

“Não é visitar os enfermos, diz o Santo Doutor, obter por nossas orações o alívio das pobres almas que sofrem no purgatório? Não é dar de beber aos que têm sede tão grande da visão de Deus, dar o orvalho da nossa oração às que estão entre as chamas? Não é dar de comer aos que têm fome, ajudá-las pelos meios que a fé nos oferece? Não é verdadeiramente libertar os prisioneiros? Não é vestir os nus e lhes dar uma veste de luz e de glória? Não é dar hospitalidade, dar entrada na Celeste Jerusalém e fazer as almas amigas de Deus e dos Santos, fazendo-as moradoras eternas da Eterna Sião?” (1)
Sob este aspecto parece mais necessária realmente a oração pelos pecadores. Todavia, sabemos que a glória de Deus exige a libertação das pobres almas, almas queridas, cuja sorte depende de nós somente. Que será delas sem nós? O pecador abusa da graça, está no tempo de poder lucrar méritos e graças e não aproveita, põe obstáculo aos nossos esforços, não aproveita muita vez o que fazemos por ele. Pela opinião de vários autores piedosos e teólogos, e entre outros o rei dos teólogos, Santo Tomás de Aquino com a sua autoridade de maior Doutor da Igreja, afirma que Deus acolhe com mais fervor a oração que Lhe fazemos pelos mortos do que a que Lhe dirigimos pelos vivos."Os pecadores estão arriscados a se perderem, e no caminho da eterna condenação, dizem, e as almas estão já na segurança do céu"
— “Eu sou a Rainha do céu, eu sou a Mãe de misericórdia, e o caminho por onde voltam os pecadores a Deus. Não há pena no purgatório que não se alivie e que por mini não se torne menor do que si o fora sem mim” (1)Outra vez a Santa ouviu Jesus dizer à sua Mãe:
A providencia maternal de Nossa Senhora se estende sobre seus filhos na terra e no purgatório. Ela nos socorre e ajuda até depois da morte nas chamas expiadoras. É uma verdade de fé que as almas do purgatório podem ser não só aliviadas em seus padecimentos, mas até libertadas das chamas expiadoras pelas orações, satisfações e boas obras, e pelo Santo Sacrifício da Missa, enfim, pelos sufrágios dos vivos. Todavia, a Igreja nada definiu sobre o socorro que possam os Santos do céu dar às almas padecentes. Não houve necessidade de uma definição, porque o que os hereges contestaram desde Lutero principalmente, foi o sufrágio dos vivos e até a existência do purgatório. Quem entretanto pode negar que a Igreja Triunfante possa auxiliar a Igreja Padecente?“Tu és minha Mãe, és a Rainha do céu, és a Mãe de misericórdia, és o consolo dos que estão no purgatório e a esperança dos pecadores na terra” (2)
A Paixão de Jesus Cristo é remédio para nossa alma pecadora, e este Sangue precioso cairá sobre as almas como doce refrigério. Na Vida da V. Maria d’Antigna se conta que esta serva de Deus tinha o piedoso costume de fazer todos os dias a Via Sacra pelos defuntos. Depois, com outras ocupações e devoções, se descuidou desta. Um dia, uma religiosa do mosteiro, falecida há pouco tempo, lhe apareceu e lhe disse, gemendo:“Se quereis crescer de virtude em virtude, atrair para vossa alma graça sobre graça, entregai-vos muitas vezes ao exercício da Via Sacra”
“Minha Irmã, porque não faz as estações da Via Sacra por mim e pelas almas como antes?”
Tal é a definição autêntica deste ato aprovado oficialmente pela Igreja e indulgenciado. Chama-se heroico, porque realmente exige uma abnegação de todos os tesouros que possamos lucrar com nossas boas obras e contém uma renúncia de todos os sufrágios que oferecerem por nossa alma depois da nossa morte, em favor das almas do purgatório. Este ato há de ser feito, para ser válido, em perpétuo. É irrevogável na intenção de quem o faz. Não obriga sob pena de pecado. Se alguém, a quem faltou generosidade ou teve receio de se privar de sufrágios depois da morte, quis de novo adquirir para si as suas obras satisfatórias, renunciou ao voto heroico, não comete pecado nem mortal nem venial. Pelo ato heroico não renunciamos o mérito de nossas boas obras, isto é, o que nos dá nesta vida um acréscimo da graça e a glória no paraíso. Este merecimento é nosso e não o podemos perder nem dá-lo aos outros. O ato heroico é uma obra muito meritória, e este mérito de uma obra tão bela e heroica não o podemos perder. Só o mérito do ato heroico quanto não vale para nossa alma! Este mérito não o perdemos. Depois desta obra satisfatória, tudo o mais que fizermos será das almas do purgatório. Desde que fazemos o ato heroico, todas as indulgências que lucramos são das almas. Tudo que de bom possamos fazer e ter mérito e lucrar alguma coisa será do purgatório, direito e propriedade das almas. É uma renúncia total. Só a indulgência plenária da hora da morte não pode ser oferecida para as almas e será nossa, porque não é aplicável aos defuntos.“É o ato que consiste em oferecer à Divina Majestade, em proveito das almas do purgatório, todas as obras satisfatórias que fizermos durante a vida e todos os sufrágios que forem aplicados pela nossa alma depois da nossa morte”