutores e pais dos órfãos. São o tesouro dos mistérios de Jesus Cristo, os médicos do universo enfermo e agonizante, os zelosos pastores do rebanho fiel, os condutores das nações, o receptáculo, das virtudes celestiais, vasos de eleição e templos do Espírito Santo. Animados por Jesus Cristo, conquistaram- lhe o mundo.
Isaías, que havia visto os Apóstolos à luz das revelações proféticas, exclamava transportado de alegria: Que formosos são os pés dos que anunciam a paz e a felicidade e pregam a salvação: Quam speciosipedes evangelizantium bona! (Is 52, 7).
Os pés dos Apóstolos são dignos de louvor:
- por causa da velocidade com a qual percorreram o mundo inteiro;
- por causa do valor com que os dirigiu;
- por sua brancura sem mancha; e
- por sua radiante e celestial formosura.
E foi em memória das palavras de Isaías, diz Orígenes, que Jesus Cristo lavou os pés dos Apóstolos (Homil. II).
Assim como a primavera faz renascer, germinar e florescer a natureza, a vinda de Jesus Cristo e dos Apóstolos ressuscitou o mundo e o fez produzir, em abundância, as flores e os frutos das mais sublimes virtudes.
Os Apóstolos, diz São João Crisóstomo, foram os pregadores de Jesus Cristo, os defensores da verdade, os atletas de Deus, os órgãos do Espírito Santo, os chefes prepostos em defesa da Religião, os príncipes da Igreja, os pontífices da santidade[1].
Servir-me-ei de testemunhas, disse Jesus Cristo a seus Apóstolos, até os confins do mundo: Eritis mihi testes usque ad ultimum terrae (At 1, 8). Servir-me- eis de testemunhas com vossos milagres, com a santidade de vossa vida, com vossa pregação, e com a eficácia de vossa sabedoria, não humana, senão divina.
Jamais se viu nada comparável aos Apóstolos, prossegue São João Crisóstomo: ministros da palavra de Deus, suas mãos tocaram ao Verbo divino e seguiram-no em suas pregações, comeram com Ele e ouviram mil vezes a voz Daquele com que uma só palavra tudo criou. Envolveram ao mundo inteiro com suas palavras, da mesma maneira que se colhe a uns peixes com a ajuda de umas redes. Percorreram todo o universo: arrancaram os erros e a cizânia; derrubaram os altares e destruíram os templos das divindades pagãs, aniquilaram aos ídolos como a outras tantas feras devoradoras; afugentaram aos demônios, lobos furiosos; reuniram ao redor de si uma Igreja numerosa, como um pastor reúne um rebanho de cordeiros; agruparam aos fiéis, como a grãos de trigo de Deus; expulsaram para longe as heresias, como palha destinada ao fogo; fizeram do judaísmo, uma erva cortada e seca; reduziram a cinzas as escolas dos filósofos; lavraram e cultivaram a natureza humana com o arado da Cruz e espargiram naquela a Palavra de Deus, como uma semente celestial (Ibid.).
Os Apóstolos, prossegue ainda aquele sublime Doutor, eram vinhateiros, pescadores, fortes colunas, médicos, guias, doutores, portos, pilotos, pastores, atletas, guerreiros, vencedores. São o sustentáculo da Igreja, são a base do edifício. Jesus Cristo disse a Pedro: Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja. São portos seguros, porque nos podem por a salvo das tempestades do inferno, do crime e da impiedade. São pilotos: conduziram o mundo inteiro pela via da justiça. São pastores: afugentando aos lobos e conservaram as ovelhas. São lavradores: arrancaram espinhos do campo do Senhor. São vinhateiros: plantaram a vide da piedade e da virtude, e esta vide é da qual sai o vinho que faz virgens. São médicos: porque curaram o gênero humano. São guerreiros: derrotaram aos exércitos do inferno. São vencedores: triunfaram do demônio, do mundo, das paixões e dos vícios (Ibid.).
O ruído que os Apóstolos fizeram, diz o Salmista, estendeu-se por todo o universo, sua voz ressoou até as extremidades da terra: In omnem terram exivit sonus eorum, et in fines orbis terrae verba eorum (Sl 18, 4). Os Apóstolos são justamente comparados com os céus que proclamam a glória de Deus: Coeli enarrant gloriam Dei (Sl 18, 4). Porque se elevam sobre a terra por meio da contemplação; tem a imensidade do amor, a luz da sabedoria, a segurança da paz, o movimento rápido da inteligência e da obediência; derramam a chuva fecunda do ensino; fazem ouvir o trovão das repreensões; brilham como o relâmpago com seus milagres; o raio que lançam esmaga o vício e aterroriza o inferno; enfim, procuram pela terra bens infinitos, sem pedir-lhe nada e movidos tão somente pela liberdade mais pura.
Com sua vida, com sua pregação e sofrimentos, os bem-aventurados Apóstolos, disse São Bernardo, tem-nos ensinado a praticar a prudência, a sabedoria e a paciência: Etenim in conversatione continentiam, in praedicatione sapientiam, inpassione suapatientiam nobis beati apostoli contulerunt (Liber Consid.).
Lê-se na Escritura que o profeta Elias levantou-se como um fogo, e suas palavras eram como ardentes tochas: Et surrexit Elias profeta, quase ignis, et verbum ipsius quase facula ardebat (Ecl 43, 1). Elias foi tipo dos Apóstolos, daquelas flechas de fogo lançadas pelo arco extraordinariamente tendido por Jesus Cristo crucificado, flechas que feriram aos homens, atravessando-lhes e acendendo em seu coração o amor a Deus, segundo o teor daquelas palavras do Salmista: Fará chover sobre seus inimigos flechas abrasadoras: Sagittas suas ardentibus effecit (Sl 8, 14). O arco, diz Santo Agostinho, é a força do Novo Testamento, que sujeitou a dureza do Antigo. Os Apóstolos são chamados flechas, porque transmitem os divinos oráculos que ferem os corações e os enchem de amor a Deus. Não com outra flecha estava ferida a Esposa dos Cânticos, quando exclamava: Estou ferida de amor (Ct 2, 5). As flechas do Onipotente são agudas e abrasadoras, diz o Salmista (Sl 119, 4). Com efeito, os que estão feridos com estas flechas e abrasados de amor a Deus, desprezam os vãos discursos e os esforços de qualquer um que pretenda detê-los; dizem com São Paulo: Quem me separará do amor a Jesus Cristo? (Rm 8, 35 – Santo Agostinho, in his verbis psal.: Sagittas suas ardentibus effecit).
Quem são aqueles, pergunta Isaías, que voltam pressurosos como nuvens e como pombas que se dirigem a seus ninhos? Qui sunt isti, qui ut nubes volant, et quase columba ad fenestras suas? (Is 60, 8). Por estas nuvens e pombas, São Gregório, São Jerônimo e outros padres entendem os Apóstolos. Porque:
- como as nuvens que se elevam da terra ao céu, os Apóstolos foram elevados até Deus e referem Sua glória, todavia, mais com sua vida que com suas palavras;
- assim como as nuvens são receptáculos do orvalho, e deixam cair a chuva sobre a terra a fim de fecundá-la, os Apóstolos são os canais da graça de Deus; derramam a chuva da Palavra nas almas, e esta lhes faz produzir boas ações;
- assim como as nuvens são a obra do sol que as reúne e as condensa, a fim de que a derramem nos corações; e
- da mesma maneira que as nuvens se encontram frequentemente mescladas com o trovão e o raio, assim também os Apóstolos unem, às suas doces exortações, as ameaças e o ruído da cólera e da vingança divina. Esta comparação é de Santo Agostinho (In Psalm.).
Escutai, agora, a São Gregório: os Apóstolos, diz, são chamados nuvens, porque deixam cair a chuva de suas pregações, e fazem brilhar os relâmpagos de seus prodígios. Voam como nuvens, estão melhores no céu do que na terra; não a tocam mais que com o extremo de seus pés; seu espírito, sua alma e seu coração estão no céu (Moral.).
Enviarei, diz o Senhor por boca de Jeremias, a uns pescadores que lhes capturaram em suas redes: Ego mittam piscatores, dicit Dominus, et piscabuntur eos (Jer 16, 16). E Jesus Cristo disse a seus Apóstolos: Segui-me e os converterei em pescadores de homens: Venite post me, et faciam vos fieri piscatores hominis (Mt 4, 19). E estes divinos pescadores envolveram aos homens, tiraram-lhes do oceano de crime e de da morte, devolveram-lhes a vida, e puseram-nos no reino da felicidade eterna.
Luz que os Apóstolos derramaram
O sol em sua trajetória ilumina o universo; o mesmo fazem os Apóstolos. Jesus Cristo, diz São João Crisóstomo, fez raiar em todas as partes a seus Apóstolos como o sol faz raiar sua luz. Todas as suas ações brilharam como os astros: Omnia illorum facta, tamquam sidera effulserunt (In Matth., c. X). Por isso, Jesus Cristo dizia-lhes: Vós sois a luz do mundo: Vos estis lux mundi (Mt 5, 14). Olhai, contemplai os astros e pasmai-vos de seu esplendor: Intuere astra haec, et illorum splendorem obstupesce. O céu, continua este grande doutor, baixou à terra: Coelum factum est terra? E, com efeito, quais estrelas brilham os Apóstolos? Quae enim tales stellae sicut apostoli? As estrelas estão debaixo do firmamento; e os Apóstolos se elevam sobre os céus. As estrelas resplandecem com um fogo material é insensível; os Apóstolos derramam uma luz espiritual que dá inteligência. As estrelas brilham durante a noite, porém restam obscurecidas durante o dia; os Apóstolos brilham com suas virtudes noite e dia; brilham na noite do tempo e brilharão para sempre no grande dia da eternidade. As estrelas obscurecem-se quando da saída do sol; porém, o brilho dos Apóstolos não se apaga nem mesmo no momento em que resplandece Jesus Cristo, o Sol de Justiça. As estrelas, no dia da ressurreição, cairão como as folhas; no dia da ressurreição, os Apóstolos serão levados pelos ares acima das nuvens[2].
O povo que andava nas trevas, viu uma grande luz, diz Isaías, viram uma grande luz aqueles que habitavam na região das sombras da morte: Populus qui ambulabat in tenebris vidit lucem magnam habitantibus in regione umbrae mortis lux orta est eis (Is 9, 2). Esta imensa luz de que nos fala o Profeta, é Jesus Cristo, e depois os Apóstolos.
Como seu divino Mestre, os Apóstolos eram a verdadeira luz que ilumina a todo homem que vem a este mundo: Erat luz vera quae illuminat omnen hominem venientem in hunc mundum (Jo 1, 9). Jesus Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida: os Apóstolos ensinam e manifestam ao mundo este caminho, esta verdade e esta vida.
Misericórdia e bondade dos Apóstolos
Estes homens são homens de misericórdia, cujas obras de piedade não caíram no esquecimento: Illi viri misericordiae sunt, quórum pietatis non defuerunt (Ecl 44, 10). Nossa mãe a Santa Igreja, irmãos meus, aplica mui justamente aos Apóstolos as palavras que antecedem. Eles são, em verdade de um modo cabal, homens de misericórdia; seja porque receberam misericórdia, seja porque, plenos de compaixão, derramam-na sobre os homens, ou também porque, Deus no-los enviou como prova de seu perdão; são homens plenos de bondade, dados a toda a Igreja. Não cessaram de consolar, de enxugar lágrimas, de aliviar, de instruir, de ilustrar, de curar etc. (Serm. In festiv. SS. Petri et Pauli).
Foram conforme as palavras de seu Divino Mestre: Não corteis a cana rachada, não apagueis a mecha que ainda fumega (cf. Is 42, 3). Perdoai sempre; eu não vim chamar aos justos, senão aos pecadores… tudo sacrificaram para conquistar corações para Jesus Cristo… somente a caridade e a misericórdia leva- lhes a sacrificar-se, a cada dia, pela salvação de todos os homens. Compadecem-se de todas as misérias, de todas as enfermidades, mesclam suas lágrimas com as daqueles que choram…
O poder dos Apóstolos
Tu és Pedro, e sobre esta pedra construirei a minha Igreja, e as portas do inferno jamais prevalecerão contra ela, disse Jesus Cristo ao chefe dos Apóstolos: Tu es Petrus et super hanc petram aedificabo ecclesiam meam et portae inferi non praevalebunt adversum eam (Mt 16, 18). E eu te darei as chaves do reino dos céus; e tudo o que ligares na terra, será também ligado nos céus; e tudo o que desatares na terra, será desatado nos céus (Mt 16, 19). Vede, disse Ele a todos, que vos dou o poder para andar sobre serpentes e escorpiões, e pisotear a força do inimigo, nada vos fará dano (Lc 24, 49).
O Senhor, diz Santo Agostinho, deu as seus Apóstolos poder sobre a natureza para que curassem; sobre os demônios para derrubá-los; sobre os elementos para mudá-los; sobre a própria morte para que não lhes concedessem mais que desprezo; e fez- lhes, enfim, mais poderosos que os anjos, para que consagrassem o Corpo do Senhor: Dedit Dominus apostolis potestatem super naturam, ut eam cucarent; super demones, ut eos everterent super elementa, ut ipsa immutarent; super mortem, ut eam contemnerent; super angelos, ut Corpus Dominis consecrarent (In Serm. de Apostolis).
São onipotentes em palavras e em obras. Como seu divino Mestre, dão vista aos cegos, ouvido aos surdos, fala aos mudos; endireitam os coxos, curam, somente com sua sombra, toda classe de enfermidades, mandam nas tempestades, e ressuscitam os mortos; fazem tremer os reis e empalidecer os tiranos. Derrotam ao inferno, destroem os ídolos, derrubam os templos pagãos, transformam os lobos em cordeiros, convertem nações e falam todas as línguas. Não temem as ameaças, nem cárceres, nem suplícios, nem morte. Aqueles doces homens, sem armas, sem dinheiro, sem apoio, sem soldados, são mais fortes que todos os exércitos e que o mundo inteiro.
Os Apóstolos, diz São Bernardo, tocam a trombeta da salvação; resplandecem seus milagres e o mundo crê; o que dizem, crê-se prontamente como verdade; porque o manifestam com prodígios que surpreendem ao entendimento: Insonat tuba salutares; coruscant miracula, et mundus credit; cito persuadetur quoddicitur, dum, quodstupetur, ostenditur (Serm. XXVII, in Cant.).
É fácil vencer a um numeroso exército, diz Judas Macabeu; e ante o Deus do céu não há diferença entre um número maior e outro menor. Porque a vitória não está no grande número de soldados, senão na força que vem de cima (1 Mc 3, 18-19).
Assim Gedeão dispersou a cento e vinte mil madianitas com trezentos homens desarmados. Abraão, com trezentos homens, venceu também a quatro reis. Judite derrubou a Holofernes, Davi a Golias.
Os Apóstolos, plenos de bondade, de glória e de poder, não deixaram nem deixarão de rogar por toda a Igreja, nem de protegê-la, diz São Bernardo. Seus exemplos atravessam os séculos, e a Religião que estabeleceram em nome de Deus não pode ser destruída, cimentada como está sobre uma rocha (Serm. XXVII, in Cant.).
Todos os seus bens seguiram nas mãos de sua posteridade, seus netos são uma herança santa; e, por causa deles, seus filhos jamais perecerão, diz o Eclesiástico: Cum semine ipsorumperseverat bona hereditas nepotes eorum […] et filii ipsorum propter illos usque in aeternum manent (cf. Ecl 44, 11-13).
Referências:
[1] Fuerunt Apostoli praeconis Christi: pugiles veritatis, athletae Dei, organa Spiritus Sancti, religionis praesidere, Ecclesiae principes, santitais antistites (In Homil. Octo).
[2] Stellae in coelo; apostoli super coelos. Stellae de igne insensibili; apostoli de igne inteligibili. Stellae in nocte Lucent, in die obscurantur; apostoli, in die et nocte suis radiis, hoc est, virtutibus effugent. Stellae, orto sole obscurantur; apostoli, sole justitiae resplandente, sua claritate lucescunt; stellae in ressurrectione cadente sicut folia; apostoli in ressurrectione rapientur in sera in nubibus (Homil. de Pentecost.).