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Santo Estevão

Meditação para o dia de Santo Estêvão

Meditação para a Festa de Santo Estêvão, protomártir

SUMARIO

Honremos neste dia Santo Estevão que nos ensina:

1.° O amor do próximo;

2.° O zelo da salvação das almas, que é o amor do próximo no sentido mais lato;

3.° A fortaleza cristã apoiada na esperança.

– Tomaremos depois a resolução:

1.° De perdoar ao próximo todas as suas injúrias, e de retribuir sempre o mal com o bem;

2.° De trabalhar com todas as nossas forças na salvação dos nossos irmãos;

3.° De animarmo-nos muitas vezes nas provações com a esperança do céu.

O nosso ramalhete espiritual será, a palavra de Santo Estêvão:

“Vejo os céus abertos, e o Filho do Homem que está em pé á mão direita de seu Pai” – Video caelos apertos, et Filium hominis stantem a dextris Dei (At 7, 55)

Meditação para o Dia

Adoremos o Filho de Deus em dois estados muito diferentes: infinitamente humilhado no presépio, onde toda esta oitava no-lo apresenta, e infinitamente exaltado nos céus, onde a viu Santo Estêvão, cuja festa hoje celebramos. Estes dois estados lembram-nos a ordem de coisas que Deus estabeleceu, a saber, que é preciso padecer na terra com Jesus Cristo para gozar no céu com Ele; combater e humilhar-nos neste mundo para sermos exaltados no outro. Agradeçamos ao Verbo Encarnado esta admirável economia da Sua providência, e roguemos-Lhe que nos penetre bem nela.

PRIMEIRO PONTO

Santo Estêvão ensina-nos a Amar ao Próximo

Admiremos o grande coração de Santo Estêvão, amando ternamente todos os homens, e principalmente os de quem mais tinha que queixar-se, os que o perseguiam e haviam jurado a sua morte. Longe de lhes querer mal, longe de se encolerizar contra eles ou de se vingar, ama-os de toda a sua alma; e se os repreende, não é senão para os tornar melhores. Se por única resposta às suas palavras o apedrejam, continua a amá-los; ora por aqueles que o fazem morrer, ora de joelhos, pedindo perdão, graça e misericórdia para eles: “Senhor Jesus, não lhes imputeis este pecado” (1); e pelo fervor da sua oração obtêm a conversão de Saulo, e merece que o seu perseguidor na terra seja o seu companheiro de glória no céu. É assim que opõe o benefício à injúria, a caridade ao ódio, a paciência à ira, a bondade à malícia, e que põe em prática a máxima do divino Mestre:

“Orai pelos que vos perseguem e caluniam; fazei bem aos que vos têm ódio”  – Benefacie his qui oderunt vos, et orate pro persequentibus et calumniantibus vos (Mt 5, 44)

Quão admiravelmente nos ensina este exemplo, não só a nunca nos entregarmos ao ódio, à ira, ao descontentamento, mas também a perdoar todas as injúrias, a suportar todos os defeitos, a retribuir o mal com o bem, e a mostrarmo-nos sempre afáveis e amáveis para com todos sem exceção.

SEGUNDO PONTO

Santo Estêvão ensina-nos o Zelo da Salvação das Almas

Não é bastante para Santo Estêvão amar os seus inimigos; tem sede da sua salvação, quer a todo o custo ganhá-los para Jesus Cristo, e salvá-los. Para isto, prega-lhes, com toda a veemência do zelo e autoridade dos milagres, a divindade de Jesus, que eles crucificaram (2). Se não cedem à sua palavra, não desanima, e confunde os seus adversários, que não podem resistir à sabedoria e ao Espírito que nele fala (3). Se falsos zeladores da lei, de acordo com os doutores e príncipes da nação, amotinam o povo contra ele, o levam como blasfemo ao supremo conselho dos judeus, soltando gritos de raiva e de morte, e produzem falsas testemunhas, que depõem que ele pregava contra o templo e contra a lei de Moisés, Estêvão, contente de achar uma ocasião tão favorável para anunciar Jesus Cristo, apresenta-se aos seus juízes com um rosto, que mais parecia o de um anjo do que o de um homem (4); depois, começando a falar, e esquecendo a sua proibição, estabelece pelas santas Escrituras a divindade do Salvador Jesus. Por única resposta não obtêm dos seus juízes senão a raiva do amor-próprio confundido (5); eles levantam grande grito, não querem mais ouvi-lo (6); arremetem a ele, levam-o para fora da cidade para o apedrejar; e o santo diácono não cessa de pregar senão quando cessa de viver. Pode haver um zelo da salvação das almas mais admirável, mais intrépido, mais generoso? Ah! Que relação há entre nós e este santo pregador? Nós vemos as almas perder-se, e comovermo-nos tão pouco, e fazemos tão pouco para as salvar! Despertemos finalmente em nós o sagrado fogo do zelo.

TERCEIRO PONTO

Santo Estêvão ensina-nos a Fortaleza Cristã apoiada na Esperança

A vidá presente não é mais do que um martírio contínuo: martírio do corpo pelas enfermidades; martírio da alma pelas ilusões do amor-próprio, pelos danos e revezes, pela maledicência e aversão, pelos desgostos. Posto isto, aprendamos do nosso santo diácono a fortaleza cristã que, apoiada na esperança, é superior a todas as provações. Santo Estêvão, apedrejado pelos seus inimigos, olha para o céu, e vendo a glória de Deus, em que vai entrar, a glória de Jesus Cristo, que vai coroá-lo, exulta.

“Eis estou eu vendo, diz ele. os céus abertos e o Filho do Homem, que está em pé á mão direita de Deus” – Cum esset plenus Spiritu Sancto, intendens in caelum vidit gloriam Dei, et Jesum stantem a dextris Dei. Et ait: Ecce video caelos apertos, et Filium hominus stantem a dextris Dei (At 7, 55)

A este espetáculo a morte parece-lhe uma felicidade. Exangue e quase a expirar, entrega com delícias a sua alma nas mãos de Jesus Cristo, que a introduz no paraíso (7). Assim se cumpre o oráculo do Espírito Santo, tão próprio para nos amparar nas provações. Alguma paciência e depois a alegria (8). Onde está a nossa fortaleza cristã apoiada na esperança? Somos fracos na provação; a menor dor nos desanima e abate. Olhemos cheios de fé para o céu, e nos tomaremos fortes e invencíveis.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Domine Jesu, ne statuas illis hoc peccatum (At 7, 59)

(2) Stephanus, plenus gratia et fortitudine, faciebat prodigia et signa magna in populo (At 6, 8)

(3) Et non poterant resistere sapientiae et Spiritui qui loquebatur (At 6, 10)

(4) Intuentes eum omnes qui sedebant in concilio, viderunt faciem ejus tanquam faciem angeli (At 6, 15)

(5) Audientes haec, dissecabantur cordibus suis et stridebant dentibus in eum (At 7, 54)

(6) Exclamantes voce magna, continuerunt aures suas (At 7, 57)

(7) Lapidabant Stephanum invocatem et dicentem: Domine Jesu, suscipe spiritum meum (At 7, 58)

(8) Usque in tempus sustinebit patiens, et postea redditio jucunditatis (Ecl 1, 29)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 121-125)

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