“Somos embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós.
Em Nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus.
Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus O fez pecado por nós, para que Nele nós nos tornemos justiça de Deus.
Como colaboradores de Cristo, nós vos exortamos a não receberdes em vão a graça de Deus, pois Ele diz:
‘No momento favorável, Eu te ouvi e, no dia da salvação, Eu te socorri’.
É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação”. (2 Cor 5, 20 – 6,2)
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Logo no início deste tempo sagrado, a Palavra de Deus põe diante de nós duas realidades fundamentais deste caminho quaresmal:
Primeiro, o Senhor: Ele nos ama, exorta-nos, ainda crê em nós, por nós espera e Se ocupa de nós, apesar de nossas infidelidades e pecados – pecados por fraqueza e pecados por pura malícia!
O Senhor, de amor sempre novo, sempre fiel, sempre apaixonado em relação a nós, dá-nos agora, mais uma vez, um tempo para a conversão, para que nos voltemos a Ele: “No momento favorável, Eu te ouvi! No dia da salvação, Eu te socorri!”
– Obrigado, Senhor, por não Te cansares de mim!
Às vezes, eu mesmo de mim me canso e já não mais tenho esperança em mim próprio! Mas, Tu, no Teu amor, me fazes recomeçar! Tu ainda me esperas, Tu ainda teimoso no Teu amor invencível, insistes em crer em mim! Ah, Senhor meu, que o Teu amor me faz recomeçar!
Este amor do Senhor por nós não é uma realidade sentimental. Ele é concreto! E o sinal permanente, eterno, definitivo dele é o Filho, o Amado, o Unigênito, entregue por nós, por mim, por você: “Aquele que não cometeu nenhum pecado, Deus O fez pecado por nós, para que Nele nós nos tornemos justiça de Deus”.
Que significam tais palavras?
“Pecado” era um dos modos de se denominar a vítima oferecida pelo pecado, em reparação das faltas de Israel e de cada fiel. Pois bem: o Pai fez “pecado”, fez vítima pelo pecado o Filho Amado, que não conhecera pecado!
Quanta dor! Deus tocado pela dor, dor de amor, para nos salvar!
E para que, essa entrega tão dolorosa? “Para que nos tornemos justiça de Deus!” Ou seja, para que sejamos justos diante de Deus, santos diante de Deus, amáveis diante de Deus!
Mas, ainda mais: o Pai, entregando o Seu Filho mostra Sua justiça, Sua retidão: castiga o pecado – no Filho! – e revela Seu amor mais forte que o pecado, salvando-nos!
– Senhor, dá-me, suplico-Te, uma fagulha da compreensão do Teu amor por mim e pela humanidade toda!
Faze-me perceber com a percepção da fé, com a ciência do Teu Espírito, o quanto sou precioso para Ti, o quanto sou único! O Teu Filho amou-me e entregou-Se a Si mesmo por mim!
Revela-me que sou precioso, revela-me que sou amado infinitamente por Ti!
Revela-me que sou único para Ti, a ponto de por mim entregares o Teu Jesus bendito!
E agora, a segunda realidade: sou eu, é você!
Diante do amor sem limites do Senhor, deveria aparecer claro o quanto nosso coração é mesquinho, o quanto somos pecadores!
Pense bem:
Você poderia mesmo justificar-se diante de Deus?
Poderia dizer “não pequei, sou fiel ao amor do Senhor, correspondi à Sua graça”?
Somos tão mesquinhos, tão pouco generosos, tão desconfiados e incoerentes em relação ao Senhor! Quanto duvidamos nas horas decisivas da nossa vida…
Somos pecadores, necessitados do perdão do Senhor, da Sua reconciliação!
Alguns acusam o cristianismo de manter as pessoas em constante sentimento de culpa… Não! Não se trata de criar um artificial sentimento de culpabilidade, mas de reconhecer com serena maturidade o quanto somos quebrados, o quanto somos incoerentes, egocêntricos, o quanto buscamo-nos a nós mesmos!
Ainda que sejamos capazes de tão bons desejos, de tão belos gestos, de tão sublimes pensamentos, encontramos no mais profundo de nós regiões e sentimentos tão tenebrosos… Só um tolo não percebe isto: “Não faço o bem que quero, mas pratico o mal que não quero!” (Rm 7,19)
Portanto, reconheçamos a nossa situação de pecado, isto é, de quebradura, de incoerência, de tendência de fechamento radical para o Senhor:
“Deixai-vos reconciliar com Deus!”
Veja, Amigo: é o Senhor Quem nos reconcilia; é Ele Quem toma a iniciativa!
A nós, basta que nos deixemos reconciliar, que nos deixemos atrair, que não nos fechemos! Não recebais em vão a graça de Deus – suplica o Apóstolo!
Neste primeiro dia da Quaresma, coloquemo-nos diante do Senhor. Pensemos na nossa vida, nas nossas infidelidades, na nossa ânsia de viver como se a vida fosse nossa, fazendo do nosso modo…
Reconheçamo-nos pecadores…
E olhemos o Crucificado, a Vítima feita pecado, o Inocente…
Contemplando o Crucificado, peçamos a graça da compunção, de um coração sentido sinceramente pelo pecado; supliquemos poder viver realmente de modo santo este período quaresmal!
“Volta, Israel, ao SENHOR teu Deus,
pois tropeçaste em tua falta!
Tomai convosco palavras
E voltai ao SENHOR;
Dizei-Lhe: ‘Perdoa toda culpa,
Aceita o que é bom!” (Os 14,2s)
Procure recordar no seu passado as situações mais marcantes de fechamento seu para com o Senhor…
E por estes tempos, neste período: em que você tem se afastado dos caminhos e do olhar do Senhor Deus?
Reconheça sua situação de fragilidade;
Confesse a misericórdia do Senhor, rezando o Salmo 129/130.
Lembre: somente em quem reconhece a própria miséria diante de Deus, este Se revela como misericórdia e perdão!