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História da Igreja 5ª Época: Capítulo IV

Henrique IV

O calvinismo tinha feito rá­pidos progressos em França, especialmente por culpa de seus reis; e até tentou, por meio de Hen­rique IV, sucessor de seu cunhado Henrique III, e chefe da facção calvinista, sentar-se no trono pa­ra infeccionar e corromper toda a nação. Porém, Deus preservou a França de semelhante desgraça, que teria sido a mais deplorável de todas, fazendo com que Henrique conhecesse e abraçasse a verdadeira religião. Este, primeiramente se instruiu bem nos dogmas que ensina a santa Igreja Católica, depois mandou comparecer à sua presença os ministros protestantes e perguntou-lhes se acreditavam que ele podia salvar-se na Igreja romana. Estes, depois de refletir seriamente, responderam-lhe que sim.

“Pois então, disse ele muito sabiamente, porque vós a abandonastes? Se os católicos afirmam que ninguém pode salvar-se em vossa seita; e vós afirmais que na deles pode-se conseguir a salvação, parece-me mais conforme à razão seguir o caminho mais seguro, e preferir aquela religião em que, segundo o sentir comum, eu posso salvar-me”

Dessa maneira o rei abjurou solenemente o calvinismo, recebeu do Papa a absolvição das censuras em que tinha incorrido, e trabalhou para fazer florescer a Religião em seus estados. Ano 1593.

São Filipe Neri

Entre as maravilhas do décimo sexto século, conta-se São Filipe Neri, florentino. Levado pelo desejo de entregar-se inteiramente a Deus, abandonou, ainda que filho único, o lar paterno, renunciou aos avultados bens de um seu tio que o queria nomear herdeiro, e foi a Roma. Ajudado por um caridoso cavalheiro, pode seguir ali seus estudos e chegar ao sacerdócio. Desejava ardentemente ir a longínquas missões para conseguir a palma do martírio; porém Deus manifestou-lhe que o lugar destinado para sua missão, era a mesma cidade de Roma, onde se achava. Começou, portanto, a exercer o ministério sacerdotal com toda classe de pessoas, especialmente com os meninos abandonados. Procurava-os por toda a cidade, e os levava para sua casa, ou antes, ao jardim de alguma casa religiosa ou de pessoas caridosas, e ali, com amenos entretenimentos e diversões arredava-os do perigo de contraírem maus hábitos e os instrui a nas verdades da fé. assim começou a congregação do Oratório, que tem por fim principal manter a fé e a piedade nas classes operárias, especialmente na mocidade. O Senhor confirmou a santidade de Filipe com muitas maravilhas. Achava-se tão inflamado do amor de Deus, que o ouviam exclamar:

“Basta, Senhor, basta, porque morro de amor”

Orando, ou celebrando a santa Missa era visto muitas vezes rodeado de vivo esplendor. Um dia enquanto se achava distribuindo esmolas aos pobres, deu-a também a um anjo sob as aparências de mendigo. Era tão zeloso guarda da virgindade, que até pelo cheiro conhecia quem era ornado desta vir­tude, e quem contaminado do vício contrário. Curou a muitos enfermos, e ressuscitou a um morto. Finalmente; aos 80 anos de idade, consumido pelas fadigas e pelo amor divino, foi unir-se para sempre a seu Deus, no mesmo dia e hora em que tinha predito. Ano 1595.

O Venerável Ancina

Um dos primeiros e mais ilustres discípulos de São Filipe Neri, foi João Juvenal Ancina, nascido em Fossano no ano 1545. Cursou seus estudos em Montpelier, em Mondovi, em Turim, e em Pádua. Ilustrado com muitos conhecimentos, ocupou por algum tempo a cadeira de medicina na universidade de Turim. Tendo, porém renunciado ao mundo e entrado no Oratório de Roma, tornou-se modelo perfeito de virtudes religiosas. Mandou-o São Filipe a Nápoles para cooperar na fundação de sua congregação; ali trabalhou Ancina por dez anos com tanta atividade no ministério eclesiástico, que ganhou a estima de todos. Elevado pelo sumo Pontífice à dignidade episcopal de Saluzzo, resistiu por alguns meses, porém finalmente submeteu-se a tão pesado encargo. Entrou em sua diocese no ano de 1602, e, em breve tempo, a santificou com suas incessan­tes fadigas, com seu exemplo e com seu zelo. Morreu o santo bispo a 31 de agosto do ano 1604, envenenado por um infeliz, a cujas maldades se opunha. A 29 de Janeiro de 1870, Pio IX declarou que todas as virtudes do Pe. Ancina, tinham chegado ao grau heroico.

Perseguição no Japão

Enquanto era Deus glorificado em seus santos em todas as partes do mundo suscitava o inferno, no Japão, uma perseguição longa e cruel. Via-se neste vasto império, trazido a fé pelos suores e fadigas de São Francisco Xavier, crescer diariamente o número de crentes e aumentar de modo extraordinário a Piedade o fervor. Quando, porém subiu ao trono do Império Taicosama, quis afastar do seu reino uma religião que contradizia a suas brutais paixões. Pelo que castigava com o desterro e até com a morte, a quem não renunciasse ao Evangelho. Começou a perseguição na mesma corte imperial, e Ucondono, general-chefe do exército, foi a primeira vítima. Os Jesuítas, os Franciscanos e os Agostinianos, caíram logo sob seus ferozes golpes. Mas nem por isso deixou de triunfar a graça de Deus, e ainda então se viram os exemplos de heroísmo dos primeiros séculos da Igreja. Velhos e Jovens, nobres e plebeus, arrostavam com tal firmeza os mais atrozes tormentos, que o imperador viu-se forçado a dizer:

“Há verdadeiramente alguma coisa de extraordinário na constância dos Cristãos”

As próprias mulheres preparavam seus vestidos de festa para honrar o dia de seu triunfo, pois, assim com transportes de júbilo chamavam o dia marcado para o martírio.

Conduziam, certo dia ao suplício a três tenros jovens, entre os quais se achava um, de doze anos, chamado Luiz, o qual comoveu de tal maneira ao verdugo, que este se prontificou em pô-lo em liberdade e lhe fez as mais lisonjeiras promessas. Luiz, porém, respondeu-lhe:

“Guardai para vós essa compaixão que mostrais para comigo, e tratai, antes de conseguir a graça do batismo, sem o qual não podereis evitar uma eternidade de sofrimentos”

Foram empregados os mesmos ardis com outro chamado Antonio, e prometeram-lhe honras e riquezas da parte do Imperador.

“Não, não, respondeu sem demora, o amor da fortuna: não tem para mim mais Eficácia do que os suplícios eternos; a maior felicidade que posso ter, é a de morrer na cruz por um Deus, que morreu nela por mim”

Ao chegar ao lugar do suplício, aqueles magnânimos jovens entoaram cheios de alegria o salmo Laudate pueri Lominum; e foram crucificados com outros vinte e seis mais, mostrando uma firmeza que fazia estremecer aos próprios verdugos. Ano 1597.

O pequeno Pedro, mártir – Entre aqueles confessores da fé, encheu a todos de assombro um menino de seis anos, natural de Tingo, que se chamava Pedro. Seu pai já tinha sido condenado à morte e Pedro estava compreendido no mesmo decreto. O terno menino ao ouvir ler a sentença, exclamou:

“Oh! Quanto me agrada isso!”

Esperou com impaciência que lhe vestissem o melhor traje, e logo, cheio de alegria, tomou pela mão o mandarim e se dirigiu ao lugar do suplício. O primeiro objeto que se apresentou ante seus olhos foi o corpo de seu pai, nadando ainda em seu mesmo sangue. Não mostrando a menor admiração, aproxima-se do cadáver, prostra-se, junta suas inocentes mãozinhas, abaixa a cabeça e tranquilamente espera o golpe da morte. Ante aquele espetáculo, levanta a multidão um confuso clamor, e não se ouvem senão gemidos e prantos. O próprio verdugo comovido, atira sua espada e sai soluçando. Substituem-no outros dois e se comovem igualmente. Foi, pois, necessário recorrer a um escravo, que com mão trêmula e inexperiente, descarregou tal quantidade de golpes sobre o pescoço e ombros da terna vítima, que a despedaçou.

Cesar de Bus e os Doutrinários

O venerável Cesar de Bus foi destinado pela Providência para instituir a congregação da Doutrina Cristã. Nascido na cidade de Cavaglion, de nobre família francesa, dedicou-se desde jovem à perigosa carreira das armas. O mundo ganhou-o e o infeliz Cesar seguiu perdidamente suas máximas até que, iluminado pela divina graça, reconheceu que o mundo era enganador e que só Deus é o verdadeiro remunerador das boas ações. Não fazendo caso algum das burlas de seus camaradas começou a praticar com grande zelo as obras de misericórdia para com os pobres e os enfermos, e em­pregou toda sorte de meios para instruí-los nas verdades da fé. Para tirar proveito de sua santa empresa, e não ter nada que ver com o mundo nem com suas máximas perversas, consagrou-se a Deus no estado eclesiástico. Pôs-se logo a trabalhar com zelo no sagrado ministério e mui depres­sa seu coração se encheu de amargura, vendo que, por falta de instrução religiosa, a heresia e a revolução ameaçavam invadir a França. Foi então que concebeu o desígnio de fundar uma socieda­de, cujos membros se dedicassem com voto espe­cial a ensinar o catecismo. Para isso escolheu certo número de zelosos companheiros e deu princípio em Avignon, no ano 1592, à congregação dos Doutrinários, ou da Doutrina cristã. O arcebispo da cidade trabalhou eficazmente para conseguir que a santa Sé aprovasse a congregação, pois não podia deixar de ser recebida com júbilo uma instituição, cujo principal fim era ensinar a doutrina. cristã as crianças e aos adultos, seja nos catecismos ou na pregação, em ocasião de tríduos, novenas, missões, seja no governo das paróquias. Deus quis provar a santidade de seu servo com longa e penosa enfermidade, que suportou com resignação heroica. Finalmente, depois de doze anos de dolorosa cegueira, descansou no Senhor, no ano 1607, aos 63 anos de idade, no dia mesmo que tinha predito. Depois da morte de seu fundador, a Congregação continuou fazendo rápidos progressos na França e na Itália.

São Camilo e os Ministros dos enfermos

São Camilo de Lelis é o fundador da maravilhosa instituição dos Ministros dos enfermos. Ainda antes de nascer viu-o sua mãe em sonhos com uma cruz no peito, guiando a outros meninos que traziam o mesmo sinal. Em sua primeira idade seguiu a carreira militar e deixou-se avassalar miseravelmente pelos vícios; porém Deus, que o chamava para grandes coisas, compadeceu-se dele, e aos 25 anos de idade, fez conhecer tão vivamente a Camilo o estado de sua alma, e conceber tão grande horror pelo pecado, que naquele mesmo dia foi confessar-se e começou vida penitente, em que permaneceu até sua morte. Por ter-se-lhe aberto uma dolorosíssima chaga na perna, foi a Roma, ao hospital dos incuráveis; conhecido aí seu mérito, confiou-se-lhe a administração do estabelecimento. Reputando-se qual servo de todos, exercia os mais humildes trabalhos, fazendo-se tudo para todos em todas as coisas, especialmente quando se tratava de assistir aos moribundos. Acabando de ver que no exercício daquele caridoso ministério lhe fora de suma utilidade o conhecimento das ciências, vencendo todo respeito humano, se pôs na idade de trinta anos, a estudar com os meninos os primeiros elementos da gramática. Ordenado sacerdote, chamou em seu auxílio a outros companheiros, e assim deu princípio à Congregação dos ministros dos enfermos aprovada por Paulo V, no ano 1568.

Quis Deus, por meio de sinais sobrenaturais, dar a conhecer quanto lhe agradava esta nova instituição. São Filipe Neri, confessor de Camilo, assegurou ter visto anjos que apontavam aos discípulos do santo as palavras que tinham de dizer enquanto assistiam aos moribundos. Brilhou particularmente sua excessiva caridade quando Roma se achou assolada por terríveis açoites da carestia e da peste. Centenas de pobres abandonados foram pelo santo socorridos em suas necessidades espirituais e temporais. Ardia nele tanta caridade, que parecia um anjo revestido de carne, tanto que até mereceu receber o socorro dos anjos em vários perigos de sua vida. Consumido pelos jejuns, pelos trabalhos e por cinco enfermidades diferentes, chamadas por ele as misericórdias do Senhor, fortalecido com todos os sacramentos morreu em Roma no ano 1614, sexagésimo quinto de sua idade, na hora por ele predita.

Santa Rosa de Lima

Ao passo que se multiplicavam os mártires no Japão e que se enriquecia a Igreja com novas palmas e coroas, na América Meridional, santificada pela fé católica, começava a resplandecer a candura da virgindade. A primeira flor virginal foi santa Rosa de Lima. A graça precedeu nela a idade, e em tão alto grau, que aos cinco anos fez voto de perpétua virgindade. Já crescida, para que não a pedissem em matrimônio, cortou seus formosos e louros cabelos. Durante o tempo quaresmal chegava a tal extremo o Jejum, que não tomava mais que cinco gomos de laranja por dia.

Ao vestir o hábito da ordem terceira de São Domingos, redobrou seu fervor e suas austeridades. Um cilício armado de agudas pontas cingia suas carnes; dia e noite trazia um véu tecido de agudíssimos espinhos; formava sua cama um monte de nodosos ramos onde tomava muito breve descanso o resto do tempo passava em oração e fazendo obras de caridade. Foi muito atribulada por longa e cruel enfermidade que suportou com alegria por amor de Jesus crucificado. Apareceu-­lhe uma vez seu celestial esposo e disse-lhe:

“Rosa de meu coração, tu és minha esposa”

Cheia de méritos, foi ao céu receber a coroa das virgens, no ano 1619 aos 31 anos de idade.

São Francisco de Sales e o Chablais

São Francisco de Sales foi suscitado pela Providência para combater, e, até se pode dizer, para destruir a heresia de Calvino e Lutero, na parte da Sabóia chamada Chablais, que tinha sido infetada por seus erros monstruosos. Apelida-se de Sales por assim chamar-se o castelo de Sabóia onde nasceu. Tendo-se entregado inteiramente a Deus desde jovem e conservando zelosamente sua virginal candura, formou seu coração em todas as virtudes especialmente na doçura e mansidão. Não sem ter superado antes graves obstáculos da parte de seu pai, renunciou aos sedutores afagos do mundo e se consagrou ao ministério dos altares.

Impelido pela voz de Deus, que o chamava para obras extraordinárias, partiu para o Chablais, sem outras armas que as da caridade. À vista das igrejas arruinadas, dos mosteiros destruídos, das cruzes arrancadas, enchendo-se de santo zelo dedica-se logo ao apostolado. Alvoroçam-se os hereges, e tratam de matá-lo; porém ele com paciência, com sermões, com escritos e com milagres, apazigua aos tumultuosos, ganha os assassinos, desarma o inferno e a fé católica triunfa com tanto esplendor, que em pouco tempo somente no Chablais, converteu ao seio da Igreja a mais de setenta e dois mil hereges. Divulgada a fama de sua santidade, fizeram-no, a seu pesar, bispo de Genebra, ainda que residisse em Annecy; como se achasse aquela cidade em mãos dos calvinistas redobrou seu zelo, não se recusando a cumprir, quando era necessário, com os ofícios mais humildes do ministério eclesiástico. Depois de uma vida inteiramente consagrada à maior glória de Deus, apreciado dos povos, honrado pelos príncipes, amado pelos sumos pontífices, e respeitado pelos próprios hereges entregou a alma a Deus em Lion, na habitação do Jardineiro do mosteiro da Visitação onde quisera hospedar-se no dia dos santos Inocentes do ano 1628. São Francisco de Sales é o fundador das Freiras da Visitação, no recinto de cujos mosteiros quis que fossem aceitas as senhoras que em razão de idade ou de enfermidade não fossem recebidas em outros mosteiros. Esta ordem conta hoje cerca de 200 casas espalhadas em várias partes do mundo.