Transeamus usque Bethlehem, et videamus hoc verbum, quod factum est - Cheguemos até Belém, e vejamos o que é isto que sucedeu (Lc 2, 15)
I Tende ânimo, Maria convida todos, os justos e os pecadores, a entrarem na Gruta para adorarem seu divino Filho e beijarem-lhe os pés. Eia pois, ó almas devotas, entrai e vede sobre a palha o Criador do céu e da terra, feito Menino pequenino, mas tão encantador, tão radiante, que para toda a parte irradia torrentes de luz. Já que Jesus nasceu, a gruta não é mais horrorosa, senão foi feita um paraíso. Entremos e não temamos.
Elegerunt Stephanum, virum plenum fide et Spiritu Sancto - Elegeram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo (At 6, 5)
Sumario. Eis ai o belo elogio com que a Sagrada Escritura presta homenagem às virtudes de Santo Estêvão: chama-o cheio de fé, cheio de graça, cheio de fortaleza, em uma palavra, cheio do Espírito Santo. Alegremo-nos com o santo Protomártir, e em seu nome demos graças a Deus. Volvendo depois os olhos a nós mesmos, vejamos se ainda, e em que grau, as mesmas belas virtudes se acham em nossa alma, visto que nos foram infusas pelo Sacramento do Batismo.
7Como são belos, andando sobre os montes, os pés de quem anuncia e prega a paz, de quem anuncia o bem e prega a salvação, e diz a Sião: “Reina teu Deus!” 8Ouve-se a voz de teus vigias, eles levantam a voz, estão exultantes de alegria, sabem que verão com os próprios olhos o Senhor voltar a Sião. 9Alegrai-vos e exultai ao mesmo tempo, ó ruínas de Jerusalém, o Senhor consolou seu povo e resgatou Jerusalém. 10O Senhor desnudou seu santo braço aos olhos de todas as nações; todos os confins da terra hão de ver a salvação que vem do nosso Deus.
Impleti sunt dies ut pareret (Maria); et peperit fikium suum primogenitum - Completaram-se os dias em que (Maria) devia dar à luz; e deu à luz o seu filho primogênito (Lc 2,6)
Sumário. Imaginemos ver a Jesus já nascido na gruta de Belém, e ouvir os anjos cantar glória a Deus e paz aos homens de boa vontade. Quais devem ter sido os sentimentos que então se despertaram no coração de Maria, ao ver o Verbo divino feito seu filho! Qual a devoção e ternura de São José ao apertar contra o coração o santo Menino! Unamos os nossos afetos com os desses grandes personagens.
1Tendo-se o rei Davi instalado já em sua casa e tendo-lhe o Senhor dado a paz, livrando-o de todos os seus inimigos, 2ele disse ao profeta Natã: “Vê: eu resido num palácio de cedro, e a arca de Deus está alojada numa tenda!” 3Natã respondeu ao rei: “Vai e faze tudo o que diz o teu coração, pois o Senhor está contigo”. 4Mas naquela mesma noite, a palavra do Senhor foi dirigida a Natã nestes termos: 5“Vai dizer ao meu servo Davi: Assim fala o Senhor: Porventura és tu que me construirás uma casa para eu habitar? 8bFui eu que te tirei do pastoreio, do meio das ovelhas, para que fosses o chefe do meu povo, Israel. 9Estive contigo em toda a parte por onde andaste, e exterminei diante de ti todos os teus inimigos, fazendo o teu nome tão célebre como o dos homens mais famosos da terra. 10Vou preparar um lugar para o meu povo, Israel: eu o implantarei, de modo que possa morar lá sem jamais ser inquietado. Os homens violentos não tornarão a oprimi-lo como outrora, 11no tempo em que eu estabelecia juízes sobre o meu povo, Israel. Concedo-te uma vida tranquila, livrando-te de todos os teus inimigos. E o Senhor te anuncia que te fará uma casa. 12Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então, suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realeza. 14aEu serei para ele um pai e ele será para mim um filho. 16Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de mim, e teu trono será firme para sempre”.
Reclinavit eum in praesepio; quia non era eis locus in diversorio - Ela reclinou-o em uma manjedoura; porque não havia lugar para eles na estalagem (Lc 2, 7)
Sumário. Que terão dito os anjos vendo a divina Mãe entrar na gruta de Belém, afim de dar à luz o Filho de Deus? Os filhos dos príncipes nascem em quartos adornados de ouro; e ao Rei do céu prepara-se para nascer uma estrebaria fria, para cobri-lo uns pobres paninhos, para cama um pouco de palha e para colocar uma vil manjedoura? Oh, ingratidão dos homens! Oh, confusão para nosso orgulho que sempre ambiciona comodidades e honras!
Significa celebrar NA LITURGIA, memorial do culto cristão, instituído por Jesus nosso Senhor, o mistério e a graça da Sua piedosa Vinda, da Sua graciosa Manifestação na nossa natureza humana e no nosso mundo, cumprindo as promessas feitas por Deus a Israel.
Que é esse MEMORIAL instituído pelo Senhor?
No Israel da Antiga Aliança, toda a obra salvífica do Senhor era celebrada anualmente nas festas instituídas pelo Senhor Deus: a Páscoa, Pentecostes, as Tendas, o Kippur, a Dedicação do Templo...
Tudo isto preparava para o Cristo nosso Senhor. Ele veio, realizou a salvação e na noite em que foi entregue instituiu o Sacramento do Seu Corpo e do Seu Sangue, Memorial sagrado de tudo quanto Ele fez por nós, cumprindo tudo quanto Deus havia prometido.
Assim, no Sacramento da Ceia, no santo Sacrifício Eucarístico, toda a salvação torna-se presente: a criação do mundo, a história santa do antigo Israel, os atos e gestos salvíficos do Senhor, as graças dadas aos cristãos, a vida da Igreja e até mesmo a Sua Vinda no final dos tempos. NA LTURGIA, pela força potente do Santo Espírito do Cristo imolado e ressuscitado, tudo, tudo absolutamente, em Cristo Senhor, torna-se contemporaneamente, simultaneamente presente, de modo que, para um cristão, celebrar os santos mistérios litúrgicos é entrar realmente e verdadeiramente em contato com o Mistério da nossa salvação e com cada um dos mistérios especificamente. NA LITURGIA, toda a obra da salvação é-nos dada realmente: "Fazei isto em memória ( = memorial, zikaron, isto é, celebração ritual, eficaz e presentiiacante ) de Mim!"
Pulvis es et in pulverem reverteris - És pó e em pó te hás de tornar (Gn 3, 19)
PONTO I
Considera que és pó e que em pó te hás de converter. Virá o dia em que será preciso morrer e apodrecer num fosso, onde ficarás coberto de vermes. A todos, nobres e plebeus, príncipes ou vassalos, estará reservada a mesma sorte. Logo que a alma, com o último suspiro, sair do corpo, passará à eternidade, e o corpo se reduzirá a pó. Imagina que estás em presença de uma pessoa que acaba de expirar. Contempla aquele cadáver, estendido ainda em seu leito mortuário: a cabeça inclinada sobre o peito; o cabelo em desalinho e banhado ainda em suores da morte, os olhos encovados, as faces descarnadas, o rosto acinzentado, os lábios e a língua cor de chumbo; hirto e pesado o corpo. Treme e empalidece quem o vê. Quantas pessoas, à vista de um parente ou amigo morto, mudaram de vida e abandonaram o mundo. É ainda mais horrível o aspecto do cadáver quando começa a corromper-se. Nem um dia se passou após o falecimento daquele jovem, e já se percebe o mau cheiro. É preciso abrir as janelas e queimar incenso; é mister que prontamente levem o defunto à igreja, ou ao cemitério, e o entreguem à terra para que não infeccione toda a casa. mesmo que aquele corpo tenha pertencido a um nobre ou potentado, não servirá senão para que exale ainda fetidez mais insuportável, - disse um autor.
Pediram-me algumas pessoas que lhes proporcionasse um livro de considerações sobre as verdades eternas e que se destinasse às almas zelosas de sua perfeição e do progresso no caminho da vida espiritual. Outras reclamavam um compêndio de matérias próprias para as predicas em missões e exercícios espirituais. Para não multiplicar livros, trabalhos e despesas, entendi ser conveniente escrever a obra presente na forma que se vai ler, a fim de que possa servir para ambos os fins. Encontrarão nela os leigos assunto para meditar, por meio de três pontos em que é dividida cada consideração, e, como qualquer desses pontos pode servir para uma meditação completa, adicionei-lhes afetos e súplicas. Rogo ao leitor que se não enfade ao ver que nestas orações se pede continuamente a graça da perseverança e a do amor de Deus, porque estas são as duas graças mais necessárias para alcançar a salvação eterna.
A Graça do Amor de Deus
A graça do amor divino - disse São Francisco de Sales - é aquela que contém em si todas as demais, porque a virtude do amor para com Deus traz consigo todas as outras virtudes. Quem ama a Deus é humilde, casto, obediente, mortificado... possui, enfim, as virtudes todas. Por isso, dizia Santo Agostinho:
Ama a Deus e faze o que quiseres
Pois aquele que ama a Deus evitará a todo transe ofendê-lo e só procurará agradar-lhe em tudo.
In propria venit, et sui eum non receperunt - Veio para o que era seu, e os seus não o receberam (Jo 1, 11)
Sumário. A cidade de Belém, que recusa dar abrigo a Jesus Menino, foi figura daqueles muitos corações ingratos que dão acolhida a tantas miseráveis criaturas e não a Deus. Reflitamos, porém, no que a Virgem Maria disse a uma alma devota: Foi uma disposição divina que a mim e a meu Filho nos faltasse abrigo entre os homens, afim de que as almas, cativadas pelo amor de Jesus, se oferecessem a si próprias para o acolherem.