
Capítulo XX
Acabava o nosso divino Salvador de ser apresentado a Caifás, que, como pontífice naquele ano, “lhe fez perguntas sobre seus discipulos e qual era a sua doutrina. Eu falei publicamente ao mundo, eu sempre ensinei na sinagoga e no templo, aonde concorreram todos os judeus, e em oculto nada disse. Para que me perguntas? Pergunta àqueles que ouviram o que lhes falei: ei-los ai estão, sabem o que eu lhes ensinei”. Digna era esta resposta da sabedoria mesma que a proferira. Mas não obstante, um dos quadrilheiros que ali se achava, vira-se para Jesus e com insolência lhe diz: “Assim respondes ao pontífice?”. Dizendo isto lhe descarrega uma bofetada. Uma bofetada! Espíritos celestes, onde estais? Que fazeis, anjos Bem-aventurados! como podeis sofrer uma afronta destas ao vosso rei? Uma bofetada!!! Severamente devia ser punido o oficial que tal trato dera a Jesus; mas o pontífice aprovou, ao menos por seu silencio, ação tão bruta. A um tal desacato parece que a terra devia entreabrir-se para abismar este malvado; parece que Jesus devia fazer sentir a este.insolente que ele era o seu Deus; mas não. Jesus, abrasá-lo sempre do desejo de nos provar o seu amor e nos deixar salutares exemplos, sofre com toda a paciência esta afronta e se responde é só para evitar o escândalo, mostrando que não faltara ao respeito ao pontífice.Unus assistens minisirorum dedit alapam Jesu - "Um dos quadrilheiros, que ali estava, deu uma bofetada em Jesus" (Jo 18, 22)
Meditação para Dia 19 de Março
1. A escritura, que pouco nos refere da Santíssima Virgem, também pouco nos diz de São José. Contenta-se em chamá-lo de Justo. São José, porém, além deste, tem mais dois títulos que dispensam todos os outros: Pai nutrício de Jesus, Esposo de Maria. Nestas qualidades de São José funda-se tanto a sua dignidade e grandeza, quanto a nossa confiança. Lembra-te que, segundo a palavra de Santa Teresa, ninguém recorre a São José em vão.Meditação para Dia 18 de Março
1. a) "Levantai-vos! Vamos. Eis aí vem chegando o que me há de entregar". Que mudança! Aflito antes até à morte, Jesus enfrenta agora seus inimigos, cheio de grandeza e força. É esta a consequência da contínua oração. Deus não elimina do gênero humano o sofrimento, mas lhe dá a força para suportá-lo. Serás pusilânime, se não rezares. b) Que se terá passado na alma de Jesus, ao ser preso! Deus, preso por suas criaturas! O inocente, pelos culpados! Cristo, por ti!...Meditação para Dia 17 de Março
1. a) "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação". Jesus, aflito até à morte, censura seus apóstolos. Com quanto amor, porém, e com quanta mansidão! Procedes assim? Censuras por aversão, ou por dever? b) Dos apóstolos, que, calados e humildes, aceitaram a merecida censura, aprende o que fazer em caso semelhante. Se fores censurado sem o mereceres, lembra-te que muitas vezes foste culpado, e não sofreste censura. Não será teu amor a Deus capaz de sofrer calado, ou, ao menos, de justificar-te calmamente, sem ofender?Meditação para Dia 16 de Março
1. a) "Então lhe apareceu um anjo do céu que o confortava". É este o fruto da oração de Jesus. Sê fiel a Deus na provação. No auge da dor, quando mais o precisares, Deus te consolará. b) Quanta humildade a de Jesus! Em sua infância e durante sua vida aceitou, como se deles precisasse, os serviços e os cuidados por parte dos homens; agora aceita a consolação dum anjo. Se o Criador se deixa consolar pela criatura, rejeitarás orgulhoso o conselho e o auxílio de teus semelhantes ou súditos? Fica sabendo que nesta vida ninguém é seu próprio condutor.Meditação para Dia 15 de Março
1. "E posto em agonia, orava Jesus com maior insistência". Por um lado Jesus receava a paixão; por outro desejava-a, combatendo o próprio medo. Muitas vezes terás de lutar contra a lei da carne, para que prevaleça a do espírito. Toma Jesus por teu exemplo. Quanto maior forem tua aflição e confusão, mais ardentemente deves rezar. Como rezas? Quantas vezes? Pedes, nas horas de calma do espírito, a indispensável força para as horas de desgosto e tentações? Lembra-te, no combate, que Deus te vê. Testemunha de teu proceder, reservar-te-á a coroa, se fores bom combatente.
Capítulo XV
Sim, verdadeiramente Jesus foi um homem de dores; sua vida foi toda de sofrimentos interiores e exteriores; foi um martírio continuo, um martírio mil vezes mais cruel do que podemos imaginar. Que não teve ele de sofrer durante os nove meses que passou no casto seio de sua mãe? É certo que gozava de toda a sua razão e tinha o mais fino sentimento de todos os seus sofrimentos. Que horrorosa posição esta! Oh! sempre muito amor era preciso haver no coração deste bom Mestre, pois para no-lo testemunhar quis encerrar-se numa tão incomoda prisão! E em seu nascimento o que não sofreu? Ele a nascer num curral, ele exposto às injurias do tempo, ele a tremer de frio, ele a chorar. Por toda a parte o acompanham os sofrimentos, nem um instante o deixam. Se sai do presépio de Belém, é para derramar as primícias do seu sangue; mais tarde um pouco essa sua mesma pátria forçado se viu a deixar e fugir para terra estrangeira, afim de escapar ao furor de um rei ímpio e sanguinário. Por toda a sua vida terá que sofrer os incômodos da pobreza, e terminá-lo-á sim, terminará essa vida de angustias por uma cruel morte! Eis aqui pois, ó meu Jesus! o que por mim tendes sofrido; Ah! Bem justo é que por vosso amor também eu sofra alguma coisa. Fazei-me a graça, eu vos suplico, de sequer ao menos suportar com paciência e resignação as penas desta vida corruptível.Viram dolorum - "Jesus foi um homem de dores" (Is 53, 3)
Meditação para Dia 14 de Março
1. Se Jesus tantas vezes, com santa impaciência, tinha predito e aguardado sua paixão, por que exclama agora no horto das Oliveiras:"Pai meu, se é possível, passe de mim este cálice?"É porque tinha assumido toda a fragilidade da nossa natureza, que se assusta ante todo o sofrer. E que sofrimentos inauditos os que esperavam o Cordeiro Imaculado!... Mas Jesus acrescenta "se é possível", isto é, salvar o gênero humano sem tão grande sofrimento e terrível morte. Seu amor transluz de todas as palavras. Por mais que o assuste a paixão, prefere sofre-la a nos ver condenados para sempre. Tudo por nós! Tudo por ti!

Capítulo XIV
Nesta parábola nos pôs Jesus diante dos olhos, de um lado o quadro dos nossos desvarios, do outro a viva imagem da ternura com que recebe o pecador arrependido, que vem lançar-se em seus braços. Meditemo-la, pois, atentamente; dela tiraremos nós numerosos motivos para mais e mais amarmos o nosso divino Mestre.Filius meus mortuus erat, et revixit, perierat, et inventus est - "Meu filho era morto, e reviveu; tinha- se perdido e achou-se" (Lc 15, 24)
Estranho modo de proceder este! E no entanto assim é que eu fiz, há já tantos anos. Apenas a razão me começava a distinguir o bem do mal, já eu dizia ao meu Deus: Senhor, dai-me sem demora a saúde, a ciência, as riquezas e a beleza, que eu tudo isto quero, não para vossa gloria, mas para ofender-vos, não para minha salvação, mas para minha ruína. Ó meu Deus, envergonhado o confesso, esta é a linguagem que usei, pelas minhas palavras talvez não, mas por minhas ações. Dignai-vos perdoar a minha loucura.“Um homem teve dois filhos; e disse o mais moço deles a seu pai: Pai, dá-me a parte da fazenda que me toca. E ele repartiu entre ambos a fazenda”