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História da Igreja 5ª Época: Capítulo VII

Santo Afonso e os Redentoristas

Enquanto Voltaire e Rousseau infestavam o mundo com seus escritos ímpios, serviu-se Deus do glorioso Afonso Maria de Ligório para iluminar e santificar aos povos. Nasceu em Nápoles no ano de 1696, e desde sua juventude manifestou-se qual luminoso modelo de virtude. Era mui exato no cumprimento de todos os seus deveres, especialmente religiosos, comungava toda semana e ainda com maior frequência, e visitava todos os dias o Santíssimo Sacramento. Aos 16 anos já se achava graduado doutor em ambos os direitos e dedicava-se ao exercício da advocacia. Vendo, porém, frustradas suas esperanças de vencer uma causa, determinou abandonar o mundo e consagrar-se a Deus no estado eclesiástico. Pregava com grande fervor, e seu próprio pai a primeira vez que o ouviu, exclamou vivamente comovido:

“Meu filho me fez conhecer a Deus”

Para formar obreiros evangélicos penetrados de seu mesmo espírito de zelo e caridade, fundou a congregação dos Redentoristas ou do Redentor, a qual tem por fim principal instruir a gente rude, especialmente os habitantes do campo. Ainda que a seu pesar, Clemente XIII o nomeou bispo de Santa Águeda dos Godos no ano 1762. Desde então dedicou-se Afonso inteiramente à pregação, à confissão, à oração e ao jejum. Deus deu a conhecer sua santidade por muitos milagres. Em certa ocasião, enquanto pregava sobre a devoção à Santíssima Virgem, foi elevado a uma grande altura, e uma imagem de Maria apareceu radiante de luz celestial iluminando prodigiosamente o rosto do santo pregador. Em vista deste espetáculo, todo o povo exclamou:

“Misericórdia, milagre!”

E em toda a igreja ressoaram gemidos e soluços. Uma manhã, depois de celebrada a santa Missa, foi arrebatado em êxtase e ficou neste estado até o dia seguinte. Voltando a si em presença de muitas pessoas, disse-lhes:

“Vós não sabeis tudo … fui assistir ao Papa, que acaba de morrer”

Era Clemente XIV que de fato morrera nesse momento. Tudo aconteceu como ele tinha dito. Pobre, sóbrio, penitente e austero para consigo mesmo, era doce para com os outros e mui caridoso para os pobres. Em uma carestia que afligiu Nápoles, vendeu todos seus bens e distribuiu sua importância entre os necessitados. Esclarecidos por milagres, profecias e penetração das conciências, morreu no ano 1787, aos noventa anos de idade.

É Santo Afonso autor de muitas obras, entre as quais se acha sua teologia moral, obra cheia de erudição, o diretório dos ordenandos, a Explicação do Decálogo, a História e Refutação das Heresias, as Vitórias dos Mártires, a Freira Santa, os Sermões; as Glórias de Maria, e o Amor da Alma, a Visita ao Santíssimo Sacramento; as Máximas Eternas e outras muitas. O exercício de todas as virtudes em seu mais alto grau durante toda sua vida, e a extraordinária erudição que manifesta em todos seus escritos, considerado como martelo contra os Jansenistas e os incrédulos, foram motivo para que se proclamasse doutor da santa Igreja por decreto de 23 de março do ano 1871.

Supressão dos Jesuítas

São as corporações religiosas como exércitos da Igreja espalhados nas diferentes partes do mundo. Por isso, quando se quer combater a Religião, costuma-se começar pe­los regulares; segue depois o clero secular, os bispos e por último o chefe supremo da Igreja. Os primeiros a serem feito alvos da perseguição foram geralmente os Jesuítas. A meado do século XVIII os franco-maçons e os mestres da incredulidade, vendo neles um grande obstáculo a seus fins, inventaram e lhes imputaram toda espécie de calúnias. assim conseguiram fazê-los expulsar de Portugal, da Franca, da Espanha e de outros reinos; e empenharam-se ante os governos civis, para obrigar o sumo Pontífice a suprimi-los, ameaçando-o com males gravíssimos se resistisse a seus desejos. Por isso, o Papa a seu pesar, acreditando que livraria a Igreja de maiores males, suprimiu toda a ordem no ano de 1774. Mas em pouco tempo, muitos soberanos desejaram que os ditos religiosos voltassem a seus estados para cuidar da juventude, pregar e cumprir os outros deveres do ministério eclesiástico. Por isso, o Papa Pio VI começou por permitir que os Jesuítas permanecessem na Rússia, e que pudessem viver juntos em outras partes, sempre que assim o desejassem os soberanos. O sumo pontífice Pio VI, em vista do grande benefício que a Companhia de Jesus tinha feito, e do que ainda prometia fazer no futuro, tornou a restabelecê-la e colocá-la entre as ordens religiosas outorgando-lhe aqueles favores e privilégios que a Igreja costuma conceder, para que seus institutos possam subsistir e trabalhar no campo evangélico, conforme o fim para que foram fundados.

Perseguição Francesa

Os franco-maçons, depois da supressão dos Jesuítas, puderam com maior facilidade desfazer-se dos demais religiosos, abolir em França toda autoridade civil, matar a seu próprio soberano, e apoderar-se eles mesmos do poder. Entre outras causas, exigiam de seus súditos um juramento contrário às regras da fé, o qual não podendo ser admitido pelos bons, motivou uma cruel perseguição. Milhares de cidadãos foram afogados ou guilhotinados sem processo algum, reservando-se aqueles bárbaros processá-los depois, para saber se os que morreram eram culpados ou inocentes. Segundo o costume, a perseguição assanhou­-se, de modo especial, contra os eclesiásticos. Estes heróis magnânimos, êmulos dos mártires da Igreja primitiva, mostraram-se prontos a sofrer todo gênero de suplícios. Alguns foram desterrados, outros presos ou condenados ao patíbulo. Um verdugo, ao ver entre a multidão um que parecia sacerdote, dirige-se a ele e lhe pergunta:

– És sacerdote?

– Sim, responde; é esta a minha glória.

– Juraste?

– Jurar! Horroriza-me só pensar nessa palavra!

– O Juramento ou morte; juras ou morres.

– Juro aborrecer esse juramento ímpio e sacrílego; mata-me … te perdoo.

– E dizendo isto caiu por terra coberto de feridas.

Aqueles monstros sedentos de sangue humano, entravam nos claustros, nas congregações e nos seminários, prendiam e estrangulavam a todos os que encontravam na sua passagem. Aboliram os dias consagrados à religião, mudaram o nome das semanas, dos meses, e dos anos; prostraram por terra toda a autoridade, e o rei Luiz XVI foi deposto, preso e decapitado. As igrejas foram profanadas e destruídas; as cruzes, as relíquias, os vasos sagrados, os próprios sacrossantos mistérios, sacrilegamente pisados, e nos altares do Deus vivo, onde se devia celebrar a santa Missa, foi colocada uma mulher infame e adorada como a deusa razão. Tudo era sangue e estragos; havia ameaça de morte para quem ainda desse a conhecer que professava a religião católica. Os esforços dos ímpios, porém, infringiram-se contra aquela pedra, sobre a qual Jesus Cristo fundara sua Igreja. Entre tantos desastres a religião foi duramente provada; porém não pereceu.

Robespierre

Maximiliano Robespierre foi o primeiro autor da perseguição francesa e dos graves males de que esta foi causa. Nasceu na cidade de Arras e seguiu a carreira de advogado; orador excelente, mas sem entranhas, facilmente conseguiu fazer-se chefe do partido sanguinário. Experimentava um grande prazer em condenar homens e mulheres à guilhotina, e gostava de vê-las morrer em grande número nas mãos dos verdugos. Diz-se que este monstro infame se alimentava de carne humana, e que se ufanava em trazer calçados feitos da pele de suas vítimas. Quis a Providência de Deus que tantas impiedades fossem castigadas, também aqui na terra com uma morte que mostrasse visivelmente os sinais de sua vingança. Robespierre depois de ter feito assassinar a seu soberano, exerceu durante 18 anos tiranias inauditas; finalmente chegou a ser odiado pelos mesmos que o aplaudiam; instauraram contra ele um processo e foi condenado à guilhotina. Para evitar a afronta de morrer publicamente, qual outro Nero disparou contra si uma pistola; a bala atravessou-lhe o queixo, mas não morreu. Definhou algum tempo no cárcere, sofrendo horrivelmente, até que levado à praça pública, entre os insultos da plebe, cortaram-lhe a cabeça no ano de 1794.

Pio VI

Ao Papa Clemente XVI sucedeu Pio VI, que, depois de Pio IX e Leão XIII, foi o Papa que teve mais longo pontificado, mas cheio de desgostos e amarguras.

Eleito no ano de 1775, cumpriu com zelo infatigável as funções de supremo Pastor, consolando a uns, ajudando a outros e animando todos a permanecerem firmes na fé. Durante seus últimos anos de pontificado teve de sofrer toda sorte de crueldades, perseguições, e insultos da parte dos Franceses. Dirigidos estes por Napoleão I, invadiram a Itália e depois de terem despojado e profanado os mais venerandos santuários, entraram em Roma para apoderar-se do Papa, abusando da palavra que tinham dado de não insultar a Roma, nem a seu soberano. Achava-se o Papa celebrando os divinos ofícios, vestido pontificalmente, quando levaram a seu conhecimento a abolição de sua autoridade civil; ao mesmo tempo lhe tiraram suas guardas romanas e as substituíram por soldados franceses. O general Berthier teve o atrevimento de querer vestir o Papa de repuplicano, pondo-lhe uma insígnia tricolor; porém o magnânimo Pontífice lhe respondeu:

“Eu não conheço outra insígnia senão aquela com que fui honrado pela Igreja. Podeis oprimir meu corpo mas minha alma é superior a todo atentado… Podeis queimar e destruir as habitações dos vivos e o túmulo dos mortos, a religião, porém, é eterna; ela existirá depois de vós, como existiu antes; e seu reinado durará até a consumação dos séculos … “

Ano 1798.