- Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo; os Apóstolos no Cenáculo
- Vinda do Espírito Santo
- Primeira pregação de São Pedro
- Primeiro milagre de São Pedro
- Primeiros Cristãos e primeiros diáconos
- Perseguição em Jerusalém
- Martírio de Santo Estevão e São Tiago Maior; São Pedro livre do cárcere
Ascensão de Nosso Senhor Jesus Cristo; os Apóstolos no Cenáculo
O Salvador empregou os três últimos anos de sua vida mortal na pregação do Evangelho, observando rigorosamente todos os preceitos e conselhos que impunha aos outros, e confirmando sua doutrina com os maiores milagres.
Dava vista aos cegos, ouvidos aos surdos, a palavra aos mudos, a saúde aos enfermos, e a vida aos mortos; porém a nação judaica correspondeu a tão assinalados benefícios com a mais negra ingratidão, e com suas ameaças e gritos impeliu Pilatos a condená-lo à morte, e morte de Cruz. Jesus permaneceu cerca de três dias no sepulcro, ao cabo dos quais ressuscitou glorioso e triunfante. Deteve-se ainda quarenta dias com seus Apóstolos para melhor os confirmar na fé e esclarecer-lhes as coisas tocantes ao Reino de Deus. Dando assim cabal cumprimento à obra de redenção do gênero humano, estando no cume do Monte das Oliveiras, subiu aos Céus, em presença dos Apóstolos e de sua querida Mãe. Os discípulos obedecendo às ordens que tinham recebido de seu divino Mestre, voltaram à Jerusalém e aí se retiraram para o Cenáculo: (chama-se assim um salão que servia de refeitório ao dono da casa, mas que por obra dos Apóstolos foi transformado no primeiro templo cristão.) Ali juntamente com Maria Santíssima e outros fiéis, cujo número chegava a aproximadamente 120, perseveravam na oração, esperando a vinda do Espírito Santo, como Jesus Cristo lhes havia prometido.
Naquela santa comunidade São Pedro, pela primeira vez usou daquela suprema autoridade de que o havia investido Jesus quando o constituiu chefe da sua Igreja: dirigindo-se, pois, à multidão ali reunida disse:
“Varões irmãos; era necessário que se cumprisse a Escritura que predisse o Espírito Santo pela boca de Davi acerca de Judas que foi o chefe dos que prenderam Jesus. Mas ele já recebeu recompensa de sua iniquidade: enforcando-se em uma árvore, rebentou pelo meio e se derramaram todas suas entranhas; porém como foi predito que outro devia substituí-lo no Apostolado, é mister que elejamos a um dos que permaneceram conosco durante todo tempo que o Senhor viveu em nossa companhia.”
Todos aprovaram unânimes a proposta do príncipe dos Apóstolos, e lhe apresentaram dois varões conhecidos por sua virtude e santidade: chamavam-se um Matias e outro Barnabé. Depois de ter pedido ao Senhor que desse conhecer qual dos dois havia escolhido para seu Apóstolo, deitaram a sorte e esta caiu sobre Matias que foi agregado aos Apóstolos.
Vinda do Espírito Santo
Já haviam passado dez dias da Ascensão do Salvador, e então justamente a nação judaica celebrava a festa de Pentecostes, isto é, o dia quinquagésimo da saída do povo de Israel, do Egito.
Os Apóstolos juntamente com os demais discípulos continuaram no seu retiro perseverando na oração; pelas nove horas da manhã, ouviu-se de repente um estrondo, assim como o sibilo de um vento impetuoso, e ao mesmo tempo apareceram chamas semelhantes a línguas de fogo, que foram pousar visivelmente sobre a cabeça de cada um deles. Desde esse momento todos ficaram cheios dos dons do Espírito Santo e começaram a falar diversas línguas que antes ignoravam, das quais se valeram para publicar as maravilhas neles operadas e ensinar as verdades do Evangelho.
Primeira pregação de São Pedro
Achava-se então Jerusalém cheia de um grande número de judeus que tinham vindo para celebrar a festa de Pentecostes. Muitos dos que tinham ouvido o estrondo daquele vento impetuoso se dirigiam no mesmo instante para o Cenáculo, e ouvindo aos Apóstolos, antes homens rudes e ignorantes, falarem ao mesmo tempo idiomas de tantas nações, não sabiam compreender o que estavam vendo. São Pedro conhecido até então como um pobre pescador, depois de recebido o Espírito Santo, sentiu-se cheio de tal força e valor, que não hesitou em apresentar-se ao público e pregar a divindade de Jesus Cristo aos mesmos que poucos dias antes a gritos o tinham condenado à morte.
“Irmãos, lhes disse, ouvi com atenção minhas palavras. O que vedes é o cumprimento da profecia de Joel: sucederá nos dias futuros, disse o Senhor, que eu derramarei meu Espírito sobre todos os homens, e profetizarão vossos filhos e vossas filhas, e vossos jovens terão visões, e vossos anciãos terão sonhos. Todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo.Varões de Israel, ouvi! A Jesus Nazareno, varão provado por Deus no meio de vós, com virtudes e prodígios, e sinais que Deus obrou por Ele no meio de vós, como também vós o sabeis: a este que por determinado conselho e presciência de Deus vos foi entregue, matastes crucificando-o pelas mãos dos malvados. Deus porém o ressuscitou porque Davi disse dele: Não deixarás minha alma no sepulcro, nem permitirás que teu Santo veja a corrupção. Davi não falava de si próprio, porque morreu e foi enterrado, e seu sepulcro está no meio de nós até hoje. Sendo pois profeta, e sabendo que com juramento havia Deus jurado que um de sua estirpe se assentaria em seu trono, prevenindo-lhe falou da ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, que não foi deixado no sepulcro, nem sua carne viu a corrupção. A este Jesus ressuscitou Deus, do que somos testemunhas todos nós. assim exaltado pela destra de Deus e tendo recebido de seu Pai a promessa do Espírito Santo, derramou este sobre nós, assim como vedes e ouvis. Saiba logo toda casa de Israel com maior certeza que Deus fez Senhor e Salvador de todos, a este Jesus, a quem vós crucificastes”.
Este admirável discurso, fecundado pela graça de Deus, deu como resultado a conversão de umas três mil pessoas.
Primeiro milagre de São Pedro
Na tarde desse mesmo dia, São Pedro e São João se dirigiam ao templo para fazer oração. Chegando à porta da Casa do Senhor, reparou São Pedro num infeliz coxo de nascimento, que não podendo servir-se de suas pernas, para ali fazia-se levar todos os dias pra pedir esmola. São Pedro compadecido dele, o olhou e disse-lhe: “Não tenho prata nem ouro, mas dou-te o que tenho: Em nome de Jesus Nazareno levanta-te e anda”. O coxo se levantou; no mesmo instante se consolidaram as pernas e cheio de alegria começo a caminhar.
Em um momento correu pela cidade toda a fama de semelhante milagre, e o povo aglomerou-se ao redor de São Pedro para ouvi-lo falar, aproveitou-se da ocasião para pregar pela segunda vez, e o fez com tanta eficácia que mais de cinco mil pessoas, sem contar as mulheres e as crianças, decidiram-se a receber o batismo. Deste modo a Igreja, em breve tempo, pode reunir em seu seio mais de oito mil fiéis, número que foi crescendo desde aquele dia. (Ano 30).
Primeiros Cristãos e primeiros diáconos
Maravilhosa era a vida que levavam os primeiros cristãos. Achavam-se estes de tal sorte unidos entre si, que conforme expressão da Sagrada Escritura, formavam um só coração e uma só alma. Não havia nobres entre eles, porque os ricos vendiam suas propriedades e entregavam o dinheiro aos Apóstolos para que repartissem conforme as necessidades de cada um; escutavam com grande cuidado a Palavra de Deus; eram perseverantes na oração e assistiam com muita frequência à fração do pão, isto é, à participação da Sagrada Eucaristia. Assim era com esses homens, há pouco intemperantes, ambiciosos, avarentos e voluptuosos, ao conhecerem as verdades do Evangelho, confortados pela graça divina, se tornavam humildes e mansos de coração, castos, mortificados, desprendidos dos bens terrestres e dispostos a dar a vida pelo nome de Jesus. Aumentando em seguida prodigiosamente o número dos crentes, os Apóstolos já não podiam atender as todas as necessidades que reclamava a sociedade nascente. Por isso determinaram nomear, conforme as instruções que tinham recebido do Divino Mestre, sete diáconos ou ministros auxiliares, escolhendo-os entre os que se sobressaiam em virtude e graça do Espírito Santo. Repartir as esmolas, cuidar das viúvas e dos órfãos, assistir aos ágapes, eram atribuições dos Diáconos, que em certas circunstâncias também podiam administrar o Sacramento do Batismo, e distribuir a Santa Eucaristia; mais tarde se lhes confiou igualmente a pregação da Palavra divina.
Perseguição em Jerusalém
Conquanto os Apóstolos pregassem a religião mais pura e santa que jamais viram os séculos, não obstante, desde o princípio da sua pregação, tiveram de lutar com gravíssimas dificuldades, suscitadas especialmente por parte dos judeus. O povo em massa abraçava a fé e também muitíssimos magnatas; porém os chefes da Sinagoga e os Fariseus, insensíveis aos milagres, à inocência de vida, e à santidade da doutrina dos Apóstolos e seus discípulos, declararam contra eles a mais encarniçada perseguição. Começaram por atacar os Apóstolos; mas vencidos por eles, os denunciaram às autoridades que os mandaram açoitar cruelmente e lhes proibiram a pregação da doutrina de Jesus Cristo. Os Apóstolos responderam com sossego e valor: “É mister obedecer a Deus antes que aos homens”. Contentes porque foram julgados dignos de padecer por seu Mestre, adquiriram novas forças; os mesmos açoites lhes inspiravam novos brios e valor.
Martírio de Santo Estevão e São Tiago Maior; São Pedro livre do cárcere
Santo Estevão, um dos sete diáconos, foi a primeira vítima desta perseguição, sendo ao mesmo tempo o primeiro mártir da fé. Distinguia-se dentre os outros, pelos muitos milagres que fazia entre o povo e por seu extraordinário saber. Os judeus queriam disputar com ele sobre o Evangelho, porém sempre ficavam confundidos porque ninguém podia resistir ao Espírito Santo que falava por sua boca. Por isto se irritaram tanto seus inimigos que o arrastaram fora da cidade e o apedrejaram. Enquanto caia sobre ele uma chuva de pedras, imitando seu Divino Mestre, orava pelos que o apedrejavam dizendo: “Ó Senhor Jesus, perdoa-lhes este pecado”, e assim falando, dormiu no Senhor. Chama-se Protomártir, porque foi o primeiro mártir da Igreja que deu a vida por amor a Jesus Cristo. Pouco depois por ordem de Herodes cortaram a cabeça de São Tiago. Vendo esse rei que perseguindo os cristãos agradava aos judeus, também mandou por em prisão São Pedro, para dar-lhe a morte depois das solenidades da Páscoa; porém um anjo enviado por Deus o livrou milagrosamente na noite que precedia o dia do suplício. Assim ficaram burlados os planos de Herodes.
O primeiro perseguidor dos Cristãos sobreviveu pouco tempo aos mártires que havia sacrificado. Acometido de agudíssimas dores intestinais, deixou de existir no mesmo momento em que vis aduladores proclamavam suas glórias chegando a ponto de o chamarem deus.