I
Jesus, tendo escolhido João e Tiago, tomou-os definitivamente para a sua companhia. Salomé não quis separar-se de seus filhos. Vemo-la, juntamente com algumas mulheres dedicadas da Galileia, seguir os passos de Jesus, ocupando-se da subsistência do Mestre e recebendo suas lições com os dois apóstolos seus filhos (1). O apostolado para o qual tinha sido convidado o filho de Salomé, devia ser o instrumento de salvação do universo. Mas era preciso que antes esses rudes pescadores sofressem uma transformação completa, e é esse trabalho que vamos estudar e admirar em São João. Com efeito, fundar a Igreja, constituir-lhe um espírito que é a caridade, um ensino infalível, que é a verdade, uma hierarquia, que é a autoridade; e depois, uma vez formada esta sociedade à imagem divina, dar-lhes as nações por herança, e deixá-la funcionar sob invisível assistência até o fim dos séculos: eis a ideia de Jesus, tal qual se vê no Evangelho. O seu fim não era, está claro, realizar diretamente por si mesmo a obra sobrenatural da conversão do mundo. Durante a vida, o Pastor só teve como rebanho algumas raras ovelhas do redil de Israel; e trinta anos de existência, três de pregação, de exemplos e de milagres, tendo como fim reunir ao redor de semelhante Mestre somente doze apóstolos e setenta e dois discípulos, provam bem que Ele não foi, e que não quis ser durante sua estada neste mundo, o conquistador das almas. Como Ele mesmo o explica, Ele não colhe, semeia. Semeia, e em seguida, certo de Si e do futuro, pela sua maneira divina, deixa ao tempo o cuidado de fazer brotar os gérmens. Nesta segunda criação, assim como na primitiva, contenta-se em criar os primeiros modelos das coisas e diz:Somente depois da Ascensão, no dia de Pentecostes, começará a pregação geral, universal. Será esse o trabalho dos apóstolos: o de Jesus Cristo é o de escolher, educar e formar os princípios de seu povo e os futuros ministros do reino de Deus."Crescei e multiplicai-vos"
I
Havia um ano que João Batista pregava, anunciando a magnificência mais que humana d’Aquele «que estava entre os homens, mas que os homens ainda não conheciam». Quanto a Ele, reconhecera-O antes à margem do Jordão, e dava disso testemunho dizendo:O filho de Zebedeu ainda não O tinha visto, mas tudo o que ouvia dizer desse Mestre sobre-humano incitava cada vez mais o desejo de conhecê-lO e despertava-lhe os primeiros ardores daquela caridade que ia tornar-se inseparável de seu nome. A escola de João Batista era para seu discípulo uma escola de doutrina superior e toda celestial, e ao mesmo tempo o noviciado de uma vida santamente contrita. Seguindo o exemplo do Mestre, dedicou-se ao nazaritismo, instituto de perfeição em que os Judeus se consagravam mais particularmente a Deus, fazendo voto de abster-se de qualquer licor fermentado e de deixar crescer intacta a cabeleira (Nm 6, 1-21). É de crer que recebera também o batismo do Precursor. Porém este rito exterior era apenas o sinal da pureza espiritual, e da renovação moral que o grande Profeta exigia, como preparação ao batismo d’AqueIe que devia batizar com o fogo e o Espírito. O discípulo bem o compreendera; preparara nele os caminhos do Senhor, e tornara retas suas veredas: o Senhor podia vir. Jesus Cristo, Filho de Deus, veio à Judeia nas margens do Jordão no 15° ano do reinado de Tibério, o 30° da era vulgar, e, segundo o cálculo de sábios cronologistas, no começo da primavera.“Eu vi o Espírito Santo descer do céu em forma de pomba, e pairar sobre Ele. Eu o vi, e dei testemunho de que este é o Filho de Deus" (Jo 1, 32-34)
I
A algumas léguas distante da aldeia de Nazaré, sobre um montículo que domina o lago de Tiberíades, o viajante avista grandes massas e ruínas paralelas à costa. Vários blocos de lava e pedra bruta denotam por sua disposição o recinto de uma antiga cidade. Dois destroços mais notáveis surgem desses escombros. Um, é o de um edifício de pequenas dimensões, situado perto da praia, e que apresenta esculturas, colunas e pilastras mais antigas que os muros. O outro, é um monumento de grande extensão, do qual só restam duas muralhas prestes a cair, porém ornada de belos fragmentos, de capitéis coríntios, de frisas mutiladas estendidas confusamente na relva que as oculta. O local dessas belas ruínas é desolado e morto. O lago banha tristemente as pedras amontoadas ou esparsas sobre a margem. Somente duas magníficas colunas de sienito (1) perfeitamente conservadas e unidas, erguem-se para o céu, como para marcar, por um emblema majestoso, o berço dos dois irmãos que foram indivisivelmente unidos na fé e no apostolado de Nosso Senhor Jesus Cristo.Mês de Dezembro
Breve introdução sobre a Paciência e o Apóstolo Patrono
Estamos na terra para fazermos penitência e merecermos; não é ela, portanto, lugar de repouso, mas de trabalhos e sofrimentos. As dores, adversidades e outras tribulações hão de ser as mais belas jóias da nossa corôa no paraíso. Pratiquemos a paciência: 1. Quando a morte nos arrebata os parentes ou amigos; 2. Na pobreza; 3. Nos desprezos e perseguições; 4. Nas desolações espirituais; 5. Nas tentações; 6. Nas doenças. A resignação na morte, para fazer a vontade de Deus, é bastante para assegurar a nossa salvação eterna. Pondera que nesta vida, quer queiras, quer não, terás necessariamente de padecer. Procura por isso padecer de maneira meritória, isto é, pacientemente; violenta-te e evita romper em queixas e lamentos. Se te venceres, Deus te fará experimentar durante a tribulação uma doçura desconhecida dos mundanos, mas muito conhecida daqueles que amam a Deus. Se Deus te visitar com doenças, pobreza, perseguições e outras adversidades, humilha-te diante dEle, e dize com o bom ladrão:E mesmo que não tenhas perdido a inocência batismal, certamente já terás merecido um longo purgatório. Por isso alegra-te se fores castigado neste mundo e não no outro. Consola-te também nos sofrimentos internos com a esperança do céu. Recorda-te das palavras de São Paulo:"Recebemos o que mereciam nossas ações” (Lc 23, 41).
“Os padecimentos deste mundo não tem comparação com a glória futura que será manifestada em nós” (Rom 8, 18)
Se tua vida te parecer insuportável, olha para teu divino Salvador, que te precede, carregando a cruz. Ouve o que Ele diz:“O que aqui é para nós uma tribulação momentânea e ligeira produz em nós, de um modo maravilhoso no mais alto grau, um peso eterno de glória” (2 Cor 4, 17)
Teu Salvador vai sempre adiante, e só pára ao chegar ao monte Calvário, para ai morrer por ti. Acostuma-te a submeter-te já antecedentemente na oração a todos os sofrimentos que talvez te sobrevirão; assim procederam os santos e por isso estavam sempre prontos a abraçar todas as cruzes, mesmo as que lhes sobrevinham inesperadamente. Suplica, finalmente, ao Senhor instantemente que te conceda a graça da paciência, pois, sem a oração, nunca obterás essa grande graça. Justamente na oração encontraram os santos mártires a coragem para suportar os mais atrozes tormentos e a morte mais ignominiosa. Se recorreres ao Senhor com confiança, Ele te livrará dos teus padecimentos ou então te concederá a graça de suportá- los com paciência. Ele mesmo disse:“Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo e tome todos os dias a cruz sobre si” (Lc 9, 23)
Sumário I. A sua natureza II. Da Paciência em Geral III. Da Paciência nas Enfermidades IV. Da Paciência nas Injúrias e Perseguições V. Da Paciência na Desolações Espiritual VI. Alguns avisos a respeito do Exercício da Paciência VII. A Abnegação e o Amor da Cruz no Redentor VIII. A Prática da Paciência IX. Orações para alcançar a Virtude do Mês“Vinde a mim todos que andais em trabalhos e vos achais carregados e eu vos aliviarei” (Mt 11, 28)
Meditação para a Vigésima Quarta Sexta-feira depois de Pentecostes
SUMARIO
Depois de termos visto a natureza e excelência da sabedoria cristã, meditaremos sobre os seus sinais ou caracteres, e veremos: 1.° O que ela é em si; 2.° O que ela é em suas relações com o próximo. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De pedirmos muitas vezes a Deus a sabedoria cristã, e de nos examinarmos a nós mesmos com frequência durante o dia, para ver se as nossas obras, palavras e sentimentos, tem os seus, caracteres; 2.° De nos conservarmos nesse espírito habitual de recolhimento, fora do qual não reside a verdadeira sabedoria. O nosso ramalhete espiritual será a invocação a Santíssima Virgem como assento ou trono da verdadeira sabedoria:"Virgem, prudentíssima, trono da sabedoria, rogai por nós" - Virgo prudentissima, sedes sapientiae, ora pro nobis
Meditação para a Vigésima Quarta Sexta-feira depois de Pentecostes
SUMARIO
Depois de termos visto a falsidade da sabedoria do mundo, meditaremos sobre a sabedoria cristã, e veremos: 1.° Em que consiste; 2.° Qual é a sua excelência. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De olharmos em todas as coisas a nossa salvação como o supremo fim a que devemos referir tudo; 2.° De evitarmos com cuidado o que poderia expô-la a perigo. O nosso ramalhete espiritual será a súplica de Salomão:"Dai-me, Senhor, aquela sabedoria, que está ao pé de vós no vosso trono, para que esteja comigo e comigo trabalhe" - Da mihi (Domine) sedium tuarum assistricem sapientiam... ut mecum sit et mecum aboret (Sb 9, 10)
Meditação para a Vigésima Quarta Quinta-feira depois de Pentecostes
SUMARIO
Meditaremos sobre a falsa sabedoria do mondo, e veremos: 1.º Quanto ela é digna de reprovação; 2.° Quanto efetivamente Deus a reprova. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De deixarmos o mundo obrar, dizer e pensar o que quiser, e de seguirmos a Jesus Cristo como a única verdadeira sabedoria; 2.° De consultarmos muitas vezes este adorável Salvador, rogando-Lhe que nos esclareça a respeito de tudo o que devemos pensar, dizer ou obrar. O nosso ramalhete espiritual será o anátema que Deus proferiu contra a falsa sabedoria do mundo:"Destruirei a sabedoria dos sábios e reprovarei a prudência dos prudentes" - Perdam sapientiam sapientium, et prudentiam prudentium reprobabo (1Cor 1, 19)
Meditação para a Vigésima Quarta Quarta-feira depois de Pentecostes
SUMARIO
Com um espírito e máximas tão contrárias, como o temos meditado, e evidente que Jesus Cristo e o mundo deve seguir caminhos diferentes. Consideraremos: 1.° Em que diferem estes dois caminhos; 2.° Que o caminho de Jesus Cristo é o único que deve seguir todo o cristão. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De perguntarmos a nós mesmo muitas vezes:A fim de obrar do mesmo modo; 2.° De Lhe protestarmos frequentes vezes que queremos, como Ele, desprezar a ambição, o desejo de juntar riquezas e de gozar, e ter, a seu exemplo, uma vida sempre modesta e sem afetação. O nosso ramalhete espiritual será a palavra que Nosso Senhor dizia dos homens mundanos:"Como obraria Jesus Cristo?"
"Deixai-os seguir o seu caminho: cegos são" - Sinite illos: coeci sunt (Mt 15, 11)
Meditação para a Vigésima Quarta Terça-feira depois de Pentecostes
SUMARIO
Como o espírito do mundo, sobre que meditamos esta manhã, expõe máximas que passam por axiomas incontestáveis, consideraremos na nossa oração: 1.º Quão falsas são estas máximas; 2.° Que todo o cristão deve preferir-lhes e amar as máximas de Jesus Cristo. — Tomaremos depois a resolução: 1.° De não nos importarmos com as máximas do mundo; 2.º De termos sempre por norma do nosso proceder as máximas de Jesus Cristo. O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Evangelho:"Um só é o vosso mestre, Jesus Cristo" - Magister vester unus est, Christus (Mt 23, 10)