Meditação para a Terça-feira da 1ª Semana depois da Epifania
SUMARIO
Meditaremos o segundo rasgo da vida de Jesus Cristo, e veremos:
1.° Que este divino Salvador é a nossa cabeça;
2.° Que este título nos impõe graves obrigações.
– Tomaremos depois a resolução:
1.° De nos conservarmos unidos a Jesus Cristo com frequentes aspirações de amor;
2.° De respeitar em nós e no próximo o caráter de membros de Jesus Cristo.
O nosso ramalhete espiritual será a palavra do Apóstolo:
“Vós sois corpo de Cristo e membros uns dos outros” – Vos estis corpus Christi et membra de membro (1Cor 12, 27)
Meditação para o Dia
Adoremos Jesus Cristo que, depois de nos ter resgatado como nosso Redentor, nos comunica, como nossa cabeça, os frutos da redenção. Agradeçamos-Lhe este favor, e supliquemos-Lhe que nos faça compreender a excelência do título de cabeça ou chefe, que se digna tomar com relação a nós, e as obrigações que este título nos impõe.
PRIMEIRO PONTO
Jesus Cristo é nossa cabeça
Jesus Cristo, diz São Paulo, é a cabeça de um corpo de que somos os membros. É, diz São João, uma videira de que somos os ramos; de onde se segue que, assim como a cabeça e os membros não formam senão um só e mesmo corpo, assim como o tronco e os ramos, a cepa e o sarmento não formam senão uma mesma videira, assim também Jesus Cristo e os cristãos não formam senão um todo; que, assim como os membros tiram toda a sua vida da cabeça, assim como os ramos não vivem senão pela sua união com a videira, assim também o cristão tira toda a sua vida sobrenatural da sua união com Jesus Cristo. Esta união começa no batismo, que nos enxerta em Jesus Cristo (1); ratifica-se pela confirmação, conserva-se pela Eucaristia (2); e logo que o pecado a quebrou, renova-se pela penitência e extrema-unção. Finalmente, no curso habitual da vida, alimenta-se em nós pela fé (3), pela graça e pelo amor: e quanto mais íntima a fé, a graça e o amor tornam esta união, tanto mais vive em nós o espírito cristão. Este espírito afrouxa, se a união se enfraquece, e morre totalmente, se ela se rompe. Desgraça tanto mais para temer, que esta união é o princípio de todos os nossos merecimentos: Sem Jesus Cristo, as nossas obras nada são (4); tudo está morto em nós como corpo separado da cabeça. Ao contrário, unidas a Jesus Cristo, as nossas orações, as nossas dores, as nossas menores obras tornam-se de um merecimento infinito, alcançam o céu e a sua eternidade.
É de Jesus Cristo como nossa cabeça que procedem todos os nossos bons pensamentos, todos os piedosos movimentos, todas as graças interiores que formam os santos. Daí, esta sublime palavra de São Paulo:
“Tudo posso naquele que me conforta” – Omnia possum in eo qui me confortat (Fl 4, 13)
Daí a confiança cristã:
“Porque nada de condenação tem os que estão em Jesus Cristo” – Nihil damnationis est iis qui sunt in Christo Jesus (Rm 8, 1)
Jesus Cristo comunica-lhes como aos seus membros todos os seus direitos à graça na terra, à glória na eternidade. Quão bem-aventurada é a vida nesta união, até entre os trabalhos e as fadigas! Quão doce e cheia de esperança é principalmente a morte! O Deus, diante de quem eu vou comparecer, é a adorável cabeça de que sou membro! Vive comigo, vive em mim: como não esperarei eu nEle?
SEGUNDO PONTO
A que nos obriga o titulo de membros
de Jesus Cristo nossa cabeça
Devemos:
1.° Conservar-nos em uma perfeita pureza de coração e de corpo. Seria indecente ser um membro impuro e delicado sob uma cabeça santa e tornada de espinhos, juntar a ambição, a vaidade, a moleza com a humildade, a modéstia, a inocência do Salvador; os vícios e as vilezas do homem com as perfeições de Deus.
2.° Ter para com todos cristãos uma terna caridade. Visto que são como nós membros de Jesus Cristo, e não formam conosco senão um mesmo corpo, de que este adorável Salvador é a cabeça, tocar neles é como que tocar na menina do olho de Jesus Cristo (5). Ainda que imperfeitos, viciosos, ainda que inimigos nossos, devemos amá-los, como amamos os nossos defeituosos membros, como Jesus Cristo nossa cabeça os ama.
3.° Amar Jesus Cristo terna, forte e invariavelmente. Visto que formamos um só corpo com Ele, devemos confundir o nosso coração com o Seu, interessar-nos por tudo o que O comove, chorar e reparar as ofensas que Lhe fazem, lamentar os males da Sua Igreja e alegrar-nos com os Seus triunfos. A cabeça não pode ser ferida ou somente ameaçada sem que logo todo o corpo se comova, e que a mão se estenda para a defender. É esta a razão porque os santos eram tão sensíveis aos interesses de Jesus Cristo, derramavam lágrimas vendo-O ofendido, meditando na Sua Paixão, unindo-se-Lhe pela comunhão. É assim que nós cumprimos os nossos deveres de membros de Jesus Cristo? Temos nós uma vida digna de tal cabeça? Amamos aos nossos irmãos e tratamo-los como os próprios membros de Jesus Cristo? Finalmente, comovem-nos os interesses de Jesus Cristo, da Sua glória e da Sua Igreja, e defendemo-los como os membros defendem a cabeça em perigo?
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Complantati facti sumus (Rm 6, 5)
(2) Qui manducat meam carnem, et bibet meum sanguinem, in me manet, et ego in illo (Jo 6, 57)
(3) Pater… det vobis… Christum habitare per fidem in cordibus vestris (Ef 3, 17)
(4) Sine me nihil potestis facere (Jo 15, 5)
(5) Qui tetigerit vos, tangit pupillam oculi mei (Zc 2, 8)
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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 184-187)
1 Comment
Danilo Badaró Mendonça
Senhor, minha vida. Dai-nos a graça de nos unirmos a Vós em cada movimento da nossa inteligencia e vontade. Que seja a inteligência e a vontade de Maria a nos guiar para uma comunhão permanente e crescente convosco, que habita em nós, Trindade Bendita!