Estudos sobre a Fé e a Doutrina Católica por meio de documentos da Santa Igreja, livros de espiritualidade, videos e etc. Selecionados para aprofundarmos ainda mais em nosso amor a Jesus Cristo!
Hoje em dia está na moda as novas seitas protestantes adicionarem o adjetivo “apostólica” ao seus nomes. Como por exemplo: Igreja Nova Apostólica, Igreja Evangélica Apostólica das Águas Vivas, Igreja Apostólica Ministério Comunidade Cristã, Igreja Apostólica do Avivamento, Igreja Apostólica Renascer em Cristo, Igreja Apostólica Cristã, Igreja Apostólica Ministério Resgate, Igreja Apostólica Batista Viva e etc. Mas será que toda igreja é apostólica? Será que toda igreja tem que ser apostólica? Será toda “igreja” pode adotar para si o adjetivo “apostólica”, sem detrimento de seu real significado?
Na segunda metade do século passado, vivia um Inglês cultíssimo, o marquês de Ripon, que era grão-mestre da maçonaria inglesa e inimigo encarniçado da Igreja Católica. Havia, já então, na Inglaterra, um forte movimento de conversões, que tem durado até os nossos dias e que, de ano em ano, tem reconduzido ao seio do catolicismo uma multidão de anglicanos. Para paralisarem esse movimento de conversões, os maçons quiseram publicar uma obra importante e decisiva contra o catolicismo. A redação da obra foi confiada ao grão-mestre, que aceitou essa tarefa com muito gosto. “Mas, se tenho de escrever contra o catolicismo, devo primeiro conhece-lo” – pensou ele consigo mesmo; e pôs-se a ler obras que tratavam da fé católica. Leu-as durante dez meses. Mas, após esses dez meses, apresentou-se em casa dos Oratorianos de Londres, e pediu para ser recebido na Igreja Católica.
Quando, no século passado, campeava na Alemanha a perseguição deflagrada por Bismarck contra a Igreja Católica, a chamada “Kulturkampf”, via-se na frente de certas lojas, um curioso cartaz destinado a consolar os católicos. Esse cartaz representava um grande rochedo à beira-mar, em torno ao qual vagas furiosas espumavam, enquanto um grupo de homens, em manga de camisa, se esforçava por precipitá-lo nas ondas... em segundo plano via-se o diabo que dizia zombeteiramente: “Já lá vão dois mil anos que eu trabalho em vão, com todo o poder do inferno, para derrubar esse rochedo. Por isto, é que me rio do vosso trabalho”. Em verdade, meus irmãos, quem conhece as perseguições que a Igreja de Cristo tem tido de suportar há dezenove séculos, como recordei na instrução anterior, dará razão a essa curiosa imagem. Quantas vezes os inimigos da Igreja clamaram que amanhã ela não existiria mais, e eis que ela aí está sempre.
Costumamos chamar a Igreja de Cristo, a Igreja Católica, segundo a expressão de São Paulo, “o corpo místico de Cristo”, de Cristo que continua a viver, de maneira misteriosa, entre nós. Mas, se assim é, então não nos podemos admirar de que a história da Igreja seja a repetição, a edição aumentada da historia da vida terrena de Cristo, e de que a Igreja seja obrigada a suportar todos os sofrimentos que foram o destino de Cristo. No curso dos séculos, só mudaram os nomes, os lugares e as datas, mas o fundo dos acontecimentos é o mesmo, Cristo foi perseguido por Herodes e Judas, Caifaz e Pilatos, pelos Fariseus e Escribas; a Igreja foi perseguida pelos imperadores romanos, pelos déspotas bizantinos, pelos príncipes grandes e pequenos; tem sido perseguida pelos maçons e pelos bolchevistas, - mas a perseguição é essencialmente a mesma, é sempre o mesmo grito: “Não queremos que Ele reine sobre nós” (Lc 19, 14), “crucifica-o” (Mc 15, 13). A digna esposa de Cristo perseguido, verdadeiramente, só podia ser a Igreja perseguida.
Tratamos dos sacerdotes da Igreja na instrução anterior: foi dito que Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu verdadeiramente o sacerdócio cristão. Indiquei então que consagraria ainda outra instrução ao sacerdócio, para mostrar como a Igreja considera os seus padres, e o que deles espera. E isso talvez nunca o possamos sentir mais profundamente do que nas sublimes cerimônias da ordenação. Vestidos da alva branca, os futuros sacerdotes são estendidos como mortos no chão, enquanto o bispo recita sobre eles as ladainhas dos santos. “Kyrie eleison! Christe eleison! Kyrie eleison!” terminam as ladainhas. Em seguida o bispo estende ambas as mãos sobre a cabeça dos ordinandos, e deixa-os estendidos um instante sem dizer palavra, em silêncio completo. Ao mesmo tempo também, silenciosamente, os sacerdotes que assistem o bispo conservam as mãos estendidas. Em verdade, só esse silencio comovente que acompanha a cerimônia, só esse grande silencio pode exprimir dignamente o que se passa então: uma fraca criatura torna-se nesse instante uma reprodução viva de Nosso Senhor Jesus Cristo. Efetivamente, o sacerdote é aos olhos da Igreja um ”alter Christus” – “outro Cristo”. Há dezenove séculos o sacerdote católico vive na terra, e nela viverá enquanto viver a Igreja, enquanto houver homens na terra. As nações vão e vêm, mas os servos de Cristo renovam-se entre elas. Os sacerdotes também morrem, mas o sacerdócio não morre, - é eterno.
Muitos sustentam esta tese: "Aceito a Jesus Cristo, mas não a Igreja Católica" ou este simples jargão que tornou-se muito comum "Só Jesus Cristo salva!". Tornando, portanto, a Igreja em algo secundário, descartável e não necessário. E a partir deste tipo de pensamento, podemos nos indagar ainda:
É preciso frequentar a Igreja para se salvar?
Qual a relação entre Jesus Cristo e a Igreja?
É possível alguém se salvar sem a Igreja?
É possível alguém se salvar sem nunca ter ouvido falar em Jesus Cristo?
E alguém, que conhecendo a Jesus Cristo e a Igreja instituída por Ele, pode conseguir a Salvação?
A Salvação fora da Igreja Católica Apostólica Romana é possível?
Examinemos a Palavra de Deus para buscar as respostas destas questões, tendo sempre como pano de fundo a relação entre Jesus Cristo e Sua Igreja.
O Evangelho não fala de sete sacramentos, mas vai enumerando todos os sete, instituídos por Nosso Senhor Jesus Cristo:
O Sacramento do Batismo
Sua instituição e preceito estão positivamente marcados nos seguintes textos: "Em verdade vos digo, disse Jesus a Nicodemos, quem não renascer da água e do Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus" (Jo 3, 5). "Ide, ensinai todas as gentes, disse Jesus a seus discípulos, batizando-as, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo" (Mt 28,19). "O que crer e for batizado, será salvo", (Mc 16, 61). "Recebe o batismo e lava os teus pecados", disse Ananias a Saulo (At 22, 16). Os Apóstolos administravam o batismo a todos os que desejavam alistar-se na religião nova. Três mil pessoas receberam o batismo das mãos de S. Pedro, no dia de pentecostes (At 2, 38-41).
A 15 de março de 1934, não há muitos anos portanto, os trezentos mil sacerdotes católicos do mundo celebraram uma festa, talvez sem exemplo da História. Como talvez ainda estejais lembrados, chegava-se naquela ocasião à última semana do “ano santo” promulgado pelo papa Pio XI em razão do décimo nono centenário da Redenção. Naquele ano santo, agradecíamos a Nosso Senhor Jesus Cristo, com coração verdadeiramente reconhecido, todos os seus dons: o seu amor, os seus sofrimentos, a sua morte na cruz, o santo sacrifício da missa... Porque havia então dezenove séculos, que havíamos recebido tudo isso. E havia também dezenove séculos, que fora instituído o sacerdócio cristão. Não vos admireis, pois, se, entre os fiéis que celebraram a Redenção, o sacerdócio esteve especialmente em festa, e se, naquela quinta-feira, 15 de março de 1934, todos os sacerdotes católicos do mundo, à mesma hora, expuseram o Santíssimo Sacramento, para agradecer a instituição do sacerdócio ao divino Coração, que arde incessantemente de amor por nós.
O divino Fundador da nossa religião deu um dia a seus discípulos este mandamento eternamente memorável: “Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça” (Mt 6, 33), e o resto vos será dado de acréscimo. A Igreja Católica sempre guardou esta regra de conduta: O Senhor me enviou para salvar as almas. Portanto, não para desenvolvera civilização? Não. Nem para trazer a felicidade à terra? Também não. Fundar o reino de Deus nas almas – eis a primeira e a mais alta tarefa da Igreja Católica. Mas, se a Igreja sempre tem procurado unicamente cumprir essa tarefa, conforme à promessa do seu divino Fundador, as outras coisas lhe têm sido dadas por acréscimo. Se, pelo seu ensino, pela sua legislação, pelos seus mandamentos, pelo seu culto divino, ela realmente tem visado salvar as almas para a vida do outro mundo, tem entretanto comunicado ao mesmo tempo, um surto sem exemplo à felicidade terrestre da humanidade, e tornou-se a fonte de toda a civilização europeia, que com razão chamamos de “civilização cristã”. Nesta instrução, quero completar o que disse precedentemente, dos méritos da Igreja. Na instrução anterior falei dos méritos religiosos e morais da nossa Igreja; hoje vou falar dos seus méritos em relação à civilização. Do ponto de vista religioso, o mérito da Igreja reside no fato de nos haver ela conservado sem alteração a doutrina de Nosso Senhor Jesus Cristo; do ponto de vista moral, pela defesa do respeito da autoridade, da justiça e dos direitos dos indivíduos, ela tornou possível a vida social do homem. Eis o que demonstrei na instrução passada.
Os Atos dos Apóstolos resumiram com concisão inigualável a atividade terrestre de Nosso Senhor Jesus Cristo, dizendo dele: “Ia de lugar em lugar, fazendo o bem” (At 10, 28). Toda a sua vida terrestre foi bênção e beneficio. A Igreja Católica é o corpo místico de Cristo, é Cristo continuando a viver entre nós. É, pois, muito natural, que possamos aplicar à sua atividade as mesmas palavras da Sagrada Escritura: “Passou fazendo o bem”. Ouvimos tantas vezes falar de “cultura cristã” e de “civilização cristã”, que agora, - em conexão com estas instruções sobre a Igreja, - eu desejaria examinar mais a fundo as bênçãos, os benefícios e os méritos da Igreja relativamente à civilização. O papa Leão XIII, na sua encíclica “Inescrutabili”, chamou a Igreja Católica “mãe da civilização”. Não será um entusiasmo excessivo? Não será um exagero sem fundamento? Será realmente verdade que não haja uma só instituição no mundo que tenha feito, mesmo aproximadamente, tanto bem à humanidade, no terreno da verdadeira civilização, quanto a Igreja Católica? Acaso não exagerou o escritor que formulou esta asserção:
“Examine-se a questão como se quiser, persiste sempre a verdade: que a Europa ocidental é essencialmente criação da Igreja latina, da Santa Sé, do papado romano” (Jakob Philip Fallmerayer: Gesammelte Schriften II, 202).