Santo Anacleto
No pontificado de Santo Anacleto sucessor de São Clemente, continuavam os estragos da perseguição. O imperador, muito ligado à idolatria, ocupava-se ele próprio, de vez em quando a interrogar os cristãos, com o fim de confundi-los, e os ameaçava com os mais horríveis tormentos e com a morte mais dolorosa para faze-los prevaricar. Em tão difíceis circunstâncias São Anacleto empregou os maiores esforços já para que permanecessem firmes na fé os condenados ao martírio, já para refutar as heresias e preparar missionários para enviar em propaganda do Evangelho. Entre as coisas que fez, conta-se a de ter escolhido um lugar particular no Vaticano, perto do túmulo de São Pedro, que destinou para sepultura dos Papas, fez além disso edificar uma capela sobre o túmulo dos Príncipe dos Apóstolos com esta inscrição: In memoriam Beati Petri construxit. Esta pequena Igreja, ampliada mais tarde, é o famoso templo de São Pedro no Vaticano. Santo Anacleto depois de doze anos de pontificado, terminou seus dias com o martírio. Cortaram-lhe a cabeça por ter ficado firme na fé, no ano 112.
São Simeão de Jerusalém
Poucos anos depois de Santo Anacleto concluía também sua carreira mortal São Simeão, bispo de Jerusalém. Durante vários dias fizeram-lhe padecer horríveis tormentos; porém sendo vão todos esforços que faziam, Trajano o condenou a ser crucificado, tendo 120 anos de idade. Assim a última das testemunhas de vista de nosso Redentor padeceu um mesmo gênero de morte. (ano 114).
Santo Inácio de Antioquia
Santo Inácio, bispo de Antioquia era, havia 40 anos, a admiração da grei, que com grandes cuidados conservava na fé no meio das mais sangrentas perseguições. Trajano que se achava então no Oriente, quis discutir com ele sobre a Religião, porém ficando confundido, ordenou que o prendessem e o conduzissem à Roma afim de servir no anfiteatro de Flávio, de espetáculo público ao povo, e ser depois pasto das feras. Ouviu Inácio sua sentença com transporte de alegria, porque ardia de desejo de morrer por Jesus; porém temendo que os fiéis de Roma, por meio de suas orações, obtivessem de Deus a graça que as feras não o devorassem, escreveu-lhes uma carta muito comovedora, pedindo-lhes que não se opusessem a que ele fosse esmagado quanto antes entre os dentes das feras, como o trigo na roda do moinho, para que pudesse assim ser digno de reunir-se o mais depressa, qual alvo pão, a Jesus Cristo por todos os séculos.
Esta carta que contém as palavras mais honrosas para a Igreja de Roma assim principia:
“Inácio, chamado também Teóforo, à Igreja que conseguiu misericórdia na magnificência do Pai Altíssimo, e de Jesus seu Filho unigênito; à Igreja querida e iluminada pela vontade d’Aquele que quer todas as coisas segundo a caridade de Jesus Cristo nosso Deus; a qual também preside no lugar das regiões dos Romanos; digna de Deus, digna por decoro, digna de ser chamada bem-aventurada, digna de louvor, digna de obter tudo o que deseja, castamente digna, que preside à ordem universal da caridade, adornada com o nome de Cristo e do Pai que eu também saúdo em nome de Jesus Cristo Filho do Pai; aos que, segundo a carne e o espírito, estão unidos em todos os seus mandamentos, cheios da graça de Deus indivisivelmente, e limpos de toda cor estranha, desejo abundantíssima e incontaminada saúde em Jesus Cristo nosso Deus.”
Além desta escreveu outras seis cartas cheias de máximas de fé e de caridade; que formam um dos mais preciosos documentos da antiguidade cristã. Chegando à Roma foi conduzido para o anfiteatro e atirado às feras, que o dilaceraram logo, não deixando dele mais do que alguns ossos. Estes restos de seu corpo precioso foram levados para Antioquia e depois devolvidos para Roma onde hoje se veneram na Igreja de São Clemente. Seu martírio teve lugar no ano 107. Depois de conhecido isto quem se atreverá a elogiar a Trajano, como filósofo justo e clemente? E quem não o colocará antes no catálogo destes tiranos cruéis, violadores dos mais sagrados direitos da justiça?