Parte IV Capítulo II
Por mais bela e suave que seja a luz, ela nos deslumbra os olhos, se estivermos muito tempo na escuridão; e, por mais honestos e amáveis que sejam os habitantes dum lugar em que se é estranho, não se deixa de estar no começo um pouco embaraçado. Poderá, pois, acontecer, Filotéia, que esta grande separação das loucas vaidades do mundo e esta mudança de vida choquem o teu coração com um certo ressentimento de tristeza. Mas tem um pouco de paciência, eu te peço; tudo isso não é nada e passará com o tempo; foi a novidade que causou um pouco de admiração; espera e bem depressa voltarão as consolações. Tens saudades talvez da glória dos aplausos que os loucos motejadores do mundo davam as tuas vaidades; mas, ó meu Deus, queres perder a glória com que o Deus da verdade te coroará eternamente?Parte II Capítulo XV
Nos domingos e dias de festa, que são dias consagrados a Deus por um culto mais particular e mais amplo, pensas muito bem, Filotéia, que te deves ocupar mais que de ordinário dos deveres de religião, e que, fora os outros exercícios, deves assistir ao ofício de manhã e à tarde, se o podes comodamente. Sentirás com muita doçura a piedade e podes crer a Santo Agostinho, que afirma em suas “Confissões” que, quando, no começo de sua conversão, assistia ao ofício divino, o seu coração se inundava de suavidade e seus olhos se arrasavam de lágrimas. Demais (direi uma vez por todas), tudo o que se faz na Igreja, publicamente, tem sempre maior valor e consolações do que o que se faz privadamente; porque Deus quer que no tocante a seu culto demos sempre a primazia à comunhão dos fiéis, de preferência a todas as devoções particulares.Parte II Capítulo XIV
1. Até aqui ainda não falei do Santíssimo Sacrifício e Sacramento do altar, que é para os exercícios de piedade o que o sol é para os outros astros. A Eucaristia é, na verdade, a alma da piedade e o centro da religião cristã, a qual se referem todos os seus mistérios e leis. É o mistério da caridade, pelo qual Jesus Cristo, dando-Se a nós, nos enche de graças dum modo tão amoroso quão sublime. 2. A oração feita em união com este sacrifício divino recebe uma força maravilhosa, de sorte que a alma, Filotéia, cheia das graças de Deus, da suavidade de Seu espírito e da influência de Jesus Cristo, se acha naquele estado de que fala a Escritura quando diz que a Esposa dos Cantares estava reclinada sobre o seu Dileto, inundada de delícias e semelhante a uma nuvem de fumaça que o incenso mais precioso levanta para o céu, aromatizando o ar.Devoção a Santo Afonso como modelo das Virtudes Fundamentais. Mês de Janeiro
Sumário. Com razão se pode dizer que o Santo Doutor viveu da fé porque foi ela o sustento quotidiano de toda a sua vida espiritual. O Santo apreciava extremamente a felicidade de ser católico, continuamente dava por isso graças a Deus e protestava que estava pronto a sacrificar o sangue e a vida para a propagação e conservação da Religião Católica entre os fiéis. Imitando tão grande Pai, façamos nós também frequentes atos de fé; e se não nos é dado fazer mais pela propagação do Evangelho, roguemos ao menos por todos os Missionários.Iustus autem ex fide vivit - “O justo, porém, vive da fé” (Rm 1, 17)
Meditação para o Dia 28 de Janeiro
Há muitas almas cristãs que vivem e pensam como pagãos. Escandalizam-se coma cruz. Não se conquista o prêmio sem luta, sem sacrifício. Descanso, paz, gozo perfeito, só no Céu. A terra é lugar de combate. Disse-o o profeta Jó:Aqui na terra não haverá descanso completo. Adoremos os desígnios de Deus, que assim permitiu para que mais meritória se tornasse a nossa conquista do Céu! Na adversidade é que se conhece quem tem verdadeira ou falsa devoção. Ser devoto fervoroso, quando tudo nos corre bem na vida, quando a fortuna nos sorri, quando as honras e a glória nos seguem, não é tão meritório nem pode dar bem a conhecer se a devoção é realmente sólida e sincera.“A vida do homem neste mundo é um combate”
Capítulo VII
Todos os israelitas saíram do Egito, mas muitos deixaram lá o seu coração preso; por isso é que no deserto se lhes despertaram desejos das cebolas e viandas do Egito. Assim também há muitos penitentes que efetivamente saem do pecado, porém não lhe perdem o afeto; quero dizer: eles se propõem não recair no pecado, mas com uma certa relutância e pesar de abster-se de seus deleites. O coração os denuncia e afasta de si, mas sempre tende novamente para eles, a semelhança da mulher de Ló, que virou a cabeça para Sodoma. Privam-se do pecado, como os doentes dos melões; é verdade que não os comem com medo da morte, de que o médico os ameaçara; mas aborrecem-se da dieta, falam dela com aversão e não sabem o que fazer; ao menos, querem cheirá-los muitas vezes e tem por ditosos os que os podem comer.Capítulo VI
Libertar-se do pecado deve ser o primeiro cuidado de quem quer purificar o coração, e o meio de fazê-lo se depara no sacramento da penitência. Procura o confessor mais digno que possas achar; toma um desses livrinhos próprios para ajudar a consciência no exame que se deve efetuar sobre a vida passada, como os de Granada, Bruno, Arias, Auger; lê-os com atenção, notando, ponto por ponto, tudo em que ofendeste a Deus desde o uso da razão e, se não confias em tua memória, assenta por escrito o que notaste. Depois do exame, detesta e abomina os pecados cometidos, pela contrição mais viva e perfeita que podes suscitar em ti, em considerando estes motivos valiosíssimos: que pelo pecado perdeste a graça de Deus, abandonaste os teus direitos sobre o céu, mereceste as penas eternas do inferno e renunciaste a todo o amor de Deus.Meditação para a 1ª Sexta-feira do Mês de Janeiro
Sumário. Todas as criaturas são outras tantas setas de amor que devem inflamar o coração do homem de amor divino. Mas, como se não bastassem, o Padre Eterno chegou ao extremo de nos dar seu próprio Filho, seu Filho muito amado. Ó que seta de fogo Jesus Cristo! mas muitos corações ficaram frios. Então Jesus revelou a devoção especial para com o seu Sagrado Coração como uma seta de reserva até estes últimos tempos, como para dar o ultimo golpe e ferir com o seu amor os corações dos homens.Totus desiderabilis, talis est dilectus meus - “O meu amado é todo desejável” (Ct 5, 16)