Capítulo XXX
Jesus acabava de ser pregado na cruz, via circular em volta de si os autores do seu suplício e os seus algozes. Lança sobre eles um olhar, eleva em seguida os olhos ao céu, e exclama:Pater dimitte illis: nom enim sciunt quidi faciunt - "Meu Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc 23, 34)
Tinha guardado silencio enquanto o crucificavam; eis que o rompe e invoca a seu Pai; escutemos o que lhe vai pedir. Dir-lhe-á ele:“Meu Pai!"
Não, não, tal não será a súplica do nosso bom Jesus. Alma cristã, que isto meditas, atenção, e aprende a conhecer a misericórdia infinita do nosso Salvador.“Meu Pai: vós sois testemunha dos meus sofrimentos, sois testemunha dos ultrajes indignos de que me cobrem e sabeis a minha inocência; fazei, pois cair sobre este povo ímpio todo o peso da vossa vingança?”
Meditação para Dia 29 de Março
1. a) "E Pedro ia seguindo-o de longe até ao pátio do príncipe dos sacerdotes". São Pedro segue a Jesus: é sinal de amor; mas segue-o de longe: é sinal de fraqueza. O respeito humano tirou-lhe a antiga coragem e o primitivo zelo. Sofres, acaso, do mesmo mal? b) Pedro aproximou-se dos servos para se aquecer. Oh! Que antes se tivesse aproximado de Deus, para este lhe acender novo amor. Procurou a companhia dos inimigos de seu Mestre. Quem ama o perigo, nele cai. Não serás uma exceção à regra.Capítulo XXIX
São estas as palavras que nos dirige Jesus a nós, pobres exilados nesta terra de pecado. Ó vós todos, exclama ele do alto da cruz, ó vós todos, que passais pelo caminho da vida, dignai-vos parar por alguns instantes; lançai sobre esta cruz, onde estou cravado, a vossa vista, e vede se há uma dor que à minha se possa comparar; a minha cabeça está coroada de espinhos que me não deixam repouso algum, os meus pés e as minhas mãos estão varados de enormes cravos, o meu corpo não é mais que uma chaga, e o meu sangue corre de todas as minhas chagas. “De todas as partes me cercam as agonias da morte”, e a minha alma está abismada na mais excessiva desolação.O vos omnes qui transitis per viam, attendite et videte si est dolor sicut dolor mens - "Ó vós todos que passais pelo caminho, atendei, e vede se há dor como a minha" (Lm 1, 12)
Meditação para Dia 28 de Março
1. a) "Então lhe cuspiram na face". A quem? A seu Criador e Salvador. Incrível atrevimento das criaturas! Incompreensível humildade de Jesus! Fizeste-lhe o mesmo, ao manchares tua alma com o pecado, pois tua alma é sua imagem. Arrepende-te. Faze mais: sofrendo injúrias, imita a mansidão de teu Salvador. b) "Deram-lhe bofetadas no rosto, dizendo: 'Adivinha, Cristo. Quem é que te bateu?'". Os insanos julgaram não ser conhecidos por Deus. Ele os conheceu, como te conhece a ti, tuas obras boas e más. E tu, pecado, sabias tudo isto!Capítulo XXVIII
Já falíamos do silencio de Jesus no meio dos seus sofrimentos; mas é tão tocante ver este inocente Cordeiro opondo ao furor dos seus inimigos uma doçura e uma paciência tão incomparáveis, que mais uma vez imos deter-nos alguns instantes em considerar este espetáculo. Comecemos pelo ver em casa de Caifás: na presença deste pontífice é acusado de inúmeros crimes; mas ele guarda silencio: Jesus autem tacebat. Em casa de Herodes enchem-no de desprezos; ele sofre tudo sem dizer uma só palavra. Fazem-no sofrer uma cruel flagelação: não reclama contra a injustiça deste castigo. Os algozes em seu furor excedem muito o numero dos golpes prescritos pela lei: ele não se queixa.Et quasi agnus coram tondente se obmutescet, et non aperiet os sum - "Semelhantemente a um cordeiro que se conserva mudo diante do tosqueador, não abrirá a sua boca." (Is 53, 7)
Meditação para Dia 27 de Março
1. Caifás, como se estimasse saber a verdade, disse a Jesus:"Diz se tu és Cristo, o Filho de Deus"Hipocrisia e malícia requintada! Se Jesus negar, será condenado, porque antes reivindicou para si esta dignidade; se afirmar, o condenarão como blasfemador. Jesus, podendo livrar-se da dificuldade, não o quis em respeito ao nome de Deus e por amor a nós. Seu exemplo mostra que antes deverás sacrificar a vida do que a fé ou a inocência.
Capítulo XXVII
Quando o Salvador chegou ao Calvário onde devia consumar o seu sacrifício e dar-nos o mais solene testemunho do seu amor, nem tempo de suspirar lhe deixaram. Arrancaram-lhe rudemente a sua veste, que estava colada ás chagas, e mais uma vez renovaram todas as suas dores. Mandam-no em seguida deitar-se sobre a cruz, afim de nela o poderem pregar. Sem demora nem resistência obedece o bom Jesus, estende-se sobre este leito de dor, não tendo por travesseiro senão os espinhos de que estava coroado. Então com uma sorte de furor arremessam-se sobre ele os algozes, pedem-lhe primeiro a mão esquerda, segundo é crença comum, e trespassam-na com um grosso cravo pelo meio dos nervos. Tendo-se estes comprimido pela violência da dor e não podendo a mão direita estender-se até ao buraco que no outro braço da cruz tinham aberto, foi necessário estender esta mão com cordas; outro tanto foi necessário fazer aos pés, de sorte que todo o corpo de Nosso Senhor ficou deslocado. Que amargas dores!!! Calava-se porém o inocente Cordeiro e não deixava escapar de sua boca uma lastima; consertava fixos no céu os olhos; e oferecia a Deus por nossa salvação, os seus sofrimentos e a sua vida...Crucifixerunt eum, et eum eo alios duos, hinc, et hinc, modium autem Jesum - "Crucificaram-no, e a outros dois com ele, um a um lado, outro do outro, e Jesus no meio" (Jo 19, 18)
Por Dom Henrique Soares da Costa
O Evangelho de hoje é mais uma belíssima catequese batismal que nos prepara para a santa Páscoa. Não esqueçamos que em muitas paróquias adultos estão terminando seus preparativos para o Batismo. No Domingo passado, no Evangelho da Samaritana, vimos que Jesus é o Messias que dá a verdadeira água do Espírito Santo, água que jorra para a Vida eterna. Neste hoje, “ao passar, Jesus viu um homem cego de nascença”. Esse homem simboliza os judeus; pode simbolizar também a humanidade toda: enquanto não somos dados à luz no Batismo, somos cegos, nascemos cegos! Nunca esqueçamos que cristãos nos tornamos pela fé e o Batismo! Ninguém nasce cristão!