SUMARIO
Meditaremos sobre os pastores no presépio, e veremos:
1.° Porque e como Jesus Cristo os chamou ao Seu presépio;
2.° A maneira como eles responderam a este chamamento.
—Tomaremos depois a resolução:
1.° De prezar, mais do que temos feito até ao presente, a pobreza, a simplicidade e todos os deveres do nosso estado;
2.° De prestar à oração mais respeito e amor;
3.° De obedecer de pronto às inspirações da graça.
O nosso ramalhete espiritual será a palavra dos pastores:
“Passemos até Belém, e vejamos o Verbo que Deus nos deu” – Transeamus usque Bethlehem, et videamus hoc Verbum quod factum est, quod Dominus ostendit nobis (Lc 2, 15)
Meditação para o Dia
Adoremos Jesus Cristo no presépio, cercado dos pastores que, prostrados a Seus pés, Lhe oferecem os seus mais fervorosos respeitos. Unamos os nossos corações aos seus; e expressemos diante deste Deus Encarnado todos os sentimentos de reconhecimento e de amor de que somos capazes.
PRIMEIRO PONTO
Porque e como Jesus Cristo chamou os Pastores ao seu Presépio
Oferecem-se aqui duas questões às nossas meditações: porque e como Jesus Cristo os chamou?
1.ª Questão: Porque?
1.° Porque esses pastores são pobres: Nosso Senhor quer mostrar quão pouco preza as riquezas e as grandezas, que não são muitas vezes senão o preço das injustiças e das baixezas, o alimento da ambição, o parto da cobiça, o triunfo da soberba; e quanto lhes prefere a pobreza, como mais favorável à humildade, à moderação dos desejos, à mansidão, à todas as virtudes;
2.° Porque são almas simples e retas: tais almas lhe são prezadas – Cum simplicibus sermocinatio ejus (Pv 3, 32).
3.° Porque são homens laboriosos que, não contentes com a lida do dia, vigiam ainda durante a noite, tempo destinado ao descanso: Deus odeia os ociosos que desperdiçam o tempo;
4.° Porque são homens aplicados aos deveres do seu ditado: Deus quer que cada um na terra cumpra a missão que lhe coube por sorte.
— Examinemos se possuímos em nós estes quatro caracteres, que alcançaram aos pastores tanta felicidade: somos nós pobres de coração, completamente desapegados dos bens da terra? Somos simples e retos, sem outra pretensão neste mundo senão a de agradar a Deus? Cuidamos dos deveres do nosso cargo, e vigiamos noite e dia sobre os que Deus nos confiou?
2.ª Questão: Como chamou Jesus Cristo os pastores?
Cerca-os de uma refulgente luz, que lhes incute um religioso temor, porque um profundo respeito, que penetra a alma de temor diante da majestade divina, é sempre o começo das operações de Deus em uma alma. Ao temor faz suceder a alegria:
“Não temais, lhes diz o anjo, eis aqui venho anunciar um grande gozo, e é que hoje nasceu o Salvador” (Lc 2, 10)
Qualquer outra alegria não seria senão vaidade; mas a vinda de um Salvador tão bom é um objeto de santa alegria. Temos nós este respeito de Deus e esta alegria em Deus? (1)
SEGUNDO PONTO
Maneira como os Pastores responderam
ao chamamento do Salvador
1.° Respondem-lhe de pronto. Apenas o Anjo lhes anunciou à boa nova, clamam:
“Passemos até Belém, e vejamos o Verbo que Deus nos deu” – Transeamus usque Betlehem, et videamus hoc Verbum quod factum est (Lc 2, 15)
E deixando o seu rebanho, partem imediatamente, não obstante a noite. Oh! Porque não somos nós tão prontos em seguir as inspirações da graça, as quais, como outros tantos mensageiros celestes, nos chamam para Jesus Cristo! Não deixamos nós resfriar essas inspirações divinas com as nossas dilações, depois do que elas se extinguem e ficam sem efeito? Ó divinas inspirações, volvei a mim, não vos serei já infiel; a minha alma suspira por vós: abre-vos o seu seio, totalmente disposta a receber-vos com respeito e amor.
2.° Os pastores, logo que chegam a Belém, entram no presépio, e quem poderia dizer com que fé, com que devoção? Neste Menino tão abatido, adoram o grande Deus da eternidade; na Sua pequenez veneram a Sua humildade, nas Suas faixas a Sua pobreza, na dureza da Sua cama a Sua mortificação; e estas três virtudes parecem-lhes belas e gloriosas como as virtudes do Rei dos reis. Admiram nesse divino Menino a verdadeira riqueza do céu; ousam fazer-Lhe pequenas ofertas, conformes à sua humilde condição; e o seu coração manifesta todos os sentimentos do reconhecimento e amor.
3.° Depois de prestados estes respeitos, os pastores retiraram-se cheios de uma santa alegria, glorificando e louvando a Deus por tudo o que viram e ouviram (2). Assim devemos nós fazer ao sair das nossas orações e comunhões, das nossas visitas ao Santíssimo Sacramento, das nossas leituras espirituais, dos sermões e das práticas. De cada um destes exercícios cumpre-nos levar conosco um ardente desejo de ser melhores, um fervoroso zelo de glorificar a Deus e de publicar os seus louvores, tal como o que tinha São Francisco Xavier, quando exclamava:
Quem me dera a felicidade, ó meu Deus, de morrer por vós, e de poder fazer-Vos conhecer e amar em todas as partes do universo!
Resoluções e ramalhete espiritual como acima
Referências:
(1) Timete Dominum; gaudete in Domino (Fl 4, 4)
(2) Et reversi sunt pastores, glorificantes et laudantes Deum in omnibus quae audierant et viderant (Lc 2, 20)
Voltar para o Índice do Tomo I das Meditações Diárias de Mons. Hamon
(HAMON, Monsenhor André Jean Marie. Meditações para todos os dias do ano: Para uso dos Sacerdotes, Religiosos e dos Fiéis. Livraria Chardron, de Lélo & Irmão – Porto, 1904, Tomo I, p. 135-138)