Necessidade de uma boa educação
Para que produza a terra abundante colheita, necessitam-se três coisa: bom cultivo, bom agricultor e boa semente. A terra é a criança, o agricultor é aquele que educa, a semente são os bons princípios que há de receber a criança. Assim fala um pagão, Plutarco (Trat. de lib. educand.).
Quereis, diz São João Crisóstomo, deixar a vosso filho grandes e verdadeiras riquezas? Ensinai-lhe a ser doce e bom. Se é mau, ainda quando ao morrer lhe deixasses uma fortuna imensa, ninguém poderá conservá-la. Vale mais que as crianças mal educadas sejam pobres do que ricas[1].
O mesmo Santo Doutor ensina que os pais não tem maior dever que o de dar uma educação cristã a seus filhos, procurando-lhes excelentes professores, capazes de inspirar-lhes bons sentimentos, e de fazer crescer em sua alma a virtude (In Epist. I ad Timoth., Homil. IX).
Platão assegura que a boa educação é a base da sociedade e das nações. A educação dos primeiros anos, diz ele, é absolutamente necessária para formar a vida inteira; é o mais importante negócio de que possa ocupar-se o Estado. Ao primeiro magistrado da cidade toca o cuidado de que crianças e jovens sejam honrada e santamente educados desde sua mais terna idade[2]. Também é um pagão aquele que assim fala, e sua linguagem deveria cobrir de confusão e encher de remorsos aqueles numerosos pais que pretendem ser cristãos; e entretanto, educam ou fazem educar seus filhos na incredulidade, na impiedade e na imoralidade.
O mesmo Platão conta em sua obra Alcibíades Primeiro que os filhos dos reis dos Persas, assim que chegavam à idade de quatorze anos, eram confiados a quatro excelentes professores eleitos com escrupuloso cuidado:
O primeiro deveria ser notável por sua prudência;
O segundo, por sua justiça;
O terceiro, por sua sobriedade;
E o quarto, por seu valor a toda prova.
O primeiro ensinava a estes filhos de reis as coisas do culto divino; o segundo, ensinava-lhes a amar e praticar durante toda a sua vida a justiça e a verdade; o terceiro, a vencer as paixões, a dominar a gula e as outras inclinações viciosas; e, em uma palavra, a reinar sobre si mesmos; o quarto esforçava-se em fazer-lhes animosos e intrépidos, a fim de que o temor jamais lhes convertesse em escravos.
Vede o que diz Aristóteles: o primeiro e o maior dos cuidados deve ser o de educar a juventude. Se falta esta educação, infalivelmente perecerá o Estado: Primum et maximam curam esse oportet in erudienda juventute, qua sublata, pereat respublica necesse est (Lib. VI Polit., c. I).
Assim que nasça uma criança, diz Plutarco (Tract. de lib. educand.), devem- se dispor seus membros de tal modo que não seja disforme, e a partir daquele mesmo momento se lhe deve também formar para os bons costumes. Nesta tenra idade se lhe podem facilmente inculcar bons princípios e uma disciplina perfeita; mais tarde, já seria difícil, para não dizer impossível, segundo aquele máxima de Horácio: O vaso conserva por largo tempo o odor de que foi primeiramente impregnado.
Quo semel est imbuta recens,
servabit odorem testa diu.
O Estado, diz Cícero, não tem outro dever maior nem mais perfeito que o de instruir e educar a juventude nos bons costumes, e apartá-la do amor às riquezas (Lib. II de Offic.). Xenofonte fala do mesmo modo (In Praedia Cyri).
Vantagens que a boa educação proporciona
A criança bem educada é a alegria de seu pai, assim como o filho mal educado é a aflição de sua mãe, dizem os Provérbios: Filius sapiens laetificat patrem, filius vero stultus maestitia est matris suae (Pr 10, 1).
Dai uma boa educação a vosso filho, e ele será vosso consolo, e as delícias de vossa alma: acrescentam os Provérbios: Erudi filium tuum, et refrigerabit te, et dabit deliciaas animae tuae (Pr 29, 17).
A criança educada nos princípios religiosos é o consolo, a honra e a glória de seus pais.
Aquele que instrui a seu filho na virtude, será honrado nele, e ele será a sua glória, diz o Eclesiástico: Qui docet filium suum, laudabitur in illo, et in illo gloriabitur (Eclo 30, 2).
Os árabes tem um provérbio que diz: A educação é o diadema da criança, e a inteligência seu colar de ouro.
É utilíssimo educar convenientemente às crianças desde sua mais tenra idade, diz Sêneca, e é preciso regê-los empregando ora o freio, ora o aguilhão: Plurimus proderit pueros statim salibriter instirui. Regendus est ut, modo fraenis utamus, modo stimulis (Lib. II, de Ira).
Aquele que dá uma boa educação a seu filho, diz o Eclesiástico, excitará a inveja de seus inimigos, e poderá gloriar-se dele perante seus inimigos: Qui docet filium suum, in zelum mittit inimicum; in medio amicorum gloriabitur in illo (Eclo 30, 3).
1.a A primeira vantagem e o primeiro fruto de uma boa educação consiste em que é um velho princípio de alegria tanto para os pais como para o filho.
2.a A boa educação é o que dá à criança a verdadeira riqueza;
3.a Ela proporciona aos pais e aos filhos louvor e glória;
4.a Confunde aos invejosos e negligentes que descuidam a educação de seus filhos, enquanto que regozija aos amigos da família e do pai que tem um filho bem educado;
5.a A boa educação prolonga, de certo modo, a vida do pai, fazendo-o reviver em seu filho; pois, como diz a Escritura: Mortuus estpater ejus, et quase non est mortuus; similem enim reliquit sibipost se (Eclo 30, 4).
De certo modo, uma educação sábia e cristã dada ao filho preserva a seu pai da morte; porque, depois de haver abandonado a terra, parece que ressuscita aquele pai e revive no filho que perpetua sua conduta, sua sabedoria e sua virtude, fazendo- o, assim, imortal.
O mesmo pode ser dito dos bons reis, dos bons magistrados, dos bons sacerdotes etc. deixam atrás de si sábios substitutos, admiráveis discípulos que são sua viva imagem e a eloquente manifestação de seu mérito e de suas virtudes.
Desgraças que uma má educação acarreta
Uma educação débil, descuidada, sem bom princípio nem moralidade, acaba com todo o vigor do espírito e do corpo; produz resultados opostos aos da boa educação[3].
Referências:
[1] Vis filium relinquere divitem? Bomun illum ac benignum esse doce. Quod, si malus ille fuerit, etiamsi infmitam substantiam relinquas, non illi custodem reliquisti. Rursus, filiis non recte insistutis praestat quidem pauperes esse quam divites (In Epist. I ad Timoth., Homil. IX).
[2] Puerilis instituto est maximi momenti ad universam vitam recte instituendam. Adolescentiae recta institutio est publicorum negotiorum omnium máxime serium. Magistratus etiamsummi est, prospicere ut pueri et juvenis honeste et sancte a prima aetate instituantur (Lib. II de Repub.)
[3] Veja-se também o tema Deveres dos pais.