2º Domingo depois de Pentecostes
5º Dia da Novena ao Sagrado Coração de Jesus
Tristis est anima mea usque ad mortem – “Minha alma está triste até a morte” (Mc 14, 34)
Sumário. A dor mais cruciante que afligiu o Coração de Jesus no correr de toda a sua vida, não foi a previsão dos tormentos e ultrajes que o esperavam, mas sim a previsão da ingratidão dos homens e dos ultrajes que lhe haviam de fazer no Sacramento de seu amor, na Santíssima Eucaristia. Ó Deus! Se nós temos cometido pecados, temos igualmente cooperado para afligir o Coração amabilíssimo de Jesus. Peçamos-Lhe ao menos perdão e tomemos a resolução de O amarmos com tanto mais ardor para o futuro.
I. É impossível considerar a grandeza da aflição do Coração de Jesus nesta terra pelo amor dos homens e não nos compadecermos dele. Jesus Cristo mesmo nos faz saber que seu Coração chegou a tal auge de tristeza, que esta só fora suficiente para lhe tirar a vida e fazê-Lo morrer de pura dor, se o poder divino não tivesse por um milagre impedido a morte. Tristis est anima mea usque ad mortem – “Minha alma está triste até a morte”.
A dor mais cruciante que tanto afligiu o Coração de Jesus, não foi a previsão dos tormentos e opróbrios que os homens Lhe preparavam, mas sim a previsão da ingratidão deles para com o seu amor imenso. Jesus previu distintamente todos os pecados que nós havíamos de cometer, depois de tantos sofrimentos seus e de uma morte tão amargosa e ignominiosa. Previu em particular as injúrias horrorosas que os homens haviam de infligir a seu adorável Coração, que lhes queria deixar no Santíssimo Sacramento, como penhor de afeto.
Ó Deus! Que ultrajes não recebeu Jesus dos homens neste Sacramento de amor! Uns calcaram-no aos pés, outros atiraram-no aos esgotos, outros dele se serviram para fazerem obséquio ao demônio! Todavia, a previsão de todos esses desprezos não obstou a que nos deixasse tão Grande penhor do seu amor. Jesus odeia em extremo o pecado, mas parece que o amor para conosco ainda ultrapassa o ódio que tem ao pecado; porquanto prefere permitir tantos sacrilégios a privar as almas andantes deste alimento celeste.
Não será tudo isso bastante para nos mover a amar um Coração que tanto nos amou? Não terá, por ventura, Jesus Cristo feito bastante para merecer o nosso amor? Deixaremos, ingratos, Jesus Cristo abandonado sobre o altar como fazem a maior parte dos homens? E não nos uniremos antes àquelas poucas almas devotas que sabem ser reconhecidas, para nos consumir de amor mais do que se consomem as velas que ardem ao redor dos santos tabernáculos? O Coração de Jesus ali está ardendo de amor para conosco; e, na sua presença, nós não arderemos de amor para com Ele?
II. Ó meu adorável e amado Jesus, eis aqui a vossos pés aquele que tanto contristou vosso amabilíssimo Coração. Ó céu! Como pude amargurar tanto esse Coração que tamanho amor me tem e não poupou nada para se fazer amar de mim! Mas, consolai-Vos, ó meu Salvador, assim Vos direi, consolai-Vos e sabei que meu coração, ferido pela graça do vosso santo amor, experimenta agora vivo pesar dos desgostos que Vos deu, e quisera morrer de dor. Quem me dera, ó meu Jesus, ter uma dor dos meus pecados igual à que Vós tivestes durante a vossa vida!
A Vós, Eterno Pai, ofereço a pena e o horror que vosso divino Filho sentiu de minhas faltas, e Vos peço, pelos seus merecimentos, que me deis tal arrependimento dos meus pecados, que viva d’aqui em diante em estado de dor continua, pensando no desprezo que outrora fiz à vossa amizade. E Vós, ó meu Jesus, dai-me no futuro tão grande horror do pecado, que me faça detestar ainda as faltas mais leves, por desagradarem a Vós, que sois digno de nunca ser ofendido, nem leve nem gravemente; sois digno de um amor infinito.
Ó meu amado Senhor, detesto tudo que Vos desagrada e no futuro só a Vós quero amar e aquilo que Vós amais Ajudai-me e fortalecei-me; dai-me a graça de Vos invocar sempre e de repetir sem cessar: Meu Jesus, dai-me o vosso amor, dai-me o vosso amor. † Doce Coração de meu Jesus, fazei que eu vos ame mais e mais. E vós, Maria Santíssima, obtende-me a graça de nunca deixar de vos dizer: Minha Mãe, fazei que eu ame a Jesus Cristo.
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(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 160-162)