O G. K. Chesterton disse:
«Há uma coisa no mundo que nunca faz progresso: é a ideia de progresso»
Com isso ele quis dizer que, se não tivermos um conceito certo do que realmente significa o progresso, nunca saberemos se estamos a avançar. Infelizmente há muitos que, em lugar de trabalharem por um ideal, o mudam, e chamam a isto progresso. Nunca ninguém poderia saber que estava a fazer progresso no caminho de Chicago para São Francisco, se São Francisco fosse identificada com Nova Iorque. Só quando a meta estiver fixada e definida, é que podemos ter um alvo e a energia para disparar à seta.Tudo na geologia e na superfície da terra vai em direção do futuro: o impulso do rio dirige-se avante para o mar; a criança pequenina diz o que quer ser quando for homem; os pensamentos voam para o que há de acontecer amanhã; todos estes impulsos, que nos impulsionam para diante, implicam um futuro sob o poder de Deus. Aqueles que perderam de vista a meta, concentram-se, muitas vezes, apenas no movimento, e nisto procuram encontrar o prazer. Comprazem-se em voltar as páginas do livro, mas jamais acabam a história; empunham os pincéis, mas nunca terminam a pintura; sulcam o mar, mas não conhecem porto algum. O seu deleite não está na realização de um destino, mas antes na circunvolução e na ação, só pelo motivo do movimento.
A perfeição é «ser», não, «fazer»; não é simular uma ação, mas conseguir um caráter. Não há nada que faça a vida mais infeliz que a sua falta de sentido, e a vida não tem sentido, quando lhe faltar uma finalidade. Há inúmeros fins secundários, mas o único grande fim é a perfeição do nosso caráter, do ponto de vista moral. Infinitas como são as variedades de vida, aquele que não descobriu claramente como tudo se há de fazer convergir para a santificação da própria alma, não percebeu o significado da vida.
O filho de Confúcio disse-lhe uma vez:
«Aplico-me com diligência a toda a espécie de estudo e nada negligencio que me possa tornar mais engenhoso e mais hábil, mas, apesar disso, não adianto»
Confúcio respondeu-lhe:
«Abandona algumas das tuas empresas, e isso te correrá melhor»
A vida do homem é errante, mutável, versátil, como a da criança à caça de borboletas, até descobrir a razão por que está aqui e para onde vai. Os rios não se tornam mais baixos à medida que se afastam das suas fontes, e o rio do coração não há de fazer exceção. Ele deve correr, espraiando-se e aprofundando-se, até encontrar o grande oceano do Amor, ao qual é destinado, e se misturar com ele.
A insatisfação pode ser, algumas vezes, o motivo do verdadeiro progresso. Insatisfeito com a pena, o homem inventou a imprensa; insatisfeito com o carro e com a locomotiva, inventou o avião. Existe em cada um de nós um impulso inato que impele o espírito a bater as asas, como a águia encarcerada nas gaiolas da terra, até haver sangue em suas penas. Se somente o coração analisasse este anelo que está dentro dele, que o leva do existente para o possível e o faz cavar no deserto da sua vida à procura de fontes vivas, e subir todas as montanhas para de lá contemplar melhor o céu, então ele poderia sentir que está de novo a regressar a Deus, do qual veio.
Na vida espiritual, deter-se complacentemente onde se está é assemelhar-se a uma árvore que se congratulasse por ser mais alta que os arbustos, ou a uma larva que, exultante com as suas pintas e listas, não se lhe desse de levar a vida gloriosa da borboleta. Não vive o homem que dorme sobre os louros conquistados. Assim como não é feliz aquele que afirma que vive do passado. Os louros de outrora devem ser postos de lado, quando ao homem incumbe avançar para aquela vocação sobrenatural a que foi chamado, esquecendo as coisas que ficam para trás. A ave deve esquecer o seu ninho, a semente a sua vagem, a flor o seu botão, e, se não esquecermos estas coisas, nunca poderemos atingir a meta. Quer a recordação saudosa, quer a jactância satisfeita têm influência semelhante na perda de ânimo, porque a felicidade da vida está na expectativa do sempre melhor e mais santo.
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(SHEEN, Dom Fulton. Rumo à Felicidade – WAY TO HAPPINESS. Tradução de Dr. A. J. Alves das Neves, pároco de São Pedro da Cova. Livraria Figueirinhas, Porto, 1956, p. 199-201)