Sumário. Desgraçada da alma cuja vida no juízo não for achada conforme à de Jesus Cristo! Sem demora, o divino Juiz pronunciará contra ela a sentença de condenação eterna – Aparta-te de mim, maldita, para ires arder eternamente no fogo. Meu irmão, agora vivemos em segurança e com indiferença ouvimos falar do juízo; mas quantos há que assim viveram e agora estão no inferno! E quem nos assegura que o mesmo não sucederá conosco? Se a morte nos surpreendesse na primeira noite, qual seria a nossa sentença?Discedite a me, maledicti, in ignem aeternum, qui paratus est diabolô et angelis eius - “Apartai-vos de mim, malditos para o fogo eterno, que está aparelhado para o diabo e os seus anjos” (Mt 25, 41)
Sumário. Grande é a tristeza do viajante ao ver que errou o caminho quando já caiu a noite e não há tempo para reparar o engano. Incomparavelmente maior será, na hora da morte, a tua mágoa, meu irmão, se em via não tiveres aproveitado o tempo, ou, pior ainda, tivesses dele abusado para ofenderes ao Senhor. Como fui insensato! – dirias então chorando. – Ó vida perdida! Em tantos anos, com tão grandes graças podia santificar-me e não o fiz... De que servirão então estas lamentações, quando a cena já estiver no fim e se aproximar o grande momento de que depende a eternidade?Vocavit adversum me tempus - “Chamou contra mim o tempo” (Lm 1, 15)
Sumário. Certas almas são chamadas por Deus a uma alta perfeição; mas porque elas não lhe dão o coração todo e conservam afeição às coisas da terra, não se fazem, nem se farão jamais santas. Mais, correm grande risco de se perderem eternamente. Deves, pois, meu Irmão, desapegar-te de todas as criaturas e dar-te todo a Deus, sem reserva. Para alcançarmos um fim tão sublime, roguemos sempre ao Senhor que nos abrase com seu santo amor, porque este consumirá em nós todo o afeto menos puro.Dilectus meus mihi, et ego illi - “Meu amado é para mim, e eu para ele” (Ct 2, 16)
Sumário. Meu irmão, por muitos anos que tenhas a viver, sabe que para todos os homens já está escrita a sentença de morte. O que sucedeu a nossos antecessores, suceder-nos-á também. Cedo ou tarde devemos morrer, e depois da morte espera-nos um juízo inexorável e uma eternidade ou de gozos infindos no paraíso, ou de tormentos indizíveis no inferno. Que insensatez seria, pois, a nossa, se para buscarmos uma fortuna que em breve se extingue, nos descuidarmos da eternidade!Statutum est hominibus semel mori, post hoc autem iudicium - “Está decretado aos homens que morram uma vez e que depois se siga o juízo” (Hb 9, 27)
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CONSIDERAÇÃO IV
Statutum est hominibus semel mori - "Foi estabelecido aos homens morrer uma só vez" (Hb 9, 27)
PONTO I
A sentença de morte foi escrita para todo o gênero humano: é Homem, deves morrer. Dizia Santo Agostinho:"Só a morte é certa; os demais bens e males nossos são incertos"É incerto se o recém-nascido será rico ou pobre, se terá boa ou má saúde, se morrerá moço ou velho. Tudo isto é incerto, mas é indubitavelmente certo que deve morrer.
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CONSIDERAÇÃO III
Quae est vita vestra? Vapor est ad modicum - "Que é vossa vida? É vapor que aparece por um instante" (Tg 4, 14)
PONTO I
Que é nossa vida? Assemelha-se a um tênue vapor que o ar dispersa e desaparece completamente. Todos sabemos que temos de morrer. Muitos, porém, se iludem, imaginando a morte tão afastada que jamais houvesse de chegar. Jó, entretanto, nos adverte que a vida humana é brevíssima:"O homem, vivendo breve tempo, brota como flor e murcha" (Jó 14, 1-2)
Sumário. Meu irmão, para ver melhor o que és, aproxima-te de um túmulo. Eis como daquele cadáver sai uma matéria infecta, na qual se gera uma multidão de vermes que se nutrem da carne. Caem as faces, os lábios, os cabelos. E finalmente, daquele corpo nutrido com tanta delicadeza, causa talvez de tantas ofensas do Senhor, não resta nada senão um esqueleto fétido, um punhado de pó. Quantos têm, à vista de um cadáver, deixado o mundo e entrado numa ordem religiosa!Subter te sternetur tinea, et operimentum tuum erunt vermes - “Debaixo de ti se estenderá por cama a polila, e a tua coberta serão os bichos” (Is 14, 11)
Sumário. Cumpre observar que a predestinação dos religiosos está ligada à observância da Regra. Quem a transgride habitualmente, muito embora em coisas pequenas, posto que faça muitas outras coisas boas, não progredirá nunca na perfeição e trabalhará sem fruto. Foi por estas transgressões que começou a ruína de tantos que agora vivem fora da Ordem e talvez estão ardendo no inferno. Façamos muito caso da Regra; imaginemos que somente nós a temos de guardar e se virmos outros faltar à observância, procuremos suprir os seus defeitos.Fili mi... custodi legem atque consilium, et erit vita animae tuae - “Filho meu... guarda a lei e o conselho e terá vida a tua alma” (Pv 3, 21)
Sumário. É com razão que o inferno é chamado um lugar de tormentos, porque ali todos os sentidos e todas as faculdades do condenado terão o seu tormento próprio; e quanto mais tiver ofendido a Deus com algum dos sentidos, tanto mais terá de sofrer nesse sentido. Meu irmão, vê se a vida que levas te inspira confiança de não caberes naquele abismo. Quantos cristãos meditaram no inferno como tu, mas, porque não quiseram romper com o pecado e abusaram da divina misericórdia, estão agora queimando ali para sempre!Quantum glorificavit se et in deliciis fuit, tantum date illi tormentum et luctum - “Quanto se glorificou e esteve em delícias, tanto lhe dai de tormento e pranto” (Ap 18, 7)
Sumário. Coisa estranha! Ninguém quer passar por negligente nos negócios do mundo e muitos não tem pejo de descuidar o negócio da eternidade, o mais importante de todos. Muitos fazem até tudo para perderem a alma e a maior parte dos cristãos vivem como se as verdades eternas fossem outras tantas fábulas. Nós ao menos não sejamos tão insensatos e pensemos seriamente de que nada nos serviria ganharmos o mundo inteiro, se depois viéssemos a perder a nossa alma. Perdida alma, está tudo perdido, e para sempre!Quam dabit homo commutationem pro anima sua? - “Que dará o homem em troca da sua alma?” (Mt 16, 26)