Por Dom Henrique Soares da Costa
Para os católicos do Brasil, este, setembro, é o mês da Bíblia. A razão é simples: 30 do mês é memória litúrgica de São Jerônimo, grande estudioso da Sagrada Escritura, que, no século IV, traduziu toda a Bíblia do hebraico, aramaico e do grego para o latim, popularizando a Palavra de Deus. Essa tradução tornou-se tão difundida que recebeu o apelativo de “vulgata”, isto é “popular”.
A Bíblia (“os livros”, traduzindo do grego) não é um livro único; é uma coleção de 72 escritos, produzidos num arco de cerca de 1.300 anos.
Neles está contida a Palavra de Deus, porque foi o próprio Espírito do Senhor que, misteriosamente, como só Ele sabe fazer, inspirou tudo quanto os autores sagrados escreveram. É um incrível e admirável mistério: por trás das palavras humanas dos autores daqueles textos está a Palavra única do próprio Deus! Na grande maioria dos casos, nem mesmo os autores sagrados imaginavam que o que estavam escrevendo eram textos inspirados pelo Senhor…
Foi o povo de Israel e, depois, a Igreja Católica, inspirada pelo Espírito que permanece nela e a conduz sempre mais à verdade plena, quem foi discernindo quais escritos eram inspirados por Deus e quais não eram… Só a Igreja tem a autoridade de fazer esse discernimento; e ela o fez, com a autoridade que o Senhor lhe concedeu e a assistência divina que lhe garantiu na potência do Espírito.
Mas, que se esteja bem atento: Deus não Se revelou na Bíblia! Revelou-Se na complexa e misteriosa história do povo de Israel e, na plenitude dos tempos, revelou-Se de modo pleno em Jesus Cristo, o próprio Filho eterno feito carne, feito homem.
A Palavra de Deus por excelência não é a Bíblia; é Jesus Cristo, o Verbo, a Palavra que Se fez carne e habitou entre nós!
A Bíblia nos traz o testemunho dessa revelação: é palavra de Deus porque nos traz a Palavra que é Jesus; nas palavras da Bíblia, encontramos a Palavra de Deus e esta Palavra é o nosso bendito Salvador, Jesus Cristo! Do Gênesis ao Apocalipse a mensagem última das Escrituras é sempre Jesus: Jesus prometido, preparado e anunciado no Antigo Testamento; Jesus aparecido, entregue, contemplado, aprofundado, adorado e proclamado no Novo Testamento.
São João da Cruz, num de seus escritos, assim imagina o Pai nos falando:
“Já te disse todas as coisas em Minha Palavra; põe os olhos unicamente Nele; porque Nele tenho dito e revelado tudo, e Nele encontrarás ainda mais do que desejas saber. Este é o Meu Filho amado: escutai-O”.
Assim sendo, não cremos na Bíblia; cremos em Jesus e só a Ele adoramos!
Não amamos Jesus por causa da Bíblia; amamos a Bíblia por causa de Jesus! É Ele o centro, é Ele a Palavra única do Pai!
Quando escutamos, quando lemos as Escrituras e nelas meditamos, em última análise é Jesus mesmo que encontramos, com Sua salvação, Sua vida, Sua plenitude, aquela da qual recebemos graça sobre graça! Por isso, no caminho de Emaús, a cada Missa e até mesmo a cada vez que entramos em contado com a Sagrada Escritura, Jesus mesmo nos fala Dele e nos revela no texto sagrado tudo quanto diz respeito a Ele e ao plano de salvação do Pai que Ele, o Filho amado, veio realizar.
Assim é que a Igreja, escutando as Escrituras, escuta o próprio Deus que nos fala em Jesus e tudo quanto ali está escrito torna-se uma palavra viva para nós, tudo quanto Deus revelou na história do seu povo e maximamente em Jesus Cristo, torna-se presente na vida da Igreja e na nossa, membros do seu Corpo. Pensando bem, é impressionante pensar que Deus nos fala: fala à Sua Igreja, fala a cada um de nós, na Sua Palavra que é Jesus!
Mas, a Escritura somente revela o Rosto do Senhor e desvela Seu amor divino a quem a escuta com um coração fiel e humilde. O curioso, o soberbo, o descuidado, nada encontrará a não ser uma coleção de textos antigos, do passado… No entanto, quando escutamos e lemos essas santas palavras – que trazem a Palavra que é Jesus – em docilidade ao Santo Espírito e em comunhão com a santa Igreja, então, a Escritura torna-se doce como o mel, luminosa como o sol do meio-dia, profunda como o céu e cortante como espada de dois gumes.
Experimente: tome a Escritura (pode ser a leitura da Missa de cada dia), escute-a com o coração, medite-a com amor e procure escutar o que o Senhor diz à Igreja e a você. Sua vida encher-se-á de nova luz – aquela luz que é o próprio Cristo, Palavra do Pai!