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XVI. Os Sacerdotes da Igreja (I)

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A 15 de março de 1934, não há muitos anos portanto, os trezentos mil sacerdotes católicos do mundo celebraram uma festa, talvez sem exemplo da História.

Como talvez ainda estejais lembrados, chegava-se naquela ocasião à última semana do “ano santo” promulgado pelo papa Pio XI em razão do décimo nono centenário da Redenção. Naquele ano santo, agradecíamos a Nosso Senhor Jesus Cristo, com coração verdadeiramente reconhecido, todos os seus dons: o seu amor, os seus sofrimentos, a sua morte na cruz, o santo sacrifício da missa… Porque havia então dezenove séculos, que havíamos recebido tudo isso.

E havia também dezenove séculos, que fora instituído o sacerdócio cristão. Não vos admireis, pois, se, entre os fiéis que celebraram a Redenção, o sacerdócio esteve especialmente em festa, e se, naquela quinta-feira, 15 de março de 1934, todos os sacerdotes católicos do mundo, à mesma hora, expuseram o Santíssimo Sacramento, para agradecer a instituição do sacerdócio ao divino Coração, que arde incessantemente de amor por nós.

Muito natural é que eu vos fale agora do sacerdócio. Na série de instruções consagradas à Igreja, devo falar dos sacerdotes da Igreja, pois não podemos conceber a Igreja sem os seus sacerdotes.

Na Igreja, há fiéis e há chefes: os sacerdotes, os bispos e o papa. Há um sacerdócio que prega a palavra de Deus, oferece o sacrifício de Cristo, cujas orações servem de ligação entre Deus e os fiéis, e que, pelos sacramentos, comunica aos fiéis a graça de Cristo.

O sacerdócio católico! Alvo de quantos escárnios e calúnias da parte dos espíritos frívolos! Motivo de quantas ideias e juízos errôneos, da parte de pessoas de boa vontade! Mas também objeto de que caloroso e piedoso respeito da parte do povo cristão crente!

O sacerdócio católico! Precisamos realmente dele? Cristo quis verdadeiramente que na sua Igreja houvesse uma classe especial, uma classe de homens escolhidos, separados do povo, usando um traje especial? Organizou Cristo o sacerdócio? Não terão razão os que dizem que são “crentes”, “cristãos”, ou mesmo “bons católicos”, mas que “não precisam nem de igrejas, nem de missa, nem de confissão, nem, mormente, de padres? Porque se intrometem eles entre Deus e o homem? Rogo a Deus que me perdoe meus pecados e me dê a graça – mas não pode ele dar-me tudo isso sem os padres?…”.

Aí estão as ideias que surgem constantemente na sociedade, ora aqui, ora acolá, e convém, pois, que tiremos também a limpo essa questão.

Terá Nosso Senhor instituído realmente o sacerdócio? – Vamos procurar responder a esta pergunta na presente instrução.

E que pensa a Igreja dos seus sacerdotes? – será o assunto da instrução seguinte.

1. O Culto do Sacerdócio

Para resolver a questão que acabamos de propor, quiséramos, à guisa de introdução, lembrar alguns fatos da História da civilização. Quiséramos mostrar rapidamente o fato interessante de em todos os povos encontrar-nos o respeito pelo sacerdócio, de, entre pagãos como entre cristãos, ter sido sempre esse respeito o indicio do nível da moralidade de um povo.

A) Lembrarei apenas brevemente alguns exemplos do mundo grego e romano.

Desde a primeira página da Ilíada de Homero, o sacerdote aparece como uma potência moral dominando qualquer outra coisa. Nos teatros, em Atenas, os sacerdotes tinham os primeiros lugares; eram sacerdotes que guardavam o santuário dos mistérios de Eleusis; sem os sacerdotes não se realizava ato algum oficial: nem tratado de paz, nem reconciliação dos partidos políticos. Pode-se realmente dizer que o Estado grego antigo era fundamentalmente “clerical”.

O mesmo sucedia entre os Romanos. Toda atividade política ou publica estava sob influência dos sacerdotes. Trouxeram da Grécia os oráculos sibilinos e fundaram um colégio especial de sacerdotes para interpretá-los. Nem mesmo o onipotente Augusto ousava depor o sumo sacerdote, o “Pontifex Maximus”.

B) Essa concepção do sacerdócio naturalmente intensificou-se em medida notável na doutrina cristã. Nos países cristãos, os sacerdotes são objeto de grande respeito, por causa dos seus merecimentos morais e culturais sem exemplo. Foi o sacerdócio que propagou a civilização entre os povos convertidos, e, se não fosse a sua obra, toda a Europa teria sido submergida pelas ondas da barbaria. Se não fosse a sua ação conservadora, talvez só restasse mera lembrança da civilização antiga. Foi o trabalho paciente dos monges copistas que nos conservou a base dos nossos conhecimentos clássicos atuais: os antigos manuscritos gregos e romanos. Arquitetura, música, pintura, escolas, universidades, devemos tudo isso ao sacerdócio. E toda a ordem pública, o respeito da moral o triunfo do direito e da justiça! Nada pois, de admirar que honrem o sacerdócio os Estados que beneficiaram dele.

Sem dúvida, bem sei que o que disse até aqui é, antes, destinado a confirmar as provas que exporei a seguir, mas não constitui a resposta à questão levantada. Se os povos em toda parte têm honrado os seus sacerdotes, é, quando muito, um fato histórico, mas não uma resposta às grandes questões: Precisa também o cristianismo dum sacerdócio? Cristo realmente fundou o sacerdócio? E por que ele o fundou?

Eis ai as importantes questões que aguardam agora resposta.

2. Cristo fundou o Sacerdócio

070921-N-6278K-002 PORT-OF-SPAIN, Trinidad and Tobago (Sept. 21, 2007) - Father Joseph Harris, left, a Roman Catholic priest in Trinidad and Tobago, celebrates mass with Lt. Cmdr. Paul Evers, a Navy chaplain and Roman Catholic priest, aboard Military Sealift Command hospital ship USNS Comfort (T-AH 20). Comfort is on a four-month humanitarian deployment to Latin America and the Caribbean providing medical treatment to patients in a dozen countries. U.S. Navy photo taken by Mass Communication Specialist 2nd Class Joan E. Kretschmer (RELEASED)

Afirmamos que Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu um sacerdócio especial, e o encarregou de comunicar aos homens os benefícios da Redenção. Cristo não quis – como alguns o afirmam por erro – que as almas se comuniquem com Deus sem intermediário, que estejam ligadas “em linha direta” com Deus. Mas quis criar, no sacerdócio, uma grande central telefônica à disposição dos homens, para que os homens, graças a ela, sejam postos em comunicação com a linha do céu.

Como sabemos disto?

A) Pelo ensinamento claríssimo dos Evangelhos. Lemos neles estas belas palavras que o Salvador dirigiu aos que Ele especialmente escolhera:

“Não vos chamo sevos, porque o servo não sabe o que faz seu amo; mas chamo amigos, porque tudo o que ouvi de meu Pai, vo-lo fiz conhecer. Não fostes vós que me escolhestes; mas fui eu que vos escolhi e vos estabeleci para que vades e deis fruto, e vosso fruto permaneça” (Jo 15, 15-16)

Nosso Senhor Jesus Cristo também ordenou que todo aquele que quiser entrar no seu reino seja batizado, para renascer de novo. Mas foi aos apóstolos e aos seus sucessores que Ele confiou o encargo de administrar o batismo (Mt 28, 19).

A quem, depois do batismo, comete o pecado, Ele dá a absolvição, mas esse poder ainda nas mãos dos apóstolos que Ele o estabeleceu (Jo 20, 22).

Remiu-nos por sua morte. Mas a renovação da sua morte redentora confiou-a Ele ainda aos seus apóstolos. O penhor da vida eterna é a recepção do corpo e do sangue de Cristo; mas esse poder Ele também só o deu aos sacerdotes (Lc 22, 19).

Assim também, impôs-lhes o dever de pregarem a doutrina cristã: “Ide, ensinai todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28, 19).

Em verdade, quem leu os Evangelhos não pode deixar de fazer esta verificação: para assegurar a extensão do reino de Deus na terra, Cristo escolheu alguns homens em particular, e revestiu-os do seu poder, para que o representassem.

Aqueles que Ele enviou têm a santa obrigação de trabalhar pelo reino de Deus; e aqueles a quem Ele os enviou têm a santa obrigação de escutá-los. Pois Ele lhes disse igualmente: “Quem vos escuta, a mim escuta” (Lc 10, 16). O próprio Cristo organizou o grupo dos “enviados”, colocando-lhes à testa, como seu representante visível, um chefe monárquico.

Sim, o sacerdócio católico representa o pensamento de Cristo.

B) Mas, meus irmãos, quando refletimos na tarefa imensa que Nosso Senhor Jesus Cristo deu aos seus sacerdotes, somos quase obrigados a dizer que Nosso Senhor – humanamente falando, – iniciou uma empresa terrível, quando realizou esta coisa espantosa:

a) Confiar às mãos dos homens as forças, os merecimentos; a sorte da Redenção! Nas mãos de homens que, mesmo depois de receberem essa missão, permanecem sempre homens, com uma natureza humana inclinada ao pecado e com o fardo das fraquezas humanas! Depois, obrigar as outras criaturas a volver-se, quanto à vida de suas almas, para esse pequeno grupo de eleitos, mesmo quando esses membros não fossem santos ou gênios, mesmo quando a sua alma estivesse talvez num penoso afastamento de Cristo.

O sacerdócio tem duas faces: vive na terra, mas não tem o direito de ser da terra. O sacerdote é nosso compatriota, figura entre os nossos conhecidos, é filho de tal ou tal família, – e no entanto, depois da ordenação, é mais do que isso, muito mais. Cumpre que o seu amor se estenda a toda a humanidade. Ele deve ir se hesitação aonde que que Deus o chame: a uma aldeiazinha, a uma grande cidade, junto às crianças numa escola, aos doentes num hospital, aos pobres num hospício, junto aos estrangeiros, entre os pagãos.

Em parte alguma tem ele o direito de parar definitivamente, de se ligar definitivamente com alguém; deve ser um viajante perpétuo na terra, e dirigir-se imediatamente e com solicitude para onde quer que Deus o chame. Cumpre que viva no mundo para poder salvá-lo, e todavia fora do mundo, para não perecer com ele.

b) Tarefa de dar vertigem. Com efeito, mesmo se cada sacerdote fosse um santo e um gênio, mesmo então não se compreenderia a misteriosa decisão de Cristo, que ligou a distribuição das suas graças a intermediários humanos. Pelo fato de haver Ele deixado nos seus sacerdotes a fraqueza humana, é certo que a nossa fé é frequentemente posta a pesadíssima prova. Seria mais fácil afastar da nossa fé qualquer outro obstáculo do que curar essa chaga dolorosa que nos infligem as faltas humanas dos sacerdotes, eleitos e delegados por Cristo. É tão terrível essa provocação da nossa fé, que muitos não a podem suportar.

Sabeis em que é que penso neste momento? Na maior dor de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mas uma dor que o Salvador, por assim dizer, previu – e não obstante a qual, não renunciou a fundar o sacerdócio.

Por toda parte onde há homens, a fraqueza humana ai também se encontra. É verdade: devemos trabalhar com todas as nossas forças para que os traços humanos desapareçam cada vez mais do sacerdócio da Igreja. Mas, se isso não é alcançado completamente, se aqui e acolá se apresentam deploráveis defeitos, fraquezas e até pecados, não temos o direito de vacilar na nossa fé, quando sabemos que São Pedro, no dia da primeira comunhão e no dia da ordenação, negou seu Mestre, e quando sabemos que os apóstolos, covardemente, abandonaram o Salvador no próprio dia em que foram eleitos.

Nosso Senhor previu tudo isso. E, não obstante, instituiu o sacerdócio e certamente o fez por graves razões. Esforcemo-nos por investigar com humildade essas razões: Por que foi que Nosso Senhor estabeleceu esse intermediário, esse traço de união entre Deus e os homens? Por que foi que instituiu o sacerdócio?

3. Por que instituiu Cristo o Sacerdócio?

Teoricamente, poder-nos-íamos representar a redenção de tal maneira, que participássemos de suas graças sem intermediário de espécie alguma. Se Deus quisesse, bastaria dizermos “Creio em Vós, Senhor”, e nos tornaríamos cristãos sem recepção exterior do batismo. Deus podia fazer que, ajoelhando-nos, batendo no peito e dizendo: “Senhor, tende compaixão de mim, pobre pecador”, imediatamente fôssemos perdoados dos nossos pecados, sem confissão nem absolvição do sacerdote.

Mas, na realidade, Deus não o quis. Cristo ordenou que, para a transmissão das suas graças, teríamos de recorrer a sinais exteriores visíveis, e a gestos determinados; ora, não é qualquer um que pode executar esses gestos, mas só aqueles que Ele incumbiu disso. Noutros termos, Cristo estabeleceu intermediários para a graça – e esses intermediários são os sacerdotes.

Mas surge em nós esta pergunta:

Por que são precisos intermediários? Por que Deus não concede diretamente suas graças?

Basta refletir um pouco para achar a resposta.

A) Consideremos, primeiramente, que o homem não é só espírito, mas também matéria.

a) É inteiramente conforme à nossa natureza material que Deus, para nos dar sua graça invisível, se sirva de sinais e de gestos exteriores e visíveis. É para isso que se faz mister o sacerdócio, um sacerdócio escolhido no mundo, mas vivendo unicamente para o serviço de Deus. Efetivamente, a santidade de Deus é hoje a mesma que na época de Moisés. E se Moisés ficou profundamente conturbado ouvindo as palavras que vinham da sarça ardente “Tira as sandálias dos pés, pois o lugar em que estás é uma terra santa” (Ex 3, 5), – ainda hoje esse lugar é santo: nenhum homem pode aproximar-se das fontes da graça divina, senão aquele que Deus escolheu para delas haurir, e dar de beber ao seu povo. E assim compreendemos exatamente a essência do sacerdócio católico, a sua essência íntima e a sua razão de ser. Para que serve o sacerdote? Para servir a Deus. Para conduzir as almas a Deus. Para ser o intermediário entre Deus e o homem.

b) E cumpre que o sacerdote saiba muito bem que essa dignidade e essa santa função comportam uma grande responsabilidade. Ele não tem o direito de ser apenas um farol que aponta a outrem o caminho do porto, enquanto ele mesmo não segue o bom caminho. Ele não tem o direito de pregar teoricamente Cristo e andar ele próprio, praticamente, por outro caminho. Não tem o direito de atrair sobre si as palavras pronunciadas por Nosso Senhor a propósito dos Fariseus: “Fazei e observai tudo o que eles vos dizem, mas não imiteis as suas obras” (Mt 23, 3).

Os sacerdotes não existem, pois, para dominar os fiéis? De modo algum. De fato, eles leem inúmeras vezas estas palavras de Cristo: “O maior entre vós será vosso servo” (Mt 23, 11). E estas palavras de São Paulo: “Não pretendemos dominar sobre a vossa fé, mas contribuir para a vossa alegria” (2Cor 1, 23). E este aviso de São Pedro: “Apascentai o rebanho de Deus que vos é confiado, velando por ele, não por força, mas de bom grado, não num interesse sórdido, mas por dedicação; não como dominador das igrejas, mas fazendo-vos os modelos do rebanho” (1Pd 5, 2-3).

B) Isto torna-se ainda mais claro, quando pensamos que Deus ligou a nossa redenção à pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, e que somos remidos, na medida em que conseguimos tornar-nos membros do corpo místico de Cristo.

a) Tornar-se membro do corpo de Cristo! – Eis a essência do cristianismo: o resto, a liturgia, os mandamentos, as festas, as formas de devoção, tudo isso não é o essencial. Sem dúvida, não podemos, sem os Sacramentos da Igreja, tornar-nos membros de Cristo, e, para administrar os Sacramentos, é preciso o sacerdócio. É pois pela atividade sacramental do sacerdócio, que nos tornamos membros do corpo de Cristo.

b) “Então não poderei por mim mesmo participar dos merecimentos de Cristo? Por uma comunicação direta entre minha alma e Cristo? O Deus eterno e minha alma não bastam? Para que então o sacerdócio?”.

É o próprio Cristo quem dá a resposta. Com que clareza ele deu esta ordem aos apóstolos: “Ide, ensinai todos os povos, batizai-os” (Mt 28, 19); logo sois vós que dais o batismo. “Quem crer e for batizado será salvo” (Mc 16,16); logo “for batizado”, e não “batizar-se a si mesmo”. Nicodemos conversa uma noite toda com Cristo sobre a justificação. E Cristo não lhe diz que “basta Deus eterno e tua alma”, mas fala-lhe da sua morte na cruz e diz-lhe: “Se alguém não renascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus” (Jo 3, 5).

Há, em seguida, a sagrada Eucaristia. Sem ela, pode a vida divina existir em nós? Não. Conheceis as palavras do Salvador: “Se não comerdes a carne do Filho do homem e não beberdes seu sangue, não tereis a vida em vós” (Jo 6, 54). Como, porém, nos haveríamos de aproximar hoje em dia do corpo de Cristo, se não houvesse sacerdotes que, na Missa, o façam descer do céu para o tabernáculo? Ora, não podemos crer que Cristo tenha dado a todos os homens o poder de consagrar.

E a penitência! Que sacramento indispensável para os homens fracos! Porventura Cristo disse: “Arrependei-vos dos vossos pecados, e então o Pai vo-los perdoará por causa dos meus merecimentos”? Não. Mas disse aos apóstolos: “Os pecados serão perdoados a quem os perdoardes” (Jo 20, 23). Logo, sois vós que os perdoareis.

É absolutamente certo que Cristo só aos apóstolos e aos seus sucessores confiou a administração dos sacramentos, e não a todos os seus fiéis e discípulos. Com efeito, disse-lhes: “Assim como meu Pai me enviou, eu também vos envio” (Jo 20, 21). E só os apóstolos puderam dizer àqueles que eles próprios escolheram: “Assim como Cristo nos enviou, nós também vos enviamos”.

E é assim que o poder de administrar os sacramentos, dado por Cristo aos apóstolos, continua nos sucessores dos apóstolos; é assim que ele continua na Igreja, há dezenove séculos, para fazer dos homens, que aspiram à salvação eterna, os membros do corpo místico de Cristo.

***

Meus irmãos, a Igreja tem vivido, no decurso desses dezenove séculos, momentos terríveis, mas nunca lhe faltaram sacerdotes. Cristo os tem chamado à obra, tanto, quantos se fazem necessários. Cristo sabe que a Igreja precisa de sacerdotes, que são necessários operários para a messe, e deposita sempre na fronte de novos jovens o ósculo invisível que os chama ao trabalho.

Não é possível dizer em que é que consiste esse chamado de Cristo, como é que, das profundezas da alma dum jovem, surge o desejo misterioso de dar a vida inteira a Cristo, de maneira que não haja mais um só instante, uma só pulsação do coração, um só projeto, um só desejo, um só pensamento, um só minuto que não seja para Cristo, e para as almas imortais.

E, se bem que, segundo os cálculos terrenos, pareça uma empresa absurda confiar, a frágeis ombros humanos, os valores eternos, vemos, entretanto, que a experiência tem mostrado que não há razão para qualquer receio.

Vemos que, mau grado as fraquezas humanas que existem infelizmente, o sacerdócio tornou-se o robusto sustentáculo da Igreja. Não há nada comparável ao amor piedoso que os fiéis manifestam para com os seus pastores, porquanto, acima de todas as fraquezas humanas, eles veem sobre os sacerdotes a auréola da ordenação, e baixam humildemente a fronte ante a bênção das mãos que dão a absolvição, ou elevam o Santíssimo Sacramento.

Meus irmãos, quando na tarde de quinta-feira, 15 de Março de 1934, os sacerdotes do mundo inteiro se ajoelharam diante do Sagrado Coração de Jesus e lhe agradeceram a dignidade sobre-humana a que Ele os chamou, sem que eles a houvessem merecido, vós também, nós todos, fizemos subir a Deus uma prece fervorosa por esses sacerdotes.

Foi uma tarde magnifica… Trezentos mil padres católicos ajoelharam-se diante do Sagrado Coração e fizeram ouvir esta prece:

“Senhor Jesus, humildemente Vos agradecemos nos haverdes chamado a esta dignidade sobre-humana. Só uma coisa Vos pedimos: podermos ser sacerdotes segundo o vosso Sagrado Coração.

Sermos archotes que ardem por Vós.
Sermos um facho que ilumina somente por Vós.
Sermos um caminho que conduz somente a Vós.
Sermos um braço robusto que se eleva para Vós.
Sermos uma coluna que não vacila, um carvalho ao qual se apoiam as almas.
Sermos sacerdotes que não tenham uma só palpitação, um só olhar, uma só pulsação – que não seja para Vós e para as almas imortais.
Sermos sacerdotes que nada esperam na terra pelo seu trabalho – nem conforto, nem prazer, nem bem estar, nem riqueza, nem distinções, nem honras – absolutamente nada, porque temos muito mais que isso, pois temos a promessa de São Pedro: ‘Quando o Príncipe dos pastores aparecer, recebereis a coroa de glória que não fenece’ (1Pd 5, 4)”.

Senhor, dai-nos sacerdotes com esse ideal, que façam a alegria do Vosso Sacratíssimo Coração e a salvação do rebanho que lhes é confiado. Amém.

(Toth, Mons. Tihamer. A Igreja Católica. Rio de Janeiro: José Olympio, 1942, p. 201-213)