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Meditação para o III Domingo do Advento

Alegrai-vos, pois o Senhor vem!
Por Dom Henrique Soares

Este terceiro domingo do Advento tem um tema predominante: a alegria provocada pela vinda do Senhor. Por isso, a cor rosa, que pode ser usada como um roxo atenuado, melhor ainda: a mistura do roxo do Advento com o branco do Natal que se aproxima. Alegrai-vos (Gaudete!) – convida-nos a liturgia, inspirando-se nas palavras do Apóstolo:

“Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto!” (Fl 4,4s)

Mas, pensando bem: há motivos para alegria verdadeira, profunda, responsável?
Ante as lutas e fardos da vida, podemos realmente alegrar-nos?
Antes as feridas e machucaduras do nosso coração, é possível uma alegria duradoura e verdadeira?
Ante as desacertos e desvios do mundo, é realmente possível este gáudio a que nos convida a Igreja, com as palavras de São Paulo?
E, no entanto, o convite é insistente: Alegrai-vos!

Contudo, antes do convite à alegria, ao júbilo, à exultação, permiti-me um outro convite: pensemos na vida de frente, como ela é, para cada um de nós e para os outros. Faço este convite porque somente assim nossa alegria poderá ser realista e verdadeira. Não esqueçamos que há também uma alegria boba, tola, tonta, irresponsável, que brota da superficialidade ou da ilusão… Não é dessa que falamos aqui…

Pois bem! A nossa vida – a minha, a sua! – gostaríamos que ela fosse como quiséramos, gostaríamos de controlá-la, de garantir que tudo saísse bem para nós e para os nossos, para os nossos e para todos… E, no entanto, constatamos com pesar que não temos em nossas mãos a nossa existência… Que duras as palavras de Jeremias profeta:

“Eu sei, Senhor, que não pertence ao homem o seu caminho, que não é dado ao homem, que caminha, dirigir os seus passos” (10,23)

O mundo não é como gostaríamos, os nossos caros não são e não vivem como esperávamos e nós mesmos, tampouco, vivemos a vida que sonhamos…
Nosso mundo anda estressado, as pessoas sentem-se sozinhas, meio como que perdidas, ante uma crise generalizada de valores e de sentido… Que caminho seguir? Que rumo tomar? Que valores são valores realmente ou, ao invés, mera ilusão? Conservamos ou destruímos o sentido sagrado do matrimônio e da família? Alguns prepotentes do Supremo Tribunal Federal, que se julgam iluminados, se prensam deuses, começam a dar os primeiros passos para legalizar o assassinato de crianças no útero materno – vamos concordar? E a corrupção galopante na nossa Pátria: vamos ainda votar em larápios, corruptos de toda uma sociedade? Vamos esquecer que fizeram do nosso País uma Pátria de Ladrões, uma República do Eu-não-sabia? Que País desmoralizado, o Brasil!

A vida é, deveras, estressante… E o Senhor nos exorta: Alegrai-vos! E neste Domingo de Advento, a Igreja insiste: Alegrai-vos! Alegrai-vos no Senhor!

O cristão não tem direito ao desânimo, ao desespero, ao derrotismo… Alegrai-vos! E alegrai-vos sempre! Mas, alegrai-vos no Senhor! E por quê? Porque Ele está perto! Não nos deixa nunca: ele vem sempre como Emanuel- Deus conosco!

Pensemos nas palavras tão consoladoras das leituras deste hoje! São para a terra deserta do coração do mundo e para o nosso:

“Alegre-se a terra que era deserta e intransitável, exulte a solidão e cresça como um lírio. Germine e exulte de alegria e louvores! Seus habitantes verão a glória do Senhor, a majestade do nosso Deus!”

Que cristão, que homem ou mulher de boa vontade não lamenta a situação atual da humanidade? Quem não sente na vida a tentação de fraquejar, e a mordida do desencanto? Quem não se condói com algumas realidades da vida da Igreja? Quem, às vezes, não pergunta onde Deus está, que parece tão distante e ausente?

Escutai:

“Fortalecei as mãos enfraquecidas e firmai os joelhos debilitados. Dizei às pessoas deprimidas: ‘Criai ânimo, não tenhais medo! Vede, é o vosso Deus: Ele vem para vos salvar!’”

É esta a esperança do santo Advento: a esperança num Deus que não nos esquece, não nos desilude, não nos deixa sozinhos… Um Deus que vem ao nosso encontro no Santo Messias esperado!

O profeta Isaías promete:

“Então se abrirão os olhos dos cegos e se descerrarão os ouvidos dos surdos. O coxo saltará como um cervo e se desatará a língua dos mudos”

E o que o profeta promete, o Senhor Jesus vem realizar:

“Ide contar a João o que estais ouvindo e vendo: os cegos recuperam a vista, os paralíticos andam, os leprosos são curados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os pobre são evangelizados!”

Eis aqui o motivo da nossa alegria: a certeza da fé em Jesus Cristo: Ele é a presença pessoal de Deus entre nós, Ele é aquele que cura nossas feridas, sustenta-nos na fraqueza, enche de doce presença o nosso coração solitário! Confiemos ao Senhor o mundo, a nossa vida, os nossos problemas, as coisas que nos preocupam. Lutemos e confiemos; lutemos e enchamos o coração de esperança no Senhor! A salvação que Ele trouxe haverá de se manifestar um dia: “A Vinda do Senhor esta próxima” – diz-nos São Tiago!

As grandes tentações para o cristão de hoje são a falta de entusiasmo e de esperança, um cansaço ante a paganização do mundo e a teimosia humana… Existe o sério risco de ceder ao mundo, de mundanizar e adocicar nossa esperança, que deve fundar-se somente em Cristo Jesus! A consequência do desânimo e de apoiar-se no mundo, é a falta de uma alegria verdadeira! Procuram-se cristãos alegres, cristãos convictos, cristãos radicais! Precisam-se urgentemente de cristãos apaixonados, cristãos de verdade, cristãos que creiam no que acreditam! Afinal, somente há alegria duradoura e profunda somente quando se encontra o sentido da existência, e este sentido nos é oferecido pelo Cristo; unicamente em Cristo! Esperemos Nele: na Sua palavra, no Seu juízo, na Sua graça! Ele não nos esqueceu, Ele não está ausente do mundo e da nossa vida! Recordemos a forte exortação de São Tiago:

“Ficai firmes até à Vinda do Senhor! Ficai firmes e fortalecei vossos corações, porque a Vinda do Senhor está próxima! Irmãos, tomai como modelo de sofrimento e firmeza os profetas que falaram em nome do Senhor!”

O Advento não somente nos prepara para a celebração da primeira vinda do Senhor no Natal, mas nos convida a reconhecer Suas vindas na nossa vida e a esperar com ânsia e compromisso Sua Vinda final! Caminhemos, caríssimos, na alegria de quem espera com certeza, ainda hoje, ainda agora, nestes tempos difíceis, nebulosos; tempos de ruças tão espessas:

“Alegrai-vos sempre no Senhor! O Senhor está perto!”