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Tag: pecados

Jesus, condenado à morte, leva a sua cruz ao Calvário

Capítulo XXVI

Et bajulans sibi crucem, exivi in eum qui dicitur Calvariae locum - "E tomando a sua cruz, caminhou para o lugar chamado Calvário" (Jo 19, 17)

Depois da flagelação de nosso Senhor, vendo-o Pilatos reduzido a um estado tão digno de compaixão, julgou apaziguaria os seus inimigos com lh’o mostrar somente. Conduziu-o pois a uma espécie de balcão, e mostrando-os aos judeus, lhes disse:

“Eis o homem!”

O povo emudeceu, e começava talvez a ganhar a compaixão, mas os príncipes dos sacerdotes e seus ministros bradaram, ao vê-lo:

“Crucifica-o, crucifica-o!”

Pilatos caído da sua esperança diz-lhe agrément:

“Pois bem! Tomai-o vós mesmos e crucificai-o; eu não acho nele causa para o condenar”

Os judeus lhe responderam:

“Nós temos uma lei e segundo esta lei deve morrer porque se fez Filho de Deus. .. Demais, se o não condenas à morte, não és amigo de Cesar”

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A amante de Jesus ou história de Maria Madalena

Capítulo XIII

Remittuntur et peccata multa, guoniam dilexit multum - "Perdoados lhe são seus muitos pecados porque amou muito" (Lc 7, 47)

Poucas historias há no Evangelho que mais consolador exemplo nos deem da misericórdia de Jesus, nosso bom Mestre, como a de Santa Maria Madalena. Tenho para mim que ninguém pode ser esta historia sem ser penetrado de ardente desejo de amar um Deus tão compassivo e sempre tão disposto a perdoar a um pobre pecador que lhe vem testemunhar o seu arrependimento. Contemo-la pois em toda a sua simplicidade.
“Um Fariseu rogava a Jesus que fosse a comer com ele. E havendo entrado em casa do Fariseu se assentou à mesa. E no mesmo tempo uma mulher pecadora que havia na cidade, quando soube que estava à mesa em casa do Fariseu, levou uma redoma de alabastro cheia de balsamo e pondo-se a seus pés (1) por de traz dele começou a regar-lhe com lágrimas os pés, e os enxugava com os cabelos da cabeça, e lhe beijava os pés e os ungia com balsamo”

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A pena mais grave do Menino Jesus

Quae utilitas in saguine meo, dum descendo in corruptionem? - “Que proveito há no meu sangue, se desço à corrupção?” (Sl 29, 10)

Sumário. Quando Jesus estava ainda no seio de Maria Santíssima, já previa a dureza de coração dos homens, que pela maior parte havia de pisar o seu sangue aos pés e de desprezar a graça que com seu sangue lhes havia merecido. Foi esta a pena que mais O afligiu. Se nós também temos sido do número desses ingratos, não desesperemos, contanto que estejamos resolvidos a converter-nos; porque o divino Menino veio a oferecer a paz a todos os homens de boa vontade. Arrependamo-nos, pois, de nossos pecados e façamos o propósito de amar doravante o nosso bom Deus, e estejamos certos de que acharemos a paz, isso é, a amizade divina.

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Loucura dos pecadores

Sapientia enin huius mundi stultitia est apud Deum - “A sabedoria deste mundo é loucura diante de Deus” (1 Cor 3, 19)

Sumário. Quem crê na vida futura e apesar disso vive no pecado e longe de Deus, merece ser metido num hospício de doidos. Com efeito, que loucura, renunciar ao paraíso e merecer o inferno por um vil interesse, por um pouco de fumo, por um prazer vergonhoso! O pior porém, é que o número de semelhantes loucos é infinito, e no mesmo tempo que são tão loucos, eles se têm por homens sábios e prudentes. Irmão meu, serás tu por ventura do número desses infelizes?

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Das penas do inferno

A queda do Pecador (Peter Paul Rubens, por votla de 1620)
A queda do Pecador (Peter Paul Rubens, por votla de 1620)

Confira as importantes advertências de Santo Afonso para bem aproveitar esta obra!

CONSIDERAÇÃO XXVI

Et ibunt in supplicium aeternum - "E irão estes ao suplício eterno" (Mt 25, 46)

PONTO I

O pecador comete dois males quando peca: aparta-se de Deus, Sumo Bem, e se entrega às criaturas.
“Dois males fez meu povo: abandonaram-me a mim, que sou fonte de água viva, e cavaram para si cisternas rotas, que não podem reter a água” (Jr 2,13)
Em vista de o pecador se ter dado às criaturas com ofensa a Deus, será justamente atormentado no inferno por essas mesmas criaturas, pelo fogo e pelos demônios: esta é a pena do sentido. Como, porém, sua maior culpa, na qual consiste a maldade do pecado, é a separação de Deus, o maior suplício do inferno é a pena do dano ou da privação da visão de Deus, perda irreparável. Consideremos, em primeiro lugar, a pena do sentido. É de fé que existe inferno. No centro da terra se encontra esse cárcere, destinado ao castigo dos que se revoltaram contra Deus.

Que é, pois, o inferno?

O lugar de tormentos (Lc 16,28), como o chamou o mau rico; lugar de tormentos, onde todos os sentidos e todas as faculdades do condenado hão de ter o seu castigo próprio, e onde aquele sentido que mais tiver servido para ofender a Deus mais acentuadamente será atormentado (Sb 11,17; Ap 18,7). A vista padecerá o tormento das trevas (Jó 10,21). Digno de profunda compaixão seria um infeliz encerrado em tenebroso e acanhado calabouço, durante quarenta ou cinquenta anos de sua vida. Pois o inferno é cárcere fechado por completo e escuro, onde nunca penetrará raio de sol nem qualquer outra luz (Sl 48,20). O fogo que aqui na terra ilumina, não será luminoso no inferno.

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Dos enganos que o inimigo sugere ao pecador

A Tentação, pintura por André Jacques Victor Orsel, 1832
A Tentação, pintura por André Jacques Victor Orsel, 1832

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CONSIDERAÇÃO XXIII

(Apesar de que muitos pensamentos incluídos nesta meditação já tenham sido considerados nas precedentes, é útil, todavia, compendiá-los e reuni-los aqui a fim de combater os enganos usuais de que se serve o demônio para iludir os pecadores à reincidência em suas culpas.)

PONTO I

Imaginemos que um jovem, réu de graves pecados, se confessou e recobrou a graça divina. O demônio tenta-o novamente, a fim de que recaia em seus pecados. O jovem resiste no princípio, mas começa a vacilar em vista das ilusões que o inimigo lhe sugere.
“Meu irmão — lhe direi — que queres fazer? Desejas, porventura, sacrificar a uma vil satisfação essa excelsa graça de Deus, que reconquistaste, e cujo valor excede ao do mundo inteiro? Queres firmar por tuas próprias mãos a tua sentença de morte eterna e condenar-te a sofrer para sempre no inferno?” — “Não — responder-me-ás — não quero condenar-me, mas salvar a minha alma. Mesmo que cometa esse pecado, confessá-lo-ei logo...”
Tal é a primeira sugestão do tentador. Confessar-se depois! Entretanto, perde-se a alma! Dize-me: se tivesses na mão uma formosa joia de altíssimo valor, lançá-la-ias ao rio, dizendo: procurá-la-ei com cuidado, pois espero encontrá-la? Tens entretanto, em tua mão, essa joia riquíssima de tua alma, que Jesus Cristo resgatou com seu sangue.

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Das penas do Inferno

Das penas do Inferno

Omnis dolor irruet super eum - “Toda a sorte de dores virá sobre ele” (Jó 20, 22)

Sumário. É artigo de fé que há um inferno, isto é, uma prisão miserabilíssima toda cheia de fogo, onde cada sentido e cada faculdade do réprobo sofrem uma pena particular. Enquanto fazemos esta meditação, tantos cristãos desgraçados, talvez da mesma idade que nós, talvez conhecidos nossos, estão ardendo nessa fornalha ardente, sem a mínima esperança de saírem de lá. Reflete agora, meu irmão: qual é o estado de tua consciência? Se o Senhor te deixasse morrer na primeira noite, para onde iria a tua alma?

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Dos mau hábitos

Maus hábitos causam cegueira

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CONSIDERAÇÃO XXII

Impius, cum in profundum venerit peccatorum, contemnit - "O ímpio, depois de ter caído no abismo dos pecados, tudo despreza" (Pr 18, 3)

PONTO I

Uma das maiores desventuras que nos legou a culpa de Adão é a nossa propensão ao pecado. Dela se lamenta o Apóstolo, sentindo-se levado pela concupiscência ao próprio mal que aborrecia:
“Veio outra lei a meus membros que... me leva preso à lei do pecado” (Rm 8,25)
Resulta daí que nós, infeccionados de tal concupiscência e cercados de tantos inimigos que nos incitam ao mal, dificilmente chegaremos sem culpa à glória. Reconhecida, pois, esta fragilidade a que estamos sujeitos, pergunto eu:
“Que dirias de um viajante que, devendo atravessar o mar durante forte tempestade e num barco meio avariado, quisesse carregá-lo com tal peso que, mesmo que não houvesse tempestade e ainda que o navio fosse de construção resistente, bastaria para fazê-lo soçobrar?..."
Que prognóstico formarias sobre a vida deste viajante? Pois pensa o mesmo do indivíduo de maus hábitos e costumes, que deve cruzar o mar tempestuoso da vida, em que tantos naufragam, num barco frágil e avariado, como é nosso corpo no qual viaja a alma. Que sucederá se o carregarmos ainda com o peso irresistível dos pecados habituais? É difícil que tais pecadores se salvem, porque os maus hábitos cegam o espírito, endurecem o coração e ocasionam provavelmente a obstinação completa na hora da morte. Primeiramente, o mau hábito nos cega. Qual o motivo que fazia os Santos implorar incessantemente a luz divina, temendo converter-se nos pecadores mais abomináveis do mundo? É porque sabiam que, se chegassem a perder a luz divina, poderiam cometer culpas horrendas.

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A filha de Jairo, a hemorroíssa, e a alma pecadora

Ressurreição da filha de Jairo

23º Domingo depois de Pentecostes

Domine, filia mea modo defuncta est: sed veni, impone manum tuam super em et vivet - “Senhor, nesta hora acaba de expirar minha filha; mas vem, impõe sobre ela a tua mão, e viverá” (Mt 9, 18)

Sumário. Meu irmão, se porventura te achares enfermo espiritualmente por causa do pecado, imita a hemorroíssa, da qual nos fala o Evangelho, chega-te a Jesus, na pessoa de seu representante, o sacerdote, no sacramento da penitência. Se, como espero, a consciência não te acusa de pecado grave, imita a confiança de Jairo, e roga ao Senhor faça reviver espiritualmente tantos pecadores, teus irmão. Considera, porém, atentamente que não seja daqueles que têm o nome de vivos e estão mortos ou moribundos por causa de sua tibieza.

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Do Número dos Pecados

Virar as costas á Deus

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CONSIDERAÇÃO XVIII

Quia non profertur cito contra malos sententia, ideo filii hominum perpetrant mala - "Porquanto o não ser proferida sentença logo contra os maus, é causa de os filhos dos homens cometerem crimes sem temor algum" (Ecl 8, 11)

PONTO I

Se Deus castigasse imediatamente a quem o ofende, não se veria, sem dúvida, tão ultrajado como o é atualmente. Mas, porque o Senhor não sói castigar logo, senão que espera benignamente, os pecadores cobram ânimo para ofendê-lo. É preciso, porém, considerar que Deus espera e é pacientíssimo, mas não para sempre. É opinião de muitos Santos Padres (de São Basílio, São Jerônimo, Santo Ambrósio, São Cirilo de Alexandria, São João Crisóstomo, Santo Agostinho e outros) que Deus, assim como determinou para cada homem o número dos dias de vida, e dotes de saúde e de talento que lhe quer outorgar (Sb 11,21), assim, também, contou e fixou o número de pecados que lhe quer perdoar. E, completo esse número, já não perdoa mais, diz Santo Agostinho. Eusébio de Cesaréia e os outros Padres acima citados afirmam o mesmo. E não falaram estes Padres sem fundamento, mas baseados na Sagrada Escritura. Diz o Senhor, em certo lugar do texto, que adiava a ruína dos amorreus porque ainda não estava completo o número de suas culpas (Gn 15,16). Em outra parte diz:
“Não terei no futuro misericórdia de Israel (Os 1,6). Já por dez vezes me provocaram. Não verão a terra” (Nm 14,22-23)
E no livro de Jó se lê:
“Tendes selado, como num saco, as minhas culpas” (Jó 14, 17)
Os pecadores não tomam conta dos seus delitos, mas Deus enumera-os bem, a fim de os decifrar quando a seara estiver madura, isto é, quando estiver completo o número de pecados (Joel 3,13). Em outra passagem lemos:
“Não estejas sem temor da ofensa que te foi perdoada e não amontoes pecado sobre pecado” (Ecl 5,5)
Ou seja: é preciso, pecador, que tremas ainda dos pecados que já te perdoei; porque, se lhes acrescentares outro poderá ser que este novo pecado com aquele complete o número e então não haverá misericórdia para ti. Ainda mais claramente, em outra passagem, diz a Escritura:
“O Senhor espera com paciência (as nações) para castigá-las quando se completar a conta dos pecados, e então virá o dia do juízo” (2Mc 6,14)
De sorte que Deus espera o dia em que se completa a medida dos pecados, e depois castiga.

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