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Tag: são francisco de sales

Como se deve Comungar

Parte II Capítulo XXI

Começa já na véspera do dia da comunhão a te preparar com repetidas aspirações do amor divino e deita-te mais cedo que de costume, para te levantares também mais cedo. Se acordas durante a noite, santifica esses momentos por algumas palavras devotas ou por um sentimento que impregne tua alma da felicidade de receber o divino Esposo; enquanto dormes, Ele está velando sobre o teu coração e preparando as graças que te quer dar em abundância, se te achar devidamente preparada. Levanta-te de manhã com este fervor e alegria que uma tal esperança te deve inspirar, e depois da confissão aproxima-te com uma grande confiança e profunda humildade da mesa sagrada, para receber este alimento celeste, que te comunicará a imortalidade. Depois de pronunciares as palavras: Senhor, eu não sou digno, etc., já não deves mover a cabeça ou os lábios para rezar ou suspirar; mas, abrindo um pouco a boca e elevando a cabeça de modo que o padre possa ver o que faz, estende um pouco a língua e recebe com fé, esperança e caridade aquele que é de tudo isso ao mesmo tempo o princípio, o objeto, o motivo e o fim.

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A Comunhão Frequente

Parte II Capítulo XX

É conhecido o que se diz de Mitridates, rei do Ponto, na Ásia, o qual inventou um alimento preservativo de todo veneno. Nutrindo-se dele, este rei tornou o seu temperamento tão robusto que, estando a ponto de ser preso pelos romanos e querendo evitar o cativeiro, por mais que fizesse, não conseguiu envenenar-se. Não foi isso mesmo que fez nosso divino Salvador dum modo verdadeiro e real, no augustíssimo Sacramento do altar, onde ele nos dá o Seu corpo e sangue, como um alimento, que confere a imortalidade?

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Como se devem receber as Inspirações

Parte II Capítulo XVIII

Por inspirações compreendemos todos os atrativos da graça, os bons movimentos do coração, os remorsos de consciência, as luzes sobrenaturais e em geral todas as bênçãos com que Deus visita o nosso coração, por Sua misericórdia amorosa e paternal, para acordar-nos da nossa sonolência ou para nos incitar à prática das virtudes ou para aumentar em nós o amor a Ele; numa palavra: para nos fazer procurar o que é de nosso interesse eterno. É exatamente isso que o Esposo dos Cantares chama em termos místicos procurar a Esposa, bater-lhe à porta, falar-lhe ao Coração, acordá-la, fazê-la chamar por ele em sua ausência, convidá-la a comer o seu mel, a colher frutos e flores e a lhe falar.

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Como se deve Ouvir e Ler a Palavra de Deus

Parte II Capítulo XVII

Deves ter um gosto especial em ouvir a palavra de Deus, mas escute-a sempre com atenção e respeito, quer no sermão, quer em conversas edificantes dos teus amigos que gostam de falar em Deus. É a boa semente, que não se deve deixar cair em terra. Aproveita-te bem dela; recebe-a no teu coração como um bálsamo precioso, à imitação da Santíssima Virgem, que conservava no seu peito, cuidadosamente, tudo o que ouvia dizer de seu divino Filho, e lembra-te sempre que Deus não ouvirá favoravelmente as nossas palavras na oração, se não tirarmos proveito das Suas nos sermões.

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Devemos Honrar e Invocar os Santos

Parte II Capítulo XVI

Sendo pelo ministério dos anjos que muitas vezes recebemos as inspirações de Deus, é também por meio deles que lhe devemos apresentar as nossas aspirações, não menos que por meio de santos e santas, que, como Nosso Senhor disse, sendo agora semelhantes aos anjos na glória de Deus, lhe apresentam de contínuo as suas orações e desejos em nosso favor. Aliemos os nossos corações, Filotéia, a estes espíritos celestes, a estas almas bem-aventuradas; assim como os filhotes dos rouxinóis aprendem a cantar com os grandes, nós aprenderemos também, por esta união, a honrar a Deus e a rezar condignamente.

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Outros Exercícios Públicos e Comuns de Devoção

Parte II Capítulo XV

Nos domingos e dias de festa, que são dias consagrados a Deus por um culto mais particular e mais amplo, pensas muito bem, Filotéia, que te deves ocupar mais que de ordinário dos deveres de religião, e que, fora os outros exercícios, deves assistir ao ofício de manhã e à tarde, se o podes comodamente. Sentirás com muita doçura a piedade e podes crer a Santo Agostinho, que afirma em suas “Confissões” que, quando, no começo de sua conversão, assistia ao ofício divino, o seu coração se inundava de suavidade e seus olhos se arrasavam de lágrimas. Demais (direi uma vez por todas), tudo o que se faz na Igreja, publicamente, tem sempre maior valor e consolações do que o que se faz privadamente; porque Deus quer que no tocante a seu culto demos sempre a primazia à comunhão dos fiéis, de preferência a todas as devoções particulares.

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A Santa Missa e o melhor modo de Ouvi-la

Parte II Capítulo XIV

1. Até aqui ainda não falei do Santíssimo Sacrifício e Sacramento do altar, que é para os exercícios de piedade o que o sol é para os outros astros. A Eucaristia é, na verdade, a alma da piedade e o centro da religião cristã, a qual se referem todos os seus mistérios e leis. É o mistério da caridade, pelo qual Jesus Cristo, dando-Se a nós, nos enche de graças dum modo tão amoroso quão sublime. 2. A oração feita em união com este sacrifício divino recebe uma força maravilhosa, de sorte que a alma, Filotéia, cheia das graças de Deus, da suavidade de Seu espírito e da influência de Jesus Cristo, se acha naquele estado de que fala a Escritura quando diz que a Esposa dos Cantares estava reclinada sobre o seu Dileto, inundada de delícias e semelhante a uma nuvem de fumaça que o incenso mais precioso levanta para o céu, aromatizando o ar.

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As Aspirações ou Orações Jaculatórias e os Bons Pensamentos

Parte II Capítulo XIII

Recolhemo-nos em Deus, porque o anelamos e o anelamos para recolhermo-nos nEle. Deste modo, o recolhimento espiritual e o anelo ou aspiração por Deus dão-se as mãos um ao outro e ambos provem dos bons pensamentos. Eleva muitas vezes o teu espírito e coração a Deus, Filotéia, por jaculatórias breves e ardentes. Admira a excelência infinita de suas perfeições, implora o auxílio de seu poder, adora a sua divina majestade, oferece-lhe tua alma mil vezes por dia, louva sua infinita bondade, lança-te em espírito aos pés de Jesus crucificado, interroga-o muitas vezes sobre tudo aquilo que concerne a tua salvação, saboreia interiormente a doçura do seu espírito, estende-lhe a mão, como uma criancinha a seu pai, pedindo-lhe que te guie e conduza; põe a sua cruz no teu peito, como um delicioso ramalhete, põe-na em teu coração, como uma bandeira debaixo da qual tens que combater o inimigo; numa palavra, volve teu coração para todos os lados e dá-lhe todos os movimentos que puderes, para excitá-lo a um amor terno e ardoroso ao teu Esposo divino.

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Do Recolhimento: A Solidão do Coração

Parte II Capítulo XII

Neste ponto, Filotéia, desejo que sejas mais dócil ainda em seguir os meus conselhos; porque penso que daí muito depende para o teu adiantamento. Lembra-te, as mais vezes que puderdes durante o dia, da presença de Deus, servindo-te de um dos quatro meios de que tenho falado. Considera o que Deus fez e o que tu fazes, e verás que Deus tem continuamente os olhos pregados em ti com um amor inefável. Ó meu Deus, hás de exclamar, por que não emprego sempre os meus olhos para contemplar-Vos, assim como Vós estais sempre olhando para mim com tanta bondade? Por que pensais tanto em mim, Senhor? E por que eu penso tão raras vezes em Vós? Onde é que estamos nós, minha alma? A nossa verdadeira habitação é em Deus, e onde é que nos achamos? Os passarinhos tem seus ninhos, onde se refugiam; os veados tem os matos e moitas para se esconderem ao abrigo dos caçadores e dos raios ardentes do sol; nosso coração deve escolher para si também, todos os dias, um lugar ou no Calvário ou nas chagas de Jesus Cristo ou em algum outro lugar perto dEle, para se retirar, de tempos em tempos, para repousar do bulício e calor dos negócios exteriores e para se defender dos ataques do inimigo. Sim, três vezes feliz é a alma que em verdade pode dizer a Nosso Senhor: Vós sois o meu lugar de refúgio, a minha fortaleza contra os inimigos, a sombra de vossas asas respiro um ar dulcíssimo e estou seguro, ao abrigo das intempéries do tempo.

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A Oração da Noite e o Exame de Consciência

Parte II Capítulo XI

Como antes da refeição corporal, tiveste o alimento espiritual pela meditação, será de grande proveito tomares também deste alimento espiritual antes do chá a noite. Escolhe alguns minutos antes desta refeição e prostra-te diante de teu Deus aos pés do crucifixo, lembrando-te contigo mesmo da dissipação do dia. Reacende em teu coração o fogo da meditação da manhã por atos de profunda humilhação, por suspiros de ardente amor a Deus, e aprofunda-te, abrasada deste amor, nas chagas do amantíssimo Salvador, ou então vai repassando em teu espírito e no fundo do teu coração tudo quanto saboreaste na oração, a não ser que prefiras ocupar-te de um novo objeto.

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