Os homens crescem e se desenvolvem. Deus não cresce nem se desenvolve. Desenvolver-se quer dizer aperfeiçoar-se. Como Deus é infinitamente perfeito, não pode desenvolver-se. Mas o homem não é perfeito; mister se faz, pois, que cresça e se desenvolva.
A Igreja é uma sociedade composta de homens; a Igreja deve, portanto, crescer, de aperfeiçoar-se, aproximar-se-ia do seu fim, tal como o homem se aproxima da morte, quando não se desenvolve mais física e espiritualmente.
Quando o Salvador deixou a terra, a Igreja compunha-se de alguns apóstolos e quiçá de uns duzentos fiéis. Havia Pedro, havia os apóstolos; havia também esta ordem: “Ide, ensinai todas as nações…” Cristo lançara a semente, cumpria que ela crescesse.
O primeiro crescimento importante realizou-se no décimo dia após a ascensão de Nosso Senhor, quando São Pedro, em seguida ao seu discurso do dia de Pentecostes, batizou 3.000 homens (At 3, 41).
Quantas reflexões podemos fazer sobre os primeiros dias do cristianismo nascente, quando pela primeira vez ecoou em ouvidos humanos esta advertência de São Paulo: Agora não há mais nem judeu, nem grego, nem homem, nem mulher, nem homem livre, nem escravo, – Jesus de Nazaré elevou-os todos ao mesmo nível!
E como a nova fé se difundiu maravilhosamente! Foi acolhida com entusiasmo pelos pobres, pelos abandonados, pelos simples, – e por todos os mais. Em Antioquia, é o amigo de Herodes, Manahen, que se converte. Em Chipre, é o pro cônsul Sérgio Paulo. Em Filipe, é Lídia, a mercadora púrpura. Em Atenas, é Dionísio o Areopagita. E nas catacumbas multiplicam-se os túmulos das famílias romanas mais distintas: os Cecilius, os Cornelius, os Pomponius, os Aemelius, os Acillius. A mais bela das catacumbas existentes ainda hoje é a de Domitilla, esposa do cônsul Flavio Clemens. E, se lermos as derradeiras linhas da carta escrita por São Paulo aos Filipenses, a quem é que vemos o apóstolo dirigir as suas saudações? Aos cristãos que viviam na corte imperial.
E, assim, a árvore da Igreja cresceu cada vez mais. Não há mais país no mundo sobre o qual ela não tenha estendido um galho; não há mais uma só raça humana onde ela não tenha ganho fiéis; não há na terra uma polegada de território onde ela não haja estendido as suas raízes. A vontade de Nosso Senhor realizou-se: a sua Igreja tornou-se “universal”, isto é, “católica”, empregando o termo grego.
- A Igreja Católica deve ser realmente católica – tal é a primeira ideia que nos ocupará na presente instrução. Em seguida estudaremos,
- O que significa a catolicidade da Igreja, e
- O que ela não significa.
1. Cumpre que a Igreja de Cristo seja Católica
A nossa primeira questão é portanto esta: Importa que o reino de Cristo seja realmente católico, isto é, universal?
A) Achamos a primeira resposta já nos profetas do Antigo Testamento, que viram o reino do futuro Messias estender-se pelo mundo inteiro.
Segundo Amós, o Senhor reunirá todos os povos no reino do Messias (Am 9, 11-12). É essa passagem da Sagrada Escritura que o apóstolo São Tiago invocará mais tarde, quando proclamar que os pagãos também devem entrar no reino de Cristo (At 115, 16).
É sublime o quadro que o profeta Isaías traça da universalidade do reino do Messias. Ele vê numa alta montanha o reino de Deus para o qual afluem todos os povos do mundo (Is 2, 2-4). No mesmo profeta achamos estas palavras do Senhor: “Minha casa será uma casa de orações para todos os povos” (Is 56, 7).
O profeta Jonas é enviado por Deus para pregar aos pagãos; é também uma profecia de que o reino do Messias devia ser universal, católico.
São Pedro, no seu sermão do dia de Pentecostes, em que se dirigia a diferentes povos, está persuadido de que o Espírito de Deus, conforme à expectativa dos profetas, se derrama sobre todos os homens; invoca estas palavras de Joel: “Nos últimos dias (diz o Senhor) derramarei do meu Espírito sobre toda carne” (At 2, 17).
B) Mas aquilo que os profetas haviam anunciado, Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou-o ainda mais claramente. Segundo Ele, para entrar no reino de Deus, o que importa não é a origem racial, nem a descendência da raça judia, mas unicamente a pureza de coração.
“Pai Nosso” – assim começa a oração que o próprio Salvador nos ensinou. Logo, Deus é Pai de todo homem, e espera todos os homens no seu reino.
Consoante as próprias palavras de Nosso Senhor, “o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido” (Lc 19,10); logo, só pode ser a Sua verdadeira Igreja aquela que procura seus fiéis entre todos os povos do mundo inteiro, e que não é limitada nem pela língua, nem pela raça, nem pelas fronteiras.
Do mesmo modo, as parábolas do Salvador falam-nos da catolicidade. O levedo penetra toda a massa, diz Nosso Senhor: o mesmo sucede com o reino de Deus. Este é também semelhante ao grãozinho de mostarda que se torna grande árvore e serve de abrigo às aves do céu. Noutra circunstância, fez Ele esta profecia:
“Este Evangelho será pregado no mundo inteiro, para ser um testemunho a todas as nações” (Mt 24, 14).
Finalmente, deu solenemente esta ordem aos seus apóstolos:
“Todo poder me foi dado no céu e na terra. Ide, ensinai todas as nações” (Lc 2, 30-31).
A Igreja de Cristo deve, pois, ser realmente católica. Cumpre-nos, porém, examinar mais de perto o que significa e o que não significa a catolicidade da Igreja.
2. Que significa a Catolicidade da Igreja?
A) A verdadeira Igreja de Cristo é católica, quer dizer, não está presa a tal ou tal determinado lugar do mundo, nem está limitada a tal raça ou a tal classe social, mas conserva-se acima de todas as classes, de todas as raças e de todas as nações, e assim é feita para todos os homens. São Paulo assim exprime a este respeito:
“Não há mais nem Grego nem Judeu, nem circunciso ou incircunciso, nem bárbaro ou Cita, nem escravo ou homem livre; mas Cristo está todo em todos” (Cl 3, 11).
Só pode ser a verdadeira Igreja de Cristo a que é católica, isto é, que se acha no mundo inteiro. As palavras do Salvador indicam-no claramente: “Ide, ensinai todas as nações”. Não pode, pois, ser a verdadeira Igreja de Cristo a que se dirige somente a uma ou outra raça, a que se limita a territórios determinados, porquanto a verdadeira Igreja de Cristo deve achar-se em todos os pontos do globo. Entre nós esta catolicidade existe realmente, pois a nossa Igreja é capaz de satisfazer plenamente as necessidades religiosas de todos os tempos, de todos os povos e de todas as civilizações. Deus deu à nossa religião a capacidade e o poder de tornar-se católica; mas, é a nós que incumbe, por um trabalho missionário que visa a nossa própria formação espiritual, bem como a vantagem e o proveito dos outros, a tarefa de realizar essa possibilidade.
A nossa Igreja é católica, isto é, é bastante rica em bens espirituais para se tornar a pátria espiritual dos indivíduos, de todos os povos, e da humanidade inteira. Ela faz recrutas sem empregar a força; adapta-se sem nada abandonar dos seus princípios; e em toda parte onde pode desenvolver a sua atividade, cria uma atmosfera vivificante em que desabrocham as flores da mais alta humanidade, e do ideal moral mais belo.
B) Essa plenitude de vida e essa força de expansão que devem ser a consequência da catolicidade, sempre foram as características da nossa Igreja. No passado e no presente, a sua preocupação e o seu cuidado mais caro sempre foram pregar a doutrina de Cristo até os confins do mundo, e à força de atração que irradia dos dogmas e ritos da nossa santa religião, nenhuma raça, nem civilização alguma, puderam opor barreiras.
A Igreja Católica não pode sufocar em si essa força de expansão. Perpetuamente ativa, ela é movida pelo santo desejo de distribuir aos povos cada vez mais, o tesouro da verdade cristã que os fará felizes. Esse instinto missionário, essa convicção de possuir a verdade, são as provas de que vive realmente nela a ordem de Cristo: “Ide, ensinai todas as nações”.
Seria agora mister contar toda a historia da propagação do cristianismo, para provar a minha afirmação. Mas quem, numa breve instrução, poderia empreender o resumo dessa soma de sacrifícios, de dinheiro e de vidas, desse heroísmo e dessa abnegação, desse sangue, dessas lágrimas e dessas privações de que se compõem os dezenove séculos de atividade missionária da Igreja Católica? Afora Deus, que tudo sabe, quem saberá quantos sacrifícios sobre-humanos foram precisos até que as hordas selvagens das invasões bárbaras curvassem a cabeça orgulhosa ao jugo suave de Cristo! Que não custou a São Patrício a conversão da Irlanda, a Santo Agostinho a conversão dos Ingleses, a São Bonifácio a conversão dos Alemães, a Santo Estêvão a conversão dos Húngaros? A História universal consagra páginas de elogios aos soberanos que conquistaram reinos. A conquista de continentes inteiros, é, porém pouca coisa ao lado da conquista das almas realizada pelos missionários católicos!
C) Mas não nos detenhamos apenas a consignar esse fato grandioso; escutemos também a advertência que ele nos faz ouvir.
a) Meus irmãos, rejubilemo-nos por sermos católicos? Ufanamo-nos do título de católicos? Muito bem. Mas agradecemos também a Deus o sermos, consoante à palavra de São João, “colaboradores da verdade” ? (IIIª S.Jo, 8) Ajudamos nós a difundir a fé católica, auxiliamos as missões? Como podemos favorecer o grande desejo do coração de Cristo, o seu pensamento mais caro, a extensão da sua Igreja?Se pudermos, auxiliemos financeiramente as missões.
Se não o pudermos, então rezemos muito pelas missões, façamos muitas boas obras e mortificações, ofereçamos nossas penas, suportadas com alma serena, afim de que a Igreja de Cristo se difunda sempre mais, pelo mundo inteiro, e para que o caráter católico da Igreja seja posto cada vez mais, em relevo.
b) Mas devemos também efetuar outra gravíssima advertência: Sejamos também missionários das nossas almas. Trabalhemos por instaurar cada vez mais o reino de Cristo em nossas almas.
b1. Não sejais católicos só no exterior, mas também interiormente.
b2. Não sejais católico mortos, mas católicos vivos.
b1. Não sejais católico apenas de fachada
Depois da instrução anterior, recebi uma longa carta de um Indú de Calcutá. Nessa carta faz-nos ele severas censuras por querermos converter os pagãos ao cristianismo, quando os cristãos são piores que eles. E argumenta com a degradação moral que se pode ver nas nossas grandes cidades.
Meus irmãos, quem não se sentiria comovido com a leitura de semelhante carta? Sabeis porque são possíveis cartas como essa? É porque vivem entre nós muitos católicos de fachada, aos quais se dá o nome de católicos, mas cuja vida é uma vergonha para o catolicismo. Entretanto, segundo Nosso Senhor, assim como o levedo faz levedar toda a massa, assim também o Evangelho deve transformar toda a vida do homem. Os médicos prescrevem pomadas “para uso externo”, mas o catolicismo não é só para uso externo. Deve agir sobre o interior, sobre toda nossa alma.
b2. Não sejais católicos mortos
E eis aqui a segunda advertência. O apocalipse fala-nos dum estado em que os cristãos julgam viver, quando na realidade estão mortos (Ap 3, 1). Quem não vê a quantos homens, hoje em dia, se aplica esta passagem da Sagrada Escritura?
Aquele que crê tudo quanto Deus revelou e que a Igreja ensina, – esse ainda não é um católico vivo. Que é então o católico vivo?
Há um livro de Santo Agostinho que traz esse título curioso: “De agone Christiano” – “O combate cristão”. A nossa vida, efetivamente, é uma luta, uma guerra perpetua. Com quem? Com o mundo e conosco mesmo. Só é católico vivo, aquele que combate.
Dois mundos lutam dentro de nós. E cada passo que damos para Deus, exige um esforço. Quanto mais caminhamos para Deus, tanto mais o sangue, a carne, o corpo gritam e choram em nós – sentem que são vencidos.
Em seguida a estas reflexões, já podemos julgar o que Nosso Senhor Jesus Cristo pensa do católico tíbio. Daquele que não renega a fé, mas não a sustenta. Daquele que é católico pela certidão de batismo, mas não o mostra, de maneira alguma, na vida. “Conheço as tuas obras; – lemos no Apocalipse – não és nem quente nem frio. Se ao menos fosses frio ou quente! Mas porque és morno e não és nem frio nem quente, vomitar-te-ei da minha boca” (Ap 3, 15-16).
Dante desce ao inferno. Quem é que encontra em primeiro lugar entre a “perdita gente” que vagueia lamentosamente por uma noite sem estrelas? Os anjos que ficaram neutros quando Lúcifer se revoltou contra Deus. Eles não foram infiéis a Deus, mas também não se colocaram do lado de Deus. “Aguardemos quem vencerá”. E Dante coloca-os em primeiro lugar no inferno. Mas certamente ele poderia ter posto ao seu lado os homens que na terra não eram incrédulos, mas também não eram católicos vivos e fervorosos, e sim católicos tíbios, de fachada, de nome, contribuindo para que os não-cristãos formassem uma concepção falsa da religião de Cristo.
3. O que Não significa a Catolicidade da Igreja
Esta instrução ficaria incompleta, se eu não esclarecesse mais outra ideia: especialmente, o que o termo católico NÃO significa.
A) Na vida material, toda força, todo desenvolvimento e toda vida dependem do sol, – e nem uma raça nem uma classe social podem reservar só para si o sol. Assim também, a religião de Cristo, sol da vida da alma, não pode ser considerada como a propriedade de tal ou tal raça, mas deve manter-se acima de todas as nações. Desde que alguém fale duma “igreja nacional”, está em contradição com desígnio de Cristo. A verdadeira Igreja de Cristo não pode ser nacional, não pode ser uma Igreja húngara ou alemã ou suíça ou italiana, mas simplesmente “católica”, isto é, “universal”. É por isto que nós, católicos, não dizemos que temos a “religião nacional”, húngara, italiana ou outra; – somos simplesmente da “religião de Cristo”.
“Então vocês católicos são internacionais. Católico quer dizer internacional” – objetam-nos. Ora, isso não é exato. Católico quer dizer “supernacional”. Isto quer dizer que a religião de Cristo não é para uma só raça, para um só povo, mas para todos, para a humanidade inteira. A civilização helênica era unicamente para os Gregos, a religião judaica unicamente para a raça judia, o Islã para os Turcos, a religião de Confúcio para os Chineses… Mas a religião de Cristo é para todos os homens. Eis o que significa supernacionalismo da Igreja Católica.
B) Mas, em compensação, devemos acrescentar que o supernacionalismo da Igreja Católica não suprime os traços particulares, os valores pessoais e característicos das nações. Que haja tantos homens, tantos povos, tantas nações, corresponde ao plano do Criador, a Igreja não pode pois deixar de tê-lo em conta. Bem longe de suprimi-los, ela auxilia o desenvolvimento dos verdadeiros valores e do verdadeiro patriotismo de cada povo. Posso, pois, ser o melhor cidadão da minha pátria, e ao mesmo tempo o melhor católico; e, por sua vez, o meu próximo, que pertence a outra raça ou a outra nação, pode ser o melhor filho do seu povo, e o melhor membro da Igreja Católica, que se mantém acima dos povos.
Vede uma floresta imensa. Como há nela árvores de toda espécie! Pinheiros esbeltos, carvalhos frondosos, pequenos arbustos, relva, flores, e todos têm a sua tarefa na vida da natureza; diferem na forma, no crescimento, nas folhas, nas flores, nos frutos; – mas sobre eles todos brilha, com o mesmo sorriso, o sol vivificante que os ajuda a cumprir a sua tarefa particular. Assim também, a Igreja faz luzir a doutrina de Cristo sobre a imensa diversidade dos povos do mundo, e congrega-os todos, na vasta unidade do catolicismo.
C) Depois disto, toda gente deveria ver que é perder seu tempo e entregar-se a um jogo de palavras o perguntar-nos com ar superior: “Vós outros católicos, que sois primeiro: húngaros, franceses, ingleses, etc., ou católicos? A quem mais amais: à pátria ou à Igreja Católica?”
Que pergunta frívola e vazia! É como se me perguntassem: a quem tendes mais amor, a vosso pai ou a vossa mãe? Qual dos pés, se preciso, mandaríeis cortar, o direito ou o esquerdo?
Não. Amo a meus pais com um mesmo amor. Não quisera tão pouco mandar cortar um pé de preferência a outro.
Quantas vezes ouvimos pessoas superficiais fazer-nos esta censura: “Vós cidadãos católicos nacionais, não sois bons patriotas, porque obedeceis a um homem que não é do vosso país, o papa”. É certo, o papa não é nacional. Nosso Senhor Jesus Cristo também não era nosso compatriota. E por isso não me envergonho de obedecer a Nosso Senhor Jesus Cristo, e ao Seu representante.
Não é uma coisa curiosa a seguinte? Podeis vestir seda francesa, fumar cigarros turcos, podeis comer uvas da Espanha e tâmaras da África, podeis obedecer à Grande Loja maçônica de Paris – e nem por isto dirão que sois um mau cidadão do vosso país. Mas, se nas questões religiosas nos apegamos àquele que Cristo pôs à testa da Igreja, então devemos corar, então já não somos bons cidadãos da pátria!
Mas eu não amo o papa só porque sou católico; respeitá-lo-ia e estimá-lo-ia mesmo se não o fosse, simplesmente como cidadão do meu país. Respeitá-lo-ia, porque conheço a história das nações e sei o que elas devem ao papa “estrangeiro”.
Nós, húngaros, devemos-lhe os primeiros missionários de alma ardente, cujas palavras fizeram curvar as cabeças dos nossos altivos antepassados ao jugo suave de Cristo.
Devemos-lhe a santa coroa que o papa Silvestre mandou ao nosso primeiro rei, Santo Estevão, e essa força construtiva que, há perto de mil anos, irradia sobre nós, da santa coroa.
Devemos-lhe as ordens religiosas que habituaram o nosso povo nômade à vida sedentária, à agricultura, à indústria, e lhe deram instrução.
Devemos aos papas o auxilio pecuniário e moral inapreciável, pelo qual só ele nos veio em socorro, por ocasião do desastre nacional. Deveríamos então envergonhar-nos dos papas, de quem a nossa nação recebeu apoio material e moral, dinheiro, afeto, consolo no correr dos séculos, como jamais o obteve de outrem?
E nós, católicos do mundo inteiro, devemos-lhe o amor dos pais e do próximo, a disciplina moral, a pureza de coração, a fidelidade conjugal, a equidade mutua, a submissão da nossa vontade à vontade de Deus, devemos-lhe a moral, a honestidade, a fidelidade ao dever, virtudes que a nossa santa religião não cessa de ensinar aos povos, fortalecendo-os assim nas fontes da sua energia.
Não nos esqueçamos duma coisa: um povo pode viver sem canhões e sem metralhadoras, mas não pode viver sem moral, sem honestidade, sem fidelidade e sem amor ao trabalho; – ora, a fonte primária e o alimento de todas essas virtudes é a nossa santa religião católica.
Devemo-nos envergonhar do catolicismo, ou, antes, devemo-nos orgulhar da santa Igreja e repetir frequentemente, com ufana convicção, esta bela frase de São Cipriano, que ele escrevia no século III:
“Christianus mihi nomen, catholicus cognomen” – “Cristão é o meu nome, e católico o meu sobrenome”.
***
Meus irmãos, todo dia recitamos no Credo: “Creio na Igreja Católica”; mas acaso nos esforçamos também por compreender o que quer dizer ser católico?
Que quer dizer ser católico?
Quer dizer que não estou só, que não rezo só, que não combato sozinho.
Que quer dizer ser católico?
Quer dizer que participo do corpo místico de Cristo e de todas as forças vivificadoras que o Coração de Cristo derrama na sua santa Igreja.
Que quer dizer ser católico?
Quer dizer viver na terra, com Cristo perpetuamente vivo no meio de nós na terra, e a quem podemos ver e ouvir na Igreja.
Que quer dizer ser católico?
Quer dizer que podemos aplicar à nossa Igreja como a nós mesmos, o Salmo 22: A Igreja “é meu guia e nada me faltará. Colocou-me em pastos ervosos, e mansamente me conduz a mui quietas águas; refrigera minha alma; guia-me por veredas de justiça para gloria do seu nome. Ainda que andasse pelo vale sombrio da morte, não temeria mal algum, porque estais comigo”.
No túmulo do grande bispo de Genebra Mons. Mermillod, acham-se estas simples palavras: “Dilexit Ecclesiam” – “Amou a Igreja”. Será que eu também amo a minha Igreja Católica? Sou um bom filho para ela?
Um bom filho não suporta que alguém calunie sua mãe, fale mal dela e a critique sem respeito. Um bom filho não resiste às ordens de sua mãe, mas cumpre com alegria todas as suas ordens, sem exceção.
Porventura amo assim a minha Igreja? Acaso obedeço-lhe e me conservo corajosamente a seu lado? Acaso reivindico corajosa, altivamente, meu nome de católico romano?
Os naturalistas fizeram ultimamente uma curiosa descoberta: as lebres aumentam, os leões diminuem. Mas nós meus irmãos, não queremos ser lebres covardes, renegando nossa Igreja, queremos ser leões corajosos, confessando altivamente o nosso catolicismo. Amém.
(Toth, Mons. Tihamer. A Igreja Católica. Rio de Janeiro: José Olympio, 1942, p. 43-56)