Sumário. No céu a alma verá Deus face a face, conhecerá todas as disposições admiráveis da divina Providência para sua salvação e verá que o Senhor a abraça e a abraça sempre como filha querida; pelo que a alma se embriagará de tal amor, que não pensará mais senão em amar seu Deus. Será esta a sua eterna ocupação: amar o bem infinito que possui, louvá-Lo e bendizê-Lo. Quando nos sentirmos oprimidos pelas cruzes, levantemos os olhos ao céu, e lembremo-nos de que nos está reservada sorte igual, se ficarmos fiéis a Deus.Beati qui habitant in domo tua, Domine; in saecula saculorum laudabunt te - “Bem-aventurados, Senhor, os que moram na tua casa; pelos séculos dos séculos te louvarão” (Sl 83, 5)
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CONSIDERAÇÃO VIII
Pretiosa in conspectu Domini mors sanctorum ejus. - "É preciosa na presença de Deus a morte de seus Santos" (Sl 115, 15)
PONTO I
Considerada a morte à luz deste mundo, nos espanta e inspira temor; mas, segundo a luz da fé, é desejável e consoladora. Parece terrível aos pecadores; mas aos olhos dos justos se apresenta amável e preciosa.E, na verdade, a morte é termo de penas e trabalhos. O homem nascido de mulher vive curto tempo e está sujeito a muitas misérias (Jó 14,1). Eis aí o que é a nossa vida, curta e cheia de misérias, enfermidades, inquietações e sofrimentos. Os mundanos, desejosos de longa vida — diz Sêneca — que procuram senão mais prolongado tormento? (Ep 101). Que é continuar a viver — exclama Santo Agostinho — senão continuar a sofrer? A vida presente — disse Santo Ambrósio — não nos foi dada para repousar, mas para trabalhar, e, por meio destes trabalhos, merecer a vida eterna (Serm. 45). Com razão, afirma Tertuliano que Deus abrevia o tormento de alguém, quando lhe abrevia a vida. Ainda que a morte tenha sido imposta por castigo do pecado, são tantas as misérias desta vida, que, como disse Santo Ambrósio — mais parece alívio o morrer do que castigo."Preciosa, — disse São Bernardo — porque é o termo dos trabalhos, a coroa da vitória, a porta da vida”.
15º Domingo depois de Pentecostes
Sumário. Que verdade tão importante nos é lembrada pelo Evangelho de hoje! O filho da viúva de Naim era novo, herdeiro único de seu pai, consolação única de sua mãe, amado de seus concidadãos, que por isso acompanhavam o cortejo fúnebre. Provavelmente não pensara que a morte viria surpreendê-lo em tais circunstâncias; mas, assim mesmo colheu-o. Nada, pois, mais certo do que a morte, mas nada mais incerto do que a hora da morte. Ah! Se pensássemos muitas vezes nesta grande máxima, não pecaríamos nunca, e estaríamos sempre preparados para morrer.Defunctus efferebatur, filius unicus matris suae - “Levavam à sepultura um defunto, filho único de sua mãe” (Lc 7, 12)
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CONSIDERAÇÃO VII
Disponde domui tuae, quia morieris tu, et non vives. - "Dispõe de tua casa, porque morrerás e não viverás" (Is 38, 1)
PONTO I
Imagina que te achas junto a um enfermo a quem restam poucas horas de vida... Pobre enfermo! Considera como o oprimem e angustiam as dores, os desfalecimentos, a asfixia e falta de respiração, o suor frio e o entorpecimento até ao ponto de quase não ouvir, quase não compreender e quase não falar... Entretanto, a sua maior desgraça consiste em que, estando próximo à morte, em vez de pensar na alma e de preparar as contas para a eternidade, só pensa nos médicos, nos remédios, para se livrar da doença que o vai vitimando. Não são capazes de pensar em outra coisa que em si mesmos, disse São Lourenço Justiniano, falando dos moribundos desta espécie... Mas, certamente, os parentes e amigos lhe manifestarão o perigoso estado em que se acha?... Não; não há entre todos eles nenhum que se atreva a lhe falar na morte e adverti-lo de que deve receber os santos sacramentos. Todos se escusam de lhe falar para não molestá-lo. Ó meu Deus, dou-vos graças mil porque na hora da morte fazeis que seja assistido pelos queridos confrades de minha congregação, os quais, sem outro interesse que o de minha salvação, me ajudarão a todos a bem morrer.Confira as importantes advertências de Santo Afonso para bem aproveitar esta obra!
CONSIDERAÇÃO VI
Angustia superveniente, pacem requirent, et non erit; conturbatio super conturbationem veniet - "Sobrevindo a aflição, procurarão a paz e a não encontrarão; virá confusão sobre confusão" (Ez 7, 25-26)
PONTO I
Os pecadores afastam a lembrança e o pensamento da morte, e procuram a paz (ainda que jamais a encontrem), vivendo em pecado. Quando, porém, se virem em face da eternidade e nas agonias da morte, já não poderão escapar aos tormentos de sua má consciência, nem encontrar a paz que procuram. Pois, como pode encontrá-la uma alma carregada de culpas, que, como víboras, a mordem? Que paz poderão gozar pensando que em breve deverão comparecer ante Cristo Jesus, cuja lei e amizade desprezaram até então?O anúncio da morte próxima, a ideia de se separar para sempre de todas as coisas do mundo, os remorsos da consciência, o tempo perdido, o tempo que falta, o rigor do juízo de Deus, a eternidade infeliz que espera o pecador, todas estas coisas produzirão perturbação terrível que acabrunha e confunde o espírito e aumenta a desconfiança. E neste estado de confusão e desespero, o moribundo passará à outra vida. Abraão, confiando na palavra divina, esperou em Deus contra toda a esperança humana, e por este motivo foi insigne o seu merecimento (Rm 4,18). Mas os pecadores, por desdita sua, iludem-se quando esperam, não só contra a esperança, mas também contra a fé, quando desprezam as ameaças que Deus faz aos obstinados. Receiam a morte infeliz; mas não temem levar a vida má.“Confusão sobre confusão” (Ez 7,26).
Sumário. A eternidade do inferno não é uma simples opinião, mas sim uma verdade de fé fundada no testemunho de Deus na Santa Escritura, na qual se diz repetidas vezes que os desgraçados pecadores, uma vez lançados naqueles abismos, serão atormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos. Se alguém por um dia de divertimento se deixasse condenar a trinta anos de prisão, tê-lo-íamos por louco. Que maior loucura não seria a nossa, se por um momento de vil prazer nos condenássemos a queimar no fogo para sempre? A ficar privados para sempre da posse do soberano bem, que é Deus?Et ibunt hi in supplicium aeternum - “Estes irão para o suplício eterno" (Mt 25, 46)
Sumário. É certo que fomos todos condenados à morte. Todos nascemos com a corda ao pescoço, e a cada passo que damos, aproximamo-nos mais do patíbulo. Que loucura, pois, a nossa, sabermos que havemos de morrer, crermos que do momento da morte depende uma eternidade de gozos ou de penas, e não pensarmos no ajuste das contas e nos meios para ter uma boa morte! Compadecemo-nos dos que morrem subitamente. Porque é, pois, que nos expomos ao risco de nos suceder a mesma desgraça? Quem sabe se este ano não é o último da nossa vida?... Quem sabe se ainda amanheceremos?Omnes morimur, et quase aquae dilabimur in terram, quae non revertuntur - “Nós morremos todos, e corremos pela terra como as águas que não tornam mais” (2 Rs 14, 14)
Sumário. Mortos todos os homens, a trombeta soará e todos ressuscitarão. Todos retomarão o mesmo corpo com que serviram a Deus nesta terra, ou o ofenderam. Que diferença haverá entre os corpos dos escolhidos e dos réprobos! Estes serão negros, horrendos e nauseabundos; aqueles serão alvos, belos e mais resplandecentes que o sol. Meu irmão, qual será a tua sorte nesse dia?... Se quisermos que o nosso corpo apareça dignamente ao lado dos Bem-aventurados, apliquemo-nos a mortificá-lo e a guardá-lo pela penitência, sujeito à alma.Ecce mysterium vobis dico: Omnes quidem resurgemus, sed non omnes immutabimur - “Eis que vos digo um mistério: todos certamente ressuscitaremos, mas nem todos seremos mudados” (1 Cor 15, 51)
Sumário. Considera quão grande é a ruína que traz consigo o pecado mortal. Faz-nos primeiro perder todos os merecimentos anteriormente adquiridos, por grandes e imensos que sejam. Além disso, de filho de Deus torna o homem escravo de Lúcifer; de amigo querido, inimigo sumamente odioso; de herdeiro do céu, um condenado ao inferno. Se os anjos pudessem chorar, chorariam de compaixão vendo a desgraça de uma alma que comete pecado mortal e perde a graça de Deus. E nós ficaremos indiferentes?Similiter autem odio sunt Deo impius et impietas eius - “O ímpio e a impiedade são igualmente odiosos a Deus” (Sb 14, 9)
Sumário. Ai do que resiste durante a vida aos convites de Deus! Desgraçado do que cai no leito com a alma em pecado e dali passa à eternidade! O anúncio da morte já próxima, o pensamento de ter de deixar o mundo, as tentações do demônio, os remorsos da consciência, o tempo que já falta, o rigor da justiça divina e mil outras coisas produzirão uma perturbação tão horrível, que pela confusão do espírito a conversão será quase impossível. Meu irmão, para não morreres de morte tão triste, teme agora viver vida pecaminosa!Cor durum male habebit in novissimo; et qui amat periculum, in illo peribit - “O coração endurecido será oprimido de males no fim da vida; e quem ama o perigo perecerá nele” (Eclo 3, 27)