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A água e a corruíra

Na linda natureza de Deus
Aos desunidos e inquietos homens de hoje pregam alguns, em substituição ao cristianismo, a filosofia do Oriente… Budismo…, Gandhi…, Rabindranath…, Tagore…, introspeção mística…, sabedoria de faquires. Que dizer dessa epidemia moderna?

Não podemos negar que o sistema de um ou outro dos filósofos orientais oferece pensamentos elevados. Mas, é notório que não possuam uma única idéia cativante que seja nova deveras! Nenhuma, por cujo amor deveríamos aderir a eles, nenhuma que não seja propriedade do Cristianismo, desde 2OOO anos.

Afinal de contas, isso não é erro. O essencial não é que alguém ensine novidades, mas que pregue a verdade. Se, pois, Tagore e outros filósofos do Oriente encontraram verdades do Cristianismo, temos a alegria de verificar quão universalmente aplicável é a doutrina de nossa religião e quão arraigada está na natureza humana! Não! Os sábios hindus não nos podem oferecer senão uma valorização ainda mais profunda da fé cristã.

Outros quereriam criar antagonismos entre a Igreja e a cultura, quando é do conhecimento de todos que devemos à Igreja toda a cultura moderna. Quem primeiro levou a cultura para o seio dos povos pagãos? Quem ensinou aos povos os elementos da agricultura, arar, semear, manusear os produtos? Quem transformou a mata virgem em campo agrícola? Quem drenou os pantanais? Quem propagou por primeiro a civilização? A história nos responde: os missionários, os claustros, os ministros da Igreja Católica. Quem manteve, durante séculos, as escolas? Exclusivamente a Igreja Católica, quando ninguém se importava de ciências, nem mesmo o Estado. A quem se deve que tenham chegado até nós as obras dos clássicos gregos e romanos? Ao zelo dos monges da Idade Média, que incansáveis copiaram essas obras.

É bem conhecida a fábula da competição entre a águia e a corruíra.

“Apostemos”, disse a corruíra à águia, “quem voará mais alto”! A águia estendeu suas majestosas asas e voou para o alto, como seta, em direção ao céu azul, A pequena corruíra porém, sorrateiramente, colocara-se nas costas da águia, Quando esta quis descansar em vertiginosa altura, no delírio da vitória, a esperta corruíra elevou-se mais alto com alguns golpes de asa, e exclamou jubilosa: “Estou mais alto, ficaste para trás”! No entanto, nunca teria chegado a essa altura sem o auxílio da águia. — A civilização moderna está muito desenvolvida, mas infelizmente quer esquecer que toda a cultura hodierna brotou inicialmente da religião, e dela recebeu o alimento. Se não quiser soçobrar, não deve renegar sua mãe. — Vi uma vez um menino cigano saciando a sede num poço. Bebeu do balde até não poder mais, e depois cuspiu no poço. Foi essa a gratidão. Não fazem os mesmos muitos homens modernos, quando zombam da cultura religiosa, como a insolente corruíra zombou da águia?

Apesar disso, mesmo aos homens modernos põe-se sempre mais manifesto que o progresso puramente material, os confortos que oferece a técnica aperfeiçoada, não podem bem-aventurar a humanidade. Precisamos da religião, tanto quanto nossos antepassados, pois sem religião pode haver quando muito uma civilização, mas não uma cultura! Qual a diferença? A mesma que entre uma estação ferroviária e uma universidade. Naquela, trens rumorosos trazem uma multidão febricitante para o tumulto das plataformas: isso é civilização. Distante dali um jovem está ajoelhado no silêncio místico da capela, em fervorosa oração; em seguida toma de seus cadernos, vai à universidade e ouve preleções isso é cultura.

Sim, precisamos de máquinas, locomotivas, autos, antenas, isto é, de civilização; mas não precisamos menos de igrejas, bibliotecas, escolas, arte, ideais, isto é, de cultura espiritual.

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(TOTH, Monsenhor Tihamer. Na linda natureza de Deus. Editora S. C. J., 1945, p. 150-153)

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