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História da Igreja 6ª Época: Capítulo III

Leão XII e Pio VIII

Sucedeu a Pio VII o cardeal Anibal de Genga, natural de Espoleto o qual tomou o nome de Leão XII. Seu pontificado durou cinco anos e cinco meses incompletos. Amava muito aos pobres e o mesmo dia em que o coroaram preparou-lhes um esplêndido jantar no Vaticano. Tomou muito a peito o cuidado dos institutos de beneficência pública, aos quais visitava com frequência e provia de todo o necessário. Ia às vezes visitar, sem aviso prévio as igrejas e os hospitais, para certificar-se se as pessoas ali empregadas cumpriam seus deveres com regularidade. No ano do jubileu (1825) beatificou a quatro servos de Deus, isto é: a Agostinho Juliano e a Angelo de Acri da ordem de São Francisco, a Afonso Rodriguez, jesuíta, e a Hipólito Galantini, fundador da Congregação da doutrina cristã. Certo dia, enquanto ainda gozava de boa saúde, disse a um de seus familiares:

“Daqui a alguns dias já não nos veremos mais”

Os fatos demonstram a verdade de sua predição. Tendo enfermado, pediu os últimos sacramentos e depois de algumas horas de, tranquila agonia, descansou no seio de seu Criador. Ano 1829.

O Cardeal Castiglioni que sucedeu a Leão XII, sob o nome de Pio VIII, morreu santamente aos vinte meses de seu pontificado. Sucedeu-lhe o Cardeal Mauro Capellani de Belluno, da ordem de São Bento, que se chamou Gregório XVI. Ano 1831.

Igreja Ortodoxa da Rússia

Entre os muitos acontecimentos que se desenrolaram sob o pontificado de Gregório XVI, merece particular menção o que se refere à chamada igreja russa ortodoxa. Ortodoxo é aquele que pensa com retidão. Pois bem, a Igreja católica que conserva e prática o santo Evangelho, tal como o ensinava Jesus Cristo, e a única que pensa e sente retamente; logo ela só se deve chamar ortodoxa. Heterodoxo quer dizer, ao contrário, o que pensa ou sente diversamente; por isso a igreja russa, cismática e herética, deve chamar-se heterodoxa, porque pensa e crê diversamente do reto e verdadeiro.

Para fazermos uma ideia precisa sobre a origem da igreja russa, devemos recordar que pouco depois da celebração do Concílio ecumênico de Florença, no ano 1439, e precisamente em princípio do século décimo sexto, começou o cisma russo, sob o imperador Basílio III. Este, procedendo, com completa independência da Santa Sé, elegeu um patriarca na cidade de Moscou, e decretou que unicamente a este patriarca deviam obedecer todas as outras igrejas de seu império. Mais de uma vez trabalharam os Papas para restituir este reino vastíssimo ao rebanho de Jesus Cristo, porém sempre durou pouco a conciliação. Finalmente, o imperador Pedro, o Grande, vendo que as desordens políticas diariamente cresciam pela falta de um chefe supremo nos assuntos religiosos, depois de ter trabalhado inutilmente para induzir ao patriarca e aos bispos, a que se submetessem ao pontífice romano, deliberou acrescentar à coroa Imperial o poder de soberania suprema, fazendo-se desta maneira ele ,mesmo, Papa e juiz em todos os assuntos religiosos. Por isso no ano 1720, transladou a capital do império para São Petersburgo, e a erigiu como centro da autoridade civil e religiosa, e estabeleceu uma liturgia sob o nome de Estatuto Eclesiástico, onde se acham contidos os mesmos erros de Fócio.

Estabelece como base de seu estatuto uma inteira liberdade de consciência. São admitidas neste império todas as seitas cristãs, o maometismo é até a própria idolatria. E com o fim de retrair cada vez mais seus súbditos da obediência ao Pontífice romano, ordenou que não se desse cargo político ou religioso a pessoa alguma que não pronunciasse este juramento:

“Confesso e confirmo sob juramento, que o juiz supremo da autoridade religiosa é nosso monarca, senhor absoluto de todas as Rússias”

Os soberanos da Rússia, chamados autocratas ou senhores absolutos, deixaram por algum tempo aos católicos a liberdade de praticar sua religião; porém paulatinamente pretenderam mandar sobre as consciências, de tal sorte que no pontificado de Gregório XVI, chegaram a uma perseguição aberta.

Perseguição na Rússia

No ano de 1825 subiu a ocupar o trono das Rússias Nicolau I, homem digno de elogio sob muitos respeitos. A mania, porém, de constituir-se juiz supremo em matérias religiosas tinha-o induzido a oprimir a seus súditos católicos, cujo número passava de quinze milhões. Começou fazendo crer que de acordo com o Papa, suprimia o ensino entre os católicos, e os obrigava a frequentar as escolas cismáticas; em seguida proibiu a seu súditos cismáticos fazerem-se católicos e aos católicos pregar sua religião e professá-la publicamente. Feito isto, pôs-se de acordo com três bispos católicos entregues às vaidades e amantes das riquezas, os quais seduzidos por ele, apostataram, e em consequência dessa sacrílega submissão mandou o imperador que todos os outros usassem em suas respectivas dioceses, os ritos, breviários, missões e práticas religiosas seguindo a liturgia do império.

Muitos sacerdotes, párocos e bispos, se declararam contra semelhante impiedade, porém foram logo depostos, despojados de seus bens, encerrados em horrendos calabouços, ou desterrados para a Sibéria, o que equivalia a condená-los a morrer de frio ou a força de sofrimentos. Embora ficassem privadas as dioceses de seus bispos, o povo permaneceu por algum tempo firme na fé, mesmo no meio das perseguições, de sorte, que muitos morreram por confessá-la; porém, tendo ficado como ovelhas sem pastor, muitos caíam no cisma; na Rutênia e na Lituânia, prevaricaram miseravelmente uns três milhões. No ano de 1839, festejava-se com solenidade no império russo esta deplorável apostasia, ao passo que os católicos do mundo inteiro choravam tamanho mal e rogavam a Deus que se compadecesse da Rússia.

Gregório XVI e Nicolau da Rússia

Enquanto durou esta perseguição, Gregório XVI não poupou meios, para opor a tão grave mal os remédios que podia. Escreveu aos bons animando-os; lançou em rosto aos bispos sua traição, e mandou numerosos súditos aos que tinham sido despojados. Com este fim fez uma alocução em que censurou a crueldade e a injustiça daquele governo e do próprio Nicolau. Tendo feito este imperador uma viagem à Itália, quis visitar duas vezes aquele homem, que embora inerme, fazia, contudo, tremer com sua palavra os mais poderosos monarcas da terra. O digno vigário de Jesus Cristo acolheu com as devidas considerações ao poderoso monarca. Falaram largo tempo de coisas concernentes à religião. Admirou Nicolau a sabedoria e virtude do pontífice; porém se escusou dizendo que motivos políticos o tinham levado a tomar aquelas graves deliberações contra os católicos. O santo Padre lhe disse com gravidade:

“Príncipe, a política foi feita para o tempo, a religião para a eternidade. Dia virá em que ambos nos apresentaremos a Deus para lhe prestarmos conta de nossas obras. Eu, como mais avançado em anos, serei indubitavelmente o primeiro; porém não me atreveria por certo a sofrer as vistas de meu Juiz se não tomasse hoje a defesa da religião que me foi confiada e que vós oprimes. Príncipe, Deus criou os reis para serem pais e não tiranos dos povos que lhes obedecem”

Estas palavras repercutiram com espanto nos ouvidos e no coração de Nicolau. Saiu perturbado da presença do pontífice e se comoveu até derramar lágrimas. Prometeu dar aos católicos liberdade de professar sua Religião, e de manter relações com a Santa Sé. Iniciou além disso uma concordata com Roma em que se estabeleciam diversos bispados, com jurisdição livre. A morte de Gregório, em 1º de Janeiro de 1846 interrompeu as negociações que foram levadas mais tarde a feliz termo por Pio IX. Em pouco tempo, porém, tornou-se a acender o ódio que a Rússia sempre nutrira contra a fé católica.