I
O Evangelho de São João não era unicamente uma narrativa e uma história; era a exposição de uma teologia inspirada. Primeiro, a geração eterna do Verbo, Sua operação no mundo e nos espíritos, Sua encarnação realizada e perpetuada; depois, como explicação e razão destas maravilhas, o amor de Deus, um amor eterno, infinito, dando por si só a chave de todos os mistérios: tal é o assunto e o fundo dessa teologia, a mais admirável que se possa ler. Assim como a Bíblia começava pelo Gênesis, que é a criação do mundo; o Evangelho de São João começa pela geração do Verbo, que é o gênesis do Filho de Deus. São Boaventura faz a seguinte observação:Este nome de Verbo, Jesus Cristo não se servira dele para designar-se a Si mesmo; também João nunca o põe em seus lábios divinos no correr do Evangelho. E ele, João, e só ele, que, para adaptar-se à linguagem de alguns de seus contemporâneos, faz uso desta palavra, a fim de fazê-los compreender, e melhor do que o faziam eles, como e por quem Deus se exprime no mundo.«Moisés disse os princípios da sabedoria divina, João proclamou sua consumação» - Moysés dívinae sapientiae inchoator Joannes divinae sapientiae terminator