Parte IV Capítulo V
Filotéia, Deus só permite estas tentações violentas a almas que Ele quer elevar a uma grande perfeição de seu amor; mas não há para elas uma certeza que, tendo passado por estas provas, adquiram afinal esta perfeição, porque tem acontecido muitas vezes que alguns, não correspondendo em seguida fielmente à graça que os tinha feito combater com constância, sucumbiram tristemente a tentações muito mais leves.Meditação para o Dia 31 de Março
Caímos tantas vezes! Senhor, quanta miséria! Por que nos admirarmos de ser a enfermidade enferma, a fraqueza fraca, a miséria miserável? Que somos diante de Deus, que é o Divino Forte, senão fraqueza? Paciência! Nossa miséria é uma doença que não tem cura neste mundo. Nosso Senhor quer a nossa vontade. Ele faz o resto! A santidade não é obra de um dia. Enquanto não tocarmos a nossa miséria com o dedo e não nos convencermos do nada que somos, ainda nos resta muito a caminhar.Parte IV Capítulo IV
É tão importante, Filotéia, que compreendas bem este ponto, que de bom grado vou explicá-lo um pouco mais. O mancebo citado por São Jerônimo achava-se deitado num leito muito macio, preso por cordões de seda e foi tentado por todos os modos imagináveis por uma mulher impúdica, da qual se serviram para abalar a sua constância; quanto devem ter sofrido os seus sentidos e a sua imaginação! Entretanto, no meio de tantas e tão horríveis tentações, ele testemunhava que seu coração não estava vencido e sua vontade não consentia de modo algum; pois sua alma, vendo tudo revoltado contra ela e até de seu corpo não tendo nenhuma parte a sua disposição, exceto a língua, ele a cortou com os dentes e a lançou no rosto daquela mulher vil, que lhe era mais cruel que os mais furiosos carrascos; inutilmente pensara o tirano vencer pelos prazeres esta alma nobre, que não pode vencer pelos tormentos.Meditação para o Dia 30 de Março
São Paulo tem uma palavra consoladora em relação à nossa miséria:E Santo Agostinho acrescenta:Diligentibus Deum, omnia cooperanturin bonum - “Aos que amam a Deus, tudo coopera para o bem”
Sim, porque os pecados nos humilham e nossas misérias nos obrigam a tocar o fundo de nossa abjeção e desconfiar de nós.Etiam peccata - “Até os pecados”
Parte IV Capítulo III
Imagina, Filotéia, uma jovem princesa extremamente amada por seu esposo e que um jovem libertino pretende corromper e seduzir a infidelidade, por meio de um infame confidente que lhe envia para tratar com ela sobre o seu desígnio abominável. Primeiro, este confidente transmite a princesa esta proposta do seu amo; em seguida, a proposta lhe agrada ou desagrada; por fim, ela consente e a aceita ou a rejeita. Deste modo, o mundo, o demônio e a carne, vendo uma alma ligada ao Filho de Deus, como sua esposa, lhe armam tentações, nas quais primeiramente o pecado lhe e proposto, depois ele lhe agrada ou desagrada e, por fim, ela lhes dá o seu consentimento ou as rejeita. Eis aí os degraus que conduzem a iniquidade: a tentação, o deleite, o consentimento; e, embora estas três coisas não se distingam evidentemente em todos os pecados, todavia aparecem sensivelmente nos pecados maiores.Meditação para o Dia 29 de Março
Entre as provações das almas generosas, as tentações são das mais duras, constituindo verdadeiro martírio. Elas são variadas e terríveis. E mais hoje do que em tempo algum. Tentações contra a fé, produzidas pelo demônio ou sugeridos pela atmosfera materialista que nos cerca, tentações contra a esperança, tentações de desânimo. Tentações contra a caridade. Que luta, meu Deus! O Inferno parece, às vezes, todo contra nós!... Dolorosas provas! Como vencê-las? Quando a veemência da tentação nos assalta, é imperiosa, domina-nos, fazendo-nos sentir como que abandonados do Céu! Reze o Salmo 119/118,113-120
Agora, medite, pensando em Jesus, em Is 50,4-11
4«O Senhor Deus ensinou-me o que devo dizer, para saber dar palavras de alento aos desanimados. Cada manhã desperta os meus ouvidos, para que eu aprenda como os discípulos. 5O Senhor Deus abriu-me os ouvidos, e eu não resisti, nem recusei. 6Aos que me batiam apresentei as espáduas, e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me ultrajavam e cuspiam. 7Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio; por isso não sentia os ultrajes. Endureci o meu rosto como uma pedra, pois sabia que não ficaria envergonhado. 8O meu defensor está junto de mim. Quem ousará levantar-me um processo? Compareçamos juntos diante do juiz! Apresente-se quem tiver qualquer coisa contra mim. 9O Senhor Deus vem em meu auxílio; quem ousará condenar-me? Cairão todos esfrangalhados, como roupa velha, roída pela traça.» 10Quem de entre vós teme o Senhor e escuta a voz do seu servo? Mesmo que caminhe nas trevas, privado de luz, confie no nome do Senhor e firme-se sobre o seu Deus. 11Mas quanto a vós, que ateais o fogo, que preparais setas incendiárias, caireis nas chamas do vosso próprio fogo, por entre as setas que inflamastes. Assim vos tratará a minha mão, e haveis de jazer nos vossos tormentos.