Antes do complemento deste mistério
A Bem-aventurada Virgem, consagrada ao Altíssimo desde a mais tenra infância, vivia na prática de todas as virtudes. Deus se comprazia, vendo esta admirável Virgem elevar-se à mais alta perfeição, e a enriquecia todos os instantes de novas graças para a dispôr a ser um dia a Mãe de seu Filho. E cada vez ela se tornava mais digna desta sublime dignidade, pela pureza virginal e inviolada de que fizera voto; pela profunda humildade com que se aniquilava no acatamento divino, e pela elevação constante do seu espírito, rogando com fervorosa instância ao Senhor que acelerasse os felizes dias da Redenção. Em nossas orações, em nossos exercícios de piedade, sentimos por ventura os vivos afetos e ardentes desejos de que era animada a Santíssima Virgem? Ai! Que distrações, que negligência, que tibieza! Procuremos emendar-nos propondo-nos por exemplar o maravilhoso fervor de Maria Santíssima.Prodígio do amor de Deus neste mistério
Consideremos o incompreensível amor, a bondade, a misericórdia e a sabedoria infinita de Deus, que resolveu salvar o mundo por um meio tão admirável, como é a Encarnação do divino Verbo, e conheçamos quão terrível é o pecado de que Ele nos quis livrar, pois que foi necessário aplicar um remédio tão extraordinário. Bendigamos ao Senhor pela sua misericórdia e rendamos-Lhe mil ações de graças por ter escolhido a divina Maria para dar ao mundo o nosso adorável Salvador. Saudemos com o Anjo esta Virgem bem-aventurada, e tributemos-lhe todos os respeitos e homenagens devidas à Mãe de Deus, à soberana do universo.Meditação para Terça-feira da 2ª Semana do Advento
Sumário
Era já em Deus uma bondade infinita ter, desde toda a eternidade, decretado salvar-nos, e salvar-nos pela Encarnação; mas eis que agora se oferece às nossas meditações outro prodígio. Porque meio salvará o Verbo Encarnado o homem? A Santíssima Trindade decide em seus conselhos, que será: 1.° Pela humilhação; 2.° Pelo sofrimento; 3.° Pela morte. — Depois de ter meditado estes profundos mistérios, tomaremos a resolução: 1.° De aceitar de bom grado todas as humilhações e frustradas esperanças do amor próprio, que nos sobrevierem; 2.° De submetermo-nos a todas as cruzes e provas da Providência; 3.° De oferecermo-nos a Deus como vítimas dignas da morte em virtude do pecado - Stipendia peccati mors (Rm 6, 23). O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Apóstolo:"Fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho" - Cum inimici essemus, reconciliati sumus Deo per mortem Fili ejus (Rm 5, 10)
Texto escrito por Pe. de Lubac, extraído do livro “Exegese Medieval. Os quatro sentidos da Escritura”, vol. III.
Em Jesus Cristo, que era a finalidade, a antiga Lei encontrou precedentemente a sua unidade. Século após século, tudo nessa Lei convergia para Ele. É Ele que, da totalidade das Escrituras, formava já a única Palavra de Deus. Nele, os “verba multa” (as muitas palavras) dos escritores bíblicos tornam-se para sempre Verbum unum - "Palavra única". Sem Ele, ao invés, o laço se dissolve: de novo a palavra de Deus se reduz a fragmentos de “palavras humanas; palavras múltiplas, não somente numerosas, mas múltiplas por essência e sem unidade possível, porque, como constata Hugo de São Vítor, multi sunt sermones hominis, quia cor hominis unum non est - "Muitas são as palavras do homem, porque o coração do homem não é uno".