Por Dom Henrique Soares da Costa Segundo os Evangelhos, Jesus nosso Senhor anunciou e trouxe a este mundo o Reinado do Pai, convidando Seus ouvintes à conversão. Esta, a conversão, é uma ideia central do cristianismo. Mas, que significa, realmente, converter-se?
Mudar de rumo, mudar de atitude, de modo de ver, sentir, pensar, agir... Mas, gostaria de colocar outra questão:
Qual o critério da conversão?
Em outras palavras: se para alguém converter-se, deve mudar de uma atitude para outra, qual o critério de tal mudança? Como saber o que mudar e para qual direção apontar? Uma vez mais: qual o critério?
Por Dom Henrique Soares da Costa Meditando no Livro da Sabedoria, dei com estas palavras:
“Nenhum homem pode modelar um deus à sua semelhança: porque, sendo mortal, forja com suas mãos iníquas um morto! De fato, ele é melhor do que aqueles aos quais cultua, porquanto pelo menos vive, mesmo sendo mortal, ao passo que aqueles nunca viverão!” (Sb 15,16b-17).São palavras contra a idolatria, culto aos falsos deuses e seus simulacros. No sentido bíblico mais profundo, a idolatria consiste em o homem endeusar, divinizar e idolatrar a criatura ao invés do Criador, divinizar a obra de suas mãos, como se fosse um deus que lhe pudesse dar a vida. Nossa cultura tem modelado tantos deuses: a tecnologia, a razão, as ciências tão avançadas, o divertimento, o culto do corpo e do bem estar, do sucesso e da fama, o prazer em todas as formas possíveis e imagináveis... E tem colocado em tudo isso a sua esperança de uma vida feliz, de realizar sua existência... Mas, é uma ilusão, uma armadilha: essas coisas não salvam, não dão o sentido, não podem servir de fundamento válido e duradouro para a existência! Elas simplesmente não são Deus; elas são vaidade, isto é, inconsistência! Aliás, como adverte o texto sagrado, o homem mortal – pó que o vento leva – não pode modelar um Deus imortal!
Por Dom Henrique Soares da Costa
Sei que o título desde texto é instigante. Ele se inspira no Catecismo da Igreja (nn. 31-43):II. Os caminhos de acesso ao conhecimento de Deus 31. Criado à imagem de Deus, chamado a conhecer e a amar a Deus, c homem que procura Deus descobre certos «caminhos» de acesso ao conhecimento de Deus. Também se lhes chama «provas da existência de Deus» – não no sentido das provas que as ciências naturais indagam mas no de «argumentos convergentes e convincentes» que permitem chegar a verdadeiras certezas. Estes «caminhos» para atingir Deus têm como ponto de partida criação: o mundo material e a pessoa humana. 32. O mundo: A partir do movimento e do devir, da contingência, da ordem e da beleza do mundo, pode chegar-se ao conhecimento de Deu: como origem e fim do universo. São Paulo afirma a respeito dos pagãos: «O que se pode conhecer de Deus manifesto para eles, porque Deus lho manifestou. Desde a criação do mundo, a perfeições invisíveis de Deus, o seu poder eterno e a sua divindade tornam-se pelas suas obras, visíveis à inteligência» (Rm 1, 19-20) (8). E Santo Agostinho: «Interroga a beleza da terra, interroga a beleza do mar interroga a beleza do ar que se dilata e difunde, interroga a beleza do céu [...] interroga todas estas realidades. Todas te respondem: Estás a ver como somo belas. A beleza delas é o seu testemunho de louvor [«confessio»]. Essas belezas sujeitas à mudança, quem as fez senão o Belo [«Ptdcher»], que não está sujeite à mudança?» (9). 33. O homem: Com a sua abertura à verdade e à beleza, com o seu sentido do bem moral, com a sua liberdade e a voz da sua consciência, com a sua ânsia de infinito e de felicidade, o homem interroga-se sobre a existência de Deus. Nestas aberturas, ele detecta sinais da sua alma espiritual. «Gérmen de eternidade que traz em si mesmo, irredutível à simples matéria» (10), a sua alma só em Deus pode ter origem. 34. O mundo e o homem atestam que não têm em si mesmos, nem o seu primeiro princípio, nem o seu fim último, mas que participam do Ser-em-si, sem princípio nem fim. Assim, por estes diversos «caminhos», o homem pode ter acesso ao conhecimento da existência duma realidade que é a causa primeira e o fim último de tudo, «e a que todos chamam Deus» (11). 35. As faculdades do homem tornam-no capaz de conhecer a existência de um Deus pessoal. Mas, para que o homem possa entrar na sua intimidade, Deus quis revelar-Se ao homem e dar-lhe a graça de poder receber com fé esta revelação. Todavia, as provas da existência de Deus podem dispor para a fé e ajudar a perceber que a fé não se opõe à razão humana. III. O conhecimento de Deus segundo a Igreja 36. «A Santa Igreja, nossa Mãe, atesta e ensina que Deus, princípio e fim de todas as coisas, pode ser conhecido, com certeza, pela luz natural da razão humana, a partir das coisas criadas» (12). Sem esta capacidade, o homem não poderia acolher a revelação de Deus. O homem tem esta capacidade porque foi criado «à imagem de Deus» (Gn 1, 27). 37. Nas condições históricas em que se encontra, o homem experimenta, no entanto, muitas dificuldades para chegar ao conhecimento de Deus só com as luzes da razão: «Com efeito, para falar com simplicidade, apesar de a razão humana poder verdadeiramente, pelas suas forças e luz naturais, chegar a um conhecimento verdadeiro e certo de um Deus pessoal, que protege e governa o mundo pela sua providência, bem como de uma lei natural inscrita pelo Criador nas nossas almas, há, contudo, bastantes obstáculos que impedem esta mesma razão de usar eficazmente e com fruto o seu poder natural, porque as verdades que dizem respeito a Deus e aos homens ultrapassam absolutamente a ordem das coisas sensíveis; e quando devem traduzir-se em actos e informar a vida, exigem que nos dêmos e renunciemos a nós próprios. O espírito humano, para adquirir semelhantes verdades, sofre dificuldade da parte dos sentidos e da imaginação, bem como dos maus desejos nascidos do pecado original. Daí deriva que, em tais matérias, os homens se persuadem facilmente da falsidade ou, pelo menos, da incerteza das coisas que não desejariam fossem verdadeiras» (13). 38. É por isso que o homem tem necessidade de ser esclarecido pela Revelação de Deus, não somente no que diz respeito ao que excede o seu entendimento, mas também sobre «as verdades religiosas e morais que, de si, não são inacessíveis à razão, para que possam ser, no estado actual do género humano, conhecidas por todos sem dificuldade, com uma certeza firme e sem mistura de erro» (14). IV. Como falar de Deus? 39. Ao defender a capacidade da razão humana para conhecer Deus, a Igreja exprime a sua confiança na possibilidade de falar de Deus a todos os homens e com todos os homens. Esta convicção está na base do seu diálogo com as outras religiões, com a filosofia e as ciências, e também com os descrentes e os ateus. 40. Mas dado que o nosso conhecimento de Deus é limitado, a nossa linguagem, ao falar de Deus, também o é. Não podemos falar de Deus senão a partir das criaturas e segundo o nosso modo humano limitado de conhecer e de pensar. 41. Todas as criaturas são portadoras duma certa semelhança de Deus, muito especialmente o homem, criado à imagem e semelhança de Deus. As múltiplas perfeições das criaturas (a sua verdade, a sua bondade, a sua beleza) reflectem, pois, a perfeição infinita de Deus. Daí que possamos falar de Deus a partir das perfeições das suas criaturas: «porque a grandeza e a beleza das criaturas conduzem, por analogia, à contemplação do seu Autor» (Sb 13, 5). 42. Deus transcende toda a criatura. Devemos, portanto, purificar incessantemente a nossa linguagem no que ela tem de limitado, de ilusório, de imperfeito, para não confundir o Deus «inefável, incompreensível, invisível, impalpável» (15) com as nossas representações humanas. As nossas palavras humanas ficam sempre aquém do mistério de Deus. 43. Ao falar assim de Deus, a nossa linguagem exprime-se, evidentemente, de modo humano. Mas atinge realmente o próprio Deus, sem todavia poder exprimi-Lo na sua infinita simplicidade. Devemos lembrar-nos de que, «entre o Criador e a criatura, não é possível notar uma semelhança sem que a dissemelhança seja ainda maior» (16), e de que «não nos é possível apreender de Deus o que Ele é, senão apenas o que Ele não é, e como se situam os outros seres em relação a Ele»(17).A Igreja é convicta – e penso que com toda razão – de que o homem, precisamente por ter sido criado por Deus e para Deus, traz no seu íntimo o chamado irrefreável a conhecer e amar o seu Criador. Se de antemão o ser humano não se fechar preconceituosamente, descobre “certas vias” para chegar a um conhecimento da existência de Deus através de argumentos convergentes e convincentes. Para isto há, fundamentalmente, dois pontos de partida: o mundo e o próprio ser humano.
Por Dom Henrique Soares da Costa Diante de algumas situações da Igreja atual, estava eu pensando nos cristãos das origens, nos católicos dos primeiros séculos, nossos antepassados: de fora, perseguições do Império Romano; de dentro, as divisões e as decepções com irmãos que, perseguidos, renegavam a fé... Isto mesmo: a Igreja sempre viverá em meio a tribulações, a fracassos, a perseguições e escândalos. Nunca terá na terra o que terá somente no Céu: a paz da fidelidade perene de seus filhos e do gozo eterno da Glória... Pensei, então: Os verdadeiros católicos não são católicos por causa da Igreja, mas por causa do Cristo fidelíssimo, que nos amou até a cruz e nos deu a Sua Igreja como Mãe e canal de Sua graça. Certamente que os escândalos, o relativismo, o mundanismo, a crise de fé de tantos ministros ordenados e religiosos, o mau exemplo de quem deveria ser presença viva de Cristo – tudo isto nos entristece; no entanto, se compreendermos bem o que é a Igreja, se tivermos os olhos e o coração fixos no Cristo, então todas essas realidades negativas em nada tirarão a nossa paz...
Por Dom Henrique Soares da Costa
“Infeliz de mim! Sou estrangeiro em Mosoc, Moro entre as tendas de Cedar!” (Sl 120/119,5)Aqui, neste Salmo, Mosoc e Cedar são povos estrangeiros, bárbaros, violentos e idólatras! O salmista, portanto, mesmo estando em Israel, sente-se como se vivesse entre estrangeiros, longe da Terra Santa e, portanto, distante do Senhor. Para um judeu, estar longe da Palestina era estar distante da Face de Deus. A queixa de Davi, refugiado em Moab, contra Saul reflete bem esta ideia:
“Rogo-te, senhor meu rei, que ouças as palavras do teu servo: se é o Senhor que te impele contra mim, a oferenda do altar o apaziguará; se os homens, sejam malditos perante o Senhor, porque hoje me excluíram da herança do Senhor como se dissessem: Vai, serve a outros deuses! Não se derrame agora o meu sangue na terra, longe da presença do Senhor!" (1Sm 26,18-20).Mas, observe bem, meu Irmão leitor: o Salmista, mesmo entre o seu povo, o Povo de Israel, povo de Deus, sente-se como estando entre pagãos! E por quê? Porque mesmo sendo fisicamente membro do Povo de Deus, quantos estão fora dele com o coração! Membro do Povo santo segundo o conceito, o exterior, a profissão formal da fé; mas, longe do Povo de Deus por não aderir realmente ao Senhor e à Sua santa vontade!
Por Dom Henrique Soares da Costa Senhor, Tua Igreja, peregrina no mundo, é um povo de pobres, de frágeis seres humanos. Mas confiamos em Ti! Não queremos colocar nossas força ou esperança no nosso prestígio, ou nas riquezas ou nos amigos poderosos e muito menos nos elogios e aplausos do mundo. Eles seduzem! Vão fazendo com que nossa medida e critério não mais sejam a Tua Palavra, cortante como espada, mas os amados e sorrisos dos que não Te conhecem! Senhor nosso!
Tu somente és nossa força! Salva-nos, Senhor!
Reúne-nos, Senhor!
Ilumina-nos, Senhor!
Por Dom Henrique Soares Meu maior inimigo sou eu mesmo, que me busco a mim, que desejo ser feliz de uma felicidade feita à minha medida! Senhor, por compaixão, livra-me de mim do meu modo para que eu me encontre a mim do modo como Tu me pensaste! Senhor, eu sou caçador de mim: eu alienado procuro a…
Por Dom Henrique Soares da Costa Esta palavra não tem apelação. É verdade. Ponto e basta! Cada um de nós tem a tendência maligna, pecado original de todos os pecados, de nos julgar o centro de tudo: tudo vemos, pensamos, julgamos e analisamos a partir de nós. Até mesmo de Deus temos uma opinião: como Ele deveria fazer, como deveria governar o mundo e a nossa vida... Nós, ainda que inconscientemente, nos julgamos deuses! Só a oração nos cura dessa distorção, dessa loucura!
A oração mexe com todo o nosso ser; continuada, insistente, persistente, vai impregnando de Deus a nossa vida. E, assim, vamos, inconscientemente, tomando consciência de que Deus é Deus, é Alguém, é presente na nossa vida, é o Santo, o Tudo.
Por Dom Henrique Soares da Costa Todos estamos a caminho, saibamos ou não, para o Horeb, para a Pátria, para a Cidade de Deus – encontrar o Senhor, viver na luz da Sua Face bendita, é o destino de todo ser humano que vem a este mundo. Estar a caminho – chamamos a isto de vida.
Viver é caminhar, é peregrinar pelos tempos deste mundo.
E tanta vez não se vê direito onde o caminho vai dar, tanta vez bate a solidão, a tristeza, a tremenda e apavorante falta de um sentido...
Afinal, nesse caminho chamado vida há dia e há noite, há frio e há calor, há riso e há pranto...
Por Dom Henrique Soares da Costa
“Eis os santos que, vivendo neste mundo, plantaram a Igreja, regando-a com seu sangue. Beberam do cálice do Senhor e se tornaram amigos de Deus”.Estas palavras que o Missal propõe como antífona de entrada desta solenidade, resumem admiravelmente o significado de São Pedro e São Paulo. A Igreja chama a ambos de “corifeus”, isto é líderes, chefes, colunas. E eles o são. Primeiramente, porque são apóstolos. Isto é, são testemunhas do Cristo morto e ressuscitado. Sua pregação plantou a Igreja, que vive do testemunho que eles deram. Pedro, discípulo da primeira hora, seguiu Jesus nos dias de Sua pregação, recebeu do Senhor o nome de Pedra e foi colocado à frente do colégio dos Doze e de todos os discípulos de Cristo. Generoso e ao mesmo tempo frágil, chegou a negar o Mestre e, após a Ressurreição, teve confirmada a missão de apascentar o rebanho de Cristo. Pregou o Evangelho e deu seu último testemunho em Roma, onde foi crucificado sob o Imperador Nero por volta do ano 64.