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Jesus Cristo nosso Rei

Meditação para a Quarta-feira da 1ª Semana depois da Epifania. Jesus Cristo nosso Rei

Meditação para a Quarta-feira da 1ª Semana depois da Epifania

SUMARIO

Meditaremos sobre a realeza de Jesus Cristo, terceiro título que nos obriga a servi-lO; e veremos:

1.° Que Ele é o nosso Rei;

2.° O que Lhe devemos nesta qualidade.

– Tomaremos depois a resolução:

1.° De saudarmos muitas vezes no dia a Jesus Cristo, como nosso Rei, e de Lhe consagrarmos, por este título, todos os momentos da nossa vida;

2.° De obedecermos a todos os Seus mandatos, até aos Seus desejos, isto é, aos conselhos evangélicos e às inspirações da graça.

O nosso ramalhete espiritual será o brado de amor:

“Ao Rei dos séculos imortal, a Deus só, honra e glória” – Regi saeculorum immortali… soli Deo, honor et gloria (1Tm 1, 17)

Meditação para o Dia

Adoremos Jesus Cristo como nosso amado Rei, que veio à terra para nos conquistar o céu; que para lá nos conduzir, se põe à nossa frente, e se mostra o primeiro em tudo. Unamo-nos a Ele como súditos ao melhor dos reis; lamentemos os cegos judeus, que diziam:

“Não queremos que ele reine sobre nós” – Nolumus hunc regnare super nos (Lc 19, 14)

Ao contrário, repitamos o ato do batismo:

“Uno-me a vós, ó meu Cristo e meu Rei” – Adhaereo tibi, Christe

PRIMEIRO PONTO

Jesus Cristo é o nosso Rei

É-o por direito de natureza, pois que, como Criador, fez-nos o que somos (1); é-o por direito de conquista, pois que nos remiu à custa do Seu próprio sangue (2); e ainda que o não fosse por este duplo título, deveria sê-lo pela livre escolha dos nossos corações, porque disto ó infinitamente digno: é um Rei, todo poderoso e cheio de bondade, que não vive senão para bem dos Seus súditos; que põe a Sua glória em torná-los eternamente felizes; que nada ordena que não seja justo, bom e útil; que faz primeiro tudo o que ordena ou aconselha, sem querer ser melhor tratado do que os Seus súditos; e que é o primeiro no trabalho, na fadiga, na privação; o primeiro na humilhação e tribulação; o primeiro em tudo, levando a cruz à nossa frente e dizendo-nos: Segui-me. É um Rei que promete aos que o servem as mais magnificas recompensas, e que cumpre tudo o que promete; é um Rei que conhece todos os méritos de cada um e premeia cada um segundo o que merece; é um Rei imortal, que não pode desatender-nos: podemos perder a vida em seu serviço, mas, longe de perder com a vida o fruto de nossos trabalhos, é então, ao contrário, que começará para nós o gozo. Finalmente, é um Rei em cujo serviço a vitória nunca é duvidosa, porque ao passo que concede a graça de vencer, deixa aos Seus escolhidos todo o fruto da vitória, e não reserva para Si senão o prazer de nos enriquecer.

Ó Jesus, ó meu Rei, quão bom e ser Vosso súdito! Reinai sobre mim, sobre o meu corpo e a minha alma, sobre a minha vontade e todos os meus desejos, sobre todos os meus pensamentos e o emprego de todos os meus momentos! (3)

SEGUNDO PONTO

O que devemos a Jesus Cristo na Sua qualidade de Rei

Devemos:

1.° Pertencer-lhe de toda a nossa alma. Prometemo-lO no batismo; ratificamos esta promessa na confirmação, em que nos alistamos debaixo das Suas bandeiras como Seus soldados; temo-lO jurado sempre que hemos recebido os sacramentos; e posto que não houvéssemos feito este juramento, deveríamos fazê-lo ainda. Porque, além de que Jesus Cristo tem todos os direitos possíveis para reinar sobre os nossos corações, não é uma honra para nós pertencer a um tão grande Rei? Não é nosso interesse ser súditos de um Monarca tão pródigo de Suas graças e de Seu amor? Não é uma felicidade para nós, desde a vida presente, ser admitidos ao Seu ser viço e alistados sob Suas bandeiras, pois que fora disso não há senão desgosto, amargura, tristeza e desengano?

2.° Segui-lO por toda a parte onde acha conveniente conduzir-nos, e nunca querer ser melhor tratadas do que Ele, a exemplo do valente Urias, que dizia:

“A arca de Deus fica debaixo de umas tendas, o Joab dorme na terra dura; e então hei de eu ir para minha casa comer, beber e dormir! Pela vida e pela saúde de meu rei, que eu não farei tal coisa” – Arca Dei et Israel et Juda habitant in papilionibus, et dominus meus Joab, et servi domini mei super faciem terrae manent, et ego ingrediar domim meam, ut comedam et bibam, et dormiam cum uxore mea? Per salutem tuam, et per salutem animae tuae, non faciam rem hanc (2Sm 11, 11)

É dever nosso seguir em tudo o exemplo de Jesus nosso Rei, ser humildes, mortificados, obedientes, pacientes e pobres como Ele era no presépio e na cruz; orar como Ele e em união com Ele; falar como Ele, obrar como Ele, e trazer sempre em nós os sentimentos do generoso capitão de Davi, Etai, que dizia:

“Viva o Senhor, e viva o rei meu amo, que em qualquer estado em que vos achardes, aí se achará convosco o vosso servo, quer seja na morte, quer na vida” – Vivit Dominus, et vivit dominus meus rex: quoniam in quo cumque loco fueris, domine mi rex, sive in morte, sive in vita, ibi erit servuus tuus (2Sm 15, 21)

3.º Obedecer-Lhe em tudo:

“Se não apraz, ao Senhor que eu esteja onde estou, eu estou pronto, faça de mim o que bem lhe parecer” – Si dixerit mihi: Non places; praesto sum; faciat quod bonum est coram se (2Sm 15, 26)

Ó meu Rei, que quereis Vós que eu faça? (4). Falai, Senhor, porque o Vosso servo ouve (5), o meu coração está pronto. Ofereço-me a Vós para tudo o que quiserdes. o céu me preserve de resistir ao Vosso menor desejo; sei que a desobediência a um conselho leva muitas vezes à violação de um preceito. Quero ser todo para Vós, todo como Vós. Não me ficava bem querer ser melhor tratado do que Vós.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Ipse fecit nos (Sl 99, 3)

(2) Acquisivit sanguine suo (At 20, 28)

(3) Prospere procede, et regna (Sl 44, 5)

(4) Domine, qui me vis facere? (At 9, 6)

(5) Loquere, Domine, quia audit servus tuus (1Sm 3, 9)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 188-191)