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A Adoração dos Magos

Adoração dos Reis Magos ao Menino Jesus

«Prostrando-se, o adoraram»

Neste último capítulo, vamos continuar a olhar para os Magos, contemplando-os agora na cena da adoração, que o Evangelho descreve assim: Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram (cf. Mt 2, 9-12). Muitos pintores famosos deixaram-nos quadros belíssimos dessa cena. Ajoelhados ou inclinados perante o Menino Jesus, os Magos o adoram, com o olhar extasiado, e lhe oferecem os presentes que trouxeram.

No centro desta bela cena, aparece uma palavra que merece a nossa reflexão: a palavra «adorar». É uma das atitudes mais elevadas, mais sadias e mais necessárias para nós, os homens, especialmente nos nossos tempos. Não duvide de que tudo iria muito melhor, em nossa vida e no mundo, se aprendêssemos a adorar a Deus.

Adorar é uma palavra cheia de conteúdo. Significa:

1. Em primeiro lugar, reconhecer Deus e dizer-lhe: Tu és o meu Deus e o meu
Senhor!

2. Depois, significa admirar com alegria a imensa grandeza, beleza e bondade de Deus.

3. Em terceiro lugar, significa inclinar-se diante dEle com respeito e com obediência de filhos.

4. E, ainda, em quarto lugar, significa fazer da vida um contínuo ato de agradecimento ao Senhor.

São vários reflexos de uma mesma luz, mas todos estão unidos, se entrecruzam, formam uma única atitude.

Adorar é Reconhecer

Adorar, em primeiro lugar, é reconhecer. Quando dizemos «Tu és o meu Deus!», estamos reconhecendo: «Eu não sou o meu deus!» Já pensamos nisso? Evidentemente, nenhum de nós comete a tolice de dizer com a boca: «Eu sou Deus», mas muitos de nós o dizemos com a vida.

Sim. Porque nos dedicamos a adorar-nos a nós mesmos e queremos colocar tudo aos nossos pés. Talvez lembremos que, quando o diabo tentou Jesus no deserto e lhe pediu que o adorasse, Ele o repeliu dizendo: Para trás, Satanás, pois está escrito: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a Ele servirás (Lc 4, 8).

Nós, porém, adoramo-nos muitas vezes a nós mesmos. Por exemplo, quando pensamos:

«Primeiro procuro o que eu quero, obedeço à minha vontade, sirvo o meu interesse, e depois verei se tenho tempo de pensar no que Deus quer»

Ou, então:

«Na conduta, na moral, no casamento, no namoro, etc., eu digo o que é certo e errado, o que tem importância e o que “não tem nada”; eu é que defino a minha moral e “escolho” a minha religião, e não preciso nem de perguntar a Deus nem de que me falem de Deus e da lei de Deus»

Os Magos não quiseram ser deuses: Viemos adorar!

Adorar é Conhecer, Amar e Agradecer

Pense que só podemos adorar bem a Deus quando o conhecemos bem. Não se pode adorar uma incógnita ou uma neblina. Conforme o vamos conhecendo, Ele nos cativa e nos deslumbra com a sua bondade, beleza e verdade; dia após dia, causa-nos mais admiração e desperta mais amor; sentimos desejos cada vez mais inflamados de compreendê-lo, de vê-lo – procurarei, Senhor, o teu rosto!, dizemos, com o Salmo (26, 8) -, e entendemos que a Bem-aventurada Isabel da Trindade afirmasse:

«A adoração é o êxtase do amor»

Necessitamos conhecer a Deus, e o Natal nos abre caminho para isso. A vinda de Cristo ao mundo fez com que o rosto de Deus, que nós não podemos ver, se tornasse visível no rosto de Jesus: Quem me vê, vê o Pai (Jo 14, 9). Essa é uma das grandes alegrias que nos infunde o mistério da Encarnação do Filho de Deus. São João Apóstolo e Evangelista escrevia, cheio de gratidão: Ninguém jamais viu a Deus. O Filho único, que está no seio do Pai, ele no-lo deu a conhecer (Jo 1, 18). Por isso, quem quiser ver Deus deve olhar intensa e amorosamente para Cristo. Deve começar por conhecê-lo muito mais intimamente e detalhadamente.

Bastaria, para isso, que o contemplássemos devagar tal como nos aparece lendo os Evangelhos. O nosso coração arderia então de amor, e em nós brotaria uma sede de estar com Ele tão intensa, que ficaríamos felizes só de pensar nEle, de saber-nos perto dEle, e sobretudo de encontrá-lo na loucura de amor que é – como dizia São Josemaria – a Eucaristia.

Então, passaríamos a vida agradecendo o dom que Deus nos faz de si mesmo. A nossa alma, cheia de ternura e gratidão, adoraria comovida o Menino-Deus que nos chama pelo nosso nome e nos estende os braços no presépio de Belém.

Adorar é Confiar e Obedecer

Mais um pensamento. Quem ama, confia. Quando nos inclinamos para Jesus com amor, nos abandonamos ao seu amor. Acolhemos com confiança tudo o que Ele nos pede, tudo o que nos ensina, tudo o que nos manda. E desse amor nasce o desejo de agradá-lo e obedecer-lhe sempre.

São poucas as pessoas que entendem que obedecer a Cristo e à sua Igreja é amá-lo. No entanto, Jesus disse-nos uma e outra vez que a obediência é o segredo do verdadeiro amor: Se me amais, guardareis os meus mandamentos (Jo 14, 15). Se guardardes os meus preceitos, sereis constantes no meu amor (Jo 15, 10).

E, ao falar da Igreja que Ele fundou – a minha Igreja, como a chamava -, dizia aos Apóstolos, chefes dessa Igreja: Quem a vós ouve, a mim ouve; quem a vós despreza, é a mim que despreza (Lc 10, 16). Infelizmente, a obediência a Deus e aos representantes de Deus é como uma espécie de mendiga desagradável, que, na prática, muitos cristãos desprezam. Precisamos resgatá-la de preconceitos, se quisermos alcançar o amor.

Os dons dos Magos

Uma última reflexão. Conta o Evangelho que os Magos, como ato de adoração e reconhecimento, depois de prostrar-se diante de Jesus, abriram os seus tesouros, e ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra. Cada presente tem, pelo menos, um significado. Percebemos qual pode ser?

Ao depositarem o ouro aos pés de Jesus, queriam significar:

«Todo o ouro do mundo, ao lado de Jesus Menino, é pó. Todas as coisas materiais, se não nos levam a Deus, se não as usamos de acordo com o espírito de Cristo, para louvar e servir a Deus e amar-nos mutuamente, são lixo, um lamaçal em que nos atolamos»

Só o amor a Deus e ao próximo transforma as coisas materiais, as tarefas materiais, as preocupações corriqueiras, o dever de cada dia, em ouro puro aos olhos de Deus.

O incenso que se queima e desaparece, enquanto se eleva em nuvens perfumadas, é um símbolo do amor que se entrega. Quando, na Igreja, se oferece incenso a Deus, é como se todos nós disséssemos:

«Não há vida mais bela, não há coração mais belo, do que aquele que se queima – consumindo o bagaço do egoísmo – e se transforma em perfume oferecido a Deus»

Também colocam mirra aos pés de Jesus. A mirra era muito valiosa, mas muito amarga e forte de sabor. A Jesus, quando estava no Calvário, ofereceram-lhe uma bebida com mistura de mirra, como um narcótico que ele não bebeu, e a usaram também para embalsamar o seu corpo. Por isso, a mirra foi vista como um anúncio da Paixão. Talvez esse dom significasse, da parte dos Magos, numa antevisão, o agradecimento a Jesus pelo infinito amor com que ia morrer por nós na Cruz. E sugere-nos também que o mistério da Cruz não pode estar ausente da vida do cristão, que devemos aprender a ofertar amorosamente a Jesus as nossas dores – aceitando a vontade de Deus – e os nossos sacrifícios voluntários.

E nós?

Após meditarmos sobre os presentes dos Magos, nos perguntamos:

«E os meus presentes, quais são?»

Para muitas pessoas, o Natal só é visto como tempo de compras e presentes. Nós deveríamos vê-lo, sim, como um tempo de «presentes», mas acima de tudo de presentes espirituais: presentes da alma, que são os únicos que podem fazer aflorar um sorriso nos lábios de Jesus, Maria e José.

Que presentes da alma? É bom lembrar que muitos oferecem a Jesus, nesses dias de Natal, uma confissão bem-feita, uma decisão definitiva de converter-se; orações especiais e sacrifícios: pequenas penitências um pouco mais custosas. De modo particular, façamos o propósito de plantar alegrias em todos os corações que encontrarmos nesse tempo de Natal; e de realizar iniciativas, atos de serviço, pequenos ou grandes, que possam aliviar pessoas carentes, desempregados, crianças, velhos, doentes…, lembrando-nos de que Jesus dizia: Tudo o que fizestes a um destes meus irmãos mais pequeninos, é a mim que o fizestes (Mt 25, 40).

Será que não podemos fazer mais alguma dessas coisas? No Tempo de Natal, perguntemo-nos isso enquanto ficamos junto de Maria e de José, olhando para o Menino. Ele também olhará para nós e, se continuarmos a contemplá-lo, abrirá no nosso coração uma fresta por onde vai entrar – para lá ficar como um raio de luz – o espírito do Natal.
Deus nos conceda a todos essa graça!

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