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Sobre o nome Católico e o Sacramento da Penitência

Epistola 1 de São Paciano de Barcelona (310 - 391)

Paciano de Barcelona foi uma Padre da Igreja, do século IV, anterior a Santo Agostinho, vivendo entre 310 até 391 d.C. Sua Primeira Carta a Simproniano, embora pequena, é riquíssima e trata do nome «católico» e seu uso na Igreja, além de uma defesa apologética do sacramento da Penitência. Apreciem a tradução inédita feita por um excelente sacerdote, que por humildade optou pelo anonimato.

Paciano saúda o seu irmão Simproniano. I. Meu senhor, e não é uma intenção carnal, como eu estou convencido, mas sim um chamamento espiritual, o que te leva a querer saber de mim a fé da verdade católica, tu, que por teres bebido muito longe do rio, pelo que consta, afastado da fonte e da origem da Igreja principal, é que devias declarar-me quais e quão diversas são as ideias que tu segues, para apresentares qual a razão que causou a tua separação da unidade do nosso corpo, pois é preciso desnudar os membros onde se deve aplicar o remédio. Ora, tapado, por assim dizer, o seio da tua carta, não consigo ver quais os membros que eu devo curar em primeiro lugar. Com efeito são tantas as heresias desde a origem do Cristianismo, que seria preciso um grosso volume para elencar o nome de todas. Na verdade, sem contar os Judeus hereges, Dositeu Samaritano, Saduceus e Fariseus, seria uma coisa muito longa enumerar quantos surgiram nos tempos dos Apóstolos: como Simão mago, Menandro, Nicolau e outros cuja memória se perdeu. Que direi de Ebion, Apeles, Marcião, Valentino, Cerdon, que viveram na época seguinte? E, não muito afastados deles, os Catafriges e Novacianos, já para não falar nas novas seitas que são como enxames? II. Qual deles, pois, eu devo refutar em primeiro lugar? Se é isso que queres, esta carta não poderá conter os nomes de todos. Ainda assim, naquilo que escreveste, dizes que te inclinaste para os que condenam a penitência segundo a doutrina dos Friges. No entanto, meu caríssimo senhor, estes têm tantos e tão diversos erros, que neles deve cortar-se, não só este único ponto que maquinaram contra a penitência, mas também as suas muitas cabeças, como a hidra de Lerna. Em primeiro lugar, eles apoiam-se em muitos autores, pois penso que o Grego Blasto é um deles. Também Teodoto e Praxeas por vezes ensinaram os vossos. Mas os Friges mais famosos, que se fingem animados pelo espírito de Lêucio e se gloriam de ser instruídos por Próculo, seguindo Montano, Maximila e Priscila, quão enormes controvérsias levantaram acerca do dia de Páscoa, do Paráclito, dos Apóstolos, dos Profetas; e muitas outras, tal como acerca deste nome Católico e acerca do perdão que se alcança pela penitência.

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São João em Éfeso. As Igrejas da Ásia

Capítulo 13: São João em Éfeso. As Igrejas da Ásia

I

Quando Maria foi arrebatada aos céus, quando todos os irmãos partiram, e a Judeia, perturbada pelas discórdias, profanado pelo paganismo dos costumes, rebaixada em sua fé pelos Idumeus, e em sua liberdade pelos procuradores Felix, Festus, Albinus e mais tarde Gessius Florus, pareceu-lhe tender para essas desolações preditas pelo Mestre, João resolveu deixar também Jerusalém e procurar outro campo para a santa semente. Vamos encontrá-lo na Ásia proconsular. Não viera só. Acompanhavam-no os anciãos da Igreja de Jerusalém que não tinham fugido além do Jordão. Papias de Hierápolis menciona um enorme cortejo de chefes que se reuniram a João. Eram íntimos dos grandes apóstolos e, tendo-os visto e ouvido, podiam repetir «o que haviam dito André, Pedro, Felipe, Tomé, Tiago, Mateus e os outros discípulos do Senhor» (1). Não se pode fixar com exatidão a data de sua chegada à Éfeso. Calcula-se que seja posterior ao ano 54 de Jesus Cristo, porque naquela época os Atos falando na pregação de São Pedro nessa cidade, não fazem menção alguma de São João. Muitos presumem até que só veio depois da ruína de Jerusalém.

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São João e Maria. A Assunção

Capítulo 12: São João e Maria. A Assunção

I

São João não se dirigiu imediatamente para a diocese da Ásia. Um dever sagrado e caro o prendia ainda à Judeia, demorando-se junto da mãe de Deus, que se tornara sua, pelo legado divino da Cruz. Assim, apesar do encanto elevado da lenda, que dá Maria como vivendo em Éfeso, a crítica tem de renunciar a esta suposição completamente incompatível com a tradição, a cronologia e a história. Tudo faz crer que Maria ficou em Jerusalém, e ali morreu. Nessa hipótese, mais que verosímil, ela não se apartou dos lugares que lhe eram tão caros pelos passos de seu Filho. Ali, na cidade santa, pátria-mãe da fé, e ponto de encontro dos irmãos, fica ela com João até o seu derradeiro dia. Ali desce também ela ao túmulo que não devia guardar seus despojos; e assim compreende-se como, no tempo de São Jerônimo, o mausoléu da virgem era venerado no vale de Josafá, no mesmo lugar onde ainda o encontram os viajantes e os peregrinos. Qual foi a vida de Maria e do apóstolo na pobre casa onde João a recolheu ao descerem do Calvário? Ninguém o contou; e não sei mesmo se alguma língua humana seria capaz de repetir dignamente aquela conversação «que já era dos céus». Bossuet não se anima:
«Dizer-vos, exclama ele, o que eram as ocupações e os discursos de Maria durante sua peregrinação, penso que não é cousa que os homens devam tentar. Quem poderia descrever a impetuosidade desse mútuo amor, para o qual concorria tudo o que a natureza tem de terno, tudo o que a graça tem de eficaz? É certo, cristãos, que podemos ter uma vaga ideia de todos estes milagres; mas imaginar qual era a veemência dessas correntes de chamas, nem mesmo os serafins, ardentes como o são, jamais poderão fazê-lo» (1)

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São João em Samaria. Martírio de seu irmão Tiago. O concílio. A dispersão

Capítulo 11: São João em Samaria. Martírio de seu irmão Tiago. O concílio. A dispersão

I

Entretanto a caridade começara seu reinado nessa bela comunidade da Igreja do cenáculo, que ia tornar-se o tipo ideal das Igrejas e cuja lembrança pura devia iluminar as últimas instruções de São João em Éfeso.
"Os discípulos perseveravam na doutrina dos apóstolos, na participação a fração do pão e na oração. Todos que acreditavam eram considerados iguais; seus bens estavam em comum. Iam orar juntos no templo, partindo o pão pelas casas com alegria e simplicidade de coração. Louvavam a Deus, agradavam ao povo, e cada dia via-se crescer o número daqueles que se haviam de salvar nesta união" (At 2, 42)
Com efeito, o Evangelho não era mais o pequenino grão de mostarda da parábola; a árvore saia da terra. A verdade não se levantara ainda para os povos sentados à sombra da morte; mas uma cidade, uma província até então cismática, entreabria os olhos a claridade celeste; e, coisa extraordinária! Era esta mesma Samaria, outrora inóspita e sobre a qual João pedira a Jesus que fizesse descer o fogo do céu. Convertidos por Felipe, um dos sete novos diáconos, e batizados por ele, os Samaritanos esperavam que a mão dos apóstolos, únicos investidos do poder, lhes conferisse o Espírito Santo. Pedro foi designado para essa missão. João não podia separar se dele, partiram, pois juntos (1). Convinha que aquele que outrora chamara o fogo vingador sobre os Samaritanos, sabendo enfim agora de que Espírito era fizesse cair sobre suas cabeças mais propícia chama.

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Primeiro testemunho de São João perante os Judeus

Capítulo 10: Primeiro testemunho de São João perante os Judeus. Conversão no Sanhedrin (Sinédrio)

Conversão no Sanhedrin (Sinédrio)

I

Os três anos passados na intimidade de Jesus Cristo, tinham feito de João a testemunha do Evangelho, e as relações familiares com o Filho de Deus são suficientes para explicar o seu conhecimento e garantir-lhe a sinceridade. Mas, quem nos explicará a nova energia, que vai fazer do discípulo predileto um apóstolo e um mártir, e essa transformação súbita e inefável, que do pescador de homem, fará hoje o mais sublime dos Evangelistas? Este espírito precisava ainda de um último raio de luz; era mister uma chama a este coração para fundir-se e tornar-se de bronze a alma fiel e terna. O Espírito Santo fez o milagre, o milagre necessário, sem o qual nada se explica, milagre que Jesus Cristo profetizara no Evangelho de São João. Foi unicamente em São João que a teologia referente ao Espírito Santo recebeu as revelações e os desenvolvimentos que formam um conjunto doutrinário completo. Conta-nos o discípulo que, na última entrevista de Jesus, na véspera de sua morte, os apóstolos ouvindo-O falar em partida, ficaram enternecidos; mas o Senhor lhes dissera:

"Não se inquiete o vosso coração, porque meu Pai vos dará outro Consolador que ficará eternamente convosco"

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São João na Ressurreição

Capítulo 9: São João na Ressurreição

I

As memórias de João nos transportam em seguida a três dias mais tarde. O discípulo retirara-se para uma casa em Jerusalém, talvez sua própria casa, como o insinua São Lucas, na qual hospedara a mãe de Deus, e que Nicéforo e outros historiadores dizem estar situada na colina de Sion. Pedro ali se achava com ele, acabrunhado pelos remorsos (1). Foi ali que chegou à João a primeira notícia de um fato maravilhoso. No domingo pela manhã, entra precipitadamente uma mulher. Era Maria Madalena que corre e diz:

"Levaram o Senhor do sepulcro e não sei onde o puseram" - Cucurrit ergo Maria Magdalene, et venit ad Simonem Petrum et ad alium discipulum quem amabat Jesus, et dicit illis: Tulerunt Dominum de monumento, et nescimus ubi pouerunt eum (Jo 20, 2)

Que foi? Que veio esta mulher contar? E o que tinha visto? Pela manhã algumas mulheres da Galileia, entre as quais o Evangelho cita Maria, mãe de Tiago o Menor ou o Justo; Salomé, mãe de João; Joanna, mulher de Chusa, da casa de Herodes, muito cedo se haviam dirigido ao sepulcro de Jesus. Era o sepulcro situado no centro de um jardim sobre a encosta da montanha do Calvário, e cavado no rochedo como se veem ainda os túmulos das Patriarcas e dos Reis de Judá. Essa gruta sepulcral e esse jardim eram de um Judeu distinto, José de Arimateia, que, auxiliado por Nicodemos, ali depositara o corpo do divino Mestre, depois de tê-lO perfumado e envolvido em tiras, como era costume no Oriente. Mas esse embalsamamento rápido, preparado às pressas na véspera de um sábado, era insuficiente. A fim, pois, de concluir o trabalho de piedade suprema, as santas mulheres para lá se dirigiam antes mesmo do amanhecer, levando consigo vasos cheios de aromas, inquietas, porém, perguntando-se entre si, quem levantaria a pedra que fechava o sepulcro.

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São João na Paixão de Jesus Cristo

Capítulo 8: São João na Paixão de Jesus Cristo

I

Depois do hino de ação de graças, Jesus Cristo, tendo dado o sinal para deixar o cenáculo, encaminhou-Se para o monte das Oliveiras, onde costumava orar durante a noite. Foi durante esse trajeto que fez a seus discípulos uma parte do discurso que nos transmitiu São João, e do qual precisa bem o lugar e as circunstâncias. Caminhavam juntos lentamente, por uma noite triste e suavemente iluminada pelo luar da Páscoa. E, ao atravessar as vinhas que, naquele lugar cresciam como grandes arbustos, Jesus, segundo o costume, tomava da natureza que se lhe antolhava, imagens capazes de melhor fazer compreender a sua doutrina.

"Eu sou, dizia ele, a verdadeira vida, e meu Pai é o agricultor. Eu sou a videira, e vós as varas. O que permanece em mim, e eu nele esse dará muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer" - Ego sum vitis vera, et Pater meus agrícola est... Ego sum vitis, vos palmite. Qui manet in me et ego in eo, hic fert fructum multum: quia sine me nihil potetis, facere (Jo 15, 1, 5).

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São João durante a Ceia

Capítulo 7: São João durante a Ceia

I

Havia três anos que João não deixava seu Mestre. Gravara no espírito suas palavras, fixara-lhe os traços na alma. Tinha igualmente participado de seus sofrimentos. Também, em parte alguma se veem os ultrajes dos Judeus, o ódio dos fariseus, a inveja dos sacerdotes contra o Filho de Deus, em uma história mais seguida e mais comovedora, como no Evangelho de São João. Mas, nestes últimos tempos, o apóstolo verificava que a cólera a princípio em surdina, prorrompia dia a dia em ameaças mais sinistras. Chegavam já às primeiras violências (1). Um dia os fariseus mandaram gente para prender a Jesus (2). Outra vez quiseram apedrejá-lO (3). João sabia que, em um conselho, haviam decretado que o Justo devia morrer (4). Ele o vira escapar-se de suas mãos deicidas (5). Enfim, os discípulos, conforme ele nos conta, tinham sido obrigados a seguirem o Mestre para uma espécie de exílio, na cidade de Efrem, ao lado do deserto, e ali viver escondidos para se furtarem aos males extremos a cair sobre essa cabeça sagrada (6). A festa da Páscoa, porém, tendo o feito voltar à cidade, o entusiasmo popular rompeu à sua entrada, com tal impulso de gratidão, que os inimigos do Salvador resolveram acabar com Ele, e João previu tristes acontecimentos. Muitas vezes Jesus dissera:

"Ainda não é chegada a minha hora" - Meum tempus nundum impletum est (Jo 8, 8)

O Discípulo ouvia-o dizer agora:

"É chegada a hora em que o Filho de Deus será glorificado. Em verdade vos digo, é necessário que o grão de trigo seja enterrado para que dê seu fruto.

O que ama a sua vida, perdê-la-á; e o que aborrece a sua vida neste mundo, guarda-a para a vida eterna" - Jesus autem despondit eis, dicens: Venit hora ut clarificetur Filius hominis. Amen, amen dico vobis: Nisi granum frumenti cadens in terram mortuum fuerit, ipsum solum manet; si autem mortuum fuerit, multum fructum affert.

Qui amat animam suam perdet eam; et qui odit animan suam in hoc mundo, in vitam aeternam inveniet eam (Jo 12, 23)

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A promessa e a doutrina da Eucaristia no Evangelho de São João

Capítulo 6: A promessa e a doutrina da Eucaristia no Evangelho de São João

I

Se a Pessoa divina, que João nos mostra em seu Evangelho, só tivesse aparecido na terra durante alguns anos, para ir depois extinguir-Se irrevogavelmente pela morte, não deixando senão a lembrança histórica de uma beleza incomparável, porém para sempre desaparecida, teria sido para os homens o objeto de uma admiração religiosa, porém inconsolável. Teríamos considerado especialmente feliz e privilegiada a geração a que fosse dado o espetáculo da visita de um Deus; mas nosso amor ciumento perguntar-se-ia a si mesmo, porque nesta universal e imortal família de Jesus Cristo, só os homens de uma pequena cidade e de uma época longínqua tiveram a honra de Seu convívio divino. Parece mesmo que não teria sido conforme os conselhos e o amor d'Aquele que, segundo a expressão de Bossuet «não se arrepende de seus dons», e que, tendo nos dado seu Filho, se obrigava a no-lo dar de maneira permanente e digna. A presença de Jesus, pão de vida, na comunhão, ia resolver essas questões e satisfazer a essa necessidade de Deus e do homem. João no-lo ensinou, com os comentários colhidos dos lábios desse próprio Deus vivo e presente no meio de nós até o fim dos tempos. Os três outros historiadores das ações de Jesus nos contaram igualmente a instituição desse augusto Sacramento, mas somente no Evangelho de São João se lê sua promessa, natureza e maravilhosa virtude.

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