Prudência e Caridade de São José
Deus, cujos desígnios são impenetráveis, não quis revelar ao esposo de Maria o grande mistério que nela acabava de completar-se. Só depois que voltou de casa de Isabel é que José percebeu o estado em que Maria Santíssima se achava, o que o afligiu vivamente; mas, como ele era justo e não queria infamar esta esposa querida cuja virtude conhecia, resolveu deixá-la ocultamente. Exemplo admirável de doçura, prudência, moderação e caridade! A alta ideia, que ele tinha de santidade de sua casta esposa, não lhe permite que desconfie dela; suspende o seu juízo, poupa a reputação de Maria, tem para com ela as mesmas atenções, caridade e respeito, entrega tudo aos cuidados da divina Providência. Quantas suspeitas injuriosas, quantos juízos temerários, quantos pecados não evitaríamos nós, se tivéssemos a mesma prudência, reserva e caridade, quando julgamos ver algum defeito no procedimento do nosso próximo, quando somos tentados a julgá-lo e a condená-lo!Capítulo XIX
Quantas vezes ao entrarmos nas nossas Igrejas nos causa pena, muita pena, a indiferença, a falta de fé com que parte da assistência, sobre tudo os homens, ouve missa! Já pensaram os nossos leitores na gravidade da culpa em que incorrem tantos cristãos ao portarem-se e bastas vezes na Igreja com a mesma sem-cerimônia que usam em casa? Em alguns a temeridade chega a ponto de levá-los a olhar para todos os lados, a dar fé dos que entram e saem, a pensar em assuntos mundanos e a conversar inútil e descaradamente em quanto no altar se celebra o tremendo Sacrifício, Mistério augustíssimo ante o qual os próprios Anjos velam respeitosos o rosto. Podia Cristo dizer-lhes, tão justificadamente como as disse aos vendilhões do Templo aquelas palavras que o Evangelho nos transmitiu:«A minha casa é casa de orações é vós a tornastes covil de ladrões»
Mês de Julho
Breve introdução sobre a Obediência e o Apóstolo Patrono
Se poucas almas há que se dão inteiramente a Deus, é porque poucas são as que se submetem inteiramente à obediência. Há pessoas tão aferradas à própria vontade, que a mesmíssima coisa que, fora da obediência, lhes seria de gosto para ser executada, amarga e difícil se lhes faz quando exigida por obediência, é unicamente por esta causa; tais pessoas tomam prazer somente com executar o que lhes dita a vontade própria. Este não é o proceder dos santos, os quais só ficam tranquilos quando obedecem. São Filipe Néri dizia:Deve-se ter confiança no confessor, ajuntava o Santo, e crer que Deus não lhe permitirá se engane: não existe meio mais seguro para um desfazer os artifícios do inimigo que seguir no bem a vontade de outrem; ao contrário, nada mais perigoso do que querer dirigir-se pelos seus conselhos pessoais. Se queres andar seguro no caminho da perfeição, deixa-te guiar por teus superiores, quanto às coisas externas, e obedece, em tudo que diz respeito a teu interior, a teu diretor espiritual. Os negociantes, para se assegurarem de seus negócios, exigem que outros prestem fiança; do mesmo modo, para assegurar teu eterno ganho, deves procurar a fiança da obediência para tuas obras todas. Persuade-te, por isso, vivamente de que é a Deus que obedeces quando obedeces a teus superiores. Se Jesus viesse pessoalmente para te encarregar de algum negócio ou ofício, recusar-te-ias talvez a obedecer-lhe ou desculpar-te-ias? Ora, é muito mais certo que é Deus mesmo quem te fala, quando teus legítimos superiores te mandam alguma coisa, do que quando Jesus, aparecendo-te, te incumbisse de alguma coisa, porque essa aparição poderia basear-se em um engano, ao passo que está fora de dúvida que Deus disse, em relação aos superiores:“Os que desejam progredir no caminho de Deus devem submeter-se a um confessor instruído, e dar-lhe obediência como ao próprio Deus; quem procede assim, pode estar certo de que não dará a Deus contas do que faz”
Esforça-te, portanto, para obedeceres em tudo que não for claramente pecado, com toda a prontidão, alegria e simplicidade. Não te faças muito rogar: um verdadeiro obediente não demora, não se desculpa, não mostra sua repugnância interna por um rosto enfadado, mas começa a executar imediatamente o preceito com alegria, nem sequer espera a ordem expressa do superior: basta saber que é sua vontade dirigir-se conforme isso. Não desejes igualmente saber as razões por que te mandaram fazer isto ou aquilo, pois assim tua obediência seria muito imperfeita. Se quiseres ser muito agradável a Jesus Cristo, suplica a teus superiores que te tratem inteiramente conforme o seu parecer e sem consideração alguma por ti; o merecimento da obediência será então muito maior. Esforça-te para que tua obediência se origine sempre da intenção de cumprir com a vontade de Deus, porque, se a praticares com outro intenção, por exemplo, para granjear a benevolência de teus superiores, satisfarás aos homens, mas não a Deus. Em casos duvidosos, faze aquilo que julgas que teus superiores ordenariam; e se não puderes resolver de forma alguma, faze aquilo que é mais oposto à tua inclinação. Sumário I. A sua natureza II. Do Mérito da Obediência III. Da Obediência dos Filhos a seus Pais IV. Da Obediência dos Criados a seus Amos V. Da Obediência ao Diretor Espiritual VI. A Obediência do Redentor VII. A Prática da Obediência VIII. Orações para alcançar a Virtude do Mês“Quem vos ouve, a mim ouve” (Lc 10, 16)
Meditação para a Terceira Segunda-feira depois de Pentecostes
SUMARIO
O culto de latria, que rendemos a Deus pelo Santo Sacrifício, e ao qual devemos unir-nos, não só consiste na suma estima de Deus, mas também no profundo respeito das Suas grandezas. Veremos: 1.º Quanto respeito Jesus Cristo, no Santo Sacrifício, demonstra a seu Pai; 2.º Quão respeitosos, na nossa conduta habitual, devemos ser para com Deus. — Tomaremos a resolução: 1.º De falarmos sempre a Deus nas nossas orações com profunda devoção, acompanhada de uma perfeita modéstia dos sentidos; 2.º De termos em todos os lugares um grande respeito para com a presença de Deus, que nos vê de dia e de noite. O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Salmista:"Cheio de temor vosso, vos adorarei no vosso santo templo" - Adorabo ab templum sanctum tuum in timore tuo (Sl 5, 8)
Meditação para a Quarta-feira na oitava do Santíssimo Sacramento
SUMARIO
Depois de termos visto o que é a Eucaristia para conosco, meditaremos o que devemos ser para com ela. À primeira classe desses deveres pertence o respeito. Veremos pois: 1.° Quão profundo deve ser o nosso respeito com a Eucaristia; 2.° Que grandes bens tiraremos deste profundo respeito. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De nos conservarmos sempre na igreja com uma profunda devoção, uma compostura decente, um semblante modesto; 2.° De nela guardarmos rigoroso silêncio, sem falar a ninguém, mas só a Deus, salvo o caso de necessidade. O nosso ramalhete espiritual será as palavras dos livros santos:"Que terrível é este lugar! Tremei diante do meu santuário!" - Quam terribilis est locus iste! (Gn 28, 17). Pavete ad sanctuarium menum! (Lv 26, 2)
Meditação para a Quarta-feira da Sexagésima
SUMARIO
Prosseguiremos as nossas meditações sobre a palavra de Deus, e consideraremos: 1.° O respeito; 2.º A atenção que devemos a esta divina palavra. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De ouvirmos e lermos a Palavra de Deus com o mesmo respeito que se Deus em pessoa nos falasse, e de não criticarmos as pregações; 2.° De buscarmos nos ensinos, não o que distrai o espírito, mas o que muda o coração, e de tirarmos sempre disso resoluções praticas. O nosso, ramalhete espiritual será a palavra de Santo Agostinho:"Não é menos criminoso aquele que ouve com descuido a Palavra de Deus do que aquele que deixa cair ao chão por sua negligência a sagrada Hóstia" - Non minus reus est qui verbum Dei negligenter audierit, quam qui corpus Christi in terram cadere negligentia sua permiserit
Meditação para o dia 29 de Novembro
Somos obrigados a executar com justiça e consciência as últimas vontades dos nossos mortos. O que no leito de morte nos pediram, o que deixaram em testamento seja respeitado, porque daremos contas severas a Deus desta tremenda injustiça se lesarmos os direitos dos mortos e não cumprirmos suas últimas vontades. As pobres almas do purgatório são vítimas da Justiça de Deus, porque devem expiar seus pecados, e muitas vezes também vítimas das injustiças dos homens. Herdeiros que defraudam os bens dos mortos e nem se lembram de lhes sufragar a pobre alma com uma só Missa! Filhos que discutem e se odeiam por uma miserável herança e cometem toda sorte de injustiças, lesando-se mutuamente numa louca ambição, ao invés de em paz honrarem a memória dos pais e cumprirem as cláusulas dos testamentos. É uma das mais tremendas injustiças. Lesar os vivos é um pecado, mas lesar os mortos tirando-lhes os sufrágios por injustiça, é um pecado que só pode atrair a vingança de Deus. Diz o Espírito Santo que haverá um juízo sem misericórdia para quem não usou de misericórdia.Que não será o que lesa o direito das pobres almas?“Que juízo tremendo e duro não há de ser o de quem defraudou os direitos dos mortos ? Lesar um pobre, disse o Quarto Concilio de Cartago, é se fazer assassino do pobre”
Meditação para o Dia 27 de Agosto
1. O sacerdócio é tão sublime, que também aos que não são sacerdotes cumpre estimá-lo devidamente. Os sacerdotes tem de curar, de pedir e de sacrificar. Perdoando, em lugar de Deus, os pecados, e curando assim as almas, ressuscitando-as até da morte e dando-lhes nova vida, tem o poder mais alto que pode haver. Se outra distinção e poder não tivessem, este seria suficiente para tratá-los com um respeito inexcedível. Pela recitação do breviário, o ofício divino, não só conversam, dia por dia, longo tempo com Deus, mas intercedem também por tantos que não rezam ou que rezam pouco ou mal.Meditação para o Dia 09 de Agosto
1. Não há ninguém na terra que não tenha de obedecer a alguém. Deus tem como seus representantes os pais, autoridade eclesiástica e civil, etc. Que disparate contemplar neles só a pessoa e o caráter humano, desprezar suas ordens ou cumpri-las à força! Obediência - palavra misteriosa que poucos compreendem a fundo e, menos ainda, põem em prática. palavra odiosa a muitos, a todos aqueles que a tem por fraqueza e covardia! Entretanto, a história de toda a mocidade de Jesus está compreendida nas palavras:"Desceu com eles, e veio para Nazaré e lhes estava sujeito"...