Skip to content Skip to footer

Pais e Filhos

Capítulo 26. Pais e Filhos - Livro Rumo à Felicidade, de Fulton Sheen
NÃO há delinquentes juvenis; há apenas pais delinquentes. O quarto Mandamento, «Honra teu pai e tua mãe», quase nunca se apresenta hoje como meio de restaurar a paz doméstica. Se a disciplina no lar é descurada, raramente poderá ser corrigida mais tarde. Como disse Coleridge:

«Se se educarem os filhos de modo que estes reneguem os sentimentos religiosos da nação em que vivem, os resultados serão que por fim eles se tornam pessoas infames e fanáticas, sem que se possa muito contar com exceções»

Os efeitos que o comportamento dos filhos tem sobre os pais variam. Mais sofrem as mães com o seu mau procedimento do que os pais gozam com o bom.

O dever dos pais para com os filhos é disciplinar, evitando, por um lado, uma severidade irritante e, por outro, uma excessiva indulgência. No filho, dá Deus aos pais uma matéria tão maleável que pode ser moldada para o bem ou para o mal. Que aconteceria se Deus depositasse nas mãos dos pais um precioso diamante e nele lhes mandasse gravar uma frase que houvesse de ser lida no Dia de Juízo, e mostrado como índice dos seus pensamentos ideais? Como teriam cuidado na sua escolha! E, todavia, é pelo exemplo que dão aos filhos que os pais serão julgados no Último Dia. Esta tremenda responsabilidade não quer dizer, de modo algum, que os pais, quando os filhos procedem mal, devam excitá-los à ira, porque esta conduz ao desânimo. No lar, os pais ocupam o lugar de Deus. Se procederem como tiranos, inconscientemente farão despertar sentimentos antirreligiosos nos filhos. As crianças gostam do aplauso, e podem facilmente ser lançadas no desespero quando demasiado censuradas por faltas triviais. Com grande dificuldade poderá ensinar-se às crianças o Amor e Misericórdia de Deus, se os seus representantes no lar procedem sem amor e sem misericórdia, e são tão difíceis de contentar. Quando as boas intenções são malsinadas, e as crianças são afrontosamente envergonhadas com vitupérios, provavelmente elas hão de mostrar que não são melhores do que os seus pais julgam.

Foi o Cristianismo que deu às crianças os direitos que lhes pertencem, quando o seu Divino Fundador disse:

«Deixai vir a Mim as criancinhas e não as estorveis, porque delas é o Reino dos Céus»

Ele consagrou a infância, fazendo-Se criança, brincando nas verdes colinas de Nazaré e observando as águias a voar entre os seus filhos. Desde esse dia, ficou como eterna verdade a sentença sagrada:

«Leva a criança ao caminho que deve seguir; e quando for velha não se arredará dele»

A vara que é torta, produz uma árvore torta. Quando se veem crianças, é interessante refletir como está conforme o modo delas se comportarem com a natureza dos lares donde procedem. Assim como se pode ajuizar da vitalidade da árvore pelo fruto, também se pode conhecer o caráter dos pais, pelos filhos, sabe-se que, em certos lares, nunca haverá um filho transviado, mas às vezes basta um relance de olhos ao pai ou à mãe, para nos revelar um futuro cheio de incertezas para a criança.

A tendência atual é alijar a responsabilidade para a escola. Mas deve lembrar-se que a educação terá tanta importância para a criança, como o solo, o ar e a luz do sol. Uma semente germinará melhor num solo e num clima que noutro, mas a árvore que desponta, depende da espécie de semente que foi semeada. Além disso, importa inquirir se a educação é apenas da inteligência ou também da vontade. O conhecimento está na inteligência; o caráter, na vontade. Incutir conhecimentos na mente da criança, sem disciplinar a sua vontade no bem, é como pôr uma espingarda nas suas mãos. Sem educação da inteligência, a criança poderá vir a ser um diabo estúpido. Com a educação da inteligência, mas sem amor do bem, a criança pode tornar-se um diabo hábil.

A nação de amanhã é a juventude de hoje. Ela é a garantia do progresso, a seta ainda não utilizada para um futuro melhor, as asas de nobres anseios. Mesmo na guerra, a força de uma nação não reside nas bombas, mas nos soldados que a defendem. Na paz, não são a economia ou a política que salvam, mas os bons economistas e os bons políticos; mas, para o serem, têm de ser bons filhos. Para isso importa haver, em primeiro lugar, a graça de Deus; em segundo lugar, lições de amor e verdade no lar; nas escolas, ciência e autodomínio. Se, porventura, os pais não são bem sucedidos em seus primeiros esforços, não devem desanimar, lembrando-se do que, há quinze séculos, quando o coração de uma mãe se despedaçava por causa do filho dissoluto, Santo Ambrósio lhe disse:

«Não temas, Mônica; o filho de tantas lágrimas não pode perecer»

Esse rapaz frívolo e dissoluto veio a ser o grande e douto Santo Agostinho, cujas «Confissões» todos devem ler, antes de morrer.

Voltar para o Índice do livro Rumo à Felidade, de Fulton Sheen

(SHEEN, Dom Fulton. Rumo à Felicidade – WAY TO HAPPINESS. Tradução de Dr. A. J. Alves das Neves, pároco de São Pedro da Cova. Livraria Figueirinhas, Porto, 1956, p. 99-102)

Leave a comment

0.0/5