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Aparição aos Apóstolos juntos

Meditação para a Terça-feira da Páscoa. Aparição aos Apóstolos juntos

Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São Lucas 24, 36-46

Jesus apresentou-se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco!» Dominados pelo espanto e cheios de temor, julgavam ver um espírito.

Disse-lhes, então: «Porque estais perturbados e porque surgem tais dúvidas nos vossos corações? Vede as minhas mãos e os meus pés: sou Eu mesmo. Tocai-me e olhai que um espírito não tem carne nem ossos, como verificais que Eu tenho.»

Dizendo isto, mostrou-lhes as mãos e os pés. E como, na sua alegria, não queriam acreditar de assombrados que estavam, Ele perguntou-lhes: «Tendes aí alguma coisa que se coma?» Deram-lhe um bocado de peixe assado; e, tomando-o, comeu diante deles.

Meditação para a Terça-feira da Páscoa

SUMARIO

Meditaremos na aparição de Jesus Cristo aos Seus Apóstolos reunidos em Jerusalém; e veremos:

1.° O apreço que Jesus faz das Suas sagradas chagas;

2.° O apreço que nós mesmos devemos fazer dos nossos padecimentos.

— Tomaremos depois a resolução:

1.° De beijarmos muitas vezes com amor o nosso crucifixo, principalmente no lugar das cinco chagas;

2.° De aceitarmos de bom grado todas as penalidades da vida.

O nosso ramalhete espiritual será a palavra de Nosso Senhor:

“Olhai para as minhas mãos e pés” – Videte manus meas et pedes (Lc 24, 39)

Meditação para o Dia

Transportemo-nos pelo pensamento ao meio dos Apóstolos; adoremos Jesus Cristo ressuscitado, mostrando-Se-lhes. Beijemos com amor as chagas de Seus pés, de Suas mãos, de Seu sagrado lado; roguemos-Lhe que derrame sobre nós a Sua graça, e nos ressuscite para uma vida nova.

PRIMEIRO PONTO

Apreço que Jesus faz das Suas Chagas

Não é somente na semana santa e na cruz que Jesus Cristo apresenta as Suas chagas à nossa meditação; mostra-no-las também na semana da Páscoa; mas com a diferença, que na última semana estas chagas nos aparecem sangrentas e dolorosas, enquanto que hoje nos aparecem gloriosas e todas resplandecentes da divindade. Jesus Cristo quis conservá-las no Seu corpo ressuscitado:

1.° Como uma prova irrecusável de que era realmente o mesmo corpo que tinha padecido por nós;

2.° Como os gloriosos sinais da vitória que havia alcançado sobre os inimigos de Deus e da salvação dos homens;

3.° Como as insígnias de Seu amor para conosco, que Ele mostra com alegria ao céu e à terra, a fim de abrasar os nossos corações num amor reciproco;

4.° Como bocas divinamente eloquentes, que advogam a nossa causa perante seu Pai e lhe dirigem sem cessar em nosso favor uma petição onipotente;

5.° Como sagradas fontes, em que podemos receber continuamente a graça com ilimitada confiança nos Seus méritos.

Ó divinas chagas, tão prezadas ao coração de Jesus, cuja entrada nos abris, quão belas sois! Sois vós que fazeis que todos os anjos e santos louvem a Deus eternamente, e cantem a palavra evangélica:

“Vejam como Deus amou o mundo!” – Ecce quomodo amabat eum (Jo 11, 36)

Sois vós que, no dia de juízo, haveis de confundir os que não tiverem querido aproveitar-se do beneficio da redenção (1). Ó adoráveis chagas! Eu venero-vos e adoro-vos. Ordenais-me que olhe para vós (2); com amor vos contemplo. Sois o meu refugio; descanso em vós. Sois a minha luz; instruir-me-ei na vossa escola. Sois a minha força; vós me amparareis nos meus desalentos. Sois focos de amor; eu me chegarei a vós, me conservarei ao pé de vós por uma meditação humilde, afetuosa, assídua, e serei reanimado: porque, como conservar-nos ao pé de um grande foco sem sentir o seu calor?

SEGUNDO PONTO

Apreço que devemos fazer dos nossos Padecimentos

De bom ou mau grado, é-nos preciso padecer: padecer no corpo, no espírito, no coração; padecer nos outros que nos desagradam e molestam; padecer de nós mesmos, que temos inexplicáveis acessos de tristeza, de impaciência e de ira: padecer de todas as coisas humanas, seja de morte de pessoas amadas, seja de um revez de fortuna, seja do mau êxito de uma empresa, de uma afronta recebida ou imaginaria. Ora nós devemos prezar estes padecimentos, apanágio inevitável da nossa humanidade:

1.° Porque Jesus Cristo disse:

“Bem-aventurados os que padecem, bem-aventurados os que choram” – Beati qui patiuntur, beati qui lugent (Mt 5, 5. 10)

2.° Porque este divino Salvador os glorificou em Sua pessoa, deificando e tomando adoráveis as Suas mesmas chagas, que Lhe mereceram a glória de Seu corpo, a Sua ressurreição, a Sua ascensão, o Seu repouso à mão direita de seu Pai, e a honra de julgar no último dia os vivos e os mortos;

3.° Porque sem o padecimento não há virtude nem méritos, por conseguinte, nem recompensa, nem salvação: toma-se afeição à terra, esquece-se o céu; só se pensa em gozar o presente, e despreza-se a eternidade; enquanto que o padecimento cristãmente suportado é a fonte dos méritos, a prática das virtudes, o penhor e a medida da felicidade do céu onde são considerados como os mais belos dias da vida aqueles em que mais se padeceu (3);

4.° Porque o padecimento suportado com paciência obtém-nos o amor de Deus Pai, que vê então em nós a semelhança de Seu divino Filho. Aproxima-o de nós, para nos aliviar ou consolar (4): porque, diz o Salmista, quando o justo cair, não se ferirá, porque o Senhor põe a sua mão por baixo (5). Daniel é lançado no fosso dos leões, os filhos de Babilônia na fornalha, José na prisão: Deus acha-se lá para os salvar;

5.° Porque o padecimento tem sempre feito as delícias dos santos. Sinto complacência, dizia São Paulo, nas minhas enfermidades, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, nas angustias (6): é então que a virtude de Jesus Cristo habita em mim (7). Ou padecer ou morrer! Dizia Santa Tereza; eu não posso viver sem cruz : portanto, Jesus Cristo, tomando sobre Si o padecimento, tirou-lhe a Sua amargura e como que o embalsamou com a Sua divina doçura.

Que apreço temos nós feito deste padecimento? Como suportamos nós o que nos contraria? Roguemos a Nosso Senhor que nos dê sentimentos mais cristãos.

Resoluções e ramalhete espiritual como acima

Referências:

(1) Videbunt in quem transfixerunt (Jo 19, 37)

(2) Videt manus meos et pedes

(3) Laetati sumus pro diebus quibus nos humiliasti, annis quibus vidimus mala (Sl 79, 15)

(4) Cum ipso sum in tributatione (Sl 90, 15)

(5) Cum ceciderit, non collidetur, quia Dominus supponit manum suam (Sl 36, 24)

(6) Placeo mihi infirmitatibus, in angustiis pro Christo (2Cor 12, 10)

(7) Ut inhabitet in me virtus Christi (Ibid, 9)

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(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo II, p. 240-244)

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