Capítulo XV
Sim, verdadeiramente Jesus foi um homem de dores; sua vida foi toda de sofrimentos interiores e exteriores; foi um martírio continuo, um martírio mil vezes mais cruel do que podemos imaginar. Que não teve ele de sofrer durante os nove meses que passou no casto seio de sua mãe? É certo que gozava de toda a sua razão e tinha o mais fino sentimento de todos os seus sofrimentos. Que horrorosa posição esta! Oh! sempre muito amor era preciso haver no coração deste bom Mestre, pois para no-lo testemunhar quis encerrar-se numa tão incomoda prisão! E em seu nascimento o que não sofreu? Ele a nascer num curral, ele exposto às injurias do tempo, ele a tremer de frio, ele a chorar. Por toda a parte o acompanham os sofrimentos, nem um instante o deixam. Se sai do presépio de Belém, é para derramar as primícias do seu sangue; mais tarde um pouco essa sua mesma pátria forçado se viu a deixar e fugir para terra estrangeira, afim de escapar ao furor de um rei ímpio e sanguinário. Por toda a sua vida terá que sofrer os incômodos da pobreza, e terminá-lo-á sim, terminará essa vida de angustias por uma cruel morte! Eis aqui pois, ó meu Jesus! o que por mim tendes sofrido; Ah! Bem justo é que por vosso amor também eu sofra alguma coisa. Fazei-me a graça, eu vos suplico, de sequer ao menos suportar com paciência e resignação as penas desta vida corruptível.Viram dolorum - "Jesus foi um homem de dores" (Is 53, 3)