Sumário. As enfermidades são a pedra de toque para se conhecer o espírito de uma pessoa. Meu irmão, quando o Senhor te visita com esta tribulação, sem dúvida te é lícito rogar-lhe que te restitua a saúde, a fim de a empregar ao seu serviço: podes também tomar os remédios prescritos; mas, afinal, resigna-te sempre à vontade divina, que dispõe tudo para o nosso bem. Para te animar à paciência, lembra-te do que sofreram os santos. Olha sobretudo para Jesus, que durante toda a sua vida foi Homem de dores, e sê devoto de Maria Santíssima, a Rainha dos mártires.Infirmitas gravis sobriam facit animam — “A enfermidade grave faz a alma sóbria” (Eclo 31, 2)
Devoção a Santo Afonso como modelo das Virtudes Fundamentais. Mês de Dezembro
Sumário. Foram numerosos os espinhos semeados no caminho que nosso santo percorreu, e ele, por ter a compleição biliosa, devia sentir sobremaneira as picaduras. Mas, querendo imitar a Jesus Cristo, manso e humilde, de coração, Afonso, por meio de esforços heróicos, chegou não só a sofrer com paciência, senão a desejar sempre sofrimentos maiores. Ah! Se nós também estudássemos o grande livro do Crucifixo, quão leves se nos afigurariam as cruzes que Deus nos envia!Melior est patiens viro forti, et qui dominatur animo suo expugnatore urbium — “O homem paciente é melhor do que o valoroso ; e o que domina o seu ânimo, melhor do que o expugnador de cidades” (Pv 16, 32)
Necessidade das cruzes
Todos os que querem viver virtuosamente segundo Jesus Cristo hão de padecer perseguições, diz São Paulo: Omnes qui pie volunt viver in Christo Jesu persecutionem patientur (2 m 3, 12). Perguntareis talvez o que significam estas palavras, pois, muitas almas piedosas e cristãs desfrutam, tranquilamente e sem perseguição, uma vida santa. São João Crisóstomo responde que por perseguição devemos entender todas as dificuldades, os trabalhos, dores que experimentam aqueles que se aplicam à piedade, por causa dos esforços que se veem obrigados a fazer para pôr um freio às suas paixões, praticar a continência, a humildade, a temperança, e aplicar-se ao serviço e ao amor de Deus (Homil. de Cruce). Jamais, diz São Leão, faltam cruzes nem perseguições, se somos fieis observadores da virtude: Numquam deest tribulatio persecutionis, si numquam desit observantia pietatis (De quadrag. IX, c. I). E como haveremos de viver em todos o tempo piedosamente, acrescenta este santo Doutor, também, em todo o tempo, temos de levar a Cruz: Sicut ergo totius est temporis pie vivere, ita totius temporis crucem ferre (Ut supra).Em todos os tempos, são os maus que zombam dos bons
Durante os cem anos que Noé empregou em construir a Arca, ele não deixava de advertir aos homens que fizessem penitência, que haveria um dilúvio universal; e os homens corrompidos ridicularizavam-no e zombavam dele. Ló avisou aos Sodomitas que haveria um dilúvio de fogo e puseram-no em ridículo. Os profetas falam em nome do Senhor, mandam em nome do Senhor, e os ímpios o tomam como um motivo de zombaria. Tendo chegado Jesus à casa do chefe da Sinagoga, e vendo aos tocadores de flauta e a multidão que se agitava tumultuosamente, disse-lhes: Retirai-vos, porque a jovem não morreu, senão que dorme. E riam-se Dele: Et deridebant eum (Mt 9, 23-24).Excelências e vantagens das aflições
É muito melhor o sofrer por Jesus Cristo do que o ressuscitar mortos, diz São João Crisóstomo. Por meio deste, nós contraímos uma dívida com Deus. Por meio daquele, Jesus Cristo se converte em nosso devedor. Ó Maravilha! Jesus Cristo nos faz um obséquio, e por este obséquio ficará agradecido: Pati pro Christo, magis est quam suscitare mortos: hic enim debitor sum (Deo); illic autem debitorem habeo Christum. Ó rem admirandam! Et donat mihi, et super hoc, ipse debet mihi (Homil. IV in Epist. ad Philipp.). Santo Egídio, discípulo de São Francisco, dizia:"Ainda que o Senhor fizesse cair pedras e rochas do céu, nenhum dano nos fariam se soubéssemos sofrer as aflições" (Ribaden, in ejus vita).
Acerbidade das penas de Maria
Consideremos que penetrantes e terríveis espadas de dor traspassaram o terno e sensibilíssimo coração de Maria, quando seu querido Filho se despediu dela para dar começo à Sua Paixão; quando O viu arrastado ignominiosamente pelas ruas de Jerusalém, pisado com pancadas, escarnecido, esbofeteado, coroado de espinhos e pregado na cruz entre dois facinorosos; quando O viu expirar e presenciou a lançada com que um soldado Lhe rompeu o peito para se certificar da Sua morte; quando recebeu nos braços o corpo morto e desfigurado do seu Jesus; e finalmente quando recolhido o cadáver ao sepulcro, ela ficou reduzida à mais amargosa soledade. Tudo o que sofreram os mártires todos juntos é muito pouco em comparação do que então sofreu a mais terna de todas as mães. Ah! Os nossos pecados são a causa das imensas dores desta santa Mãe, porque foram eles quem deu a morte a seu querido Filho. Detestemo-los, pois, de todo o coração, vamos ao pé da truz misturar as nossas lágrimas com as de Maria; peçamos-lhe que nos alcance uma viva contrição de todos os nossos pecados, e a graça de nunca mais os cometer."O que nela se gerou, é obra do Espírito Santo" (Mt 1)
Mês de Dezembro
Breve introdução sobre a Paciência e o Apóstolo Patrono
Estamos na terra para fazermos penitência e merecermos; não é ela, portanto, lugar de repouso, mas de trabalhos e sofrimentos. As dores, adversidades e outras tribulações hão de ser as mais belas jóias da nossa corôa no paraíso. Pratiquemos a paciência: 1. Quando a morte nos arrebata os parentes ou amigos; 2. Na pobreza; 3. Nos desprezos e perseguições; 4. Nas desolações espirituais; 5. Nas tentações; 6. Nas doenças. A resignação na morte, para fazer a vontade de Deus, é bastante para assegurar a nossa salvação eterna. Pondera que nesta vida, quer queiras, quer não, terás necessariamente de padecer. Procura por isso padecer de maneira meritória, isto é, pacientemente; violenta-te e evita romper em queixas e lamentos. Se te venceres, Deus te fará experimentar durante a tribulação uma doçura desconhecida dos mundanos, mas muito conhecida daqueles que amam a Deus. Se Deus te visitar com doenças, pobreza, perseguições e outras adversidades, humilha-te diante dEle, e dize com o bom ladrão:E mesmo que não tenhas perdido a inocência batismal, certamente já terás merecido um longo purgatório. Por isso alegra-te se fores castigado neste mundo e não no outro. Consola-te também nos sofrimentos internos com a esperança do céu. Recorda-te das palavras de São Paulo:"Recebemos o que mereciam nossas ações” (Lc 23, 41).
“Os padecimentos deste mundo não tem comparação com a glória futura que será manifestada em nós” (Rom 8, 18)
Se tua vida te parecer insuportável, olha para teu divino Salvador, que te precede, carregando a cruz. Ouve o que Ele diz:“O que aqui é para nós uma tribulação momentânea e ligeira produz em nós, de um modo maravilhoso no mais alto grau, um peso eterno de glória” (2 Cor 4, 17)
Teu Salvador vai sempre adiante, e só pára ao chegar ao monte Calvário, para ai morrer por ti. Acostuma-te a submeter-te já antecedentemente na oração a todos os sofrimentos que talvez te sobrevirão; assim procederam os santos e por isso estavam sempre prontos a abraçar todas as cruzes, mesmo as que lhes sobrevinham inesperadamente. Suplica, finalmente, ao Senhor instantemente que te conceda a graça da paciência, pois, sem a oração, nunca obterás essa grande graça. Justamente na oração encontraram os santos mártires a coragem para suportar os mais atrozes tormentos e a morte mais ignominiosa. Se recorreres ao Senhor com confiança, Ele te livrará dos teus padecimentos ou então te concederá a graça de suportá- los com paciência. Ele mesmo disse:“Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo e tome todos os dias a cruz sobre si” (Lc 9, 23)
Sumário I. A sua natureza II. Da Paciência em Geral III. Da Paciência nas Enfermidades IV. Da Paciência nas Injúrias e Perseguições V. Da Paciência na Desolações Espiritual VI. Alguns avisos a respeito do Exercício da Paciência VII. A Abnegação e o Amor da Cruz no Redentor VIII. A Prática da Paciência IX. Orações para alcançar a Virtude do Mês“Vinde a mim todos que andais em trabalhos e vos achais carregados e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28)