QUANTO mais buscamos a felicidade no mundo exterior, mais arriscamos a nossa paz interior. Só quem confia em si mesmo se mantém sereno, pois esse, e mais ninguém, fixou as condições de paz que estão debaixo do seu próprio domínio. Os outros são vítimas das circunstâncias, escravos de coisas que, em qualquer momento, lhes podem ser recusadas. O bêbado é um obcecado do álcool; os avarentos são obcecados do dinheiro; os frívolos são obcecados da moda... o universo de qualquer um deles pode ser abalado pela vontade de outrem. Nenhum de nós pode dirigir o modo como os outros procederão para conosco; mas podemos dirigir sempre a nossa reação para com eles.Meditação para o Dia 10 de Julho
Salomão e Jó, observa Pascal, foram os que até hoje falaram melhor da miséria do homem. Um feliz, o outro desgraçado. Aquele conheceu pela experiência a vaidade dos prazeres; este, a realidade dos males. A pompa de Salomão deslumbrou todo o mundo. Foi o mais rico e feliz dos monarcas. Que lhe faltou? Tudo quanto pode desejar um coração, ele o possuía. A glória, o gênio, a beleza, o prazer, as honras, o ouro! E termina seus dias na solidão, no abandono! E tamanha glória passa como o vento.
A ALARMANTE onda de ódio que se espraia pelo mundo moderno é, em grande parte, causada pela culpa: o homem que se odeia a si mesmo, depressa começa a odiar o seu próximo. O5 pecados inconfessados e por vezes negados criam dentro da pessoa um profundo mal-estar... o equilíbrio tem de ser, de qualquer modo, restabelecido; o eu tem, de qualquer maneira, de ser apresentado a uma luz mais favorável. O reto caminho para o conseguir é confessar os pecados e fazer penitência por eles. O caminho errado... que muita gente infeliz hoje segue... é dar-se uma aparência melhor, a si e aos seus pecados, aviltando os outros.Meditação para o Dia 09 de Julho
"Há muitas moradas na casa de meu Pai”, disse Nosso Senhor, mas, segundo comenta piedoso autor, é um só o caminho para lá chegar: o da Santa Cruz, de que nos fala a Imitação. O filho pródigo não teria voltado à casa paterna se a dor e a miséria o não tivessem batido. E tão grande a misericórdia Divina que nos obriga pelo sofrimento a ter saudades do Céu, desapegando-nos assim de toda vaidade e ilusão deste mundo.
Todo este capítulo anda à volta de duas palavras: escape e inscape que o Autor dá um sentido peculiar. Não encontramos na nossa língua termos correspondentes com o mesmo conteúdo semântico. Traduziu-se escape por «evasão», dando a esta palavra o significado de afastamento das inquietações que nascem dos problemas da vida fundadas em Deus, e recurso a tudo o que os faça esquecer; e inscape por «concentração» com o sentido de regresso a Deus, centrando n’Ele a nossa vida e a solução de todos os seus problemas. — N. do T.
É NECESSÁRIO introduzir uma nova palavra na nossa língua, e, embora talvez já tenha sido usada na poesia de Gerald Manly Hopkins, não entrou ainda no uso universal. Esta nova palavra deve ser o oposto de evasão («escape»). Evadir-se quer dizer fugir de uma coisa perigosa, na esperança de encontrar segurança. Deriva de duas palavras latinas: «ex» (de) e «cappa» (capa). Significa, pois, escapar-se de uma prisão, tornar-se livre.Meditação para o Dia 08 de Julho
O mais triste dos exílios é o do coração. Faz sofrer mesmo dentro da família e da pátria. Sofrimento do amor, é inevitável, pois, no dizer do fino psicólogo da Imitação, “não se vive sem amar e não se ama sem sofrer”. As almas nobres sentem no coração um abismo, que nada pode encher. Nem o prazer dos sentidos, nem as honras, nem as glórias, nem o amor da terra. Daí a melancolia dos grandes corações, prova evidente de que esta vida é um exílio, no qual quem mais sofre é o coração.
POR detrás de toda a tentativa de «se escapar», feito o dano, está a esperança de que nunca se será descoberto. Se há apenas uma inspeção aos livros, pode estar-se razoavelmente certo de que não se descobrirá o roubo; mas se há uma segunda inspeção por um guarda-livros superior, ser-se-á menos tentado a cometer o crime. Nada leva tanto ao mal como a crença de que este mundo é tudo, e de que, para além dele, não há um julgamento ulterior sobre o modo como vivemos e pensamos. Se este mundo é tudo, por que não tirar então dele o maior proveito possível, custe o que custar, contanto que se fique impune?Meditação para o Dia 07 de Julho
Imóvel num leito, a sofrer, horas e horas eternas num quarto, silencioso, a contemplar as paredes, os móveis, a contar as tábuas do forro! Gemidos a cada agulhada que fere o corpo, na dor sem alívio! E sempre ali o pobre enfermo, condenado à imobilidade penosa, que já dura, talvez, meses e até anos. É preciso ter experimentado o peso dessa cruz para se avaliar como é duro!
SE a nossa vontade se puser do lado de Deus, nunca poderemos desanimar, porque o lado que escolhemos, está sempre vitorioso e nunca é ludibriado. Em Deus está a conservação, no mal a ruína. A realidade das coisas encontra-se sempre do lado de Deus. O mal é, necessariamente, instável, porque vai contra a natureza das coisas segundo foram criadas. Todas as leis da natureza humana nos impulsionam para o nosso destino específico tanto de santidade como de saúde. Se cuidarmos, devidamente, do nosso corpo, obedecendo às regras da saúde, seremos saudáveis; se violarmos essas leis, a nossa revolta trará a doença, e poucos tomariam o devido cuidado consigo, se a violação das leis da saúde não trouxesse algum castigo, como aviso.