Tibieza e Pecado Venial
Meditação para o dia 10 de Novembro
A grande porta aberta para os tormentos do purgatório quando pela misericórdia não se precipitam muitas almas no pecado grave e no inferno, é a tibieza e o seu sintoma certo o pecado venial. Meditemos um pouco o mal da tibieza para vermos como é arriscado viver assim, sem procurar uma vida fervorosa, arriscando a própria salvação e preparando um horrível purgatório depois da morte. Vejamos o que é a tibieza: A tibieza define-a Santo Afonso pelo que a caracteriza: o pecado venial. A tibieza, diz o Santo Doutor, é o hábito do pecado venial plenamente voluntário.“A tibieza é o hábito não combatido do pecado venial, ainda que seja um só. É um hábito fundado num cálculo implícito: — Esta falta não ofenderá a Nosso Senhor gravemente, não me há de condenar. Pois vou cometê-la. É um hábito dificílimo de se desarraigar da alma. E um hábito muito espalhado, sobretudo entre as pessoas que fazem profissão de piedade e entre as almas consagradas a Deus”.
Como são Esquecidos os Mortos!
Meditação para o dia 09 de Novembro
Santo Agostinho se queixava de que os mortos são muito esquecidos. Realmente. Vai-se logo a memória dos defuntos com os últimos dobres do sino e as derradeiras flores lançadas sobre a sepultura. Quando morremos, partimos para aquela região que a Escritura chama terra oblivionis — a terra do esquecimento. Não tenhamos muita vaidade nem ilusões. Seremos esquecidos! Quem se lembrará de nós alguns anos após a nossa morte? Talvez uma lembrança vaga, uma evocação de saudade muito apagada. E como somos orgulhosos hoje! Tanto nos fere a mágoa um esquecimento mesmo involuntário! Felizes os que se desiludem e se desapegam das amizades e vanglorias da terra antes que chegue a Mestra e Doutora da Vida — a Morte! Como se compadecem todos dos enfermos! Que carinho e solicitude e mil sacrifícios em torno do leito de um pobre doente que geme! Porém, veio a morte. Pranto, homenagens sentidas, flores, túmulos, necrológios, e... esquecimento. Hoje afastam a ideia da morte como se fôssemos todos imortais. É mister esquecer os defuntos, deixá-los no túmulo, evitar esta preocupação doentia da morte e da eternidade.Tormento e Felicidade
Meditação para o dia 08 de Novembro
Então há no purgatório alegrias e consolações? É possível que em meio de tanta dor, de tão horríveis suplícios como os da pena do dano e do fogo, haja ainda um raio de luz, uma alegria, uma consolação para as pobres almas? Sim, porque o purgatório é a pátria da justiça rigorosa, mas o é também da infinita misericórdia de Deus. Já não é uma grande misericórdia Deus nos reservar um lugar de expiação além-túmulo? Purificar-nos misericordiosamente para nos tornarmos dignos de sua eterna Presença? Ó, sim, o purgatório é uma misericórdia de Nosso Senhor. E como todas as obras da divina misericórdia, há de ter a unção e a doçura da Eterna Bondade. Quanto nos apavora a Justiça divina naquelas chamas expiadoras e que terror para nossa alma saber o que nos espera depois desta vida! Todavia, console-nos a ideia de que há no purgatório consolações que excedem a todas que possamos ter nesta vida. É um tormento e uma felicidade sem par. Um mistério que nos será desvenda-do mais tarde. Alguns autores insistem muito no sofrimento do purgatório e nada falam das alegrias e consolações. É mister guardar um justo equilíbrio. Nem transformar o purgatório num verdadeiro inferno, nem fazer dele o paraíso. É um lugar de expiação e de tormentos horríveis, não há dúvida, mas há nele a doce esperança da salvação, esperança acompanhada da certeza absoluta de um dia chegar à posse de Deus na Bem-aventurança. E isto não é uma felicidade sem par? Quando São Francisco de Assis soube que era um predestinado e viu garantida por revelação do céu a sua glória, teve uma alegria tão grande, que nenhuma linguagem humana o poderia traduzir. Que não será a alegria das pobres almas na certeza de serem predestinadas?Quanto Tempo?
Meditação para o dia 07 de Novembro
Quanto tempo deve ficar uma alma no purgatório? É uma pergunta impossível de responder. Não temos e não podemos ter nenhum argumento ou definição da Igreja e da teologia que nos possa garantir uma resposta certa a esta pergunta. É um mistério e depende muito do modo de encaramos a questão. Bem sabemos que na eternidade não há mais tempo. Tempus jam non erit amplius. Como julgar o tempo em relação à eternidade? E demais, o sofrimento faz maior e mais difícil de passar o tempo entre nós. Quantas vezes um minuto nos custa mais a passar que longas horas? Pois o sofrimento horrível e intenso das pobres almas faz com que os minutos lhes sejam anos e até séculos. Aqui, havemos de fazer como todos os autores que tratam do purgatório: recorrer às revelações particulares. Elas nos esclarecem, e algumas bem provadas e até sujeitas a processos canônicos rigorosos, como as dos Santos canonizados, nos dão uma garantia de que não se tratavam de ilusões ou fantasias mórbidas. Quanto à duração do purgatório, de uma coisa podemos ter certeza, diz-nos Santo Agostinho: é que as penas expiatórias não irão além do último Juízo no fim do mundo (1).Razões do Purgatório
Meditação para o dia 05 de Novembro
Qual a razão de ser do purgatório? É o pecado. É o obstáculo que impede a alma de entrar no céu sem estar purificada e digna da visão beatífica. O pecado mortal leva ao inferno. Separa para sempre a alma de Deus. Entretanto, veio o perdão pela infinita misericórdia e o pecador arrependido muda de vida e não mais volta aos seus desvarios. Todavia, não fez a devida penitência, não reparou o seu crime neste mundo por uma penitência. Fica-lhe ainda uma dívida a pagar à Divina Justiça. O pobre pecador culpado de muitas faltas veniais passa desta para outra vida, vai prestar contas a Deus. Aquele Deus de todo santidade, o Santo por excelência, a Justiça mesma, não quer condenar a quem já perdoou, não há de perder quem, embora manchado de leves culpas, de muitas imperfeições, não é todavia inimigo de Deus. Que há de fazer? Levá-lo para o céu, onde nada pode entrar manchado? Impossível! Seria ter uma noção errada da santidade e da infinita pureza de Deus, admitir este absurdo. Condenar às penas eternas quem, embora tivesse pecado, não chegou à culpa mortal e não se separou do Senhor porque não perdeu o estado de graça? Então para onde irá a alma assim manchada e não de todo santa e perfeita para o céu? Eis a razão a nos dizer: há de existir uma purificação além desta vida entre as duas eternidades, um purgatório que nos livre do inferno e que seja o vestíbulo do paraíso, uma expiação necessária para as almas. Pode-se ir para o purgatório por três motivos: primeira, pelos pecados veniais não remidos ou perdoados neste mundo; segundo, pelas inclinações viciosas deixadas em nossa alma pelo hábito do pecado; terceiro, pela pena temporal devida a todo pecado mortal ou venial cometido depois do batismo e não expiado ou expiado insuficientemente nesta vida.A Justiça e a Misericórdia
Meditação para o dia 04 de Novembro
Existe o purgatório, isto é, um lugar de expiação onde se purificam as almas para a visão beatifica. Quem é digno de subir à Montanha Santa? Quis ascendit in montem Domini? Quanta santidade e pureza de vida exige o Senhor dos que há de admitir à Sua presença, à presença daquele Deus três vezes Santo, ante o qual os serafins cobrem as faces com suas asas e os céus repetem: Sanctus, Sanctus, Sanctus — Santo, Santo é o Senhor Deus dos Exércitos! A pobre criatura humana tão miserável nem sempre, ao deixar a terra, é bastante pura e santa e merece a presença do Senhor, a visão beatífica. E também como há de ser condenada às chamas eternas a alma que, embora não tivesse pago a dívida dos seus enormes pecados na penitência desta vida, não é todavia merecedora do castigo eterno? Há de entrar no céu? Não. Lá só se encontram os santos e os puros de coração. E que pureza angélica requer a divina Justiça para o céu!Com a morte tudo se acaba?
Meditação para o dia 03 de Novembro
Sim, é verdade, com a morte tudo se acaba. Lá se vão as riquezas, as honras, o luxo, as glórias terrenas e até nosso pobre corpo tão miserável se transforma num monturo asqueroso e horrível. Vamos ao pó donde viemos. Tu és pó e em pó te hás de tornar. Seremos quanto ao corpo, nada, pó, um punhado de lodo. Todavia, temos uma alma imortal, criada à imagem e semelhança de Deus, e esta não se acaba. É espiritual. Separa-se do corpo que ela vivificou, mas não morre. A morte não é mais do que a separação da alma do corpo. Então nem tudo se acaba na morte. Fica o principal, a alma. Fica tudo — uma alma remida pelo Sangue de um Deus. Não somos um bruto que nasce, cresce, morre e desaparece num monturo para sempre. Um amigo de Sócrates, o célebre filósofo grego condenado à morte, perguntou-lhe antes que o veneno da cicuta arrebatasse a preciosa vida:— Tem algum deseja para que o cumpramos? Porventura alguma disposição sobre o enterro?
Resposta de um pagão consciente da sua imortalidade.— Que querem? Meu amigo, pensam então em me sepultar? Podem enterrar meu corpo, mas a mim não poderão sepultar.