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Tag: são francisco de sales

Deve-se tratar dos Negócios com muito cuidado, mas sem Inquietação nem Ansiedade

Parte III Capítulo X

Grande diferença há entre os cuidados dos negócios e a inquietação, entre a diligencia e a ansiedade. Os anjos procuram a nossa salvação com o maior cuidado que podem, porque isto é segundo a sua caridade e não é incompatível com a sua tranquilidade e paz celestial; mas, como a ansiedade e a inquietação são inteiramente contrárias a sua bem-aventurança, nunca as tem por nossa salvação, por maior que seja o seu zelo. Dedica-te, Filotéia, aos negócios que estão ao teu encargo, pois Deus, que os confiou a ti, quer que cuides neles com a diligencia necessária; mas, se é possível, nunca te entregues ao ardor excessivo e ansiedade; toda inquietação perturba a razão e nos impede de fazer bem aquilo mesmo por que nos inquietamos.

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A Mansidão para Conosco

Parte III Capítulo IX

Um modo de fazer um bom uso desta virtude é aplicá-la a nós mesmos, não nos irritando contra nós e nossas imperfeições; o motivo, pois, que nos leva a sentir um verdadeiro arrependimento de nossas faltas não exige que tenhamos uma dor repassada de aborrecimento e indignação. É quanto a esse ponto que erram muitos continuamente, agastando-se por estarem agastados e amofinando-se por estarem amofinados, porque assim conservam aceso no coração o fogo da cólera e, bem longe de abrandar deste modo a paixão, estão sempre prestes a exasperar-se a primeira ocasião. Além de que esta ira, pesar e aborrecimento contra si mesmo encaminham ao orgulho, procedem do amor-próprio que se perturba e inquieta por nos ver tão imperfeitos.

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A Mansidão no trato com o Próximo e os Remédios contra a Cólera

Parte III Capítulo VIII

O santo crisma, que a Igreja, seguindo a tradição dos apóstolos, usa no sacramento da confirmação e em diversas outras bênçãos, compõe-se de óleo de oliveira e de bálsamo, que nos representam, entre outras coisas, a mansidão e a humildade, duas virtudes tão caras ao divino Coração de Jesus e que Ele nos recomendou expressamente, dizendo-nos: Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; como se unicamente por amor destas duas virtudes quisesse consagrar o nosso coração ao Seu serviço e aplicá-lo a imitação de Sua vida. A humildade aperfeiçoa o homem em seus deveres para com Deus; e a mansidão, em seus deveres para com a sociedade humana. O bálsamo, que, misturado com outro líquido, se afunda, nos representa a humildade; e o óleo de oliveira, que fica nadando em cima, nos faz lembrar a mansidão, que faz o homem passar por cima de todo o sofrimento e que excede a todas as virtudes, porque é a flor da caridade, que, como diz São Bernardo, só possui o auge da sua perfeição quando ajunta a virtude a paciência.

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Modo de Conservar a Reputação juntamente com o Espírito de Humildade

Parte III Capítulo VII

O louvor, a honra e a glória não são o preço duma virtude ordinária, mas duma virtude rara e excelente. Louvando uma pessoa, queremos que outros a estimem, e, honrando-a nós mesmos, manifestamos a estima que lhe devotamos; e a glória é um certo resplendor da reputação que provém dos louvores que se lhe dão e das honras que se lhe tributam, semelhante ao brilho e esmalte de diversas pedras preciosas que, todas juntas, formam uma única coroa. Ora, a humildade, impedindo-nos todo o amor e estima de nossa própria excelência, também não pode consentir que busquemos louvores, honras e glórias, que só são devidas ao merecimento da excelência e da distinção. Entretanto, aconselha o sábio que cuidemos de nosso bom nome, porque a reputação não se funda na excelência duma virtude ou perfeição, mas nos bons costumes e na integridade da vida; e, como a humildade não proíbe crer que temos este merecimento comum e ordinário, também não nos proíbe que amemos e cuidemos da reputação.

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A Humildade nos faz Amar a nossa própria Abjeção

Parte III Capítulo VI

Passando adiante, Filotéia, digo-te que deves amar em tudo e sempre a tua própria abjeção. Perguntar-me-ás talvez o que chamo amar a sua própria abjeção e é isso que começo a explicar-te. Estes dois termos, abjeção e humildade, na língua latina tem a mesma significação; assim, a Santíssima Virgem, exclamando em seu sagrado cântico que todas as gerações proclamarão a sua bem-aventurança, porque o Senhor olhou para a sua humildade, quer dizer-vos que Deus se dignou lançar os olhos sobre a sua pequenez e abjeção, para a cumular de Suas graças e glórias. Existe, contudo, uma notável diferença entre a virtude da humildade e a abjeção; pois a abjeção não é nada mais que a baixeza, mesquinhez e fraqueza que temos em nós mesmos e independentemente de nossas reflexões; mas a humildade é o verdadeiro conhecimento que temos de nossa abjeção, o qual nos induz a reconhecê-la em nós de boa vontade.

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A Humildade Interior é a mais Perfeita

Parte III Capítulo V

Desejarás, Filotéia, que te introduza ainda mais na prática da humildade; este desejo merece o meu aplauso e eu o quero satisfazer; pois, no que tenho dito até agora, há mais prudência que humildade. Encontram-se pessoas que nunca querem prestar atenção as graças particulares que Deus lhes faz, temerosas que seu coração, enchendo-se duma vã complacência, não de toda a glória a Deus. É um falso temor e um verdadeiro erro. Pois, desde que a consideração dos benefícios de Deus é um meio eficacíssimo de amá-Lo, assim, diz o Doutor Angélico, quanto mais O conhecemos, tanto mais O amamos. Mas, sendo nosso coração mais sensível as graças particulares que aos benefícios gerais, é exatamente sobre aquelas graças que devemos refletir.

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A Humildade nas Ações Exteriores

Parte III Capítulo IV

O profeta Eliseu mandou uma pobre viúva pedir emprestados aos vizinhos todos os vasos que pudesse e lhe disse que o pouco azeite ainda restante havia de correr tanto até enche-los todos. Isto nos mostra que Deus quer corações que estejam bem vazios, para os encher de Sua graça pela unção do Seu espírito; e é de nossa própria glória, Filotéia, que os devemos esvaziar. Diz-se que um certo passarinho, por nome tataranho, tem uma virtude secreta, no seu grito e nos seus olhos, de afugentar as aves de rapina e crê-se ser esta a razão da simpatia que as pombas lhe dedicam. Assim nós também podemos dizer que a humildade é o terror de Satanás, o rei do orgulho, que ela conserva em nós a presença do Espírito Santo e de Seus dons e que por isso foi tão apreciada dos santos e santas e tão querida dos Corações de Jesus e de sua Mãe.

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A Paciência

Parte III Capítulo III

A paciência, diz o apóstolo, vos é necessária para que, fazendo a vontade de Deus, alcanceis o que Ele vos tem prometido. Sim, nos diz Jesus Cristo, possuireis vossas almas pela paciência. O maior bem do homem consiste, Filotéia, em possuir seu coração e tanto mais o possuímos quanto mais perfeita é nossa paciência; cumpre, portanto, aperfeiçoarmo-nos nesta virtude. Lembra-te também que, tendo Nosso Senhor nos alcançado todas as graças da salvação pela paciência de Sua vida e de Sua morte, nós também no-las devemos aplicar por uma paciência constante e inalterável nas aflições, nas misérias e nas contradições da vida.

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Continuação das Reflexões necessárias sobre a Escolha das Virtudes

Parte III Capítulo II

Diz muito opinadamente Santo Agostinho que muitos principiantes da devoção fazem coisas que julgando-se estritamente segundo as regras da perfeição, seriam censuráveis e que só se louvam neles como presságios e disposições, que são duma grande virtude. Aquele temor baixo e excessivo que produz escrúpulos fúteis na alma dos que saem do caminho do pecado, é considerado como uma virtude e presságio certo duma perfeita pureza de consciência no futuro; mas esse mesmo temor seria repreensível nos mais adiantados na perfeição, que se devem guiar pela caridade, a qual vai expulsando aos poucos o temor servil.

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A Escolha das Virtudes

Parte III Capítulo I

A rainha das abelhas nunca sai da colmeia, sem ser rodeada de todo o enxame de seu povinho, e a caridade nunca entra num coração senão como rainha, seguida de todas as outras virtudes, que aí introduz, dispõe em ordem, segundo a sua dignidade, e fá-las agir, regulando-lhes as funções mais ou menos como um capitão dirige e ordena os seus soldados; mas não as faz agir todas ao mesmo tempo nem do mesmo modo, nem a todo momento, nem em todos os lugares. O justo — diz David — será corno uma árvore plantada junto às correntes das águas, que a seu tempo dará o seu fruto, porque a caridade, animando o coração, o leva à prática de muitas boas obras, que são os frutos das virtudes, mas cada uma a seu tempo e em seu lugar. Esforça-te por compreender exatamente o provérbio da Escritura: A música, sendo em si tão agradável, é importuna no pranto.

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