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História da Igreja 5ª Época: Capítulo I

Sobre a Quinta Época

Nesta época foi a Igreja tão fortemente combatida, que parecia já tivesse chegado o tempo do Anticristo; porém, não obstan­te isto, conseguiu novos triunfos. Acomete-a um dilúvio de hereges, e muitos de seus ministros, em vez de defendê-la, se rebelam contra ela e abrem-lhe profundas feridas. Unem-se a estes os Príncipes seculares que a oprimem com o ferro, com a devastação e o sangue. O demônio se esconde debaixo do manto de sociedades secretas e de uma filosofia mundana e sedutora, mas falsa e corruptora: excita rebeliões, e suscita perseguições sanguinolentas. Deus porem, desvanece os esforços do inferno e os faz servir para sua glória. Novas ordens religiosas, missionários incansáveis, pontífices grandes pela santidade, zelo e sabedoria, unidos todos em um só coração e em uma só mente, e fortalecidos pelo braço do Todo Poderoso defendem heroicamente a verdade e levam a luz do Evangelho até os últimos limites da terra, conseguindo a Igreja novas conquistas e ainda mais gloriosas vitórias.

Martinho Lutero

Lutero foi o primeiro a levantar a bandeira da rebelião contra a fé católica, e foi o principal autor dos males que amarguraram a Igreja neste tempo. Com seu sistema perverso de submeter a palavra de Deus ao exame e juízo de cada um, causou mais dano à religião católica, do que todos os hereges da idade passada; de maneira que, com justiça, se pode chamar este apóstata, o primeiro precursor do Anticristo. Nascido em Eisleben Saxônia, e filho de um pobre mineiro manifestou desde sua mais tenra idade, um gênio muito atrevido. A morte de um condiscípulo, que caiu a seu lado fulminado por um raio, induziu-o a entrar na ordem de santo Agostinho. Por algum tempo pareceu mergulhado em profundas meditações, e agitado por escrúpulos e temores; porém, descobriu finalmente o orgulho que se abrigava em seu coração; declarando-se contra a autoridade do pontífice romano, saiu do claustro e já não houve meio de dominá-lo. Oprimir aos outros com calunias e tiranias, ridicularizar e desprezar das coisas mais augustas e santas; soberba, desregramento, ambição, petulância, cinismo grosseiro e brutal, crápula, intemperança, desonestidade, eis os dotes característicos deste corifeu do protestantismo. (Nat. A. Gott, etc.). No ano de 1869 levantaram-lhe na Alemanha uma estátua qual insigne benfeitor da humanidade!!!

No ano 1517, começou a pregar contra as indulgências, portanto, contra o Papa e progredindo na impiedade, formulou uma doutrina que, quer se considere em si mesma, quer em suas consequências lógicas e práticas, contamina tudo o que é sagrado, destrói a liberdade do homem, faz a Deus autor do pecado, e reduz ao homem ao estado dos brutos. Entre suas impiedades, é bastante lembrar que, conforme ele afirmava, o homem mais virtuoso, se não acredita firmemente achar-se entre os eleitos, é condenado; e que pelo contrário, o homem mais miserável, irá diretamente ao paraíso, se acredita unicamente que há de salvar-se pelos merecimentos de Jesus Cristo. Tão abominável doutrina foi condenada logo pelo Papa Leão X; todavia Lutero mandou atirar ao fogo publicamente a bula. As Universidades católicas e todos os doutores clamaram contra aquela impiedade e heresia; mas Lutero desprezou-os, e persistiu em sua revolta. Ainda que ligado por votos solenes, casou-se com Catarina de Bore, religiosa de um mosteiro de Mísnia. Teve desgraçadamente muitos sectários, que, sob o nome de protestantes, tomaram armas e devastaram todas as regiões onde lhes foi dado penetrar. Levavam escrito em seus estandartes: Antes turcos que papistas. Ao pensar algumas vezes nos grandes males que causava a nova reforma exclamava:

“Só tu serás douto? Todos os que te precederam enganaram-se? Tantos séculos têm ignorado o que tu sabes? Que acontecerá se te enganas e arrastas contigo a tantos para a condenação?”

Eram estes os gritos de sua consciência que, a seu pesar, protestava contra suas impiedades; contudo não bastavam para fazê-lo voltar ao bom caminho.

Calvino

Foi Calvino um célebre sectário de Lutero, natural da Picardia; mas, antes de se associar a ele, preferiu fazer-se chefe de outro protestantismo. Filho de pobre seleiro e falto de recursos, foi socorrido por um bispo, que compadecido dele, o fez seguir a suas expensas a carreira dos estudos. Esperava conseguir um benefício eclesiástico; como, porém, lho negassem por seus desenfreados costumes protestou que tomaria vingança e que daria que falar por quinhentos anos. Seguindo as pegadas de Lutero adotou completamente suas máximas perversas. Não queria Papa nem bispos, nem sacerdotes, nem festas, nem funções de igreja. Na cidade de Noyon foi condenado por ter cometido um delito nefando, e somente graças à intercessão do bispo, comutaram essa pena na de ser marcado com um ferro ardente. Acumulando depois delitos sobre delitos, devia ser levado preso, porém descendo por uma janela, trocou sua roupa com a de um camponês, e fugiu. Enquanto fugia, encontrou-se com um sacerdote que o exortou a que reparasse o dano que causara a si mesmo e voltasse ao seio da Igreja católica; ele respondeu-lhe:

“Se tivesse de recomeçar não deixaria a religião dos meus pais, porém agora já estou empenhado e quero continuar até a morte”

Estabeleceu residência especialmente em Genebra, que foi o centro da sua seita, e ali procedeu como verdadeiro tirano. Negando aos outros o direito que se arrogara de alterar e corromper a doutrina católica, fez morrer nas chamas a Miguel Servet, porque tinha ensinado uns erros contrários ao mistério da Santíssima Trindade. Por suas tiranias foi expulso de Genebra, mas à força de enredos, conseguiu voltar e mandar a seu bel prazer. Como avassalasse todas as categorias de cidadãos, governou a cidade despoticamente e prorrompeu em impiedades contra a religião, até que chegou também para ele o tempo de apresentar-se ante o juiz supremo. Surpreendido por uma enfermidade ulcerosa, exalavam seus membros um mau cheiro insuportável. Frenético e enraivecido contra sua doença invocava os demônios para virem livrá-lo. Mas aumentando cada vez mais suas angústias, detestava a vida passada e amaldiçoava sua doutrina e seus escritos. Em semelhante estado de desespero, compareceu a presença de Jesus Cristo juiz, para dar-lhe contas dos milhões de almas que por sua causa já se tinham perdido eternamente e das que ainda se iam perder. Ano 1564.

Cisma Anglicano

O cisma anglicano foi motivado por Henrique VIII, rei da Inglaterra. Esse infeliz príncipe, depois de vinte anos de matrimônio com Catarina de Aragão, queria repudiá-la para contrair segundas núpcias com Ana Bolena. Opôs-se a isto o Sumo Pontífice, afirmando que não podia contrair um segundo matrimônio por ser válido o primeiro contraído com Catarina, ainda viva. Henrique, cego pela paixão, subtrai­-se à autoridade do Papa, e proclama-se chefe da Igreja da Inglaterra. Desprezou as admoestações de Roma e perseguiu o clero despojando-o de seus bens, saqueando as igrejas, destruindo todos os mosteiros e finalmente casou-se com a intrigante Ana Bolena. Isto deu-se no ano 1532.

Deste modo a Inglaterra, que na história é conhecida com o nome de terra dos santos, vários dos seus príncipes são venerados nos altares, tornou-se desde então inimiga do catolicismo. Henrique, casado com Ana, não tardou em enfastiar-se dela, e mandou cortar-lhe a cabeça. Casou-se sucessivamente com outras quatro; uma delas morreu, outra foi repudiada, a terceira condenada ao cadafalso e a quarta correu grande perigo de sofrer o mesmo gênero de morte, porém foi bastante sagaz para salvar-se com um engano. Ainda que muitos nobres prelados se submetessem à sua tirania, houve, todavia, corações generosos, que para se oporem a ele fizeram-se mártires da santa fé. Sobe a 460 o número de eclesiásticos que condenou ao suplício. Célebres entre os outros, são o cardeal João Fisher, bispo de Rochester e mestre de Henrique, e o ilustre Tomas Moore, chanceler e ministro de Estado. Este último, privado do seu emprego, despojado de todos os seus bens, e encerrado em uma prisão, foi condenado ao atroz suplício dos traidores do Estado, que foi comutado pelo de decapitação. Sua esposa, para induzi-lo a ceder à vontade do soberano, foi visitá-lo no cárcere, e pôs em campo toda indústria possível para convencê-lo a que se salvasse a si mesmo e a sua família. Ele, porém, lhe falou intrepidamente desta maneira: “Dize-me, mulher, se renunciando à minha fé, eu recuperasse juntamente com minhas riquezas minha primeira dignidade, quantos anos poderia eu gozar delas? “Talvez vinte anos”, respondeu sua tímida consorte. “Pois bem!” Acrescentou o magnânimo Tomas, “queres tu que por vinte anos perca uma eternidade de gozos no céu, e me condene a uma eternidade de tormentos no inferno?

Ao subir ao cadafalso, protestou publicamente que morria pela fé católica, e depois tendo rezado o Miserere, deceparam-lhe a cabeça (Ano 1534). A justiça divina não tardou muito em ferir o ímpio e o luxurioso Henrique. Este morreu no ano 1547, entre os mais atrozes remorsos de consciência e separado da Igreja Católica.

Sucedeu-lhe no trono seu filho Eduardo de dez anos de idade. Seu tutor o duque de Sommerset, fez declarar logo o protestantismo como religião do Estado, e fez desaparecer aquele resto de catolicismo que ainda havia deixado Henrique. Mas falecendo Eduardo aos dezesseis anos, sucedeu-lhe sua mãe Maria, filha de Catarina, que restituiu o reino à fé católica. Esta ocupou somente cinco anos o trono, e à sua morte, no ano 1558, lhe sucedeu Elizabeth, filha de Ana Bolena. Achando-se apaixonada pela heresia calvinista e querendo governar com inteira independência de todo princípio de fé e de justiça, revoltou-se e fez revoltar-se de novo todo o reino contra a obediência ao vigário de Jesus Cristo. Desde então a Inglaterra foi, e desgraçadamente é ainda um reino protestante, ainda que presentemente, não haja ali menos de dois milhões de católicos.

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