O QUE os Americanos chamam «teen-agers» ou adolescentes, compreende o período intermédio entre a primavera e o verão da vida. Assim como o que acontece às árvores e às flores, em Março, determina a qualidade dos frutos, assim as experiências dos adolescentes lhes ajudam a mudar a maturidade. Alguns jovens, como alguns frutos, amadurecem cedo demais, e outros parece nunca amadurecerem; outros há, porém, que realizam as melhores aspirações de uma geração que já passou.
A psicologia dos adolescentes é tão importante quão curiosa. As três características dominantes são: interioridade, imitação e inquietação.
Interioridade
Uma característica muitas vezes despercebida, por causa da vitalidade da juventude, é o seu sentimento íntimo de solidão e a sua impressão de isolamento gerada pela verificação de que uma espécie de barreira se interpõe entre si e o mundo. Os rapazes tentam, por vezes, vencer essa barreira, barbeando-se antes do tempo, transpondo assim a parede entre a adolescência e a virilidade; as raparigas simulam isso, na maneira de vestir ou em outras singularidades, para transpor a trincheira. Os gestos são canhestros, nervosos, deselegantes; os braços parecem que são demasiado longos e que sempre causam embaraços; as palavras têm pouco valor para serem trocadas com os adultos e assim lançarem a ponte entre os adolescentes e a gente grande. Há mais fantasia que ideias no seu mundo interior, o que pode explicar, em parte, a dificuldade em estabelecer contato com os outros. Por vezes, esta grande inaptidão aumenta a interioridade e faz recuar o jovem ou a donzela para dentro de si mesmos. Como nem sempre a atividade externa dá vazão ao mundo interior, o adolescente recorre, muitas vezes, ao mundo interior da imaginação, onde o rapaz ou a rapariga se dão a aventuras nos espaços fáceis do sonho, imaginando-se ele herói num campo de futebol, ela casada com um príncipe. Gosta-se muito do cinema, porque é um bom estimulante dessas esperanças e sonhos dourados. Todavia os traços gerais apresentam-nos alguém que atingiu uma maior profundeza interior, mas, desconhecendo o valor desta, exprime-se de modo que desfigura o seu progresso íntimo.
Imitação
A imitação tem uma profunda razão filosófica. O eu está sob o imperativo e a necessidade de emergir de si mesmo como uma crisálida; o interior está em ânsias de afirmar a sua personalidade. A imitação torna-se um substituto da originalidade; a originalidade custa ao jovem esforço, labor, canseiras e, às
vezes, o desdém alheio; a imitação, contudo, dá-lhe, por meio de uma espécie de conformismo social, a exteriorização de que necessita. Aferrolhado em si mesmo, o jovem tem de sair da sua prisão. Já que é mais difícil ser ele mesmo, e nessa idade ainda ele não sabe bem o que é então torna-se um adorador de heróis; daí os clubes de admiradores de qualquer grupo desportivo, o fanatismo pelos tocadores de jazz-band, a idolatria de certas estrelas de cinema.
Eis porque, na idade da escola secundária, se encontram muito poucos que vistam fora do tipo estabelecido por alguns. É reduzida, na idade adulta, a minoria criadora; por isso não se deve levar a mal que o jovem imite. Esta mímica pode ser perigosa, se o que é idolatrado não for digno dele; mas pode exercer na juventude uma influência nobilitante, se os que são imitados forem nobres, bons e patriotas. A juventude imita, porque quer criar, e a criação assinala, de um modo construtivo, o fim da interioridade.
Inquietação
A melhor descrição da inquietação talvez seja a afeição instantânea e inconstante. Há uma extrema mobilidade na juventude, devido à multidão de impressões, que inundam a alma. A vida é multiforme; há pouca harmonia, por causa da variedade de atrativos do mundo exterior. Daí a preferência de certos jovens por um determinado tipo de música «jitterbug»; é que fornece uma saída muscular à energia mental, que não foi ainda equacionada. Por causa desta agitação é difícil ao jovem ou à donzela fixar a atenção em qualquer objeto determinado; é penosa a perseverança no estudo; os impulsos do momento solicitam-no imperiosamente. Isto podia degenerar em delinquência, se a sua atividade não encontrasse um objetivo. Mas, do mesmo modo que as outras características, também esta pode salvar o jovem, porque ele, na verdade, está a correr em redor do círculo da experiência humana, para decidir em que segmento particular se irá fixar na vida; percorre o mundo das profissões, ocupações e situações e decide depois em qual deles ficará. Desde que essa energia foi canalizada, concentrada, equacionada, torna-se o início do trabalho até à morte, e o adolescente começará a ser o que Deus quis que ele fosse — um homem que, no amor da virtude, sabe amar uma mulher, um amigo e a sua pátria.
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(SHEEN, Dom Fulton. Rumo à Felicidade – WAY TO HAPPINESS. Tradução de Dr. A. J. Alves das Neves, pároco de São Pedro da Cova. Livraria Figueirinhas, Porto, 1956, p. 113-116)